Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Construindo identidades em Campina Grande

O presente trabalho tem como questão central, fazer uma investigação de como a mídia impressa campinense, mais especificamente o Diário da Borborema, vai contribuir através de suas matérias e editoriais na construção identitária de Campina Grande (PB) como um polo tecnológico (1952-1973). Partindo de uma análise sobre a importância da Escola Politécnica, primeira instituição de ensino superior criada nessa cidade, tendo como questões: a formação profissional, a inserção dos formandos no mercado de trabalho, as dificuldades materiais, a transferência de sede, os laboratórios, os convênios, bem como a relação estabelecida entre a Escola Politécnica e os vários segmentos sociais de Campina Grande e região. No decorrer desse período a Politécnica afirmou-se como um espaço de produção de ciência e tecnologia. Para esta análise serviu de base um vasto material documental onde foi estabelecida uma série de correlações entre estes, destacando principalmente as matérias e editoriais publicados pelo Diário da Borborema, e as memórias produzidas pelos sujeitos que vivenciaram o cotidiano da Escola Politécnica.

Escola Politécnica: uma presença frequente

Desde o momento da criação da Escola Politécnica da Paraíba, sediada em Campina Grande, os jornais [os jornais existentes em Campina Grande no momento da criação da Escola Politécnica apresentam esse acontecimento como uma ruptura que a cidade passaria a viver, mostrando que, apesar dessa cidade já ter uma ‘essência progressista’, estava agora se materializando. Pois segundo a matéria publicada em 06 de outubro de 1952 pelo jornal Formação sugeria que: ‘Campina Grande vanguardeira do progresso [grifo nosso] não se impermeabilizou a esse fluxo renovado e a esse surto de valorização intelectual. Movimentou os círculos estudantis, as associações de classe e reivindicaram a criação da Escola Politécnica. Recebendo hoje do governador do Estado, apoio a promessa categórica de transformar Campina Grande no centro da cultura técnica da Paraíba. Hoje vem sancionar a lei que autoriza a criação da Escola Politécnica’] locais já procuravam apresentá-la como uma instituição que estava trazendo progresso e desenvolvimento para a cidade. Isso estava bastante presente nos discursos dos meios de comunicação, sendo estes diários ou não, e, em especial, o Diário da Borborema, criado em outubro de 1957, já procurava mostrar a imagem da Escola associada ao progresso.

É possível perceber que esses jornais contribuíam para reafirmar ou davam um maior efeito de verdade à ideia de que a cidade estava realmente se desenvolvendo científica e tecnologicamente graças à presença da Escola Politécnica e da Fundact, instituições que sempre ganhavam destaque nas matérias trazidas por esses jornais. Ao mesmo tempo em que é evidenciado esse discurso, um outro acaba sendo negado ou negligenciado, ou seja, a imagem de uma cidade com pobres, com problemas de saneamento e outros que acabam tendo um destaque bem menor ou deixam de aparecer nas páginas desse periódico.

Dessa maneira, é perceptível o papel da imprensa, em especial do Diário da Borborema, como um meio onde os discursos são construídos com a intenção de fazer com que as pessoas vejam o que está acontecendo em seu cotidiano. Essas práticas, além de não divulgar alguns fatos que poderiam deturpar essa imagem construída, acabam contribuindo para que a realidade seja marcada de uma forma e não de outra.

Nessa direção, corroboramos com Mouillaud (2002) quando afirma que as duas principais funções de um jornal diário são:

‘A primeira delas é a de `fazer saber´. A finalidade dominante no discurso do jornal é a de produzir um efeito de real do qual estudaram-se, sucessivamente, os procedimentos de autenticação e as estratégias de descrição. O real do jornal Diário aparece, em última instância como um álibi que esconde o pleno desenvolvimento dos saberes disponíveis no jornal. A segunda estratégia está preferencialmente a serviço da verdade e não da realidade. O jornal mantém um pacto implícito com o leitor, cuja finalidade é `fazer crer´; o recurso ao discurso do outro é um meio para tal, seja servindo de ponto de apoio para uma derivação do discurso em direção a seu objeto, seja pelo recurso a um argumento de autoridade, que se funda na credibilidade do enunciador e na credibilidade do leitor’ (p.27).

Tendo como base tal afirmação, podemos observar que o jornal, longe de reproduzir os fatos tal qual aconteceram, ideia que prevalece no senso comum, ou seja, a de que os meios de comunicações se posicionam como um espelho transparente da realidade, procuram, através de uma série de estratégias que vão desde a escolha da própria matéria, o título, ou até mesmo na forma de diagramação, divulgar uma ‘verdade’ para o público, usando de estratégias discursivas cujo objetivo é fazer com que esse público acredite naquilo que está sendo veiculado.

‘Exemplo de pioneirismo’

Ao analisar não só os jornais impressos, mas também outras formas de comunicação escrita como revistas, panfletos, televisão e rádio, Thompson (1998) afirma que, com o desenvolvimento das sociedades ditas modernas, os meios de comunicação passam a causar um impacto na forma de como as pessoas compreendem o mundo, pois segundo o mesmo: ‘a mídia em geral se apresenta como grande difusora de bens simbólicos’ (p.33). Assim, com essa ampliação de formas simbólicas, podemos perceber o jornal como um veículo que está indissociável da vida das pessoas e que acaba refletindo ou exercendo um papel de transformação, seja política, econômica e/ou social.

Stênio Lopes, um dos intelectuais que frequentavam a Livraria Pedrosa e que escrevia para o Diário da Borborema, nos relata alguns assuntos que eram debatidos pela elite campinense e que acabavam sendo noticiados, geralmente de forma opinativa, no Diário.

Alguns temas como, ‘progresso de Campina Grande’, ‘para onde vai Campina Grande’, ‘o que se podia fazer para o futuro de Campina Grande’, eram bastante debatidos entre alguns intelectuais da elite campinense. Vou citar alguns: Lynaldo Cavalcanti, Luis Almeida, irmão de Átila, Antônio da Silva Morais, José Lopes de Andrade, que se chamava sociólogo, Edvaldo de Souza do Ó, de todos era o mais barulhento, José Paulino da Costa Filho, que veio para Campina como chefe da Agência de Estatística do IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística], tornou-se professor e depois foi diretor da FACE [Faculdade de Ciência Econômica], e alguns industriais muito dinâmicos, entre os quais um chamado Clovis Mato Sá, de Cajazeiras, eu não podia esquecer de Josemir Camilo, Zezé Marques, a gente se reunia para discutir, o centro das discussões era normalmente no edifício da FIEP [Federação das Indústrias do Estado da Paraíba, sediada em Campina Grande] que funcionava lá na Associação Comercial (…). Essas discussões geralmente eram transformadas em artigos escritos por mim [Stênio Lopes] e Lopes de Andrade. (LOPES, 2004, p. 07-08).

Dessa maneira, ao falarmos desse jornal não podemos deixar de mencionar quem eram as pessoas que nele escreviam, ou com quais instituições elas se relacionavam, pois quem escreve, escreve a partir de um lugar seja social, institucional, econômico ou político (CERTEAU, 1982). Não se pode ignorar o fato de que as pessoas que escreviam no jornal que investigamos eram sujeitos que estavam diretamente envolvidos com a Escola Politécnica, a exemplo de Stênio de Lucena Lopes e José Lopes de Andrade, articulistas que vão utilizar desse veículo informativo para construir uma série de imagens sobre Campina Grande, ou seja, imagens de acolhimento, mas, também, de recusa, pois há uma Campina Grande que tanto o Diário quanto a Politécnica queriam sepultar. Mas não nos deteremos sobre esse aspecto nesse momento.

Em matérias referentes aos primeiros anos de funcionamento até a formação da primeira turma de engenheiros, no período de 1952 a 1958, as elites dessa cidade já se esforçavam na construção de um discurso que procurava enaltecer a atuação dessa Escola, com frases como: ‘Escola Politécnica – vanguardeira do progresso’, ‘Escola Politécnica: exemplo de pioneirismo’, dentre outras que davam ênfase a esse discurso que estava sendo construído naquele momento.

‘Um apurado senso de civilidade e dedicação’

Entre os que faziam a Politécnica campinense existia uma necessidade, desde os primórdios de sua criação, em ser e estar entre as melhores Escolas de Engenharia do Nordeste. No que se refere a essa região, o grande parâmetro que se estabelecia eram as instituições de ensino já consolidadas, a exemplo das Escolas de Engenharia de Recife e Fortaleza, como foi mostrado anteriormente.

No entanto, ao entrarmos em contato com outras fontes, entre estas a oral, podemos ter contato com outro tipo de representação da realidade que, na maioria das vezes, não era mostrada nas páginas desse ou de outros periódicos. Ao analisar, por exemplo, o depoimento do professor e ex-diretor da Escola, Lynaldo Cavalcanti [entrevista concedida ao CNPq por Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque em 17 de fevereiro de 2004], quando fala sobre o curso de Engenharia Civil que estava em funcionamento na Politécnica campinense naquela época, apesar de reconhecer o ideal daqueles que queriam torná-la uma Escola de referência, na fala de Cavalcanti é possível perceber as dificuldades pelas quais a Politécnica passava para se consolidar e transformar-se em uma instituição dos sonhos, como muitos desejavam.

‘(…) Havia mesmo muito pioneirismo nesse curso, contudo não se podia tapar o sol com uma peneira. O envolvimento dos profissionais com o ensino superior realizava-se de forma precária em virtude dos salários ofertados, sem falar que esses professores, mesmo quando ensinavam matérias básicas, não se dedicavam à pesquisa, não havendo nenhuma tradição nesse sentido, pois, em geral, tratava-se de engenheiros que se dedicavam mais as suas atividades profissionais’ (ALBUQUERQUE, 2002, pp. 326-327).

Entretanto, em nenhum momento de nossa pesquisa, o Diário apresentava esse outro lado, ou seja, aspectos que denotavam as dificuldades bem como supostas fragilidades do ensino que estava sendo ministrado, ou até mesmo a própria falta de estrutura da Escola Politécnica. Quando essas questões aparecem, apresentam-se de forma muito implícita. Seria, portanto, muito comum, para uma instituição que estava dando seus primeiros passos, principalmente uma que optasse pelo curso de Engenharia Civil, passar pelos já referidos problemas, pois segundo Morais,

‘(…) não podemos negar a situação incômoda de instalar a primeira escola superior de Campina Grande em um colégio que estava começando a funcionar o ensino médio. Mas não podíamos rejeitar porque era o único lugar que o governo do Estado nos cedeu. Como também naquele momento a gente não dispunha de nenhum laboratório. A essa altura, aparece uma visita de ordem política lá em Campina Grande que foi o general Juarez Távora. Ele era candidato à Presidência da República e nos procurou. Aí mostramos todo aquele negócio e as salas ainda não concluídas, apesar de muito bem instaladas, com armários, quadro negro, carteiras e fomos passando e chegamos a uma sala grande muito vasta, que era a biblioteca, era o ponto nevrálgico da situação, pois, apesar de a gente já ter encomendado uma remessa de livros sobre Engenharia e ainda não tínhamos recebido. Eu fiquei com medo do general, que era um homem intransigente e muito vivido e quando chegou na biblioteca eu disse: `Espere aí, deixe-me ver aqui. Está fechado´, estava com várias chaves e comecei a simular que não encontrava a chave da biblioteca, que era para não mostrar porque não tinha nada, quando estamos quase desistindo um acompanhante disse: `Espere aí, deixe-me ver se tenho mais sorte´. Ele pegou as chaves e a primeira abriu a porta, quando abriu, estava aquele salão enorme tudo limpo espelhando e as estantes vazias. Eu disse: `General, o senhor compreende, nós estamos ainda instalando as dependências da Escola, e apesar das dificuldades enfrentadas estamos suprindo essas carências, pois nós já fizemos uma encomenda muito grande de livros sobre o assunto ligado à engenharia, mas lamentavelmente a essa altura ainda não chegou e tenho aqui só dois volumes. Pois é general, o senhor queira nos desculpar, mas é isso mesmo´, o senhor sabe muito bem que não se monta uma Escola de Engenharia da noite para o dia. Ele viu aquele negócio todo, quando terminou de ver disse: `Me diga uma coisa, os senhores começaram o ensino superior aqui em Campina Grande com uma Escola de Engenharia?´ Eu disse: `Foi, sim senhor, essa que estamos acabamos de ver´. E perguntei o porquê da pergunta do general. Aí ele disse: `Porque eu acho muito curioso, em geral, essas cidades pequenas começam com uma Escola de Filosofia, e eu acho muito curioso os senhores estarem começando aqui com uma Escola de Engenharia, isso me chama muito a atenção´. Aproveitei e disse: `O senhor veja, general, o espírito do povo aqui como é objetivo, como é de lutador e de criação´’ (MORAIS, 2004, p.09).

Diante do exposto, podemos afirmar que o Diário da Borborema, procurava não expor ao público essas fragilidades da Escola Politécnica, ou seja, não se pretendia mostrar os problemas de ordem financeira e estrutural, como podemos inferir da fala de Antônio Morais. Ainda na fala do depoente, podemos perceber o quanto ele reproduz o discurso daquela época e que, de certa forma, ainda está no imaginário dos que vivem na cidade na atualidade, isto é, o discurso de uma cidade onde as pessoas são ‘valentes’ no tocante à realização de seus empreendimentos, independentemente da área que elas atuem. Não é possível datar quando exatamente tal imaginário de povo ‘lutador’ passou a ser produzido, contudo, como afirma Souza (2002),

‘Apesar deste tipo de imagem ou representação ser uma constante no imaginário que se constitui em torno da cidade desde longa data, é a partir das décadas iniciais do século 20 que há um incremento dos discursos no sentido de mostrá-la como um local que não retrocede em seu incansável progresso e desenvolvimento, somando-se a isto um apurado senso de civilidade e dedicação ao trabalho de sua gente’ (p. 40)

Dentro e fora dos muros da instituição

Nesse sentido, mesmo que Morais (2002) reconhecesse as dificuldades iniciais para a implantação do curso de Engenharia Civil da já referida Escola, principalmente aquelas inerentes à estrutura física, o mesmo recorre ao discurso dessa ‘essência’ progressista do povo de Campina, pois, na compreensão do mesmo, o ‘espírito do povo aqui é objetivo, é de lutador e de criação’ (p.9), discurso esse que também será muito reproduzido nas páginas desse jornal.

Todavia, não temos a pretensão aqui de discutir se a Politécnica era ou estava entre as melhores instituições do Nordeste ou do Brasil, como queriam os membros dela, mas perceber que lugar o Diário passa a atribuir à instituição, reconhecida pelo ensino diferencial na cidade, tanto aquele que estava sendo ministrado como os profissionais que a mesma estava formando.

Dessa forma, podemos afirmar que apesar de todos poderem construir representações sobre uma dada realidade, a mídia pode dar às representações uma dimensão muito maior, seja com a escolha de certas informações ao divulgar e outras não. Por exemplo, algumas matérias escritas sobre a Escola Politécnica, onde existe uma diferenciação sobre os relatos daqueles que estavam vivendo o cotidiano da instituição. Nesse caso, mais uma vez corroboramos com Mouillaud (2002), quando este afirma que,

‘(…) o por em visibilidade não constitui apenas um ser ou um fazer; não é simplesmente infinitivo, contém modalidades do poder e do dever. Indica um possível, um duplo sentido da capacidade e da autorização. A informação é o que é possível e o que é legítimo mostrar, mas também o que devemos saber, o que está marcado para ser percebido’ (p.38).

Assim sendo, compreende-se que os discursos publicados no jornal, não são discursos neutros, uma vez que estão cheios de intencionalidades, sendo um espaço onde, as elites letradas vão tentar impor a sua compreensão de mundo. Ainda nessa direção, concordamos com Chartier (1998) e Ginzburg (1991), ao enfatizarem que os diferentes grupos sociais têm interesse em representar o mundo de forma diversa. Não queremos dizer com isso que as matérias publicadas por esse meio de comunicação sobre a Politécnica não tinham nenhuma aproximação com o que estava acontecendo, mas sim que essas representações que estão sendo construídas sobre o ensino técnico-científico não são discursos neutros, pois, as pessoas que escrevem sobre a referida Escola, procuram mostrar apenas as imagens positivas, negando ou não divulgando o seu contraponto.

Contudo, torna-se compreensível o fato desse jornal não levar ao conhecimento da sociedade essas supostas fragilidades da Escola Politécnica, pois esta precisava ser uma instituição com credibilidade, uma vez que seus alunos, ao sair da Escola, necessitavam de um campo de trabalho, seja este na iniciativa privada ou pública.

Partindo desse pressuposto, compreendemos que o Diário era um dos principais divulgadores do ideal de excelência que norteava os integrantes da Escola Politécnica, dando a conhecer aspectos de sua formação naquele momento. Nesse caso, tomamo-lo como ‘um olho aberto sobre o mundo, que é intercambiável com o olho do leitor ao qual dá o poder de ver’ (MOILLAUD, 2002, p. 26), ou seja, o jornal fazia com que as pessoas tomassem conhecimento do que estava sendo feito dentro e fora dos muros dessa instituição.

‘Atestado de credibilidade’

Todavia, como sabemos, atividades relacionadas ao campo de engenharia tais como: construir pontes, barragens, estradas de ferro, rodovias, estruturas prediais, demandava que esses profissionais tivessem uma formação sólida, uma vez que nenhuma empresa ou órgão público iria contratar um engenheiro se não estivesse como certa e confiável a sua formação. Dessa maneira, ao terminar o período de estudo, o engenheiro recém formado deve estar apto a construir obras de engenharia, e caso esse cometa um erro de cálculo isso poderia causar uma verdadeira tragédia.

Nesse caso, para uma Escola de Engenharia ou de qualquer outra formação profissional, em seus primeiros anos de funcionamento, é incomum que já se tenha alcançado uma credibilidade junto ao público. Enquanto uma Escola já consolidada, que já tenha colocado no mercado um determinado número de técnicos é mais fácil observar as competências dos seus profissionais.

No entanto, os alunos formados na Politécnica de Campina Grande, aparentemente não passavam por esse problema, pois, como veremos nas matérias a seguir, o quadro discente das primeiras turmas da Escola estava empregado, algumas vezes, antes mesmo de concluir o curso, cabendo aqui outro espaço para questionamentos. O fato da Escola não passar por esses problemas, se deve ao fato da pouca oferta de mão-de-obra técnica? Ou pelo fato do jornal já vir construindo um lugar de competência para a Escola?

Assim, podemos afirmar que esse jornal, bem como as pessoas que faziam parte dele, não perdiam tempo e passaram a investir na construção de um discurso que colocava o ensino da Escola Politécnica em uma situação de destaque diante da cidade e região. Prova disso são os alunos da primeira turma que, logo após a formatura, já foram convidados para exercer a profissão em uma importante obra de engenharia, que ultrapassava as fronteiras do Estado.

Vejamos:

‘O `Orós´ e a engenharia nacional

A presença de Campina Grande na construção da grande represa é um desafio e orgulho da engenharia nacional, está assinalada pela chefia e das obras entregue ao engenheiro Anastácio Honório Maia, auxiliado pelos engenheiros Figueiredo Timoteo e Cartaxo, diplomados pela nossa Escola Politécnica. Os jovens campinenses estão dando tudo de sua mocidade e capacidade de trabalho especializado em benefício do desenvolvimento do Nordeste, cumprindo-se uma profecia daqueles que sonharam em transformar Campina Grande em celeiro da ciência e da técnica a serviço do progresso regional. O `Orós´ destina-se a regular as enchentes do rio Jaguaribe, tornando-se navegável em grande parte de seu curso, e à produção de energia elétrica, em colaboração com o sistema de Paulo Afonso [editorial de Lopes de Andrade publicado pelo Diário da Borborema em 10/07/1959] (…).’

Nesse editorial, Lopes de Andrade enfatiza que os engenheiros campinenses formados na primeira turma da Politécnica, em 1958, já foram solicitados pelo governador do Ceará para reconstrução da barragem de Orós. O editorial poderia ter informado apenas sobre a construção da barragem de Orós, mas o articulista recorre a adjetivos que denotam grandeza, para destacar a qualidade da formação dos engenheiros da Poli, pois não era uma simples barragem que os engenheiros campinenses viriam a construir, mas, sim, uma das maiores do mundo.

Além de mostrar a competência dos politécnicos campinenses, e mesmo que não esteja colocado de forma explícita, o jornal, ao enfatizar no próprio título ‘O Orós e a engenharia nacional’, estava mostrando que esses profissionais, ao serem solicitados para tão importante obra, que desafiava não só os engenheiros do Nordeste, mas também os de todo o território nacional, reforçava a construção da imagem de uma Escola de Engenharia competente. A Politécnica era a instituição em que as pessoas que lá estudavam estavam aptas a resolver qualquer problema na área de Engenharia Civil.

A dimensão que esse jornal confere a tal acontecimento colocava os engenheiros da Escola Politécnica em um patamar nacional, afirmava e ressaltava que a formação que estava sendo oferecida pelos professores da Politécnica aos alunos de engenharia civil dessa instituição estava no mesmo nível da praticada nos grandes centros de ensino superior.

Outro aspecto a se ressaltar é de que o convite do governador do Ceará pode ser entendido como o ‘atestado de credibilidade’ dado à Politécnica da Paraíba, pois os politécnicos campinenses foram preferidos aos engenheiros pertencentes à própria Escola de Engenharia de Fortaleza, bem como a de Recife. Ou seja, a Escola Politécnica da Paraíba se sobrepunha a instituições já consolidadas na região Nordeste.

‘Um fato alvissareiro’

Ainda sobre a formação dessa primeira turma, o Diário da Borborema, cinco meses após a publicação do editorial anterior, publica novamente outro, escrito por Lopes de Andrade, reafirmando a importância desses formandos para a cidade e região.

A diplomação da primeira turma de engenheiros civis pela Escola Politécnica da nossa cidade é um acontecimento de relevo que deve ser ressaltado convenientemente. Campina Grande pode hoje orgulhar-se de contar com uma Escola Superior que nenhuma outra cidade, no interior do país em toda a região Norte e Nordeste, conseguiu instituir e manter. Tal fato mostra o espírito de iniciativa dos campinenses e revela um sentido de iniciação de nossos técnicos e líderes sociais para problemas objetivos. Quando uma cidade interiorana criar uma Escola Superior, prefere via de regra, Direito, Farmácia, até mesmo Filosofia que são estabelecimentos pouco exigentes em matéria de equipamento, podendo ainda dispor de pessoal mais facilmente encontrável para a manutenção dos seus cursos. A existência de uma Escola Politécnica numa cidade de interior é sinal de que essa cidade já conta com certo respeitável número de técnicos, o que por si só indica progresso. Ora, Campina Grande vem mantendo sua Escola de Engenharia em condições bastante favoráveis. Uma equipe de engenheiros competentes e idealistas vem sustentando os difíceis encargos que implica a preparação de engenheiros civis. E não é só isso. Há um espírito de renovação do ensino de engenharia na Escola Politécnica de Campina Grande. Ela pretende formar profissionais para o tipo de trabalho existente na região, onde departamentos de construções do Governo vêm importando técnico de outras áreas, encontrando por sinal dificuldades no preenchimento dos seus quadro de engenheiros. Poucas capitais dos Estados do Norte e Nordeste possuem Escola de Engenharia. A de Fortaleza, por exemplo, que é a segunda mais importante cidade da região Nordeste, como Natal, Teresina, e São Luís não possuem Escola de Engenharia, têm aproximadamente o mesmo período de existência da de Campina Grande. E a da Capital foi criada pelo governo da União! A Politécnica de Campina Grande constitui-se assim a mais viva demonstração da capacidade de realização dos campinenses. Ela deve ser considerada a menina dos olhos de nosso aparelho de ensino superior, resultado do esforço do idealismo de um grupo de profissionais dos mais ativos e capacitados de todo o Nordeste [editorial de Lopes de Andrade publicado pelo Diário da Borborema em 16/12/1958].

O texto, além de mostrar a importância que a cidade passaria a ganhar com a preparação de técnicos da mais fina especialidade, é também perceptível que esse articulista vai dar ênfase à particularidade da Politécnica ser a única instituição do interior do Norte e Nordeste a conseguir manter uma Escola de Engenharia. Ainda enfatiza, mesmo que implicitamente, que Campina Grande estava mais desenvolvida do que muitas capitais nordestinas, pois nem todas as capitais da região tinham uma escola semelhante.

Percebemos ainda que além de demonstrar a importância da Escola como de seus profissionais para o desenvolvimento dessa cidade e região, o articulista reforça o imaginário da época que, segundo esses discursos, era um ‘destino’ de Campina e dos campinenses transformar-se em uma cidade próspera, pois aquele tempo era o momento de redenção dessa cidade [Alarcon Agra do Ó – O Leito de Procusto: Nacional-Desenvolvimentismo e Educação. Campina Grande, 1959: João Pessoa; 1996 – Dissertação de Mestrado em Educação, p. 41]. E a Politécnica, de acordo com esse discurso, estava propiciando isso para Campina.

Se a primeira turma de engenheiros formados na Politécnica foi solicitada para uma tão importante obra, com a segunda turma, segundo o Diário da Borborema, não seria diferente, pois não poderia ser mais gratificante para uma Escola ter todos os seus alunos recém-formados contratados, como podemos ver na seguinte matéria:

‘Diretor da RFN solicita engenheiros à Escola Politécnica

Num entendimento pessoal com o dr. Antônio da Silva Morais, diretor da Escola Politécnica da Paraíba, o engenheiro Lauriston Pessoa, diretor da Rede Ferroviária do Nordeste invocando a velha camaradagem dos tempos de estudantes na Escola de Engenharia de Recife, solicitou que lhe fosse arranjado pelo menos três dos novos engenheiros diplomados pela EPUP [Escola Politécnica da Universidade da Paraíba], afim de serem admitidos nos serviços daquela ferrovia. Prometeu o sr. Lauriston Pessoa, pagar inicialmente, no período do estágio dos novos técnicos, ordenados de vinte mil cruzeiros mensais. O professor Antônio Morais não pôde atender ao seu apelo do seu colega, alegando que já estarem colocados todos engenheiros da segunda turma da Politécnica. O fato não deixa de ser alvissareiro, demonstrando por si mesmo a valorização dos estudos técnicos atualmente entre nós’ [matéria publicada no Diário da Borborema em 08/07/1959].

Levar os alunos a visitas técnicas

De imediato essa notícia não teria nenhuma relevância, mas após uma leitura e análise mais profunda percebemos que o jornal passa ao leitor a ideia de que os alunos formados na Escola Politécnica têm uma formação profissional de tão significativa qualidade que despertavam o interesse imediato de outras instituições em contratá-los, ou ainda, que a formação dos engenheiros civis da Escola Politécnica garante ao engenheiro egresso dessa instituição uma colocação imediata no mercado de trabalho.

Pouco tempo depois, o jornal publica outra notícia mostrando o sucesso que gozava a Escola Politécnica, afirmando que o fato de ter todos os seus alunos empregados não era por acaso e sim por um engajamento, comprometimento com a excelência de formação que partia dos professores e diretores dessa instituição.

‘Seguem hoje sobre a presidência do professor Vinícius Londres da Nóbrega

Uma embaixada de universitários do 3º ano de engenharia civil da Escola Politécnica desta cidade seguirá hoje com destino a Natal, no Rio Grande do Norte, presidida pelo professor Vinícius Londres da Nóbrega, catedrático de Hidráulica Teórica e Aplicada. Finalidade: A finalidade da excursão é dar prosseguimento as aulas práticas adotadas recentemente pela diretoria da Escola Politécnica visando a mais complexa formação profissional dos futuros engenheiros diplomados em Campina Grande. ‘Aula certa no lugar exato’. Os universitários campinenses viajarão às 13 horas de hoje, devendo receber aulas da Cadeira de Hidráulica diretamente nas obras do porto de Natal, de acordo com o ‘slogan’ já em vigor entre os professores da Escola Politécnica da ‘aula certa no lugar exato [matéria publicada no Diário da Borborema em 02/06/1960]’.

Essa notícia, fala de algo que colocava a Escola mais uma vez em uma posição de destaque, isto é, levar os alunos para aulas práticas para ambientes que geralmente eles só teriam a oportunidade de estar ou conhecer se trabalhassem nele. Podemos perceber ainda que, ao afirmar a importância das aulas práticas que os alunos do terceiro ano já estavam experimentando se procurava mostrar que existia uma antecipação na prática real da engenharia civil pelo qual a Escola primava.

‘Mais uma pedra num alicerce solidíssimo’

Uma das possíveis razões pela qual a Escola Politécnica passava a partir de então a dar mais ênfase, levando os alunos a fazer visitas técnicas, se deve ao fato da grande maioria de professores dessa instituição desenvolver outros trabalhos em órgãos sediados em Campina Grande e como não se tinha tempo para se dedicar à pesquisa, levavam os seus alunos a antecipar esse contato com essas atividades mais concretas. Assim, unia-se o ideal da construção de uma instituição de excelência, com a compreensão do papel da prática na formação do engenheiro, e com a particularidade da atuação e experiência profissional de seu quadro de professores e engenheiros civis.

Seguindo essa linha de discurso, apresentamos um editorial escrito por Stênio Lopes referente à quarta turma de formados da Escola Politécnica. Isso nos possibilita perceber um pouco o que esse articulista vai esperar desses formandos.

‘(…) Nesta croniqueta, quero saudar os jovens engenheirandos: Moita, Dahia. Terei pena de não estar presente a sua festa, pois naquele mesmo dia nas suas mesmas horas de cerimônias festivas de recepção dos diplomas, estarei querendo Deus acompanhando outros amigos: os da Faculdade de Filosofia.

Podem eles estar certos de que, presentes ou ausentes, todos os amigos da Escola Politécnica lhes desejarão, no dia 8 de dezembro, os melhores votos de felicidade e êxito na vida. É mais uma turma que deixa a Escola e é como se fosse mais uma pedra no alicerce solidíssimo daquela unidade de ensino superior de nossa cidade, sob cujo padrão de eficiência almejamos que todas as outras se ajustem.

Lembrem-se Dahia, Paiva e Moita de que a Escola Politécnica precisa mais deles agora do que eles precisam da Escola. Se mostrarem no exercício de sua profissão de engenheiros e competência profissional que devem ter haurido dos cursos, a decência e a dignidade que, acima dos conhecimentos científicos e técnicos, valem e brilham mais nos homens e mais necessários são à sociedade, se derem por seu comportamento profissional e moral a prova do que foi e é a Escola Politécnica uma verdadeira matriz de perfeitos cidadãos, úteis à sua Pátria. O conceito e prestígio de uma entidade educacional não estão em seu prédio, em suas instalações, nem mesmo em seus professores: residem nos alunos que forma.

Todos somos testemunhas do esforço empreendido pela direção da Escola para dotá-la de bons mestres, inclusive quando mandou buscar nos mais adiantados centros técnicos do Sul do país aqueles professores pagos pela Cosupi [Comissão Interna do Ministério da Educação] e que deixaram, realmente na, Escola um caminho. Não importa isto em que dizer que os outros professores, os recrutados em nosso meio próprio meio, não fossem bons. Ao contrário, a grande maioria era de primeira qualidade, tendo ademais um fator primordial a valorizar-lhes a capacidade: o amor que sempre dedicaram à sua Escola.

Outras gerações de estudantes passaram pela Escola Politécnica. Mas em verdades, não podem desejar senão que eles, se não puderem ser melhor, sejam ao menos do padrão do que até hoje encerraram ali a sua fase de preparação próxima e diretamente para a vida [LOPES. Stênio. ‘Rosas dos Ventos’. Diário da Borborema. Campina Grande: 02 de dezembro de 1961].

Podemos perceber que o editorial nos informa sobre a formação de alunos dos cursos de Filosofia, da Faculdade de Filosofia (FAFI) e de Engenharia Civil, da Politécnica, não se dando ao trabalho de fazer nenhum comentário sobre a formatura dos primeiros, pois mesmo tendo uma formação humanista, ela não se deslumbra muito com os filósofos que estavam acabando de se formar. Porém, ao se referir aos formados da quarta turma de engenheiros da Escola Politécnica, esses foram lembrados pelo próprio nome, como Alberto Dahia, Alceu Vilola Paiva e Adalberto Machado Moita.

Para Stênio Lopes, ao enfatizar a formação de mais uma turma é ‘como se fosse mais uma pedra no alicerce solidíssimo daquela unidade de ensino superior de nossa cidade, sob cujo padrão de eficiência almejamos que todas as outras se ajustem’.

Pessoas retas, dignas e ‘perfeitas’

Ao mostrar o esforço e a perseverança de cada um desses formados nesse caminho profissional que muitas vezes se apresentava de forma árdua, ao enfatizar que serão recompensados, Stênio tenta passar a ideia por trás desse discurso que, apesar de ser bom em nível de satisfação pessoal, o sucesso alcançado através da Escola Politécnica também seria bom para toda a sociedade. A Escola não se limitaria a formar apenas bons profissionais engenheiros, mas sim pessoas de honra e caráter, devendo esses alunos se orgulhar não apenas por serem engenheiros, mas, também, por serem engenheiros formados na Escola Politécnica, ou seja, a Escola, no decorrer de sua atuação na cidade, deveria cuidar da formação intelectual e moral dos alunos, assim como Stênio discute.

Sendo assim, os engenheiros Dahia, Moita e Machado, passaram a servir de modelo e exemplo a serem seguidos pelos estudantes de modo geral, dentre os quais poderiam estar aqueles que, em um futuro próximo, seriam alunos dessa conceituada instituição de ensino. Entretanto, não poderia deixar de ser feito outro questionamento, do porquê de Stênio Lopes, mesmo indo participar da festa dos formandos em Filosofia, não dedicou nenhuma linha aos concluintes desse curso? Será que estes não eram importantes para a sociedade campinense?

Apesar de não estar explicito o fato de Stênio Lopes ao se referir à formação dessas duas turmas, a de engenheiros e a de filósofos, acreditamos que a preferência dada aos primeiros, não se deve ao fato dos segundos não terem importância, mas sim, porque naquele momento, os engenheiros representavam essa vontade transformadora que permeava alguns setores da sociedade brasileira que almejavam mudanças no sentido de modernização.

Sendo assim, ao formar esses engenheiros, estava se formando uma espécie de ‘mensageiros do progresso’, seja este material ou espiritual, pois esses homens, através dos seus conhecimentos técnicos, se bem utilizados, poderiam ‘remover’ os obstáculos ao desenvolvimento de uma região, e, mais especificamente, no Nordeste onde esse anseio passa a ser mais presente.

Todavia, era como se Stênio estivesse dizendo à sociedade campinense que recebesse de braços aberto esses formandos, pois sendo modelos de cidadãos, poderiam, através desse conhecimento, transformar a natureza em favor do bem estar para a população; uma vez que, ao construir uma rodovia, encurtariam distâncias, construindo uma hidrelétrica possibilitam o conforto da energia elétrica ou ao construir uma adutora, disponibilizaram o precioso líquido para a casa das pessoas.

Ainda seguindo nessa linha de discurso, o jornal mais uma vez, ao publicar uma matéria, se esforça para mostrar a Politécnica como aquela instituição que estava materializando o progresso.

Curso de Problemas do Nordeste na Escola Politécnica da Paraíba

Interesse da imprensa de outros Estados pelo assunto – antecipou a nossa Escola a outros estabelecimentos congêneres. A repercussão alcançada em toda a região nordestina em torno dos propósitos da Direção da Escola Politécnica da Paraíba, da criação do ‘Curso Problema do Nordeste’, naquele estabelecimento de ensino superior indica esse estado febricitante do progresso e desenvolvimento que vem tomando conta de todas as forças vivas de Campina Grande [grifo nosso]. A imprensa de outros Estados já vem se preocupando com a iniciativa de nossa Escola Politécnica, registrando-se, inclusive em longos artigos que Campina Grande tem sido a pioneira da solução de vários problemas nordestinos [grifo nosso], entre os quais se destaca, agora a ideia da criação de um curso considerado que está sendo por técnicos de alta valia e grande importância, especialmente para os engenheiros que terão de futuramente empregar seus conhecimentos no Nordeste. Por outro lado, a nossa Escola Politécnica antecipou-se a diversos outros estabelecimentos do Gênero, sediado em capitais de outros Estados, dando assim um exemplo de capacidade dos homens estudiosos de Campina Grande, nas lutas que travam pela melhoria dos nossos padrões técnicos, pelo aprimoramento dos nossos estudos e pela pronta equação de problemas que versão apenas beneficiar a nossa terra, pois terá influência em todas as camadas nordestinas relacionadas com o estudo da engenharia. Verifica-se, portanto, que necessariamente se torna para efetivar a industrialização de Campina Grande, crio-se por outro lado, os conhecimentos da técnica e da ciência, em boa oportunidade enquanto na criação do curso de ‘problemas do Nordeste’ e da Fundação criada pela municipalidade campinense [matéria publicada no Diário da Borborema em 11 de janeiro de 1958].

Nesta notícia, o jornal já indicava que objetivo a Escola Politécnica se propunha a alcançar: encontrar soluções que pudessem romper com o atraso econômico, tecnológico e social em que estava inserida a região Nordeste na década de cinquenta. Ela representaria para esse segmento letrado da sociedade campinense, um símbolo desses tempos de busca, de se criar bases materiais que viessem dar viabilidade ao tão almejado progresso. A Poli seria então, a instituição que iria auxiliar a cidade em seu processo de industrialização e desenvolvimento técnico-científico.

Ainda de acordo com a notícia, o progresso estava atrelado à Poli e vice-versa; daí o motivo da existência de cursos como o que foi mencionado. É interessante observar que, além de mostrar o desenvolvimento que a Escola estava proporcionando não só ao Estado, mas, também, ao Nordeste, pode ser inferido pela matéria que tais fatos só estavam sendo possíveis pelos que faziam a Politécnica, isto é, diretor, professores, alunos, estudiosos e politizados, estando estes um passo à frente no encalço do progresso, eles eram, por si só, de vanguarda. Ou seja, mesmo sendo um acontecimento em uma cidade do interior, eles estavam mais atentos ao progresso que outras cidades e capitais.

As notícias e artigos trazidos aqui buscam ser representativos, pois nos dão uma dimensão de como o jornal, através da publicação de informações sobre a Escola Politécnica ou a ela referente, contribuiu na construção imaginária dos campinenses, em especial, do quanto a cidade estava saindo do atraso, deixando o arcaísmo de lado e migrando para o progresso e a modernização. Esse discurso trazido pelo jornal servia apenas como um reforço para aquilo que já era divulgado, principalmente pelos que faziam a Escola.

Ainda segundo esse discurso jornalístico, a Politécnica só foi instalada em Campina Grande graças ao espírito de luta e força dos intelectuais campinenses, afirmação que procura mostrar que os campinenses são dotados de grande força para alcançar seus ideais para ajudar a cidade, estado e região a se desenvolver. Havendo também a ideia de que a Escola não só formava engenheiros, mas cidadãos, pessoas retas, dignas e ‘perfeitas’ como podemos ver em um dos editoriais mostrados anteriormente.

A Escola ajudaria a disciplinar esses alunos para que os mesmos fossem exemplos a ser seguidos, tanto como profissionais como cidadãos. E isso, obviamente, implantava ou despertava nos leitores desse jornal o idealismo de que eles eram capazes de tudo, até mesmo de resolver os problemas do próprio Nordeste.

Considerações finais

Podemos afirmar, assim, que o Diário, através de suas matérias e editoriais, procurava fazer com que os leitores acreditassem na ideia de que essa Escola estava realmente contribuindo para o desenvolvimento não só de Campina Grande, mas de toda uma região. De acordo com esses discursos, a Politécnica só vinha a demonstrar mais uma vez o espírito de iniciativa dos campinenses e que deveria ser ‘a menina dos olhos do nosso aparelho de ensino superior’ [editorial de Lopes de Andrade publicado pelo Diário da Borborema em 13/12/1959].

Assim sendo, observamos que esse jornal e seus articulistas contribuem na construção identitária de uma instituição de referência, sempre dando ênfase ao seu pioneirismo e dinamismo. Desta feita, podemos afirmar que esse meio de comunicação contribuiu para que a instituição e a cidade fossem percebidas como lugar que estava viabilizando o progresso da ciência e da técnica.

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Mestre em História pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e pesquisador do projeto ‘Organização e Preservação da Memória da Ciência e Tecnologia em Campina Grande’