Se há um drama que não tem desenlace feliz nos cursos de Jornalismo Brasil afora é o do empreendedorismo. Bons ou ruins, conceito alto ou não no Sinaes, os cursos da área simplesmente continuam, em sua maioria, a formar empregados. Vícios de origem (grades curriculares mal elaboradas), professores despreparados (algo comum de Norte a Sul) e estudantes de curta visão são três dos fatores que contribuem para a existência – e mesmo crescimento – desse cenário lamentável, cuja resolução não está, por exemplo, nos livros. Até pelo fato de que muitos docentes ainda utilizam nas salas obras escritas há 20 anos, quando o som das teclas das máquinas de escrever ainda zumbia nas redações.
O fato é que, no instante em que nos preparamos para o final de mais um ano letivo, há muita gente nas faculdades de Jornalismo que continua a propagar as virtudes de uma época em que ser simplesmente empregado era o máximo que alguém podia – e devia – almejar. A cada vez que entro em sala em uma turma de formandos, acabo por recordar as palavras de um jornalista radicado no norte de Santa Catarina, o qual costuma dizer que, em jornalismo, ‘emprego não há, mas trabalho, sim’. Para alunos prestes a pegar o canudo, a frase soa etérea, já que, por desinteresse pessoal ou falta de estímulo das cabeças pensantes do seu curso, empreender é uma condição que cabe somente para outras áreas. E assim ele vai levando a vida até o dia da colação de grau e do baile para, na manhã seguinte, ir ao mercado de trabalho procurar uma vaga.
A mais sonsa das novelas
Despreparado que é, esse novo jornalista por vezes demora a se posicionar no tal mercado e, bingo, passa a culpar a recessão econômica da nação, a concorrência acirrada, a má qualidade da instituição de ensino que freqüentou por quatro anos e por aí vai. E, se nos perguntarmos se temos todos culpa pela situação dele, vale responder que sim.
Um quadro desolador como esse não é possível de ser equacionado por um sujeito somente, mas também é pertinente dizer que a grande parcela de responsabilidade pelo cenário em questão está nas grades curriculares arcaicas, vez por outra mascaradas de contemporâneas por incluírem disciplinas como Tecnologias Digitais. Empreendedorismo não é um tema comum nas matrizes. Políticas Públicas Sociais é outro segmento que padece desse mal.
Difícil mesmo, a vida do estudante que acaba de entrar em uma faculdade de Jornalismo. Não bastasse seu péssimo nível de leitura e de informação geral (não vamos nem nos deter em questões de gramática), encontra na sala professores que nunca ficaram mais do que uma semana em uma redação (ou, caso tenham permanecido um dia, nunca mais voltaram, vivendo da imitação de papagaios) e uma estrutura curricular de chorar.
O ruim mesmo da história é que o drama do empreendedorismo em Jornalismo é diferente da mais sonsa das novelas que, na pior das hipóteses, é tirada do ar quando a audiência decai. Em um curso de Jornalismo, podemos até sacar o personagem principal da história (talvez o professor de uma disciplina prática, por exemplo), mas o folhetim dublado continuará assaltando nossos sentidos.
******
Jornalista e professor universitário no Paraná