A ética significa costumes e modos de agir de uma sociedade, além do temperamento individual a partir de valores da sociedade. Ela é uma das polêmicas que ainda envolve os profissionais jornalistas, encontrando-se na dicotomia de poder dos meios de comunicação, julgando-se acima de qualquer limite garantindo seus interesses e na relação do poder com o jornalismo, resguardando aparências de boas maneiras e passando a imagem de ser bem-educados para o público.
A ética é uma conduta que o jornalista deve seguir em relação à sociedade. Contudo, não é isso que acontece. O que prima no âmbito desses profissionais é o privilégio às empresas comerciais ou políticos que, a partir das concessões de rádio e televisão, por exemplo, manipulam informações, omitindo-as ou não, sem um compromisso com a sociedade. Segundo Bucci (2000), ‘no projeto da democracia, a imprensa deve informar a todos sem privilegiar os mais abastados, e também dar voz às diversas correntes de opinião’.
O que o monopólio da mídia pode causar é uma homogeneização de poderes em que não pode haver uma imprensa ética, visto que ela tenderá representar apenas uma voz das grandes corporações. Esse fato quebra a conduta ética, pois não realiza a racionalidade, liberdade e responsabilidade por parte dos agentes, tomando a decisão individual de divulgar qualquer informação, sem pensar na sociedade. Bucci (2000) afirma que ‘a ética está na práxis’.
Nesse contexto, baseado em fatos reais, o filme O preço de uma verdade conta a história de Stephen Glass, um recém-formado jornalista que, para crescer rápido na carreira, optou por criar artigos, inventando personagens e histórias, com a finalidade de obter ascensão em uma grande revista do país, The New Republic. Em um dos seus melhores artigos, ‘O paraíso dos hackers’, Glass foi desmascarado por outros repórteres da revista concorrente, Forbes Digital, os quais desconfiaram que artigos como esse não devessem ser flagrados por apenas um jornalista, além do fato ser desconhecido pelos outros jornalistas de outras revistas.
Direito do cidadão e direito à informação
O comportamento de Glass entristeceu o diretor da revista The New Republic, o qual o demitiu. Esse fato ocorreu pela falta de ética por parte de Glass, quando divulga artigos forjados apenas para obter glória, sem pensar na sociedade. É possível analisar o ocorrido pela corrente de Lambeth, em Committed Journalism, quando Bucci (2000) fala sobre as teorias clássicas da ética que comparecem aos estudos sobre imprensa. Glass se classifica na corrente teleológica, a qual diz que leva em consideração as consequências do ato, ou seja, o agente calcula qual das atitudes possíveis trará melhores consequências. Foi o que aconteceu com Glass, visto que ele pensou em seus atos – desejo de receber notoriedade no mundo jornalístico para galgar posições em pouco tempo de atuação na imprensa norte-americana – para que esses atos trouxessem consequências ‘boas’ para ele, como ser reconhecido e obter ascensão nas grandes revistas do país. Glass pensava apenas em si, na sua própria felicidade, o que corrobora com a corrente a qual estamos falando, quando Jeremy Bentham, fundador do utilitarismo afirma que, ‘Seu fim é a felicidade e não o êxito em atingir um objetivo determinado’ [Bucci (2000), p. 22].
Diante dessa análise, percebemos que a ética na imprensa se molda conforme negociações sejam elas através de concessões, da falta de imparcialidade e confidencialidade, da omissão da verdade e precisão, o que vai de encontro ao que o Código de Ética da Fenaj, no art. 2°, inciso I, afirma, mostrando que ‘a divulgação da informação precisa e correta é dever dos meios de comunicação e deve ser cumprida independentemente da linha política de seus proprietários’ e, no art. 2º, inciso II, acrescenta que ‘a produção e a divulgação da informação devem se pautar pela veracidade dos fatos’.
Os meios de comunicação possuem poder, domínio sobre a sociedade, pois manipula as informações criando no sujeito novas ideologias a partir dos pensamentos do meio de comunicação que está divulgando a informação. Com isso, é tirado o direito de cidadão do sujeito ouvinte, desconsiderando o papel da ética e omitindo o direito à transparência de informação, que todo cidadão tem. Segundo Bucci (2000),
‘Discutir ética na imprensa só faz sentido se significar pôr em questão os padrões de convivência entre as pessoas, individualmente, e de toda a sociedade no que se refere ao trato com a informação de interesse público e com a notícia’ (p.32).
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Estudante de Jornalismo, Campina Grande, PB