Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Notícia falsa sobre morte de treinador se espalha na rede

Uma série de escorregões jornalísticos no sábado (21/1) antecipou em pelo menos 12 horas a morte do ex-treinador do time de futebol americano da Universidade Penn State, Joe Paterno. Bastante conhecido nos EUA, onde a atuação de times universitários tem grande importância no cenário esportivo, Paterno ganhou destaque na mídia internacional no ano passado, acusado de ter acobertado um escândalo sexual envolvendo um de seus subordinados. O assistente Jerry Sandusky foi acusado de ter abusado sexualmente de alunos durante anos, e Paterno, criticado por não ter denunciado o caso ou protegido os jovens. O treinador, que comandava o time há 46 anos, acabou demitido do cargo em meio ao escândalo – o que provocou revolta entre estudantes, que consideraram que ele havia sido injustiçado.

Neste fim de semana, mais especificamente na noite de sábado, uma organização de notícias estudantil da Penn State chamada Onward State divulgou em seu site a morte do ex-treinador. A notícia foi reproduzida pela unidade de esportes da rede CBS e outros grandes veículos americanos, e logo se espalhava pelo Twitter. A família de Paterno negou publicamente a informação, e sua morte foi anunciada oficialmente no domingo.

Competição pelo furo

O incidente lembrou o caso da falsa notícia sobre a morte da deputada americana Gabrielle Giffords, no início do ano passado, após um tiroteio em Tucson, no Arizona. Gabrielle ficou gravemente ferida, mas diversos veículos chegaram a noticiar sua morte. Nos dois casos, as organizações de notícias que erraram divulgaram notas com pedidos de desculpas. Mas já era tarde demais. Em sites que discutem o jornalismo, como o Poynter, e em comentários no Twitter de especialistas no assunto, como o professor Jay Rosen, da Universidade de Nova York, o debate já havia começado: a pressa (e a competição excessiva pelo furo) é inimiga do jornalismo.

O problema na notícia antes de hora sobre a morte de Paterno foi a falha em confirmar informações com fontes confiáveis. No início do dia, surgiram boatos sobre a deterioração da saúde do ex-treinador, e a família confirmou que seu estado era grave. Dois editores da Onward State sabiam dos boatos e tomaram conhecimento de um e-mail que teria sido enviado a atletas da Universidade sobre a morte de Paterno. O e-mail era falso, mas, naquele momento, os editores da publicação estudantil não sabiam disso. Com estas informações, eles enviaram um tuíte e publicaram um artigo em seu site. A CBS Sports logo replicou a notícia, e em pouco tempo centenas de jornalistas, atletas e internautas em geral já haviam espalhado a informação errada. Uma hora depois, a família negou a morte.

Mea culpa

Devon Edwards, chefe de redação do Onward State, pediu demissão e enviou e-mail ao chefe dizendo que “a tristeza logo se transformou em choque e pânico quando percebi que havia cometido o erro da minha vida”. A publicação informou no domingo, entretanto, que ele deve continuar na equipe. A CBS divulgou declaração dizendo que havia errado ao não verificar a notícia original. O Huffington Post, que também divulgou a notícia da morte da noite de sábado, afirmou que falhou ao não identificar a fonte original da informação em seu artigo.

“A lição para todo mundo deveria ser que a precisão [das informações] ainda é importante”, afirmou Lou Ferrara, editor-chefe para esportes, entretenimento e multimídia da Associated Press. Ele completou que o caso lembra o início da internet, “quando as pessoas achavam que a revolução digital resultaria na queda da qualidade dos padrões jornalísticos. Esta queda só acontece se permitirmos”.

Joe Paterno tinha 85 anos e morreu na manhã de domingo (23/1), por complicações causadas por um câncer de pulmão. Com informações de Brian Stelter [The New York Times, 23/1/12] e de Craig Silverman [Poynter, 22/1/12].