Em 2005 o rádio completou 83 anos no Brasil. Apesar da diversidade de meios e formas de comunicação aprimorados durante todo o século 20 e, também, neste início do século 21, o rádio permanece vivo no país. Mas, precisou mudar. Alguns personagens dos áureos tempos adaptaram-se a essas mudanças, outros, não e acabaram ficando pra trás.
O rádio consegue, ao mesmo tempo, ser o mesmo e mudar tanto, sem perecer. É possível observar dois períodos bem distintos, o apogeu e a época atual, passando por fases de decadência e renascimento. É uma velha fórmula que continua dando muito certo, apesar dos novos rumos.
O ‘algo mais’
Não é à toa que, quando surgiu, a televisão brasileira ficou conhecida como rádio com imagem. O jornal impresso está passando pelo que o rádio passou quando a televisão apareceu. A internet é a ‘vilã’ da vez. Apesar de alguns acharem que podem desaparecer, rádio e jornal têm grande vantagem com relação aos ‘rivais’: a mobilidade. Tanto um quanto outro pode ser levado a qualquer lugar.
Segundo Tales Faria, em seu artigo ‘Blig, blog, boom!’, os jornalistas têm que estar receptivos a essas mudanças. Ou seja, os jornais têm que se adaptar a elas. Hoje, através da internet, somos intensamente bombardeados de informações, e em sua opinião, os jornais ignoram isso: ‘Repetem no dia seguinte o envelhecido noticiário da net do dia anterior sem se darem conta do quanto enfadonhos se tornaram’.
Ainda segundo Tales, os jornais deveriam se encarregar de dar o ‘algo mais’ que não se tem na internet. E as revistas deverão, talvez, se tornar mais analíticas. Tales termina seu artigo fazendo uma análise realista dos tempos atuais e do futuro: ‘O mundo mudou sim com a net. Já passou da hora para os jornais mudarem, e as revistas vão ter que procurar novos caminhos. As grandes redações do passado, repletas de repórteres, terão que se transferir para a net. E os jornais serão pequenos, enxutos: o lugar do furo.’
Sem aperto
O futuro dos jornais é uma preocupação global. George Block, presidente do Fórum Mundial de Editores, e os publishers (diretores-editores) estão se preparando para seu próximo encontro, entre o fim de maio e o começo de junho. A pauta do encontro é um esforço para injetar nos participantes uma mistura de ânimo e preocupação sob medida.
Block considera que praticamente em todas as redações do mundo os esforços estão voltados para a necessidade urgente de mudanças, que estão ‘afetando o mercado de jornais, seus formatos, suas plataformas digitais e os anúncios e que podem até definir a vida ou a morte de um jornal’.
Para Luciano Martins Costa, em seu artigo ‘A metáfora do cemitério dos elefantes‘, ‘correm análises segundo as quais a sobrevivência da imprensa escrita dependerá em grande parte de uma atitude humilde e corajosa diante do mercado, que consistiria em definir claramente um público menos abrangente, mas dono de influência efetiva, e apostar em conteúdos mais consistentes’. Vale lembrar que os jornais sempre estiveram amarrados a eras tecnológicas. Se atualmente vivemos a era da internet, antigamente foi a era da revolução industrial. Graças à impressão em máquinas rotativas, a notícia passou a ser difundida em grandes tiragens.
Ali Kamel acredita que os jornais ainda têm muito tempo pela frente. Em ‘Vida longa para os jornais impressos’, ele fala desse futuro próximo correndo certo ‘risco de cair em ridículo’, pela velocidade com que as coisas caminham. Segundo ele, os jornais impressos sofrerão grandes mudanças, mas sobreviverão sem aperto.
Vida útil
Esta segurança está baseada nos seguintes fatores: a praticidade, a mobilidade e o conforto. Em segundo, eles se manterão porque mudarão seu conteúdo. Os acontecimentos estão mais na esfera do online. À mídia impressa, neste caso os jornais, caberá a explicação do fato, interpretação, análise e efeitos. ‘O lead da escola americana (who, what, when, why e how), já em desuso nos jornais, não tanto por uma questão de estilo, mas por desnecessário, terá longa sobrevida nos meios eletrônicos. A estes caberá a tarefa de informar sobre os fatos. Através deles, do jornalismo online, dos noticiosos da TV aberta, das TVs all news, das rádios, os leitores sabem que uma bomba explodiu em Oklahoma, que a Bolsa de Nova Iorque caiu… Ao pegar na manhã seguinte os jornais, os leitores já não querem ser informados dos fatos, porque já o foram na véspera; querem saber que efeitos eles provocam, que análise pode explicá-los, qual a correta interpretação, como se situar diante deles’, afirma Ali.
Ele acredita que a manchete e o conteúdo do jornal devem ganhar o leitor oferecendo-lhe algo mais, tudo o que o jornalismo em tempo real não fornece. É melhor e mais atrativo compartilhar da emoção do leitor a aborrecê-lo com a mesmice de uma notícia velha, mas com o cuidado de não tornar sensacionalista.
Em suma, tanto Tales Faria quanto Ali Kamel acreditam que o importante é adaptar-se aos novos tempos, à tecnologia. E que o jornal impresso, depois de fazer as modificações necessárias, continuará com sua vida útil durante muito tempo.
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Estudante de Jornalismo da Facha, Rio de Janeiro