Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

De onde vêm os professores?

Em recente entrevista à Folha Dirigida (Rio de Janeiro, 1/9/2005), o ministro da Educação Fernando Haddad lembrou que ‘não existe bom ensino fundamental sem professores formados nas universidades, nos vários cursos de licenciatura, Pedagogia e Normal Superior’.

A pergunta dramática é se os estudantes que ingressam nestes cursos estão sendo devidamente formados, ou, mais dramaticamente ainda, se todos os professores universitários que lecionam nesses cursos estão aptos a transformar seus alunos em professores. De onde, afinal de contas, vêm os (bons) professores? Os professores que ministram suas aulas no nível superior foram, a seu tempo, orientados por bons mestres?

As perguntas incômodas, inoportunas, querem chegar ao ovo do qual nasceu a primeira galinha, ou à galinha que pôs o primeiro ovo. Quem ensinou quem a ensinar outro alguém a outro alguém ensinar? Basta um decreto? Basta o diploma? Bastam diretrizes, parâmetros?

Uma estudante universitária contou-me recentemente vários episódios que ela presencia diariamente numa tradicional faculdade paulista. Professor que joga pedaço de giz em aluno, professora que abusa de palavras ‘difíceis’ para ocultar sua insegurança didática, professor que não tem hábito de leitura, professor que implica com aluno e ameaça puni-lo ‘na próxima vez que…’, professora que troca o conteúdo da disciplina pela descrição de sua última e maravilhosa viagem à Índia…

Curiosidade, curiosidade…

Todos conhecem, felizmente, professores cujo talento e sensibilidade contrastam com a mediocridade consentida de muitos docentes. Acontece que sensibilidade e talento não são ensináveis. Existe manual infalível que ensine a ensinar? Dependeremos, então, da sorte para encontrar um professor à altura das nossas expectativas?

O relato da aluna universitária com quem falei não constitui uma reclamação isolada. Lamentavelmente, é um que representa milhares. Não se trata de fazer uma generalização indevida, pois de fato há, insisto, professores competentes, inesquecíveis, no ensino superior. Mas… serão inesquecíveis e competentes por que estudaram por sua vez em universidades cujo corpo docente sabia ensinar como ensinar?

A arte de ensinar é ensinável, sim, por contágio e inspiração, quando temos a oportunidade de conviver com mestres que encarnam o conhecimento e não simplesmente o transmitem.

Mais do que transmissores de idéias filosóficas, professores que filosofem conosco. Mais do que informadores de conteúdo previsto, professores que contextualizem tudo, e despertem a curiosidade insaciável. Mais do que cobradores de dados, textos, termos, acertos… professores que nos tornem repórteres atentos da realidade!

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Doutor em Educação pela USP e escritor; (www.perisse.com.br)