VENEZUELA
Repórteres com fronteiras, 7/06/07
‘Chama atenção a celeridade e o empenho da organização não-governamental Repórteres Sem Fronteiras de condenar a não renovação da concessão da emissora venezuelana RCTV. Agora, a ONG anuncia que levará o caso à Comissão de Direitos Humanos da ONU.
‘O fim do canal RCTV inaugura uma hegemonia do poder sobre o espaço audiovisual e um grave perigo ao pluralismo editorial’, diz o relatório da Repórteres Sem fronteiras.
É curiosa a conclusão da ONG. O fim de um único canal de TV, diz ela, representa a hegemonia do poder na televisão venezuelana e um risco ao pluralismo editorial. Quer dizer que a RCTV garantia sozinha a não hegemonia do poder e o pluralismo editorial?
Parece bem longe da verdade. A maioria esmagadora de meios de comunicação na Venezuela é privada e sem qualquer compromiso com o governo. Ao contrário, dados de janeiro deste ano revelam que as maiores continuavam no mínimo desequilibradas na abordagem de suas reportagens políticas. A extinta RCTV levou às telas 21 personalidades hostis ao governo e nenhuma favorável. A Globovisión convidou 59 opositores de Chávez e 7 favoráveis. A Televen levou dois de cada lado. As informações são do Le Monde Diplomatique e foram reproduzidas no blog do Nassif.
Dos 81 canais de televisão, apenas dois são estatais. Das 709 rádios, duas são do governo. Como se inaugura uma hegemonia do poder sobre o espaço audiovisual?
Outra importante observação da Repórteres Sem Fronteiras diz respeito ao pluralismo editorial. Essa é uma crítica importante, mas que jamais foi feita ao monopólio da comunicação em outros países. Não me recordo de qualquer observação da ONG sobre a concentração dos meios de comunicação brasileiros nas mãos de poucas famílias. Não li nada sobre a utilização do poder da mídia aqui e alhures para favorecer políticas conservadoras.
Este seria um bom debate para a Repórteres Sem Fronteiras levar adiante. Caso contrário, corrobora cada vez mais as denúncias de que produz seus relatórios sobre liberdade de imprensa atendendo interesses norte-americanos.
Após a divulgação de que suas fontes de financiamento eram ligadas ao governo dos EUA, como a National Endowment for Democracy (NED), criada pelo governo Reagan, e a Agência norte-americana para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), conhecida por sua participação no golpe militar no Brasil em 1964, o porta-voz da ONG, Robert Ménard reconheceu estes apoios, mas negou qualquer interferência.
Ménard revelou que a RSF também é apoiada pelo Centro para Cuba Livre, organização de exilados com sede em Wasginhton, mas apenas para lutar pela libertação de jornalistas presos na ilha. Coincidência ou não, a RSF faz campanha sistemática contra Cuba, que considera prioritária na América Latina, e agora tem voltado suas baterias para a Venezuela. Agora não. No frustrado golpe de 2002 contra Chávez, a RSF afirmou em comunicado que Chávez assinara sua renúncia, o que jamais aconteceu, endossando o que era divulgado pela grande imprensa venezuelana.
(*) Trabalhou no Globo, JB e Agência Estado. Foi correspondente da F-1 em Londres, durante três anos. Foi editor de política do JB e repórter especial de economia. Atualmente trabalha na agência Reuters.’
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