Pelo artigo publicado neste Observatório [ver remissão abaixo], nota-se que o jornalista e professor Laurence Bittencourt Leite observa de forma falha a Escola de Frankfurt – apenas sob o prisma da Teoria da Comunicação, sem compreender o alcance da Teoria Crítica sobre todo o espectro de relações políticas, culturais e sociais de uma Alemanha e um mundo em colapso após a Primeira Guerra.
A crítica que dá nome à teoria é sobre todo o tecido social, vide sua influência sobre a contracultura, os movimentos de 1968 etc., e não somente sobre os meios de comunicação. Diga-se de passagem, a Teoria Crítica volta suas baterias principalmente para o positivismo e a razão instrumental (a razão como meio para a aplicação de técnica, e não como forma reflexiva do homem).
Os meios de comunicação massificados são efeitos e ferramentas desta visão instrumental e positivista. Mesmo dentro deste prisma, a opção por criticar a Escola de Frankfurt sob um suposto viés antidemocrático (usando a palavra marxista em sentido nada elogioso) mostra desconhecimento – ou ignorância propositada – sobre a atuação dos pensadores frankfurtianos durante a ascensão de Hitler, até mesmo pelo fato de que a influência de Hegel sobre a escola chega a ser maior do que a de Marx.
A crítica imperiosa
Também é um truque de cabaré dizer que, pelo fato de seus autores quererem ser lidos (e usarem de meios de massa para a difusão de suas idéias), as críticas aos meios de comunicação de massa elaboradas por eles não reúnem méritos ou razão. É primário dizer que, pelo fato de usarem esse meio, os autores deveriam se curvar a ele e louvá-lo ou preservá-lo de críticas.
Aliás, observo que a ilação sobre mass media como produto da sociedade do capital cai por terra no próprio argumento de crítica à Escola. Afinal, os mass media também estavam e estão presentes nos regimes pseudo-socialistas (o cinema soviético é apenas um exemplo…). A tentativa de mistificar dizendo que os pensadores da escola fecharam os olhos para este fato cai por terra facilmente: basta passar os olhos pela obra de Marcuse e Habermas, só para lembrar os mais conhecidos neste tema em especial.
A crítica sobre o poder alienante dos meios de comunicação de massa, mais do que necessária, é imperiosa. A história é recheada de exemplos de manipulação por parte da mídia, servindo a interesses outros. Ou a histeria terrorista e as justificativas pífias para a invasão do Iraque (amplamente divulgadas como verdade incontestável por canais de comunicação como os da News Corp., de Rupert Murdoch, no interesse do governo que o financia) devem ser aceitas como realidade apenas porque são norte-americanas ou pelo raciocínio de que por sair na TV deve ser verdade?
Grave erro histórico
Nem precisamos ir muito longe: aqui mesmo, nas terras de Pindorama, os sucessivos vexames de nossa mass media e sua obsessão por estardalhaço e espetáculo durante a crise política mostram que algo precisa mudar.
Para encerrar, a questão do salvacionismo é grotescamente falha, pois o processo de transformação apontado pela Escola de Frankfurt começa em cada um, num movimento reflexivo e interno, para depois ganhar o externo. Não se pregam soluções mágicas nem embebidas em moral burguesa.
Também é um grave erro histórico dizer que a crítica só ocorreu após a mudança para os Estados Unidos. Só para recordar, Walter Benjamin morreu antes disso, e sua obra maior – A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica – foi publicada em 1936. Fico pasmo que um texto, teoricamente escrito por um professor, seja tão distorcido e demonstre tamanha falta de conhecimento. Talvez seja por isso que o nível dos profissionais que saem das universidades hoje seja tão questionável.
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Publicitário e filósofo, Curitiba