Que a internet mudou a vida de todos ninguém duvida. Mas a rede mundial de computadores provocou também tremores em diversos setores econômicos. No jornalismo, as transformações ainda estão em curso, com a chegada dos blogs, com a necessidade de manter páginas eletrônicas atualizadas e com as potencialidades do hipertexto, da interatividade e da convergência tecnológica.
A imprensa tem corrido atrás do prejuízo e os jornais estão tentando se reposicionar no cotidiano informativo dos cidadãos. Entre os catarinenses, o Jornal de Santa Catarina e o Diário Catarinense são os títulos que mais investem nesse casamento entre meios impressos e internet.
Até foto do leitor…
No quesito interação com o leitor, o Jornal de Santa Catarina é bastante atencioso, pois disponibiliza os e-mails dos seus colunistas, dos jornalistas (quando as matérias são assinadas) e dos editores de cada caderno. Apresenta ainda um espaço onde publica cartas dos leitores, artigos escritos sobre diversos assuntos e o Clique do Leitor, seção onde são divulgadas fotos enviadas ao jornal. A participação do público é incentivada.
Com um pequeno selo que acompanha as colunas, o Santa indica o arquivo online dos textos, no portal ClicRBS. O recurso das enquetes também é bem valorizado pelo periódico, com a indicação da votação no site. Estes pequenos esforços consolidam a tentativa do Jornal de Santa Catarina de criar um canal de comunicação mais efetivo com o leitor. Ganha o leitor com o interesse do jornal no diálogo e também o jornal, já que desperta participação ativa do leitor.
Convidando a participar
O Diário Catarinense segue a mesma tendência apontada pelo co-irmão Jornal de Santa Catarina, ambos do Grupo RBS: demonstra preocupação com a interatividade com seus leitores. A maioria das matérias assinadas possui e-mail do jornalista que a assina, facilitando o contato direto do leitor com o profissional.
Além disso, as primeiras páginas de cada editoria apresentam pelo menos telefone do editor e e-mail para contato, localizados sempre no alto da página. As colunas, possuem telefone e e-mail, além do selo que indica a leitura de colunas anteriores no portal ClicRBS. A coluna Tiro Livre é a única que apresenta o ‘Opine na RBS’, onde o leitor pode tirar dúvidas e dar sugestões através do site. A seção de artigos também traz e-mail e telefone dos autores.
O periódico reforça ainda mais a importância da opinião do leitor no aspecto das enquetes, localizadas sempre no final de algumas matérias, que são respondidas através do site. Pôde-se conferir também, matérias em que se faz referência ao site para buscar mais informações, como a apresentada pelo DC no dia 29/10, na Reportagem Especial com o título: ‘Para o eleitor’.
Sem ligação com a web
No que tange a interatividade dos jornais e sua ligação com a versão eletrônica na internet, A Notícia demonstra estar mais distante do leitor, de maneira que apresenta somente a seção de cartas para a opinião do leitor, não possuindo outros mecanismos para a interação do leitor, apenas uma enquête semanal.
Além disso, somente nas colunas, seções de artigos e crônicas podem ser vistos os e-mails dos colunistas e autores, respectivamente. Nenhuma matéria assinada trouxe e-mail do jornalista, não facilitando a comunicação direta entre o leitor e o profissional.
O portal do jornal é mencionado somente no alto da contracapa, mesmo lugar onde estão situados os telefones e e-mails nas páginas das outras editorias. Ou seja, o periódico parece não ter interesse em direcionar seus leitores ao portal, remetendo-os a matérias ou a edições anteriores, por exemplo.
Dos três jornais analisados, o AN foi o que apresentou o menor grau de interatividade e vínculo de comunicação com o leitor.
Conteúdos exclusivos
O grupo RBS concentra as informações on line do Diário Catarinense e do Jornal de Santa Catarina no clicRBS. Neste portal, além do conteúdo em tempo real, é disponibilizada a categoria ‘Jornais’. Nela, estão os atalhos (links) para a versão eletrônica de todos os jornais do grupo (menos do recém-comprado A Notícia, que ainda mantém seu próprio portal).
Quando aos atalhos, os jornais ficam em segundo plano. Já que na internet o aspecto da velocidade é o mais prezado, o leitor/internauta acaba preso nas informações logo na página do portal, atualizadas constantemente. Quanto à interatividade do portal, é disponibilizado um ‘Fale conosco’, localizado discretamente no topo da página. Através dele, o internauta pode enviar sua mensagem dentro de cada categoria.
O Diário Catarinense possui um endereço direto para sua página. Nele, o mesmo canal de comunicação do portal – o ‘Fale conosco’ – está disponível. Na coluna localizada à esquerda, estão disponíveis diversas categorias, que englobam os aspectos tratados pelo jornal, como o primeiro caderno (com suas editorias) artigos e especiais. As matérias trazidas na versão impressa são disponibilizadas na íntegra, inclusive com fotos e outros recursos de imagem. O periódico também disponibiliza o fac-símile em pdf (formato para leitura de documento digital) da capa da edição do dia. Todos os mesmos aspectos estão também na página do Jornal de Santa Catarina, aqui.
Ambos possuem o quadro de ‘Interatividade’. Neste espaço, há três links: Enquete, que consiste em perguntas relacionadas com assuntos variados; Fórum, que são mensagens enviadas pelos leitores/internautas sobre o tema de capa; e Mural, onde se pode deixar a opinião acerca dos assuntos propostos diariamente. Todos simples e, principalmente os dois últimos, muito similares na aplicação.
Nenhuma das duas páginas possui um maior desdobramento dos fatos com outros tipos de mídia – como arquivos de áudio ou vídeo. A opinião do leitor/internauta escondida dentro de um link discreto também não cria um verdadeiro mecanismo de interatividade e coletividade da informação. Somente na página do Santa há iniciativa de um blog – o Oktoberzeitung -, que se resume em comentar a festa de outubro mais famosa de Blumenau. Não há também uma forma de comunicação direta com editores ou jornalistas. Somente através de uma categoria ‘editorias’, dentro do fale conosco, é possível enviar uma mensagem.
Assim, como dito anteriormente, o conteúdo eletrônico dos jornais fica em segundo plano, diante dos maiores atrativos da página principal do portal, principalmente com sua maior atualidade e velocidade. A homogeneidade online dos periódicos, com o mesmo layout e links, não instiga o leitor/internauta a conferir ambos. Além disso, já que os arquivos de edições passadas se resumem a somente uma semana, os sites são uma fonte limitada de pesquisa.
Banco de dados online
A Notícia possui um portal próprio, o Portal AN. A sua página principal é dividida em três partes principais: a superior do AN Agora, em que os fatos atualizados constantemente são dispostos; a coluna da esquerda, com as categorias que levam aos assuntos específicos; e a inferior do Jornal A Notícia, com as informações da versão impressa do dia.
O site não tem uma forma direta de entrar em contato com a redação, como um ‘Fale conosco’. Nem de entrar em contato com os jornalistas, como por e-mail. Somente os colunistas disponibilizam seus endereços eletrônicos, em suas respectivas categorias do site. A falta de um ‘institucional’ também chama a atenção, principalmente agora que o periódico foi adquirido pelo grupo RBS.
A página principal disponibiliza uma enquete diária, normalmente referente ao assunto de destaque do jornal. Nela há o espaço ‘Mande aqui seu recado’, em que o leitor/internauta pode dissertar sobre a questão e ter o comentário publicado na versão impressa.
Há também o fac-símile da capa da edição do dia, além do arquivo das que foram impressas durante o ano. Todas as matérias, na íntegra do texto e sem as fotos e outros recursos visuais, estão num vasto arquivo, que contém 10 anos de informações. Estes dois aspectos, junto com uma ferramenta de busca disposta na página principal, tornam esta versão online um interessante banco de dados, muito útil para pesquisas históricas.
‘Raloim’, atipicamente brasileiro
A tradição do Dia das Bruxas, comemorado no dia 31 de outubro, já se tornou assunto de agenda para os jornais. Neste ano, os jornais não deixaram de fora esta tradição celta-estadunidense.
O Halloween foi destaque de abertura do caderno ‘Anexo’ de A Notícia. Na matéria ‘Você tem medo de quê?’ foram abordadas as origens da comemoração. O festejo foi relacionado com o ensino do inglês no país e a conseqüente prática entre as crianças.
Já o Diário Catarinense e O Jornal de Santa Catarina apresentaram as bruxas e suas práticas. Ambos, com a mesma matéria ‘A bruxa está solta’, mostraram receitas para conquistar amores e sucesso, além de endereços de centros mais próximos e como é possível praticar o lado bom.
O que chamou a atenção foi que nenhum dos jornais tratou do Dia do Saci. Esta comemoração foi instituída para o dia 31 de outubro, justamente para a valorização da cultura do Brasil. A solenidade foi criada através dos projetos de Lei 2479/2003 e 2762/2003 de autoria, respectivamente, dos deputados Ângela Guadagnin (PT-SP) e Aldo Rebelo (PCdoB-SP).
Os jornais não deixaram de, no dia 22 de agosto, mostrar o Dia do Folclore. Mas seria importante o ‘outro lado’ com os personagens brasileiros, justamente pela proximidade com que eles têm com a nossa história e tradições.
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