Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Filme faz academia rever laços com Wall Street

A Universidade Columbia, de Nova York (EUA), pretende lançar regras mais restritivas para membros do corpo docente que assessoram Wall Street e outros setores. As novas normas incluem a divulgação online das atividades profissionais extra-acadêmicas. Os professores que lecionam nos cursos regulares terão, além disso, de informar os diretores das suas faculdades sobre o tempo comprometido com atividades fora da universidade, afirma Michael Riordan, chefe do departamento de Economia da instituição.

As faculdades de Direito e de Administração de Empresas da universidade aprovaram diretrizes semelhantes em abril e maio. Os laços entre o universo financeiro e o universo acadêmico vêm sendo acompanhados de perto desde o lançamento do filme Inside Job (Trabalho Interno – A Verdade Sobre a Crise), vencedor do Oscar de melhor documentário em fevereiro.

O diretor da Faculdade de Administração de Empresas da Universidade Columbia, Glenn Hubbard, e o professor de finanças Frederic Mishkin foram retratados formulando análises sem informar que estavam sendo pagos pelas partes interessadas. Embora Columbia tenha adotado políticas de ética válidas para toda a instituição em 2009, professores dizem que o filme os estimulou a buscar formas de aperfeiçoá-las.

Atividades externas devem ser discriminadas

A comissão de política interna e planejamento da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras e os professores que dão cursos de assuntos como Economia, História e Biologia aprovaram uma minuta das novas regras em 20 de setembro, diz Riordan. Elas foram enviadas a Nicholas Dirks, vice-diretor-executivo de Filosofia, Ciências e Letras, que deverá sancionar as normas na semana que vem.

O filme afirma que o professor Mishkin, de Columbia, escreveu um artigo acadêmico positivo sobre a economia da Islândia em 2006 depois de receber US$ 124 mil da Câmara de Comércio daquele país. Mishkin não informou sobre o pagamento no artigo, segundo o filme. Em 2008, o setor bancário da Islândia entrou em colapso, deixou de honrar uma dívida de US$ 85 bilhões e levou a moeda do país a perder 80% de seu valor em relação ao euro. De acordo com as normas de 2009 para toda a universidade, Mishkin deveria ter revelado em seu artigo os laços financeiros a que seu trabalho estava vinculado, afirma Gita Johar, vice-diretor-sênior da Faculdade de Administração de Empresas. As novas regras também o obrigariam a divulgá-los em seu currículo online.

As normas da Faculdade de Administração de Empresas de Columbia também preveem que os professores discriminem as atividades externas em seu currículo online e que notifiquem o gabinete do diretor sobre sua realização e o respectivo tempo necessário. Os professores, além disso, precisam adotar as diretrizes de 2009 que os obrigam a informar em publicações se têm laços financeiros relacionados à sua área de pesquisa.

“É muita ingerência”

A Faculdade de Direito de Columbia adotou regras em abril, motivada por Trabalho Interno, diz Harvey Goldschmid, professor de Direito e ex-membro da Securities and Exchange Commission (SEC, o órgão regulador das bolsas americanas), que copresidiu a comissão responsável por formular preliminarmente a política.

Trabalho Interno também retratou a irritação de Hubbard, o diretor da faculdade de Administração de Empresas e ex-assessor econômico do governo George W. Bush, ao ser perguntado sobre seus clientes nos trabalhos de consultoria. O filme observa que ele recebia US$ 250 mil anuais para atuar no conselho de administração da MetLife e que dava consultoria a outras empresas. A película descrevia também um artigo acadêmico escrito por Hubbard em 2004, juntamente com William Dudley, na época economista-chefe do Goldman Sachs Group, que louvava as virtudes dos derivativos de crédito. Em e-mail, Hubbard afirma que sempre divulgou suas atividades e fontes de renda externas.

Informar online os trabalhos alheios ao âmbito acadêmico permite que a opinião pública forme seu próprio julgamento sobre os vieses dos professores, diz Johar. “Se um professor de departamento é citado pela imprensa ou é entrevistado, é a propósito da pesquisa desenvolvida, mas todas essas ressalvas e informações não são parte de sua presença pública na imprensa”, diz Johar. Charles Ferguson, diretor de Trabalho Interno, acha que os professores deveriam divulgar também quanto recebem das fontes externas. Em alguns casos – como a remuneração paga para depor perante o Congresso –, o pagamento externo deveria ser proibido, afirma ele.

A faculdade de Administração de empresas estudou a possibilidade de exigir que os professores de departamento informem ao diretor o valor que receberam de fontes externas, disse Johar. “É muita ingerência”, diz Johar. “Há um limite ao que se pode pedir sem invadir a privacidade.”

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[Oliver Staley é jornalista da Bloomberg]