Em maio último, estive em Cuba para falar sobre a ‘Influencia de los medios de comunicación en la formación de los adolescentes’ (influência da mídia na formação dos adolescentes). O evento aconteceu em Holguín, terceira maior cidade de Cuba, com aproximadamente 1 milhão de habitantes, onde, todos os anos, artistas e intelectuais de mais de 50 países das mais diversas áreas – música, dança, cinema, literatura e teatro – ocupam as ruas, bares e teatros numa efervescente celebração da arte e da cultura em toda sua plenitude e diversidade.
Nas três conferências de que participei, foi possível sentir no ar o novo momento geopolítico cubano, às vésperas da provável extinção do embargo econômico e suspensão das restrições por parte dos EUA aos cidadãos americanos que possuem familiares residentes na ilha. Gente que se prepara para viver as dores e delícias que caminham juntas com as novas liberdades.
Neste universo renovado pela possibilidade da aproximação entre ‘imperialistas’ e comunistas, temas como liberdade de imprensa impõem-se à agenda local, numa nação faminta por novidades e que se abre ao novo momento nas relações internacionais.
Compreender conteúdos e serviços
Foi a partir deste delicioso cardápio que ofereci ao receptivo público cubano algumas reflexões sobre as conseqüências positivas e negativas, a médio e longo prazos, acerca dos impactos da mídia estrangeira na cultura daquele país, frente à provável oferta de enlatados televisivos que, mais cedo ou mais tarde, vão invadir a desejada ilha do comandante Fidel.
É senso comum que a mídia, em especial a TV, é lugar de expressão, informações, histórias e opiniões e que constitui e transforma nossa cultura, dia-a-dia, ao longo da sua existência. No entanto, cada país mundo afora tem utilizado e pensado o espaço midiático à sua moda.
Por exemplo, no Reino Unido os intelectuais e o próprio governo acreditam que toda a sociedade deve ser alfabetizada em todas as formas de mídia para aprender a lidar criticamente com os meios de comunicação. Eles falam em aumentar a compreensão e consciência pública da alfabetização para as mídias. Dizem que é preciso apoiar o princípio de que todos os cidadãos do Reino Unido, de todas as idades, devem ter oportunidades, tanto na educação formal quanto na informal, de desenvolver as habilidades e conhecimentos necessários para aumentar o usufruto, a compreensão e a exploração das mídias. Compreender como e por que os conteúdos de mídia são produzidos, analisar de forma crítica as técnicas, linguagens, identificar e evitar ou desafiar conteúdos e serviços de mídia que possam ser ofensivos, danosos e por aí vai.
A parafernália midiática
Na Espanha, pesquisadores também acreditam que a escola deve ensinar o estudante a ter um olhar crítico sobre a TV e internet. Em Portugal, idem: toma corpo a discussão sobre a relevância da promoção da educação para a mídia. Falam sobre aprender a ver a TV, a ler a internet e os jogos eletrônicos de modo crítico, para tirar proveito pedagógico dos recursos da mídia para a educação e cultura, ou seja, o uso da mídia como ferramenta.
Enquanto isso, em nosso país, tem gente que bate no peito e bravateia fazer história quando lança mais uma ‘nova’ série de episódios do famigerado Big Brother Brasil e seus gladiadores pós-modernos, ávidos por satisfazer o desejo dos telespectadores em consumir cenas de exibicionismo e autoflagelo, além, é claro, de escalar as moças que não tardam a chegar às bancas, nas capas da Playboy e programas de auditório.
Agora, o que cada sociedade pretende consumir e oferecer para consumo, principalmente das crianças, como conteúdo nas TVs (abertas e por assinatura), internet, games e toda essa parafernália midiática dos nossos dias, é outra questão.
Depende de como estamos fazendo história e o que pretendemos para ela.
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Educomunicador, publicitário, diretor e roteirista de programas educativos para TV, autor do Manual do Telespectador Insatisfeito (1999) e Acorrentados, a fábula da TV (2006)