Antes de tudo, gostaria de agradecer aos formandos pelo convite para ser paraninfo das turmas. Primeiro, pela surpresa de se lembrarem de mim tanto tempo depois. Em segundo lugar, por terem me escolhido, mesmo não sendo professor de nenhuma das habilitações específicas.
É gratificante, sem dúvida, ver reconhecido um trabalho acadêmico que, passados quase quatro anos, se traduziu, ao menos em parte, em vida, visão de mundo, bagagem acadêmica a ser permanentemente atualizada.
O que celebramos hoje, neste auditório, é um rito de passagem. Alguns minutos que ficarão em suspenso entre o que foi, e conhecemos por ter vivido, e o que virá e apenas se faz pressentir. Um misto de alegria, esperança e apreensão.Algo que Drummond expressaria em versos que me permito alterar ligeiramente : ‘E agora’Josés? Josés, e agora?’ Agora virão os bons combates. Aqueles que devem ser travados com princípios bem definidos.
Vocês estão preparados para o mercado, mas devem almejar bem mais que isso. Precisam fazer da comunicação social uma ferramenta de permanente questionamento. De incessante criação de algo que, por natureza, deve permanecer inacabado, em permanente processo de aperfeiçoamento. Entender a história como devir é um belo primeiro passo.
Aplauso fácil e credibilidade
Mas é fundamental lembrar alguns pontos importantes. Aos jornalistas, asseguro: para atuar na imprensa é necessário, hoje mais do que em qualquer outro período, serenidade, competência e um aguçado senso ético. A democracia só existe quando é vista como projeto a ser diariamente reinventado. E a atividade jornalística talvez seja isso: um desvelar sem fim de atos e fatos.
A informação não deve se submeter a outro imperativo que não seja o do aprofundamento democrático. Do bem informar em nome do interesse público.
O jornalismo não se pode prestar a instrumentalização partidária ou se confundir com entretenimento. Deve ser instância de fiscalização dos Poderes, de afirmação republicana. Quando a imprensa vira partido, seja de oposição ou de apoio a qualquer governo, deixa de cumprir seu papel de aprimorar a esfera pública, deixa mesmo de ser imprensa para se tornar presa fácil de empreitadas escusas.
Peço-lhes que, no exercício da profissão, não misturem informação e opinião. Valorizem a apuração, não façam um jornalismo de ilações e acusações vazias. Lembrem-se que, muitas vezes, o aplauso fácil vem na contramão do maior capital da profissão de vocês: a credibilidade.
O imutável se transformará
Aos publicitários, relembro a importância de pensar o consumo não apenas como resultado de estratégias de venda, de práticas persuasivas, mas como ato social que, ampliado, faz a cidadania avançar. No momento em que esse mesmo consumo cresce a uma taxa de 13% ao ano, a criatividade deve estar voltada para falar aos novos incluídos pela bem-sucedida implementação de programas sociais de transferência de renda . O país mudou e, com isso, repensar a publicidade também é tarefa inadiável. Sejam diretores de arte ou redatores de uma nova ordem social. É um desafio e tanto para quem sabe conjugar saberes específicos com consciência social.
Aos profissionais de Relações Públicas devo recordar que a imagem e identidade de organizações precisam ser construídas na medida exata dos interesses da sociedade em que atuam. .As políticas de relacionamento de instituições devem se subordinar às exigências de um país que tem como objetivo a democracia ampliada.
Peço-lhes, por fim, que assumam o compromisso de nunca se sentirem formados. Continuem, na vida profissional, a questionar permanentemente simplificações que se apresentam como verdades absolutas.
Meus queridos alunos, já dizia o poeta Paul Valéry: ‘A gente vive e morre aquilo que vê, mas só vê aquilo que sonha.’ Então não hesitem, sonhem. Sonhando, vejam. Vendo, lutem. Lutando, cresçam. E o que parecia imutável se transformará magicamente.
Sejam muito felizes. Muita luta, muita sorte e muito obrigado.
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Professor titular de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), Rio de Janeiro, RJ