Desafios! Essa palavra, no plural, parece nos cercar por todos os lados.
Desafios na gestão, na educação, na comunicação. Talvez não estejamos
compreendendo bem, de fato, quais são esses desafios. E estamos buscando
respostas, soluções para perguntas das quais não entendemos o enunciado.
O nosso tempo, aqui e agora, tem na incerteza a sua marca. Nesse sentido, um
dos ‘grandes desafios’ que temos é justamente assumir publicamente a nossa
fragilidade diante das incertezas, das novas demandas; uma fragilidade que exige
de nós, como meio de equilíbrio, a capacidade de escuta, especialmente na gestão
educacional e na gestão da comunicação.
Dominique Wolton, sociólogo da comunicação, nos chama atenção em sua obra É
preciso salvar a comunicação (2006), para o fato de que hoje tudo é
discutível. Há um direito democrático à liberdade de expressão; mas não basta
que possamos nos expressar; queremos e precisamos também ser ouvidos. É esse
segundo momento, o de escutar e ser ouvido, o mais difícil nas relações, sejam
elas familiares ou profissionais.
‘Quanto mais a técnica permite a expressão, mais a questão do feedback,
do retorno, torna-se importante. A comunicação traz um duplo desafio: aceitar o
outro e defender sua identidade própria. No fundo, a comunicação levanta a
questão da relação entre o eu e o outro, o eu e o mundo. Há uma dimensão
antropológica e ontológica na comunicação’ (WOLTON, 2006).
A atitude de escuta
Nesse contexto, a gestão compartilhada ganha espaço; uma gestão, como defende
a pedagoga dra. Heloísa Luck, que valorize os diferentes talentos e as
responsabilidades individuais, convergindo para uma sinergia da responsabilidade
coletiva. Esse tipo de gestão exige transparência, abertura; abertura ao modo de
ser do outro, às idéias do outro, sem esquecer do feedback.
Nessa dimensão de abertura e diálogo, a comunicação surge como elemento
chave. Uma comunicação que não se confunde apenas com um conviver, mas como uma
relação intencional, onde uma pessoa age sobre outra, partilhando pensamentos. A
comunicação, como partilha e diálogo, vai além do transmitir, do anunciar… Vai
além do marketing! É uma comunicação que implica confiança e coerência. E
confiança sem transparência não é possível.
A atitude de escuta, tão fundamental, não serve só para a comunicação, mas o
próprio ato de educar implica uma atitude de escuta. A educação se faz na
relação entre pessoas, fazendo com que brote em seus corações o que há de
melhor.
Ponto de equilíbrio
Alguns valores mudam com o tempo. Outros, mudam o tempo. É hora de sermos
mais empreendedores, comunicativos, líderes formando novos líderes,
especialmente dentro das salas de aula. Os estudantes, razão de ser de uma
escola, não são apenas destinatários, mas podem vir a ser aqueles que darão as
respostas para, junto dos gestores, enfrentarem os desafios.
O diálogo leva à criatividade. E a criatividade faz a diferença entre o que
temos e o que desejamos alcançar. Se cada dia na obra educacional é um novo
encontro, então cada encontro representa a possibilidade da mudança, do novo, da
aprendizagem.
Diálogo, discernimento, comunicação e gestão educacional são expressões que
precisamos aprofundar para superarmos o narcisismo da mínima diferença e
compreendermos melhor aquele que talvez seja o maior de todos os desafios: o de
aprender; o desejo de aprender nos estudantes, educadores e gestores. Somos
todos aprendizes e ao mesmo tempo ensinantes.
Vivemos numa tensão constante, entre ser aprendiz e ensinante. O ponto de
equilíbrio pode ser, nesse sentido, a comunicação, o diálogo, valorizando as
pessoas e a própria obra educacional em constante diálogo, num processo
permanente de abertura ao outro.
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Jornalista e doutor em Comunicação Social, Porto Alegre, RS