É conhecido entre os paradigmas da escrita jornalística o valor dispensado à objetividade, a partir do momento em que esta se mostra intimamente ligada à imparcialidade do autor. Iniciando os estudos acerca de textos informativos, o estudante calouro de Comunicação comumente vê contrariado seu desejo criativo e de expressão. Ao longo do curso, entretanto, com o desenvolvimento das temáticas que guiam a produção de um texto desta especificidade, o uso da objetividade destaca-se não mais como barreira, mas sim como compromisso e como qualidade.
Entendendo-se que a função do jornalista é informar, o valor da linguagem simples e objetiva, assim como a clareza de idéias e de proposta, destaca-se em detrimento dos brios do profissional por trás da notícia – a princípio tentado em fazer de sua escrita um meio de auto-afirmação. O contato entre o ideal de expressão, proveniente da visão externa do futuro jornalista sobre sua profissão, e suas reais possibilidades, entretanto, marcam um ritual simbólico em que o referido futuro profissional deixa de fazer parte do universo externo para estar introduzido no contexto da produção.
É este o ponto em que são deixados de lado as expressões pessoais – exceto no âmbito de artigos e crônicas – e o desejo deslumbrado do uso da comunicação como resolução para as questões que aborda – a antiga taxação simplista entre ‘certo’ e ‘errado’. A face do jornalismo observada socialmente difere-se em muito da realidade interna, porque, de fato, a informação produzida sempre formatar-se-á de acordo com os interesses e possibilidades de seu público.
Entediado
O jornalista descobre, assim, que sua expressão se atém, antes de tudo, às limitações e anseios da outra extremidade do processo comunicativo, o receptor. O público não sabe, mas o formato do jornal que lê ou o telejornal ao qual assiste foi criado por ele próprio. E por que o estudante novato não o sabia? Porque até então havia sido apenas público. Quanto à dialética sobre o efeito da objetividade em limitar ou não a narrativa jornalística, a hierarquia do lide, e o formato conciso, pode ser interpretada como reflexo de egos – numa profissão cheia deles.
Pode ser interessante como jornalista discorrer por páginas e páginas a respeito de um acontecimento, mostrando sua riqueza de vocabulário, utilizando-se de recursos gramaticais e sinestésicos; mas imagino o mesmo jornalista sendo colocado como público. Ficaria entediado.
Isso porque o jornalismo é em seu próprio cerne rápido, dinâmico, objetivo. Mostra o que realmente interessa, o que é fato, e que as conclusões provenham do público. Literatura é literatura, jornalismo é jornalismo. E olha que quem assina este artigo tem como maior ídolo o romântico José de Alencar – mas também aprendeu a ser objetivo.
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Estudante de Jornalismo em Ribeirão Preto, SP