Nestes cruéis porém cruciais tempos de pós-pós-modernidade, ou seja lá que nome se dão aos bois, aos dois, aos pois e aos pós, muitos são os que advogam pelo fim da ética. Aqueles que privilegiam a estética ainda podem ter um tanto de razão (nunca nos esquecendo que toda estética contém a ética dentro de si); entretanto, os que argumentam que, se não existe verdade universal, tudo é possível, podem estar prestes a cair em grosseiro erro.
Não existe verdade única e irrefutável, isto é certo e filosoficamente reconhecido. Contudo, a verdade como ideal é algo a ser buscado (nunca atingido, mas sempre buscado). Ademais, ao menos virtualmente, existe objetividade. Existe uma luta pela imparcialidade. Existe, portanto, ética.
Já faz algum tempo que os Princípios Internacionais da Ética no Jornalismo foram formulados e divulgados (mais precisamente, na 4º Reunião Consultiva de Organizações Nacionais e Regionais de Jornalistas, Praga e Paris, 1983). Seus preceitos, à primeira vista, parecem óbvios. Mas contêm, em essência, uma preocupação que sempre deve ser recorrente na mente do jornalista: sou um manipulador de informações e cotidianamente mexo com a opinião das pessoas.
Ei, você prestou atenção nisso? Releia a frase acima e veja o tamanho da nossa responsabilidade enquanto jornalistas… É, nosso ganha-pão não parece ter muito de ingênuo não.
Mas então por que será que a faculdade só nos oferece Ética no último ano do curso? Por que será que todas as outras disciplinas teóricas ficam batendo na mesma tecla durante todo o curso, e nenhuma delas se propõe a realmente mergulhar profundamente no tema? Covardia, talvez?
Temos um mercado de trabalho nefasto nos esperando, e nenhum de nós pretende ficar fora dele, certo? Mesmo que alguns passem o curso todo com discursinhos pseudo-revolucionários. Quando a faculdade acabar, o medo do desemprego promete falar mais alto. E então? Que postura devemos adotar?
O que estamos esperando?
Este texto não fechará as idéias apresentadas, ao menos por hoje. Ele é um texto de inquietações. Escrito por alguém que acredita na ética como princípio régio de todas as atitudes. Escrito por alguém que tem uma consciência e pretende sempre dormir em paz com ela. Escrito por alguém, entretanto, que, como quase todos os outros que hoje se sentam em bancos acadêmicos de cursos de Jornalismo, não enxerga fácil uma saída para a boa práxis jornalística – tenho medo de que essa luz que pareço ver no fim do túnel seja o trem vindo ao meu encontro.
Mas a ética não foi criada pelo jornalismo.
[Do lat. ethica < gr. ethiké.]
S. f. Filos.
1. Estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo absoluto.
E nem deve ser privilégio dos jornalistas, estes que acreditam tanto serem deuses. Ética na veia velha do jornalismo, concordo. Mas é a mesma ética que vem do cidadão. Como jornalista apenas exercerei na minha profissão os princípios de conduta que já carrego como cidadão. Por isso os tais os Princípios Internacionais da Ética no Jornalismo parecem óbvios.
Então qual a diferença? Não sei por que ainda estou buscando. Mas acho que, no fundo, tem a ver com a outra faceta desta mesma moeda enferrujada: a estética na nova nave do jornalirismo.
Sim, afinal, o sortudo do cidadão que não abraçou o jornalismo como profissão, além de ter a possibilidade de ganhar bem mais, ser mais feliz, gozar do descanso nos feriados e dias santos, levar uma vida normal e sem perturbações psicológicas, não tem nenhum compromisso com a linguagem. Já o jornalista ideal, jornalista mesmo, pra mim tem de ser um jornalirista: sua ética cabe em sua estética e sua estética está comprometida com a construção diuturna de um devir aqui chamado de nova nave do jornalirismo.
Quando digo nave quero remeter a templo. Um jornalismo apaixonado e apaixonante tem esse quê de religião: sedutor, inexplicável, arrebatador, irracional posto que chama. A nova nave do jornalirismo seria o renovar eterno do conjunto de estruturas e regras que norteiam o jornalismo. Desde o lide até a tipografia. Desde a linha-fina até o box.
O que estamos esperando para experimentar?
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Estudante de Jornalismo da Unesp-Bauru