Esse é um post rápido, apenas para identificar o meu espanto com o site da TV Brasil que está no ar. Não sei quem o produziu, mas desconfio que isso é parte de um acordo entre a Empresa Brasil de Comunicação e a Rede Nacional de Pesquisa (RNP). O site é inteiro desenvolvido com desnecessárias, arcaicas e pouco eficientes tecnologias proprietárias, demonstrando que o discurso da mudança, muitas vezes, pode trazer consigo a realidade do atraso. A página foi programada em .asp e os vídeos são transmitidos em .wmv, coisa da Microsoft.
A contradição: a equipe competente que ficou por lá (Yasodara Cordova, Mário Marco Machado e Francisco Faria), que trabalhou comigo no desenvolvimento dos novos sites da Radiobrás (trabalho internacionalmente destacado), sabe fazer diferente – tanto é que o site institucional da EBC foi feito, a toque de caixa é verdade (mas o que não foi feito assim por essa equipe?), utilizando plataformas livres, entre elas o gerenciador de blogs wordpress, em processo semelhante ao que desenvolveu recentemente, com brilhantismo, o Ministério da Cultura.
Foco no cidadão
Tempos atrás escrevi um texto no Observatório da Imprensa vinculando o software livre à comunicação pública.
Qualquer tentativa de restringir, cercear ou censurar o livre fluxo de produção e transmissão de informações é atentar contra o direito que todo o cidadão tem de informar e ser informado: o direito que todos temos à comunicação. Na lata, assim, o raciocínio soa abstrato, mas quando pensamos nos exemplos, ele se revela concreto.
Ou seja, na minha opinião, não há como dissociar uma coisa da outra. Necessariamente, a comunicação pública deve promover as liberdades, o que no ciberespaço significa garantir acesso integral a qualquer código fonte e, fundamentalmente, que o usuário (que é cidadão, não consumidor) tenha acesso a esses conteúdos utilizando a tecnologia que bem entender. Isso, todo mundo sabe, que padrões da Microsoft não permitem.
A presidente da EBC, Tereza Cruvinel, tem dito, em seus discursos, que a nova empresa pretende utilizar a internet para promover o almejado diálogo entre o público e a emissora (ela deveria dizer entre o público e o público). Acho a idéia sensacional e espero, realmente, que eles consigam efetivá-la. Nós fizemos vários esforços nesse sentido, na época em que nos coube reposicionar a Radiobrás para a rota da comunicação com foco no cidadão. Mas não é possível realizar esse diálogo utilizando tecnologias proprietárias. A opção feita até agora drena qualquer inovação.
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Jornalista