Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Fogo de palha, ou Chamas da Vida?

Há quatro meses no ar, Chamas da Vida vem mostrando vitalidade, abordando temas polêmicos, atuações fortes em todos os núcleos, como o denso e pedófilo Lipe. Também um tema nunca abordado antes tão a fundo e de forma tão responsável e verossímil é a Aids. A personagem de Rogério Gobéth, um bombeiro mulherengo que tem nos últimos capítulos entrado em crise com a possibilidade de ter infectado sua namorada é outro ponto que tem levantado os índices da trama.

Apesar de estar recebendo do horário anterior com uma audiência sofrida, já que no último mês Os Mutantes tem ficado por volta dos 12 pontos. Mesmo com esse revés do programa antecessor, as médias divulgadas semana passada surpreenderiam pessoas desatentas a evolução da trama de Chamas da Vida. O reencontro de Vivi, menina estuprada por um pedófilo com o objetivo de fazê-lo informar o cativeiro de um menino, pois ele afirmara que somente a ela daria a informação, foi um dos ápices do capítulo de segunda.

Na última segunda-feira (10/11), em Fortaleza, marcou uma média de 29 pontos, com picos de 35, contra 25 da Globo. No Rio de Janeiro, os números surpreendem também: 18 pontos com pico de 20 pontos e 28% de participação. Já em São Paulo os índices são satisfatórios; Chamas da Vida mantém a Record na vice-liderança isolada com uma média de 14 pontos no Ibope. Mas não é só na capital paulista que a trama faz sucesso. No Nordeste, a trama consegue ficar na liderança à frente da TV Globo.

Escutar e seguir o instinto

Vidas Opostas, a trama anterior à primeira temporada de Caminhos do Coração, também teve trajetória similar perante o Ibope. Vidas Opostas ganhou o nordeste antes de ganhar o Brasil. Meses antes de liderar pela primeira vez, numa quarta-feira, dia frágil no Ibope da Globo, em nível nacional, já era líder absoluta no nordeste e norte do país. Em momentos como este onde o diretor da minissérie Capitu, Luiz Fernando Carvalho, reclamou de cortes no orçamento da Globo. ‘Faço TV na contramão. É uma guerra santa’, disse na segunda-feira à coluna ‘Zapping’. A minissérie estréia dia 9 de dezembro.

Ao ritmo alucinante em que a trama de Cristianne Fridman, o que se espera é que as tramas não se esvaziem ou criem barriga. Mas a considerar sua última trama Bicho do Mato, que teve nos cinco meses finais uma ascensão até a liderança nas duas semanas finais, pode-se esperar índices cada vez melhores para sua trama atual.

Mas no que depender do aval da emissora para a abordagem de temáticas polêmicas, Cristianne pode ficar tranqüila. Pois até em horários diurnos a polêmica estará presente na emissora. A Record exibirá em janeiro um episódio do Troca de Família em que um rapaz de 19 anos, de Guarulhos, na Grande SP, é homossexual assumido. Os parentes aceitam numa boa. Na outra família, uma moça de 29 anos, de Itobi, interior de SP, não toca no assunto para evitar discussões. Ela é biomédica e tem namorada. O programa é apresentado por Ana Paula Tabalipa.

Que a diferença continue fazendo a diferença. Que os temas abordados saiam do feijão com arroz das limitadas salas de pesquisa de opinião. Às vezes, escutar e seguir seu instinto pode trazer boas novas. No caso de Chamas da Vida foi assim. A não utilização dos grupos de pesquisa de opinião dá um ar bastante engajado, opinativamente acertado e ágil para a trama.

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Ator, diretor teatral, cantor, escritor e jornalista, Florianópolis, SC