O jornal britânico The Times, pertencente à News Corp., está sendo investigado pela polícia por uma possível invasão de computadores praticada por um repórter, o que amplia o escândalo de mídia envolvendo a empresa ao terceiro jornal de Rupert Murdoch no Reino Unido. O Serviço Policial Metropolitano está investigando o Times por acesso não autorizado a e-mails, disse Tom Watson, parlamentar do Partido Trabalhista, em um e-mail. Autoridades envolvidas na Operação Tuleta, que investiga possíveis acessos ilegais a computadores, disseram ter mantido contato com Watson, disse a polícia em outro e-mail.
É a primeira vez em que o Times é investigado pela polícia desde que um escândalo de grampeamento de telefones fez com que a News Corp. fechasse, em julho, o tabloide News of the World, então com 168 anos de existência. Uma investigação paralela sobre um possível suborno de policiais por repórteres resultou na prisão, em Londres, de quatro atuais e ex-funcionários do tabloide The Sun, da News Corp., sediada em Nova York, cinco dias atrás.
Watson é membro da comissão do parlamento britânico que investiga a interceptação, por repórteres, de mensagens de voz enviadas a telefones celulares. Em agosto, ele disse acreditar que invasões de computadores seriam o próximo escândalo com que se defrontariam as empresas de mídia Murdoch no Reino Unido.
O editor do Times, James Harding, declarou em outra investigação coordenada por um juiz que um repórter do jornal, que é publicado há 227 anos, teve acesso não autorizado a uma conta de e-mail para obter informações para uma notícia. “Depois que o fato foi trazido à minha atenção, o jornalista sofreu uma ação disciplinar”, disse Harding, em depoimento por escrito encaminhado aos investigadores. “O repórter acreditava estar buscando obter informações de interesse público, mas nós assumimos a posição de que ele tinha ficado aquém do que se espera de um jornalista do Times.”
Programa de “estabilização de e-mails”
Harding será convidado a prestar declarações adicionais perante a comissão investigadora, presidida pelo juiz Brian Leveson, disse ontem (02/02) uma pessoa a par da situação. A abertura de inquérito foi solicitada pelo primeiro-ministro David Cameron, em resposta ao escândalo de escutas telefônicas ilegais. “A cultura do Times é muito diferente da de outros jornais da News International – eu ficaria surpreso se (a prática ilegal) for mais que a iniciativa autônoma de um repórter desleal”, disse Niri Shan, um advogado especializado em mídia na empresa Taylor Wessing, em Londres. “É um problema sério em si mesmo e eles vão se preocupar aonde isso poderá levar.”
Ian Hurst, um ex-oficial do exército britânico, processou a News International, unidade sediada em Londres da News Corp., acusando a empresa de ter contratado um especialista em computação para invadir sua conta de e-mail. A atriz Sienna Miller disse à comissão investigadora, no ano passado, que suspeitava que seu computador tivesse sido acessado pela mídia em 2008, embora não tenha dito por qual jornal. A porta-voz da News Corp., Daisy Dunlop, não quis comentar o assunto.
A investigação ocorre dias depois de a News International apresentar novas evidências à comissão de Watson, descrevendo o apagamento de um e-mail interno, que posteriormente ressurgiu e contradisse afirmações feitas por James Murdoch, vice-principal executivo operacional da News Corp. O e-mail enviado por Colin Myler, ex-editor do News of the World, sugere que James Murdoch foi informado em 2008 que as escutas telefônicas ilegais praticadas pelo jornal eram mais disseminadas do que a empresa alegou. Murdoch, que diz não ter lido o e-mail porque a mensagem havia sido enviada em um sábado, afirmou à comissão investigadora não estar ciente dos “grampos” telefônicos generalizados antes do estouro do escândalo.
A cópia da mensagem na caixa de e-mail de Myler foi “perdida pelo sistema de arquivamento de e-mails devido a uma falha de equipamento” em março de 2010, ao passo que a cópia de James Murdoch foi apagada por um funcionário de TI da News International em janeiro de 2011 como parte de um programa de “estabilização de e-mails”, segundo o escritório de advocacia da companhia. A investigação policial começou menos de duas semanas depois (tradução de Sergio Blum).
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[Erik Larson e Robert Hutton, da Bloomberg, de Londres]