Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Direto da Redação

RECORD vs. GLOBO
Eliakim Araújo

Bote preço, 22/03/07

‘A vitória da Record sobre a Globo na disputa pelos direitos de transmissão dos jogos olímpicos de 2012 é, como alguém já disse, emblemática, porque a emissora do bispo ganha da adversária com a arma que ela usou a vida inteira para derrotar a concorrência: o poderio econômico.

A Record jogou pesado. Inflacionou o mercado ao oferecer 60 milhões de dólares pela Olímpiada de 2012, em Londres, sabendo-se que a Globo pagou 12 milhões pela de 2008, em Pequim. Ou seja, cinco vezes mais. Irrecusável. A Globo não pagou pra ver, preferiu cair fora.

Numa semana em que as conquistas da rede da Igreja Universal ocuparam grandes espaços da mídia, com a aquisição da Rádio e TV Guaíba e do jornal Correio do Povo, todos de Porto Alegre, a notícia desta quarta cai como uma bomba: a Record vai recorrer aos tribunais internacionais para tirar da Globo os direitos de transmissão sobre as próximas copas, de 2010 e 2014. A emissora descobriu que a oferta da Globo foi menor que a oferecida por ela. Agora a FIFA terá que explicar o porquê do favorecimento.

A verdade é que nunca faltou o vil metal aos Marinho. Durante décadas compraram tudo que havia no mercado: de campeonato de futebol de botão a corrida de submarinos, figurativamente falando. E mesmo que eventualmente não transmitissem determinado evento, eles não cediam os direitos às demais, prejudicando em última análise o telespectador.

Em todo esse tempo, o império global nunca chegou a ser incomodado verdadeiramente. Houve algumas pontadas da Manchete, quando surgiu, e do SBT em determinado período. Ambas inconsequentes. Correndo por fora, com um cacife pra ninguém botar defeito, chegou a Record, depois de passar por um sério percalço no episódio do bispo que chutou a imagem da santa, em 1995.

A Globo perde os direitos sobre a Olimpíada de 2012 no exato momento em que sua audiência vem despencando. As últimas pesquisas indicam que, à exceção do BBB, todos os programas da emissora apresentam números abaixo de quarenta pontos. E sua novela carro-chefe, a das 8, não consegue decolar, apesar de inúmeras tentativas de mudar o rumo do folhetim.

Do ponto de vista comercial, o prejuízo da Globo é grande. A perda de faturamento é inevitável. Do ponto de vista moral, é mais grave. Significa o fortalecimento da arqui-rival num terreno onde ela sempre reinou imbatível. O flanco global está vulnerável. A propósito, já ouvi, sem confirmação, que na época em que a Globo atravessava sua maior crise financeira, há uns quatro ou cinco anos, com sua dívida sendo cobrada executivamente em Nova Iorque, um emissário do bispo Edir Macedo teria feito chegar aos Marinho uma proposta de compra, com a provocação: ‘bote preço’.

Claro que é extremamente saudável para o mercado que haja um equilíbrio entre as TVs na disputa pela preferência dos telespectadores. Como nos Estados Unidos, onde as grandes redes disputam a liderança ponto a ponto. No Brasil, reinou sempre a ditadura global. As demais emissoras não cresceram por acomodação, incompetência ou falta de investimentos.

Apesar do componente religioso dessa guerra, a democratização da audiência é fundamental para a melhoria da programação e passa por disputas como essa, entre Record e Globo.

Agora é aguardar o próximo lance. Quem dá mais?

(*) Ancorou o primeiro canal internacional de notícias em língua portuguesa, a CBS Brasil. Foi âncora dos Jornais da Globo, da Manchete e do SBTe noticiarista da Rádio JB. Tem uma empresa de assessoria em jornalismo e marketing.’



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