Que o Carnaval é a maior festa popular do Brasil todo mundo já sabe. Sabemos também que não é fácil para os jornalistas e meios de comunicação fazerem a cobertura diferenciada de um acontecimento que se repete todos os anos. Porém, essa não pode ser a desculpa para a superficialidade e mesmo a banalidade de informações ao noticiar uma festa tão estreitamente ligada à nossa história social e cultural. O Carnaval pode ser um período privilegiado para o exercício do jornalismo cultural, que pressupõe a crítica, a análise, a reflexão e o aprofundamento. Nesta semana que antecede a maior festa brasileira, decidimos analisar como anda o exercício do jornalismo cultural catarinense, a partir de um mergulho nas páginas dos dois diários de maior circulação no estado.
A Notícia
Tá certo, o Carnaval ainda não começou, mas no ‘inconsciente coletivo’ dos brasileiros há uma pequena voz que nos lembra: fevereiro é o mês da folia. Somos bombardeados por terra, água e mar (TV, rádio e impressos) com apelos e chamadas sobre onde e como o Carnaval vai dar o ar da sua graça.
Porém, após analisar as edições do jornal A Notícia do dia 12/02 ao dia 15/02, parece que o Carnaval ainda está aparentemente longe. Havia apenas quatro matérias específicas sobre Carnaval e uma crônica. Também houve uma inserção do tema Carnaval em uma matéria sobre o movimento do setor hoteleiro em Florianópolis, veiculada no dia 12.
O Carnaval esteve presente de fato, com presença diária garantida, apenas nas colunas de Moacir Benvenutti, nas quais o mesmo focava o tema no Carnaval de Florianópolis. Houve também uma breve menção à folia em São Francisco do Sul em suas notas.
Nenhuma cobertura aprofundada apareceu no quesito cultura, com exceção da matéria intitulada ‘Manequinha é sinônimo de Carnaval’, presente na edição do dia 15/02. Nela, Manoel Rosa, 82 anos, conhecido como Manequinha, fundador do grupo folclórico bumba meu boi em Jaraguá do Sul, é apresentado aos leitores. Na matéria, expõe-se um breve perfil de Manoel que o associa ao Carnaval.
No caderno Anexo dessa mesma edição de A Notícia há uma dica para quem não gosta de Carnaval. Na seção Para fugir do Carnaval (exclusiva dessa edição do periódico), há uma matéria intitulada Esquentando as guitarras que informa aos leitores sobre o Grito Rock, um festival de bandas que é uma alternativa para quem não pretende passar esse final de semana sob o som do samba.
Completando a alegoria informativa do AN, há nessa mesma edição uma tabela com o roteiro do Carnaval catarinense, mostrando onde e quando ocorrem as festas nas cidades de Florianópolis, Laguna, Joaçaba e São Francisco do Sul. Na mesma página (A8), o leitor fica sabendo os estabelecimentos públicos que abrem ou não no período do Carnaval.
Diário Catarinense
Durante o período analisado, o Diário Catarinense deu pouco enfoque cultural nas matérias sobre carnaval. O jornal concentrou sua cobertura em dois aspectos (abrangendo mais o local, presente em todos os dias): nos preparativos do carnaval e no serviço, ou seja, informações sobre preços de ingressos, horários e locais dos desfiles. O periódico acompanhou por três dias as pessoas que enfrentaram a fila no Centrosul, até a venda do último dos 8 mil ingressos para ver o desfile na capital catarinense.
No dia 13/2, o DC trouxe na Reportagem Especial informações para quem quisesse desfilar em alguma escola de samba de Florianópolis, divulgando as últimas vagas, bem como a fila para comprar ingresso para o desfile. Apresentou também informações sobre pacotes de viagem, preços e sites para quem quer curtir o carnaval no Rio de Janeiro, São Paulo ou Salvador.
Sobre o carnaval no estado, apresentou apenas Joaçaba, mostrando os preparativos e a programação da cidade; e Laguna, que sexta-feira irá inaugurar seu primeiro sambódromo, e trouxe um box sobre a estrutura e compra de ingressos.
O jornal abordou somente dois aspectos culturais no período analisado. Um no dia 12/2 na editoria Visor com foto do carnaval na capital de 1964, do bloco Negos Zulus, vencedor do 3º Baile Municipal do Clube 12 de Agosto; e o outro no dia 15/2 com o título: ‘Após três anos, escolas voltam a falar da África’, que mostrou que o tema África voltou nos enredos das escolas de samba cariocas Beija-Flor, Salgueiro e Porto da Pedra.
Aparentemente, o clima de Carnaval parece não ter contagiado as páginas dos jornais a ponto de fazê-los esquecer de questões mais importantes como a atual discussão acerca da maioridade penal. Pelo menos é o que parece nessa semana que antecede a folia. Lembrando que sempre há o consolo de que, como diz aquela canção, todo carnaval tem seu fim.
Tomara que, com o fim do Carnaval deste ano, as discussões importantes que estão sendo tratadas também não sumam, e se sumirem, que voltem com mais freqüência que o Carnaval.
Por onde andará o jornalismo cultural?
A origem do Carnaval é incerta, há quem afirme que suas raízes estão no Egito antigo, outros o apontam como manifestação da cultura greco-romana e há até mesmo conjecturas de que ele seja fruto da transformação da vida social a partir da divisão de classes. Para celebrar deuses, a colheita ou a vida em sociedade, certo mesmo é que o Carnaval nasceu no meio do povo, uma festa pagâ, contraditoriamente instituída oficialmente pela Igreja Católica no século XI ao definir formalmente o período da quaresma. A provável origem da palavra Carnaval vem justamente do italiano carne vale, (privação de carne) em referência aos dias que antecediam a quaresma e todos aproveitavam para comer a carne que não poderiam degustar nos próximos 40 dias. Vale carne, carne vale, carnaval… Trazido pelos europeus ao Brasil, o carnaval como hoje o conhecemos, sobretudo o do Rio de Janeiro, é fruto da oposição de classes. De um lado a elite carioca do século XIX que desejava um carnaval civilizado, que seguisse o exemplo dos franceses e seus luxuosos bailes de máscara. De outro, as classes menos favorecidas e seu gosto pela brincadeira do Entrudo, trazida pelos portugueses. O Carnaval não é brasileiro, mas foi no Brasil que se converteu em uma das mais importantes festas populares do mundo. E o brasileiro que se orgulha de dizer que o Brasil é também o país do carnaval não sabe, muitas vezes, da própria origem de nossa mais importante festa popular.
Os meios de comunicação poderiam e deveriam ajudar a construir, consolidar nossa memória cultural. Este período de ‘pré-carnaval’ poderia ser um importante momento para discutir a nossa suposta identidade nacional a partir de um de seus maiores símbolos. O que se vê, no entanto, salvo raras exceções, não passa da mesmice dos agendamentos para festas, desfiles ou para fugir deles. Foi exatamente o que constamos no ‘pré-carnaval’ dos dois maiores jornais diários de Santa Catarina.
As informações destacadas acima, bem como a história e traços singulares do carnaval em Santa Catarina não foram destacados no AN ou no DC. O exercício do jornalismo cultural observado no período de 12 a 15 de fevereiro se restringiu, lamentavelmente, ao agendamento das festas e desfiles no Estado. Nada de análise, de interpretação, de crítica, elementos essenciais do jornalismo cultural. Daniel Piza, em seu livro Jornalismo Cultural aponta mesmo que esse é o grande ‘drama’ que vive o jornalismo cultural brasileiro – a superficialidade, a ausência de conteúdo relevante, o mergulho na cultura de variedades e das celebridades. Tudo aquilo que caracterizou a história do jornalismo cultural brasileiro parece ter desaparecido. Numa prática de jornalismo impresso já tão uniforme, padronizada, onde impera a mesmice e ausência de profundidade, é doloroso perceber que um dos espaços mais privilegiados para o exercício do jornalismo interpretativo também esteja cada vez mais subordinado a esta fórmula. Tudo bem que não exista consenso sobre o conceito de cultural e que de fato as atrizes e atores de TV não deixem de fazer parte de nossa história cultural, o pior mesmo é metaformose que os cadernos culturais vêm sofrendo e se tornam cada vez menos críticos e menos instigantes da análise e reflexão.
Vamos torcer para que durante o carnaval o jornalismo cultural de fato apareça, nas apenas nas páginas dos diários catarinenses, mas em toda a cobertura nacional. Oxalá tenhamos uma cobertura que vá além dos desfiles das escolas de samba do Rio, dos bonecos de Olinda ou dos trios elétricos de Salvador. Caso nossas previsões mais pessimistas se concretizem, não se preocupe caro leitor, se você perder alguma edição dos jornais, afinal, carnaval tem todo ano e no ano que vem certamente tudo será repetido…
Sobrará o que na Quarta de Cinzas?
A mídia e a sociedade reverberam suas queixas e seus pleitos por mais segurança diante da escalada da violência. A tragédia da morte do menino João Hélio trouxe à tona mais componentes para alastrar ainda mais o clamor popular pelo fim (ou pelo menos diminuição) da violência nas grandes cidades. Fez-se de tudo: passeatas, missas, protestos, minutos de silêncio, capas de revista, manchetes de jornal, blocos inteiros de telejornal. Mas isso dá resultado? Ou mais: dará?
Com a chegada do Carnaval, o país pára. Todos ou quase todos voltam suas cabeças para a avenida, para a madrinha da bateria, para as passistas-nota-dez. O Brasil se contagia, festeja, regozija-se. Esquece as mágoas, transfere dívidas sociais, adormece ilusões.
Na Quarta-Feira de Cinzas, sobrará algo dessa indignação? Restará vestígios do assombro popular, do pânico da classe média, do temor dos meios de comunicação por uma convulsão social? Os meios de comunicação engavetarão o assunto? E como irão ressuscitá-lo?
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Os jornais locais precisam abrir os olhos. Em nossa enquete – que ficou no ar na última quinzena –, perguntamos Qual jornal você? Os resultados mostraram que 37,5% dos internautas lê jornal de âmbito estadual, 25% lêem jornal nacional e outros 37,5% lêem ambos. Nenhum voto foi computado para os jornais locais. Embora não tenha caráter científico, a enquete sinaliza um comportamento do mercado leitor e ajuda os editores dos diários da cidade a calibrar mais os seus meios. O futuro estará nas TVs comunitárias? No sistema a cabo? Nos portais locais? Nos blogs? Perguntas, perguntas…
Violência, cotidiano e as soluções que procuramos
Laura Seligman (*)
A sociedade se move por demandas que mesmo que pareçam justas, muitas vezes se perdem no calor de discussões que não se aprofundam. Quem deve ir para cadeia por crimes que cometa? O restante da pergunta poderia ser: maiores de 16 ou de 18 anos de idade, mas talvez seja melhor que todos se questionem sobre a eficiência dos sistemas de segurança pública e da aplicação de leis.
A discussão sobre a maioridade penal voltou com pressa após o brutal assassinato do menino João Hélio Fernandes, de seis anos, no Rio de Janeiro. Arrastado por sete quilômetros, morreu de traumatismo craniano porque quem roubava o automóvel de sua mãe, não permitiu que ela soltasse o cinto de segurança que prendia o menino no banco traseiro.
O crime bárbaro choca, revolta, a gente chora em casa na frente da televisão. Mas depois de uma semana, se conforma, entra na roda viva no dia-a-dia, e para a maioria, nem sabe se houve realmente alguma mudança eficaz que garanta ruas mais seguras, dias tranqüilos, noites em paz. Só não esquecem as vítimas que sobrevivem a esse tipo de tragédia. Essas seguem esperando uma solução.
As emoções, a consternação social, são importantes símbolos de solidariedade, um sinal de que ainda somos humanos. Mas para quem legisla, executa, administra o bem público, apesar da emoção ou da indignação provocadas pelas tragédias, a preocupação deveria ser permanente.
Está errado, concordo, um menino de 16 ou 17 anos ser encarcerado num outro tipo de prisão (que na verdade não se diferencia em nada) e voltar ao convívio social após no máximo três anos, sem que qualquer medida educativa tenha sido tomada. Aliás, o poder público chama esse encarceramento de ‘medida sócio-educativa’.
Quanto as cidades brasileiras se tornaram mais seguras com as leis que deveriam punir os maiores de idade? De que forma eles têm se recuperado durante o período em que estão presos? Com quais condições retornam às ruas?
O site da Human Rights Watch, organização de direitos humanos, registra da seguinte maneira as condições de nossos presídios:
‘Os presos brasileiros são normalmente forçados a permanecer em terríveis condições de vida nos presídios, cadeias e delegacias do país. Devido à superlotação, muitos deles dormem no chão de suas celas, às vezes no banheiro, próximo ao buraco do esgoto. Nos estabelecimentos mais lotados, onde não existe espaço livre nem no chão, presos dormem amarrados às grades das celas ou pendurados em redes. A maior parte dos estabelecimentos penais conta com uma estrutura física deteriorada, alguns de forma bastante grave. Forçados a conseguir seus próprios colchões, roupas de cama, vestimentas e produtos de higiene pessoal, muitos presos dependem do apoio de suas famílias ou de outros fora dos presídios. A luta por espaço e a falta de provisão básica por parte das autoridades leva à exploração dos presos por eles mesmos. Assim, um preso sem dinheiro ou apoio familiar é vítima dos outros presos.’
Não há aprendizado ou recuperação em condições como essas. Não há sistema que proteja a sociedade do cidadão revoltado que sai desse ambiente. Não que o Estado deva mimar quem cometeu crimes, mas tentar diminuir os elementos que provocam o caos social. Quem sabe com trabalho, educação e condições dignas dentro e fora dos presídios, a violência diminua. Quem sabe com responsabilidade social por parte de todos, em cada pequeno ato, a situação melhore e as tragédias se tornem somente uma péssima lembrança do passado.
(*) Jornalista, mestranda em Educação e professora do curso de Jornalismo na Univali; pesquisadora do projeto Monitor de Mídia
Tendências em Itajaí
Laura Seligman e Valquíria John (*)
Quando o verão vai chegando ao fim, todas aquelas resoluções que se tomam na emoção do ano novo começam a voltar à memória. Desta forma, muita gente decide procurar o primeiro emprego ou até uma melhor colocação no seu mercado profissional. Somados a esse movimento profissional, milhares de novos profissionais chegam ao mercado com as formaturas que os empurram à renovação.
Em Itajaí, novos veículos e novos investimentos podem significar mais vagas para jornalistas. Com 15 anos de ensino superior de jornalismo na cidade, a Univali, segunda escola desta área no Estado e hoje a maior universidade catarinense, pode ter representado uma significativa colaboração para esse incremento e para a profissionalização da atividade na região.
Itajaí conta com três diários e mais uma sucursal do Grupo RBS e seus diários, além de diversos semanários, jornais mensais e outros sem periodicidade fixa, mas que mal ou bem, vez por outra contratam jornalistas. Uma das publicações diárias, o Diário de Itajaí, abriu recentemente a partir de uma tentativa mal-sucedida de compra do Diário da Cidade. A disputa pode ser vista como um bom sinal de aquecimento do mercado, mas ainda é cedo.
O mesmo panorama se dá em relação às emissoras de rádio que com poucas exceções, trabalham sem contratar jornalistas profissionais diplomados. Pode-se destacar entre elas a Rádio Educativa Univali FM, com a maior equipe de jornalistas em rádio da cidade.
O maior número de profissionais trabalhando em veículos de comunicação deve estar mesmo nas emissoras de televisão. Neste caso, podemos contar com uma sucursal da RBS TV, a própria TV Univali que deverá operar em sinal aberto para toda a população ainda neste ano, mais a Brasil Esperança, que segue contratando de um lado, mas burlando a lei de outro, trabalhando com mais estudantes do que profissionais. Entre as pequenas destacam-se o Canal X e a TV Itajaí, esta última com atrasos sistemáticos nos pagamentos de seus funcionários.
Entre as emissoras de TV, o maior investimento em jornalismo está na TV Record, com a contratação de profissionais e a veiculação de noticiários locais, seguindo uma tendência mundial de regionalização dos noticiários e que vem agradando o público e conquistando audiência.
Talvez seja essa a grande saída que muitos ainda não enxergaram. Os jornais locais que se especializaram em coberturas frívolas, com seqüências intermináveis de ‘fotos sociais’ ou que só empilhavam textos copiados de grandes veículos ou mais contemporaneamente, da Internet, podem ver uma chance de crescer. Com a contratação de repórteres e editores profissionais, a qualidade constante mantém o público e só faz aumentar.
Outra área cada vez mais em expansão como mercado de trabalho para os futuros jornalistas é a assessoria de comunicação. Por muito tempo marginalizada até mesmo pelos acadêmicos (por sua óbvia vinculação comercial), a comunicação organizacional tem absorvido cada vez mais um número maior de nossos egressos. Essa tendência se confirma pela procura intensa dos egressos do jornalismo nos cursos de pós-graduação na área e, inclusive, pela abertura de empresas de comunicação por muitos de nossos ex-alunos. E esta não é apenas uma tendência de Itajaí e região e dos alunos da Univali, mas um panorama nacional. Desde que as instituições perceberam a importância de preservar e consolidar sua imagem e a influência que os meios de comunicação podem exercer na tomada de decisões por parte de seus clientes, o trabalho do jornalista e demais profissionais da comunicação passou a ser muito mais valorizado. Claro que nem tudo são flores, há muitos jornalistas trabalhando fora do regime preconizado pela lei, principalmente no que se refere à jornada de trabalho, já que a maioria das empresas não contrata profissionais para cumprir as cinco horas recomendadas. Para burlar a lei, muitas alteram a função na hora de assinar a carteira dos jornalistas, atribuindo-lhes nomes diversos, menos ‘jornalista’.
A obrigatoriedade do diploma em jornalismo e o intenso trabalho dos sindicatos e universidades na fiscalização das empresas de jornalismo ainda não é suficiente para impedir as irregularidades, o trabalho fora da lei, o que compromete não apenas o mercado de trabalho, mas principalmente a qualidade da informação que chega aos cidadãos. Por isso, cabe a todos nós a fiscalização, a luta pelo exercício regular do jornalismo e, principalmente, o exercício constante do monitoramento e leitura crítica da mídia.
(*) Jornalista, mestranda em Educação e professora do curso de Jornalismo na Univali; jornalista, mestre em Educação e professora do curso de Jornalismo na Univali; ambas pesquisadoras do projeto Monitor de Mídia
Sem papel?
The New York Times é o jornal mais influente do mundo. Tem uma tiragem impressionante na casa de 1,1 milhão de exemplares ao dia, a terceira maior dos Estados Unidos. Sua redação congrega quase trezentos jornalistas e seus correspondentes estão nas principais praças do mundo. Suas análises políticas afetam destinos em Washington e em outros centros de poder. Seus diagnósticos econômicos agudizam ou suavizam crises internas em países nos quatro cantos do mundo. Por essas e outras é que a declaração de Arthur Sulzberger, na semana passada, provocou mais do que rumores no mercado jornalístico mundial.
Suizberger é o presidente, editor e dono do NYT, e afirmou que a meta é fazer uma boa transição do jornal impresso para a internet. O empresário disse isso no Fórum Econômico Mundial, em Davos. E suas palavras mais do que ecoaram pelas montanhas suíças. O que era para ser uma conversa informal tornou-se uma análise do mercado de mídia no globo e o futuro do negócio mídia. ‘Realmente não sei dizer se ainda estaremos imprimindo o Times daqui a cinco anos (…) A web é um lugar maravilhoso para trabalhar, e nós estamos liderando nesse meio’, disse.
Suizberger entende que o jornal – como o conhecemos hoje – já não mais central na vida urbana das pessoas, como foi há dez anos. Para se ter uma idéia, o NYT amarga com quedas em seus negócios há quatro anos… Já na internet, as coisas vão muito bem, obrigado. O jornal dobrou seus leitores chegando a 1,5 milhão ao dia, mais que a versão impressa. O empresário explica: ‘Antigamente, as pessoas tinham que ler os jornais para descobrir o que estava acontecendo. Hoje existem centenas de fóruns e sites com esta informação. Nós precisamos fazer parte desta nova comunidade e dialogar com o mundo online’.
O magnata reconhece que essa transição não será nada fácil. Mas está de olho na economia que terá a sua companhia nos próximos tempos. O último investimento que fez em impressão para o NYT girou em torno de um bilhão de dólares. Se fosse em internet, ele faria uma revolução!
Mas o leitor deve estar se perguntando: O que isso tem a ver com a minha vida?
Respondemos: muita coisa. Se um dos gigantes do meio jornalístico vê esse futuro e deve abandonar o mercado impresso, a indústria que vive disso vai sofrer sérios solavancos. Não apenas pela saída do NYT, mas pela fila que ele deve atrair atrás de si, gerando um efeito dominó em escala global. Mexe não apenas com quem fabrica, vende, importa e exporta papel e tinta. Mas também realinha as verbas publicitárias, criando imensos e caudalosos rios de dinheiro deixando as bancas e seguindo para os portais. Mexe ainda com os grandes jornais nacionais, e por conseguinte com os menores do estado, que devem se tornar cada vez mais locais. Muda o mercado e muda a oferta de informação também. Quem irá pagar para ler o New York Times? O anunciante ou você, leitor? E você, pagaria por um jornal que não folheia, nem dobra, nem leva para casa? Que mudanças isso traz para as rotinas de trabalho dos jornalistas envolvidos? Vão trabalhar mais, mas ganharão mais por isso também?
As perguntas são muitas, e as respostas, meras especulações.
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