Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Conhecer a palavra é capacitar o cidadão a ser livre

A informação a qualquer cu$to. Até que ponto um ‘furo’ é só informação? O fato que ocorreu, na última semana, com a operação Satiagraha e tantos defensores do seu peixe, incluindo a emissora Globo, hilariante, permite a publicação deste artigo que é parte de um texto acadêmico.

Há pouco tempo, a TV brasileira, com status de uma das maiores do mundo, comemorou 50 anos de existência. A cinqüentona mais cobiçada, adorada e disputada dos anos 2000. Durante todo esse tempo, não poupou esforços em produzir mitos e é copiada e referência para outros segmentos da comunicação.

Leonardo Boff utiliza a palavra ‘mitomania’, ou seja, a ‘capacidade de inventar mitos, ou a mania de projetar interpretações mirabolantes da realidade’. A mídia cria mitos e fantasias incomensuráveis, a seu bel-prazer, e enriquece espetaculosamente, hipnotizando o povo brasileiro. O mais importante são os índices de audiência ou os exemplares vendidos, de que se beneficiam os diferentes veículos. Será que não há uma ‘conspiração’ para a manutenção do status quo?

A facilidade na armazenagem da palavra e o tratamento dispensado fazem com que os meios de comunicação se transformem em ‘donos’ e referência na construção de uma visão hegemônica da sociedade e da história. Isso indica a capacidade que têm, em seu poder, de produzir cidadãos com senso pouco crítico. Exclui a necessidade do pensar, da reflexão e do discurso. São sujeitos sujeitados, fato altamente preocupante.

Predomina o espetáculo para o entretenimento das massas. Os meios de comunicação que tentam, a qualquer custo, se legitimar cada vez mais como os porta-vozes da sociedade e se posicionam, supostamente, como defensores dos interesses dos receptores ou defensores dos fracos e oprimidos, ou ‘tudo ao bem da informação’.

‘Eu tô pagando’

Pesquisas recentes indicam que as pessoas ficam expostas de três a quatro horas diárias consumindo as informações oriundas dos meios de comunicação, materializados através de filmes, programas de TV, rádio, livros, revistas, jornais, CDs, DVDs, entre outros.

Hoje é amplamente discutida a necessidade que se faz, e cada vez mais, da formação de um cidadão crítico. Caiu por terra a defesa de que a formação desse cidadão era de competência exclusiva e privativa da escola. A família e os meios de comunicação, em grande medida, compartilham com a escola nesse processo educacional de transformar o cidadão em sujeito crítico. Conhecer a palavra não é somente copiá-la; é expressar juízos e capacitar o sujeito a participar nos processos da sociedade. É ainda, mais do que isso, transformá-lo em sujeito livre.

A palavra, escrita ou falada, que é passada ao longo do processo da educação, é um dos pilares mais importantes para a consolidação da história e a manifestação do novo. A palavra forma a base do pensamento que cada um carrega e possibilita, ou não, a capacidade de ser sujeito capaz de interpretar e re-elaborar, num maior ou menor distanciamento, os fatos postos.

Os meios de comunicação – tanto o jornal, como o rádio, a televisão e a internet – têm diminuído a distância, mas têm transformando os sujeitos em meros observadores da palavra, sem permitir a participação e muito menos ao debate. Têm atravessado muito na condição de educadores e ocupado espaço privilegiado, maior que a escola e a família.

Os meios de comunicação não deviam ter responsabilidades com a educação? Qual o futuro da nossa educação? Basta sermos ridicularizados e feitos de palhaços ao ouvir o ‘eu tô pagando’ e ainda acharmos graça.

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Graduada em Relações Públicas, especialista em Marketing Político e Cultural, pós-graduada em Jornalismo Social pela PUC/SP