Por estes tempos de transformações quase inacreditáveis em Comunicação, tanto de tecnologias como de narrativas, deve ser tarefa constante dos alunos de Jornalismo a reflexão sobre a própria condição e, em especial, quanto ao que os aguarda tão logo o diploma esteja na mão. E, claro, docentes da área precisam estimular isso, levando para o universo da sala de aula (ou ambiente virtual, nos casos de ensino à distância), o que de novo está no ar.
Neste cenário, muitos livros hoje clássicos envelheceram em seus ensinamentos e ficar somente neles é arriscadíssimo. E, portanto, prestar atenção no que a internet difunde pode ser uma boa idéia. Por estes dias, o retrato pintado pelo Wall Street Journal (ver aqui) sobre os 100 maiores jornais americanos é aterrador. O panorama vai de 2006 a 2009.
Especificamente sobre o jornal The Boston Globe, um titã daquele país, o documento afirma que no mês de abril passado a direção da New York Times Co. (que administra o Boston) dizia que estava disposta a fechar o periódico. Meses antes, o Boston já havia cortado 50 vagas, além de perder 14% de sua circulação entre novembro de 2008 e abril de 2009.
Pois não é que, na semana passada, a direção do grupo reafirmou que, dentro de 60 dias, fecharia o Boston Globe? Não fosse isso o suficiente, a revista Veja do final do mesmo abril apresentou ampla reportagem abordando o estado lastimável do jornal The New York Times, o prestigioso NYT, com prédio-sede hipotecado e tudo mais.
Não dá para ignorar o futuro
Mas o rosário de notícias recentes sobre os periódicos não é apenas negativo. Em 1º de maio, a TV Estadão veiculou entrevista com Gay Talese, ícone do new journalism, na qual ele desfia que, para os veículos ‘importantes e responsáveis’ haverá espaço nas mídias do futuro – e espaço dos bons. A fala de Talese pode ser conferida aqui; trecho em vídeo, aqui.
Otimista também anda John Dinges, diretor do Centro de Informação e Investigação Jornalística, o Ciper (sigla em espanhol). Em conversa com Paul Alonso, do Centro Knight, ele pondera haver boas perspectivas para o jornalismo investigativo no espaço da era digital – vide aqui. Para fechar o ciclo das visões positivas, inclui-se o pensamento do espanhol, radicado no Brasil, Matías Molina. Em recente conversa com o diário curitibano Gazeta do Povo, Molina aposta que o sucesso dos jornais dos próximos anos passa pela veiculação crescente de informações analíticas, e não mais meramente factuais.
Os materiais acima indicados, claro, são apenas alguns dos que valem a pena ser estudados. Há, por exemplo, a admirável série do colombiano El Tiempo, recentemente premiada internacionalmente, identificada como ‘10 histórias inéditas da cultura colombiana‘. O que o alunado não pode fazer mais é ignorar o futuro, pois, como dizia um comercial de televisores dos anos 1980, é lá que eles vão passar o resto de suas vidas.
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Jornalista e professor do Departamento de Comunicação Social da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), PR