O mais recente Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (XIII Enancib), principal evento da CI no país, ocorreu no fim de outubro, no Rio de Janeiro, onde 708 inscrições foram efetivadas e 315 trabalhos foram aprovados. Menos de um mês depois, os preparativos para a realização da reunião do ano que vem já estão em movimento e bem aquecidos.
Em entrevista concedida ao blog Dissertação Sobre Divulgação Científica, a presidente da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Ciência da Informação (Ancib), Isa Maria Freire, fala sobre o encontro, apresenta as promissoras perspectivas profissionais que estão se abrindo, comenta sobre a inserção da divulgação científica nos estudos da CI e revela novidades em andamento para o campo, como a criação de um portal dos grupos de estudo (GTs) da Ancib.
Formada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN-1979), Isa Freire começou a carreira acadêmica no Programa de Pós-Graduação em CI do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde concluiu o mestrado (1986) e o doutorado (2001).
Atualmente, além de presidir a Ancib, ela atua na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), edita a revista Informação & Sociedade: Estudos, é editora-chefe do periódico Pesquisa Brasileira em Ciência da Informação e Biblioteconomia e do blog De olho na CI (entre outras atividades). Principais temas com os quais trabalha: comunicação da informação; competências em informação; políticas de informação; inclusão social; responsabilidade social.
Sua entrevista:
Como a senhora avalia a realização do Enancib-2012?
Isa Freire – O Enancib é sempre uma experiência positiva, um oportuno momento de profícuo trabalho coletivo que representa o enriquecimento do campo da Ciência da Informação e o desenvolvimento dos respectivos atores/participantes.
Qual é o impacto do Enancib nas pesquisas nacionais em Ciência da Informação?
I.F. – Realmente, não saberia mensurar o impacto nas pesquisas, mas há, sem dúvida, uma significativa influência na produção científica. A partir daí, muitos trabalhos são submetidos a revistas e publicados. Também vejo de forma otimista a formação de parcerias e o intercâmbio de ideias.
Posso citar um exemplo particular da integração e possibilidade de expansão oferecida pelo evento. Recentemente, encontrei um texto de Luciana Gracioso e Maria Nélida González de Gómez sobre a Teoria da Ação Comunicativa e sua relevância para o estudo das ações de informações. A obra foi publicada nos anais do XI Enancib e me deu indícios valiosos sobre a aplicação dessa teoria no campo da Ciência da Informação. Certamente há e continuará havendo nos anais dos Enancibs inúmeros outros trabalhos com indicações de variados fios teóricos com os quais se pode tecer uma rede conceitual na Ciência da Informação.
Quais são os temas que mais têm estimulado os estudos da CI hoje em dia? E para onde aponta o desenvolvimento do campo?
I.F. – Tenho observado o crescimento dos estudos no campo das competências em informação, da gestão da informação para a inovação e produção de novos conhecimentos, da informação em saúde, da memória, entre outros. O desenvolvimento da CI, no Brasil, aponta para a inclusão de comunidades na sociedade em rede, através de tecnologias digitais de informação e comunicação, o aprofundamento do debate sobre a ética da informação e as questões epistemológicas da CI.
Como a sociedade da informação afeta os estudos em CI e, também, como este campo contribui para o entendimento da vida social contemporânea?
I.F. – Vivemos na sociedade da informação, melhor, na sociedade em rede e a rede das redes é a internet. É claro que isso afeta os estudos em Ciência da Informação, porque muitos objetos de estudo se inserem nesse contexto, e é aqui que podemos contribuir para a compreensão de fenômenos na organização e comunicação da informação, especialmente na web.
Como a senhora avalia a atuação dos programas de pós-graduação em CI no Brasil? Há diferenças de perfil de acordo com a região do país?
I.F. – O perfil dos programas responde, necessariamente, ao contexto onde eles foram criados e aos recursos disponíveis naquele momento histórico. Nesse sentido, por exemplo, observo que o Programa do convênio do IBICT-UFRJ é o único que mantém uma linha de pesquisa sobre epistemologia da Ciência da Informação, o que se explica por ser o mais antigo da área no Brasil.
Qual é a importância de estudar a epistemologia da CI? Podemos considerar o campo, no sentido conceitual, consolidado ou ainda a se fortalecer?
I.F. – Todo o campo científico se fortalece na pesquisa, na prática e na discussão teórica. A Ciência da Informação se encaixa nesse perfil e, portanto, está sempre em discussão e em movimento. Está vivo! A importância de se estudar a epistemologia da CI é um corolário dessa afirmação: há que se acompanhar, cientificamente, as trilhas, voltas e reviravoltas que o campo apresenta em seu devir histórico. Conhecer sobre a área, discorrer e discutir suas lacunas e construir as pontes teóricas para ir além são inerentes ao ofício dos cientistas em geral.
Como foi a criação e o desenvolvimento do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UFPB?
I.F. – O programa tem uma história bonita, tanto local quanto nacionalmente. Na UFPB foi desenvolvido um mestrado em Biblioteconomia que qualificou grande parte dos profissionais e docentes em atividade no Nordeste, uma contribuição inestimável à área. E nessa nova fase, a partir de 2007, o Programa vem trilhando um caminho de sucesso, tendo obtido nota 4 logo na primeira avaliação trienal (2007-2009) e aprovação do doutorado pela Coordenação de Pessoal de Nível Superior (Capes), em 2012. Outro exemplo dessa história é a revista Informação&Sociedade: Estudos, publicada pelo PPGCI-UFPB, veículo que alcançou recentemente a classificação A1 no Qualis de Periódicos da Capes, e está indexada ao Journal Citatios Reports do ISI – Web of Science.
Que função possui a Ancib no campo da CI?
I.F. – Uma função mediadora, um espaço de organização social e comunicação científica. A Ancib foi muito importante para o crescimento e a consolidação da Ciência da Informação no Brasil, em especial para a criação de um espaço de comunicação de pesquisas, o próprio Enancib.
Quais são as prioridades da sua gestão a frente da Ancib?
I.F. – Como parte das minhas atividades de pesquisa, estou atuando com a Faculdade de Ciência da Informação e do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade de Brasília (UnB) para a criação do Portal dos GTs da Ancib na web. Também estou trabalhando com a Editora Universitária da UFPB para a publicação dos primeiros e-books em parceria com o Laboratório de Tecnologias Intelectuais – LTi/UFPB, e com os organizadores do próximo Enancib, que será em Florianópolis-SC.
Qual a sua opinião sobre o espaço da divulgação científica e tecnológica dentro da CI?
I.F. – Acho que ainda temos muito a crescer, e vamos avançar! Já temos cerca de 60 blogs na área, mais de 30 periódicos de acesso livre na web, 14 Programas e cursos de pós-graduação, uma base de dados (Brapci) com quase 40 mil artigos publicados em periódicos brasileiros no espaço de 40 anos… Contudo, podemos conquistar ainda mais!
Quais as perspectivas profissionais a CI oferece?
I.F. – São muitas. Há diversas chamadas para a capacitação e qualificação profissional e para concursos públicos em universidades e institutos de pesquisa, especialmente para doutores. Trata-se de um mercado de trabalho em crescimento em todo o mundo. Em Biblioteconomia, por exemplo, há demanda para mais de 170 mil bibliotecários nos próximos 10 anos, em decorrência da Lei da Biblioteca Escolar. O mesmo podemos dizer em relação aos arquivistas, com a aprovação da Lei do Acesso Livre à Informação, cuja aplicação demandará milhares de profissionais para organizar e descrever os arquivos. Ainda temos muito a evoluir, tanto em nível de qualificação quanto em termos de mercado de trabalho. E, nesse sentido, a principal medida é incrementar a comunicação, compartilhar e crescer.
Há algum tópico sobre o qual a senhora gostaria de comentar, mas deixamos de abordar na entrevista?
I.F. – Acho que o roteiro conseguiu abranger temas importantes e atuais. Espero ter contribuído.
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[Bruno Lara é jornalista e mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação do convênio entre o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)]