Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Folha de S. Paulo


DOM LUIZ CAPPIO
Elio Gaspari


Letícia Sabatella fez bem ao Natal


‘ENTRAR NO Natal pensando na solidariedade que Letícia Sabatella deu ao bispo Luiz Cappio faz bem à alma. Nem tanto pelas razões que a levaram ao sertão baiano e a Brasília. Questão controversa, a transposição do São Francisco tem defensores e críticos cujos pontos de vista merecem atenção e respeito. O que enobrece os gestos de Sabatella é o simples exercício de suas convicções.


Suas aparições podem ter provocado algum desconforto, sobretudo em pessoas que pensam de maneira diferente. Se ela estivesse numa campanha publicitária de condomínios ou de biquínis, seria o jogo jogado. Como participa de um movimento político (ao qual sua carreira nada deve), deveria ficar calada.


Numa época de marquetagem de celebridades, essa atriz (35 anos, uma filha) é ave rara. Tem seu trabalho e suas opiniões, mas, fora delas, é uma perfeita anônima. Quem a conhece atesta que são duas as suas marcas: o profissionalismo e a inflexibilidade de opiniões políticas.


Está mais para o estilo da inglesa Vanessa Redgrave do que para a versão anos 60 de Jane Fonda, que fez fama posando numa bateria antiaérea norte-vietnamita e está pedindo desculpas até hoje.


Quando Nosso Guia elabora a teoria da metamorfose ambulante, acaba-se confundindo convicção com excentricidade. Lula revelou que ‘eu sei o que é greve de fome, dá uma fome danada’. De fato, em 1980, quando estava preso ele liderou uma greve de fome na cela. Tinha umas balas escondidas e foi flagrado por um colega. Posteriormente, apoiou a greve dos bandidos que seqüestraram o empresário Abilio Diniz.


É irrelevante concordar com as opiniões de Letícia Sabatella para poder apreciar as suas atitudes, sempre calmas, educadas. A distância que estabeleceu na resposta à carta aberta do deputado Ciro Gomes é um exemplo disso. (Ambas foram publicadas em ‘O Globo’). Vive-se melhor enquanto houver gente disposta a ir ao sertão do Nordeste ou à praça do bairro para sustentar aquilo em que acredita.’


 


Carlos Heitor Cony


‘Ninfa potável’


‘RIO DE JANEIRO – Em 1961, um jornalista brasileiro estava em Israel fazendo reportagens quando recebeu, no hotel King David, onde se hospedava, o convite para um encontro com Ben Gurion, patriarca do novo Estado. A entrevista com o homem mais importante do país não estava no roteiro do profissional, mas não havia motivo para recusar o convite. Após os cumprimentos de praxe, cabia a Ben Gurion iniciar a palestra. Na realidade, ele queria entrevistar o jornalista. E começou com a pergunta: ‘Por que o senhor Jânio Quadros renunciou à Presidência da República?’.


Tendo saído do Brasil havia mais de 20 dias, o jornalista não sabia ainda que Jânio dera o fora em apenas sete meses de governo. Apelou para a generalidade: ‘Problemas, muitos problemas, o Brasil tem muitos problemas…’.


Ben Gurion interrompeu: ‘Como problemas?! O Brasil tem tanta água… os maiores rios do mundo…’.


Israel lutava, naquela época -e de certo modo luta até hoje-, contra a escassez daquilo que os jornais antigamente chamavam de ‘precioso líquido’, e o Antônio Houaiss, para evitar o lugar-comum, chamava de ‘ninfa potável’.


O país só possuía um rio, o Jordão, que tem mais história do que água. Perfurava o solo áspero e cheio de pedras para buscar não petróleo, mas água para irrigar os desertos. Com o tempo, criou uma agricultura que espantou o mundo. Compensou a aridez de seu território com tecnologia e imaginação. Fazendo furos de metro a metro em mangueiras de borracha, dessas de regar jardins, com pouca água controlada por computadores, conseguia matar a sede multisecular de um solo empedrado.


Por que estou lembrando tudo isso? A transposição do rio São Francisco, que provocou a greve de fome de um bispo bem-intencionado? Não sei.’


 


CINEMA
Howard W. French


Censura a filme na China leva cinéfilos a Hong Kong


‘DO ‘NEW YORK TIMES’ – As fileiras de visitantes chineses a Hong Kong vêm sendo engrossadas por uma categoria inédita de turistas: os cinéfilos. Devido à censura de um filme sobre amor e traição em Xangai durante a Segunda Guerra, do cineasta taiwanês Ang Lee, milhares de fãs de cinema da China estão indo a Hong Kong para assistir à versão completa de ‘Lust, Caution’.


O fato destaca a rápida mudança nas atitudes do público diante da censura governamental às artes, que não costumava ser questionada, e gerou debate sobre a regulamentação de filmes na China.


Viajantes já visitaram Hong Kong para assistir a filmes no passado, mas os números eram muito menores. Os críticos e comentaristas locais atribuem o interesse pelo filme de Lee a diversos fatores, da divulgação boca-a-boca ao conteúdo sexual ousado eliminado da versão censurada, passando pelo sutil subtexto político raramente visto em filmes chineses. O mais importante, porém, talvez seja a ascensão de uma classe urbana afluente no rico leste da China, cada vez mais acostumada a escolher o que fará parte de suas vidas.


Pelo menos um fã chinês de cinema tentou processar a Administração do Rádio, Cinema e Televisão, que regulamenta o setor, por cortar parte do filme. Lee, o diretor, afirmou que o material censurado foi definido como politicamente inaceitável em Pequim porque reforçava a idéia da simpatia que surge entre uma jovem chinesa e um colaborador dos ocupantes japoneses de Xangai. Muitos membros da indústria chinesa do cinema apóiam a idéia de adotar um sistema de classificação como o dos EUA, que segundo eles reduziria a necessidade de censura direta.


Mas as autoridades do cinema até agora resistem a esse apelo. Alguns dos visitantes que vão a Hong Kong dizem que aceitam os motivos que embasam a existência de um sistema de censura, em um país com tamanhas disparidades regionais de renda e educação, mas acreditam que a prática já não seja justificável nas cidades.


‘Sou contra a censura, mas creio que compreendo por que ela continua necessária no país como um todo’, disse Yan Jiawei, um designer gráfico de Xangai que assistiu a ‘Lust, Caution’ em recente viagem de negócios a Hong Kong. ‘A questão está relacionada ao nível educacional das pessoas.’ Profissionais do cinema chinês disseram que o fato de ‘Lust, Caution’, mesmo censurado, estar em exibição na China demonstra até que ponto os parâmetros daquilo que é considerado aceitável se expandiram desde o começo da era de reformas, há duas décadas.


Embora muita gente pareça ter sido atraída pelo filme de Lee em razão das cenas de sexo, que ainda hoje variam de mornas a inexistentes na maioria dos filmes chineses, um fator ainda mais inédito, para um filme lançado no país, é a idéia de um traidor retratado como personagem atraente, e não vilão, em um dos papéis centrais.


‘O país sem dúvida está se abrindo e avançando mais e mais, e essa é a maré da história, que não se pode deter’, disse Fang Li, um importante produtor chinês. ‘No entanto, diante de uma economia de mercado que está se desenvolvendo com tamanha rapidez, jamais vi um setor tão atrasado quanto o de cinema, na China.’


Fang diz que boa parte da responsabilidade por isso cabe aos censores, pessoas em geral idosas que operam em comitê e convidam diferentes ramos do governo a comentar os filmes.


Outros críticos do sistema dizem que os censores do país se tornaram muito mais cuidadosos em eliminar os rastros de seu trabalho. Wu Di, pesquisador do Centro Chinês da Arte Cinematográfica, em Pequim, afirma que, quando o diretor Tian Zhuangzhuang realizou ‘The Blue Kite’, um filme de 1993 sobre a Revolução Cultural, assunto proibido na China, todas as empresas do setor foram notificadas de que não deveriam voltar a contratá-lo. ‘Agora, sob a chamada sociedade harmônica, eles não agiriam de maneira tão escancarada’, diz Wu, citando a teoria do presidente Hu Jintao. Em lugar de divulgar uma notificação de que contratar uma pessoa está proibido, hoje as autoridades conseguem resultado semelhante com uns poucos telefonemas, que não deixam rastro. ‘Lust, Caution’ tem estréia no Brasil prevista para 8 de fevereiro próximo.


Tradução de PAULO MIGLIACCI’


 


GOVERNO
Folha de S. Paulo


Servidão voluntária


‘UM MODO comum e desairoso de definir o Brasil é identificá-lo como o país onde o provisório costuma provar-se definitivo. A anedota sai algo prejudicada com a derrota da CPMF no Congresso, decerto. Porém a instituição prossegue tolerante com as medidas provisórias, um instrumento a mais para desequilibrar a relação entre Legislativo e Executivo, concentrando poderes no segundo.


Introduzido com a Carta de 1988, o instrumento faculta ao presidente da República legislar com efeito imediato em matérias de relevância e urgência, ‘ad referendum’ do Congresso. Mais de 2.600 foram editadas desde então, claro indicador numérico de abuso. Um caso recente: que urgência pode haver num canal de TV pública como o criado pela MP nº 398, de outubro?


A numeração já está em 405, mas foi zerada em 11 de setembro de 2001, data da emenda constitucional nº 32. Nos 13 anos anteriores, haviam sido 2.230, uma taxa mensal três vezes maior. Com a emenda, caiu a possibilidade de reeditar MPs indefinidamente, na ausência de exame pelo Congresso. Pela nova redação do artigo 62 da Constituição, a medida que não for apreciada em até 45 dias entra em regime de urgência e tranca a pauta de votação nas duas Casas.


Um pequeno avanço, que fez arrefecer de leve o furor legiferante da Presidência. Nada mudou, contudo, no que toca ao cumprimento do preceito constitucional de relevância e urgência. O Executivo o desobedece, e o Legislativo finge que não vê.


O mesmo artigo 62 (parágrafo 9º) estabelece que cabe a uma comissão mista de deputados e senadores examinar as medidas provisórias e sobre elas emitir parecer, antes de serem apreciadas. Nunca saiu do papel.


A presidência da Câmara tenciona agora, segundo o jornal ‘Valor’, mudar o rito das MPs em 2008. Poderia começar combatendo a própria omissão.’


 


VIOLÊNCIA URBANA
José Padilha


Cultura e violência


‘TODA NOITE , milhares de brasileiros não conseguem dormir por falta de espaço. Eles vivem em celas superlotadas, projetadas para três ou quatro pessoas, mas ocupadas por mais de 20. A maioria está doente e sofre de distúrbios mentais. São mal alimentados e subjugados por organizações criminosas. E estão sob a tutela do Estado.


Todo dia, dezenas de brasileiros são asfixiados em sacos plásticos, submetidos a choques elétricos, espancados. São jovens favelados, muitos deles traficantes que foram capturados por agentes do Estado, policiais civis ou militares.


Neste ano, de acordo com as estatísticas oficiais, mais de 1.300 jovens foram mortos por policiais no Estado do Rio de Janeiro. Em São Paulo, cerca de 500. A maioria deles com sinais inequívocos de execução. Para ter uma idéia de quão estarrecedores são esses números, nos EUA, um país que tem 300 milhões de habitantes, a polícia mata cerca 200 pessoas por ano. O que nós brasileiros fazemos ante tamanha brutalidade? Infelizmente, acho que a resposta é muito pouco ou quase nada. Não nos revoltamos. Não organizamos protestos nem marchamos em direção ao Palácio do Planalto. Aceitamos a violência do Estado e de seus agentes com estranha passividade. Será que não nos importamos com os direitos humanos?


Postas assim, essas questões parecem pertencer exclusivamente ao campo da ética. Todavia, tenho a impressão de que a forma pela qual reagimos à violência tem uma forte relação com a própria existência dessa violência. Suspeito que a nossa passividade perante a violência do Estado seja uma de suas causas.


A antropologia evolutiva parece corroborar essa tese. O comportamento humano foi moldado ao longo de milhares de anos de evolução. Na maior parte desse período, vivemos em pequenos grupos sociais, as tribos. Eram grupos em que todos os indivíduos se conheciam mutuamente e precisavam cooperar para sobreviver. Por isso, muitos biólogos defendem a idéia de que a cooperação e a compaixão, instintos que se opõem à agressividade, evoluíram para operar só entre indivíduos de uma mesma tribo, indivíduos que se conhecem.


Para tais biólogos, esses instintos não operam fortemente entre desconhecidos. Diz o famoso zoólogo Desmond Morris: ‘Uma relação despersonalizada não é uma relação biologicamente humana’. E Edmund Wilson, professor de Harvard: ‘Do ponto de vista da biologia, o que precisa de explicação é a paz, não a guerra’.


A julgar pela forma como reagimos à situação da segurança pública no Brasil, Morris e Wilson têm razão. A maioria de nós não conhece pessoalmente as vítimas usuais da violência no Brasil, que são miseráveis e favelados. Talvez por isso não nos importemos tanto assim com as violações de seus direitos humanos. A coisa muda de figura, claro, quando a vítima é nosso parente ou vizinho. Aí a biologia entra em campo e ficamos revoltados a ponto de protestar ostensivamente. Mas, nesse caso, vale notar, não protestamos por razões culturais, mas sim por instinto.


Se é verdade que não temos fortes instintos biológicos de compaixão e cooperação para com indivíduos que não conhecemos, como é que algumas sociedades conseguem controlar a violência em geral e a violência do Estado em particular?


Creio que existe um forte componente cultural associado ao controle da violência e que este controle funciona melhor onde existe uma ética social que valoriza o respeito ao indivíduo e as liberdades individuais. As reações sociais à violência do Estado não parecem se fundar nas idéias de coletividade e cooperação, mas na idéia de que os indivíduos não devem tolerar um Estado que pratique violência contra os seus cidadãos sob pena de eles serem a próxima vítima.


Isso explicaria por que os Estados que se constituíram a partir de idéias totalitárias associadas à coletividade foram, ao longo da história, muito violentos. Vide a China de Mao Tse-tung, a Alemanha nacionalista de Hitler ou a União Soviética de Stálin.


Por outro lado, os Estados modernos que aliaram a democracia ao respeito ao indivíduo, como Inglaterra e França, foram muito menos violentos. Se esse raciocínio está correto, o problema da violência urbana no Brasil tem um forte componente cultural e está associado ao fato de não termos uma tradição explícita de respeito aos direitos e às liberdades individuais.


Nesse cenário, podemos imaginar que a grande interferência dos governos brasileiros na economia, a alta carga tributária que pagamos sem protestar e a nossa grande tolerância com a corrupção tenham muito a ver com a morte do garoto de 15 anos que tomou 30 choques elétricos pelo corpo e com a prisão da adolescente em meio a homens no Pará -ambos sob a tutela do Estado.


JOSÉ PADILHA, 40, é cineasta, diretor dos filmes ‘Ônibus 174’ e ‘Tropa de Elite’.’


 


PERU
Sylvia Colombo


Livro busca Guzmán e a origem do Sendero


‘Quando tinha cinco anos e vivia no México com os pais, o peruano Santiago Roncagliolo viu nos jornais uma imagem que o marcou para sempre. A foto mostrava cachorros enforcados em postes de Lima. Pendurados a eles, pequenos cartazes enigmáticos diziam: ‘Deng Xiaoping: filho de uma cadela’. O pequeno Roncagliolo, intrigado, perguntou aos pais o que era aquilo. E a resposta foi dura: ‘Este é o seu país’.


Era o ano de 1980, e o grupo terrorista de filiação maoísta Sendero Luminoso anunciava, assim, o início de sua luta armada contra o Estado peruano. Mais de 20 anos depois, Roncagliolo, então um jovem escritor e jornalista tentando a sorte na Espanha, propôs ao diário ‘El País’ uma reportagem sobre o líder daquele grupo guerrilheiro, o ex-professor universitário Abimael Guzmán.


Madri ainda vivia o trauma dos ataques do 11 de Março de 2004, e havia bastante interesse dos espanhóis pelo tema do terrorismo. O jornal topou na hora, e o escritor voou de volta ao Peru. Estava determinado a entrevistar todos os lados daquela guerra que durou mais de dez anos e provocou a morte de cerca de 70 mil pessoas. Falou com senderistas, companheiros e desafetos de Guzmán, encontrou seus irmãos -que hoje evitam divulgar seus vínculos de sangue com ele-, além de oficiais do Exército que encabeçaram a reação, também violentíssima, contra a guerrilha.


O resultado acabou ficando muito maior do que uma convencional reportagem para um jornal impresso. Parte dela foi, sim, publicada no ‘El País’, mas o projeto resultou mesmo no livro-reportagem ‘La Cuarta Espada’ (ed. Debate). Recém-lançado na Espanha e nos países hispano-americanos, a obra deve sair no Brasil pela editora Objetiva em 2008.


Leia a entrevista que Roncagliolo, 32, concedeu à Folha, de Barcelona, onde vive.


FOLHA – Por que ninguém havia feito, até hoje, um livro sobre Abimael Guzmán?


SANTIAGO RONCAGLIOLO – Isso é sintomático do trauma que ainda pesa sobre a sociedade peruana. É curioso que esse silêncio contraste com o ambiente de discussão que encontrei nas prisões, onde fui ler trechos para os senderistas encarcerados.


FOLHA – Pode falar da experiência na prisão de Castro Castro, em Lima, onde estão presos os senderistas?


RONCAGLIOLO – Sim. O interessante lá é que todos estão presos juntos. Não só senderistas, mas também terroristas de outras facções e soldados julgados pelas mortes que provocaram na luta contra o Sendero, e ainda agentes de inteligência do governo, punidos por afrontas aos direitos humanos. São todos os lados do período da guerrilha, e me falaram muito de suas experiências. Ouvi histórias incríveis, como a de um dos terroristas que hoje faz aulas de violão com o mesmo soldado que deu um tiro em sua cabeça numa perseguição.


FOLHA – Você trata a ideologia dos senderistas, à época, como uma espécie de delírio coletivo. Eles ainda pensam da mesma maneira?


RONCAGLIOLO – Os mais velhos, a cúpula do movimento, sim. Primeiro porque estão isolados e relacionam-se apenas entre eles. Não sabem o que é o mundo após a queda do Muro de Berlim, por exemplo. Têm idade e passaram vinte anos de suas vidas presos. Antes, outros vinte clandestinos. É praticamente impossível que, agora, se dêem conta de que suas vidas inteiras foram um erro.


FOLHA – Você faz uma comparação até certo ponto divertida, entre o modo como a ideologia senderista se impôs entre seus membros e a Força dos Jedi do filme ‘Guerra nas Estrelas’. Pode explicar melhor?


RONCAGLIOLO – Pensei nisso porque o marxismo tornou-se para aquelas pessoas um guia místico, uma espécie de força maior para que tomassem decisões duras sem que parecessem que eram deles mesmos como indivíduos. As deliberações coletivas os imunizavam da responsabilidade pessoal. Daí a verem os assassinatos em massa de inocentes como uma necessidade daquela causa, e não crimes monstruosos, foi fácil. Agravava a situação o fato de que os senderistas viviam num mundo muito pequeno. Debatiam e casavam entre si. O extremismo passou a parecer algo normal, porque perderam os referenciais do mundo de fora.


FOLHA – Você aponta também a especificidade de a origem do Sendero ter se dado no ambiente universitário, e no interior do país. Como esses fatores combinaram-se?


RONCAGLIOLO – Nos anos 60 e 70, as idéias marxistas circulavam nas universidades. As mais afastadas reuniam gente de diversas zonas do país, muitos das mais pobres. As pessoas conheciam o comunismo e depois voltavam a seus povoados, onde o disseminavam. Assim o Sendero teve facilidade para recrutar voluntários.


FOLHA – E Guzmán, por ser chefe de uma universidade, em Ayacucho, tinha grande poder sobre esses professores interioranos, certo?


RONCAGLIOLO – Sim, ele controlava quem entrava na faculdade, e quem poderia graduar-se para virar professor. Influía no currículo das escolas da região serrana, onde o Estado está ausente e os educadores têm papel importante. Isso tudo produziu um contexto perfeito para fortalecer a base do Sendero.


FOLHA – Você voltou do México na adolescência e passou alguns anos em Lima. Como era a cidade na época?


RONCAGLIOLO – Era assustadora, havia bombas, colocávamos fitas adesivas nas janelas para que não se quebrassem. E havia os apagões. Nada se parecia com o que haviam me contado sobre o que era a ‘revolução’. Meus pais eram de esquerda e não entendiam. Aquilo não tinha nada a ver com a ética comunista que defendiam. Mas, até então, eu ainda via a violência só de um lado. A única força que me parecia perigosa era a do Sendero.


FOLHA – Isso mudou quando começou a escrever o livro?


RONCAGLIOLO – Sim, a investigação me mostrou que a resposta do Estado foi desproporcional, desordenada, e só fez aumentar a violência. Foi revoltante perceber que as duras ações militares foram desatadas em meu nome e dos de minha geração. Percebi que todos foram vilões na história recente do meu país, o Exército, o governo e o Sendero. E o resultado dessa guerra só foi ruim de verdade para os pobres, os camponeses, que, em conseqüência, morreram inocentes, e aos montes. Para a sociedade, hoje, é mais fácil pensar que Guzmán foi um psicopata isolado e não que todo o Peru contribuiu para uma tragédia dessa proporção.


FOLHA – O que mais o impressionou nas conversas com senderistas?


RONCAGLIOLO – Elas não foram nada fáceis, porque seu lado emocional foi reprimido por conta da disciplina a que se impuseram. Não concebem sua vida pessoal fora do partido. É duro fazer com que contem coisas mais pessoais. Por exemplo, quando perguntei à Elena Iparraguirre, namorada de Guzmán, se havia sido difícil deixar seus filhos quando foi para a clandestinidade. Ela disse que sim, mas que sua vontade não importava, pois outras forças haviam decidido por ela.


FOLHA – Você acabou não conseguindo falar com o próprio Guzmán. Qual seria sua principal pergunta se isso tivesse sido possível?


RONCAGLIOLO – Gostaria que ele falasse sobre maior mistério de sua vida, que é o que aconteceu com sua primeira mulher, Augusta La Torre. Ela morreu com 40 e poucos anos. Os senderistas dizem que foi um ataque cardíaco. Já a polícia diz que foi Guzmán quem a matou.


Quando perguntei à Iparraguirre, ela reforçou que Augusta tinha morrido do coração. Eu contestei, dizendo que achava estranho uma mulher jovem ter uma morte súbita assim. A resposta dela foi assustadora. Disse que essa versão era aquilo ‘que o partido tinha decidido’.


Assim como outros membros da cúpula, criticaram meu livro. Não pelo conteúdo, mas pelo princípio. Afinal, é a história de um homem, o que para eles não conta. O enfoque que os interessa é o da causa na qual ainda crêem e dentro da qual eles mesmos pouco significam.’


 


Peru passa por boom literário e cultural


‘O Peru ainda é um dos países mais pobres e isolados da América Latina. Entretanto, nos últimos tempos, uma nova ‘movida’ cultural motivada por certa onda de otimismo vem chamando a atenção internacional.


O bom momento nas letras é acompanhado pela abertura de novas livrarias, o sucesso de uma revista de ‘new journalism’ (‘Etiqueta Negra’) e um ‘boom’ gastronômico, com chefs peruanos sendo requisitados e exportados para os EUA e a Europa.


O fenômeno corresponde a uma gradual recuperação da estabilidade democrática, que teve início com o fim do governo Alberto Fujimori (1990-2000), e depois da prisão do temido líder do Sendero Luminoso, Abimael Guzmán, em 1992.


Destaca-se nesse cenário um grupo de jovens escritores que acumula prêmios e críticas favoráveis e tem estado nos festivais mais badalados do planeta, como o Hay-on-Wye (britânico, mas exportado também para outros países), o PEN (EUA) e até a nossa Flip (Festa Literária Internacional de Paraty).


Santiago Roncagliolo, 32, é um dos principais nomes dessa geração. Seu romance ‘Abril Vermelho’, que tem o Peru pós-Sendero Luminoso como pano de fundo, venceu o prêmio Alfaguara de 2006 e foi publicado no Brasil no começo deste ano.


Nele, um crime misterioso cometido em Ayacucho sugere que o grupo guerrilheiro continua atuando mesmo depois da prisão dos membros de sua cúpula.


Outros autores também vêm colocando suas lentes na história recente do país. É o caso de Alonso Cueto, 53. Seu livro, ‘A Hora Azul’ (Objetiva), levou o prêmio Herralde, outra referência da literatura em espanhol. Conta a história de um advogado que descobre que o pai, um oficial da Marinha, na verdade havia sido um torturador no embate entre o Sendero e Forças Armadas.


Também entre eles está Daniel Alarcón, 29, destaque da revista ‘Granta’, publicação britânica famosa por revelar nomes, como Ian McEwan, Martin Amis e outros. Dele, saiu no Brasil ‘Rádio Cidade Perdida’ (Rocco).


Alarcón e Roncagliolo estiveram na última Bienal do Livro do Rio.’


 


Terrorista indica ‘biblioteca básica’ para fazer a revolução


‘Na virada dos anos 60/70, havia mais de 70 partidos de inspiração marxista-leninista no Peru. Muitos deles eram minúsculos, conta Roncagliolo em ‘La Cuarta Espada’.


O debate era intenso e, em suas largas conferências, os militantes costumavam discordar sobre vários temas. Se a composição do exército revolucionário deveria ser camponês, mineiro ou pescador, se o itinerário da revolução teria de ser do campo à cidade ou ao contrário, e qual modelo de produção seria melhor para um Peru comunista, o chinês, o albanês, o iugoslavo ou outros.


Entre esses grupos, aquele criado por Abimael Guzmán, em 1969, era apenas mais um, e levava o inusitado -e mesmo poético- nome de Partido Comunista do Peru pelo Sendero Luminoso de Mariátegui. Sendero Luminoso significa ‘caminho iluminado’. E José Carlos Mariátegui (1894-1930), autor de ‘Sete Ensaios de Interpretação da Realidade Peruana’, foi o principal intelectual de esquerda que teve o país.


O Sendero, que seguia inspiração maoísta, tornou-se um dos agrupamentos terroristas mais perigosos do mundo. Na luta armada que desencadeou a partir de 1980, atacou camponeses, civis em geral, autoridades locais e o Exército.


A cifra de vítimas dessa guerra supera os piores cálculos de mortos e desaparecidos no Chile e Argentina juntos durante suas ditaduras militares.


A carnificina em larga escala acabou apenas quando Guzmán foi capturado, em uma emboscada armada por um grupo de inteligência do governo Alberto Fujimori, em 1992. O ditador, como era de se esperar, depois tirou vantagens políticas a partir dessa vitória contra o terrorismo.


Biblioteca da revolução


Guzmán costuma ser descrito por aqueles que conviveram com ele como um homem educado, que sempre quis deixar claro que, antes de tudo, era um professor universitário dedicado a encontrar o que supunha serem soluções para seu país.


Num intervalo dos interrogatórios após sua captura, um policial lhe perguntou o que ele deveria ler se quisesse ‘fazer uma revolução’. Guzmán explicou-lhe didaticamente: ‘Dê uma olhada na minha biblioteca, sei que vocês a recolheram. Você deveria começar pela ‘História da Filosofia’, de Dynnik, que não é difícil. Depois, a obra completa de Marx e os 57 volumes das obras de Lênin, que tenho em duas edições diferentes. Depois, Stálin, que é mais fácil, somente sete tomos. E finalmente os quatro de Mao. Há um quinto, mas foi editado pós-mortem e está carregado de revisionismo. Desse você pode prescindir’, concluiu.


Hoje, Guzmán, condenado a prisão perpétua, está em uma cela construída para ele, na Base Naval de Callao, perto de Lima. Além das grades, guardam o terrorista paredes de concreto resistente a explosivos, sete portas metálicas e um muro de oito metros.’


 


CAÇADOR DE ANDRÓIDES
Sérgio Rizzo


Documentário revela criação de cult


‘‘Isto é bizarro!’, reclama Harrison Ford, insatisfeito com o texto que era obrigado a ler em sessões de gravação para ‘salvar’ o filme. O próprio diretor Ridley Scott foi convencido, na ocasião, de que a narrativa ‘não funcionava’ sem voz em ‘off’ para explicá-la.


Coisas de um longa-metragem conturbado, ‘feito por pessoas que não o entendiam’, na avaliação de um produtor. A voz contrariada de Ford e a confissão de Scott estão entre as informações de bastidores reunidas pela edição especial em DVD de ‘Blade Runner – O Caçador de Andróides’ (1982).


Indício de que as principais distribuidoras já consideram o mercado brasileiro capaz de absorver pacotes ‘comemorativos’ para colecionadores, como ocorre há algum tempo nos EUA, a nova embalagem de um dos filmes mais cultuados das últimas décadas, com três discos, se destaca entre os produtos similares que chegam às lojas.


Quatro diferentes versões podem ser comparadas: a lançada nos EUA em 1982, com narração em ‘off’ e final feliz (vindo das sobras de tomadas aéreas de ‘O Iluminado’); a lançada em outros países, com acréscimos em cenas violentas, que circulou em VHS; a ‘versão do diretor’, de 1992, sem ‘off’ e final feliz, e com o sonho do unicórnio; e a ‘versão final’, de 2007, restaurada a partir do negativo e do som originais.


Final? Vá saber: o imenso documentário ‘Dias Perigosos -Realizando ‘Blade Runner’, que ocupa um disco exclusivo, informa que o corte inicial de trabalho tinha quatro horas. Sobrou material, portanto, para uma montagem estendida ou, como prefere o mercado, ‘definitiva’.


Conflitos


Scott, Ford, os roteiristas Hampton Fancher e David Peoples, atores, produtores e profissionais da equipe técnica falam ao documentário, que organiza, com o trunfo das imagens, relatos que já haviam sido trabalhados por Paul M. Sammon -também entrevistado- no livro ‘Future Noir – The Making of ‘Blade Runner’ (Futuro negro – A realização de ‘Blade Runner’), publicado nos EUA em 1996.


No inventário de Sammon, o filme já se apresentava como um produto que parecia condenado ao limbo, mas que ressuscitou inesperadamente, apesar dos inúmeros conflitos que acompanharam o projeto ao longo de quase dez anos, desde a primeira versão do roteiro, escrita por Fancher, que admite não ter gostado do romance de Philip K. Dick (1928-1982) no qual se baseia, até o lançamento. Recontada pelos seus protagonistas, a aventura desse filho de muitos pais, cujo título foi emprestado de um livro de William Burroughs, ilustra como o imponderável pode transformar o bastardo em pródigo.


BLADE RUNNER – EDIÇÃO ESPECIAL (DVD TRIPLO)


Direção: Ridley Scott


Distribuidora: Warner


Quanto: R$ 60, em média’


 


Renato Corrêa


‘O filme está melhor que nunca’, diz roteirista


‘David Webb Peoples, 67, ficou famoso quando pôs um fim na disputa criativa entre o roteirista Hampton Fancher e o diretor Ridley Scott, ao reescrever o roteiro de ‘Blade Runner’, aprofundando personagens, criando belos diálogos e dando mais mistério à trama. O roteirista conversou com a Folha no início do mês, em seu escritório. Veja trechos a seguir.


FOLHA – ‘Blade Runner’ inspirou outros filmes, HQs, livros e músicas. Por que virou um filme influente?


DAVID WEBB PEOPLES – ‘Blade Runner’ se tornou influente graças a três visionários: Philip K. Dick, Hampton Fancher e Ridley Scott. Dick escreveu o romance, que era visionário, mas foi Fancher quem viu o potencial para a adaptação cinematográfica. E sem Ridley o filme não teria a influência que tem. Foi a visão dele que deu forma à coisa toda.


FOLHA – Quando fala da visão dele, está se referindo à estética do filme?


PEOPLES – Não só à estética. Perguntam por que pus o unicórnio [no filme] e não outro animal. Não fui eu, foi Ridley. O unicórnio está no roteiro porque ele pediu. Anos depois percebi que, com o unicórnio, Deckard poderia ser interpretado como sendo um replicante. Ridley me deu crédito pela sugestão de que o protagonista poderia não ser humano, mas não escrevi pensando nisso. Acho que Hampton também não.


FOLHA – O sr. é humilde, sempre cita Ridley Scott, Hampton Fancher e Philip K. Dick como os grandes nomes de ‘Blade Runner’, e quase nunca dá crédito a si mesmo.


PEOPLES – Não sou humilde. Só acho que entendo o papel que tive. Acho que fiz um excelente trabalho. Mas, quando me contrataram para reescrever o roteiro, eu nem sabia por quê. Na época, disse: ‘Não precisam me contratar. Está perfeito’. Daí falaram que Ridley Scott não estava satisfeito. Queriam que eu reescrevesse o trabalho brilhante que Hampton tinha feito, e fiz o melhor que pude.


FOLHA – Na época, ameaçaram tirar o nome de Fancher dos créditos e deixar só o seu. Você ficou famoso por ter protegido o nome dele.


PEOPLES – Isso não aconteceu como dizem. A questão não era tirar Hampton dos créditos de escritor porque ele não conseguia se entender com Scott, mas porque ele apareceria também como produtor-executivo. Era uma questão técnica e burocrática. Mas, por eu ter protegido Hampton, ele ficou feliz, e nos tornamos amigos.


FOLHA – Verdade que só anos depois vocês descobriram que nenhum dos dois havia escrito a narração da primeira versão?


PEOPLES – Não foi tanto tempo assim. Tínhamos acabado de ver uma projeção de ‘Blade Runner’ e eu tinha gostado, mas estava encabulado pelas narrações. Hampton era e é um grande amigo, e comecei a me sentir mal por ele ter feito as narrações, que eram muito ruins. Foi um alívio descobrir que ele não havia escrito aquilo. E, engraçado, ele estava pensando o mesmo de mim [risos].


FOLHA – Para você, ‘Blade Runner’ está melhor ou pior após 25 anos?


PEOPLES – Para mim, é o mesmo. O interesse vem aumentando, e fico feliz que não tenha feito sucesso em 1982 como outros que acabaram esquecidos. Se o interesse das pessoas demonstra a qualidade, o filme está melhor que nunca.’


 


TELEVISÃO
Bia Abramo


Ruído de comunicação


‘SEMANA PASSADA , a coluna pediu que os leitores se manifestassem em relação aos serviços da televisão paga. O mote foi a campanha da Associação Brasileira de TV por Assinatura (ABTA) contra o projeto de lei que prevê a obrigatoriedade de uma cota maior de programação nacional.


Além dos leitores, a ABTA também respondeu à coluna no ‘Painel do Leitor’ da última sexta-feira, esclarecendo que ‘o objetivo da campanha ‘Liberdade na TV’ é preservar o direito dos usuários da TV por assinatura a ter acesso à diversidade de informação, de cultura e de entretenimento que a multiplicidade de canais oferece’.


Muito bem: o objetivo até pode ser esse, mas o tom da campanha não é assim tão cuidadoso. Ao contrário, a campanha usa de uma das ferramentas mais comuns (e perversas) do marketing, que é a operação de confundir o interesse público com o da empresa ou instituição.


A peça publicitária, tema da coluna, fala explicitamente em escolha da programação (grifo meu). O slogan não poderia ser mais claro: ‘Eu pago, eu escolho o que ver na minha TV por assinatura’.


O problema é que, sem cota de qualquer espécie, muitos dos assinantes não acham que o fato de pagar lhes confere o poder de decidir sobre a programação, como quer a campanha.


Com a palavra, os leitores (e assinantes) que responderam à coluna. Suely diz: ‘O consumidor de TV paga sofre dois abusos concomitantes: dos pacotes não-flexíveis (e preços abusivos) das operadoras e do baixíssimo nível de alguns canais com intervalos intermináveis, reprises sofríveis e grades de programação para lá de esquisitas’.


Andrea Barros afirma: ‘O que me incomoda profundamente na TV paga, além das repetições de programas, filmes e afins, são os comerciais. Ora, se já pagamos por um programa ‘diferenciado’, por que temos que pagar para assistir comerciais?’.


André Tamarindo Rocha pergunta: ‘Por que não posso montar minha própria cesta de canais? Se eu pudesse montar a lista de canais que eu quero assinar, chegaríamos mais perto da tal afirmação de que a gente escolhe a programação’.


Esses são alguns dos exemplos; vários outros leitores mandaram mensagens com reclamações e indagações semelhantes. Indício claro e seguro de que, quando se trata de ‘direito de escolha’, operadoras da TV paga e assinantes não falam a mesma língua.’


 


Laura Mattos


Série revive ano da eleição de Collor


‘Autora das elogiadas ‘JK’, ‘Um Só Coração’ e ‘Os Maias’, Maria Adelaide Amaral estréia em fevereiro, na Globo, sua nova minissérie. ‘Queridos Amigos’ não será histórica, como as anteriores. Baseada em sua própria vida, narra o reencontro de um grupo de amigos em novembro de 1989. O protagonista, interpretado por Dan Stulbach, é inspirado no jornalista Décio Bar, amigo da autora, que se suicidou em 1991.


É sua morte que mobiliza a retomada da turma, que vivera intensamente os ideais da esquerda nos anos da ditadura militar. À Folha, a escritora fala sobre a decepção ao saber que a Globo abortara o projeto de sua série sobre Maurício de Nassau e conta que relação ‘Queridos Amigos’ tem com a disputa entre Lula e Collor.


FOLHA – O que achou de trocar Nassau por ‘Queridos Amigos’?


MARIA ADELAIDE AMARAL – A história da troca começou no dia em que chamei o Dan Stulbach -ele faria o papel de Nassau- à minha casa, para dizer que infelizmente a minissérie havia sido adiada. Então o telefone tocou e era a [diretora] Denise Saraceni, que acabava de sair de uma reunião com o Mário Lúcio Vaz [diretor-geral artístico da Globo]. Ele tinha lhe perguntado se eu não tinha nada de minha autoria, passível de ser adaptado para minissérie. Nessa tarde estava particularmente irritada e respondi que não. E o Dan, que ouvia a conversa, observou que o romance ‘Aos Meus Amigos’ daria uma minissérie. Considerei a idéia, escrevi um argumento e recebi sinal verde para fazer a sinopse. E então me dei conta de que estava fazendo o primeiro trabalho exclusivamente meu para a TV. No teatro e na literatura quase sempre fiz isso.


FOLHA – Lamenta o fato de a minissérie histórica sobre Nassau ter sido descartada em razão do custo alto?


AMARAL – Quando ficou claro que Nassau não seria feita, fiquei muito desapontada. Durante um ano tinha pesquisado, viajado à Holanda e conversado com Evaldo Cabral de Mello, que seria o consultor, inúmeras vezes. Foi muito frustrante.


FOLHA – Por que escolheu novembro de 1989 para a minissérie?


AMARAL – O país teve a sua primeira eleição direta para presidente da República após 20 anos. O dia 15 assinalou os cem anos da República. Caiu o Muro de Berlim. A inflação andava pela casa dos 50% ao mês. O desemprego campeava inclusive na nossa área. Em novembro de 1989 finalizei a edição de ‘Os Cem Anos da República’, para a qual tinha sido chamada pela Nova Cultural (ex-Abril Cultural). A redação reunia jornalistas como Sérgio Pompeu e Renato Pompeu, free-lancers como eu e outros companheiros, naquele momento difícil. Foi minha última contribuição na indústria editorial. No ano seguinte iria para a TV.


FOLHA – Qual será o peso da campanha Lula x Collor? A série mostrará, por exemplo, o episódio do uso da ex-namorada do petista falando sobre o pedido de aborto na propaganda política do adversário?


AMARAL – Não creio que a história chegue ao ponto mais acirrado da campanha. Isso nem teria peso na trama, uma vez que os meus queridos amigos votarão em peso no Lula, no segundo turno, com exceção de um, que votará nulo.


FOLHA – Na série, um grupo de amigos que viveu intensamente os anos 70 se desencontra e desencontra também seus ideais políticos. Já te vi em eventos do PSDB, como no jantar de apoio a Serra na casa de Raul Cortez. O que o fundo político/ ideológico de ‘Queridos Amigos’ tem de relação com a sua trajetória?


AMARAL – Entre os amigos da minissérie estão Léo, cineasta e escritor, alinhado com pensamentos de vanguarda; Ivan e Tito, jornalistas, ex-presos políticos; Pedro, autor de romances que denuncia os porões da ditadura militar; Bia, presa e torturada no DOI-Codi etc. A política impregna a vida deles.


Em 1989, estão revendo ou reforçando conceitos, se confrontando com ilusões perdidas e vivendo a ressaca das Diretas. Fiquei amiga do Serra em 1960, tomando o mesmo ônibus para o centro da cidade. Ele ia para a Poli e eu para o Banco da Lavoura de Minas Gerais, do qual saía às 19h para estudar no Colégio Estadual de São Paulo, onde conheci Décio Bar [jornalista que inspira o protagonista da minissérie]. Nunca me filiei a nenhum partido mas sempre me alinhei à esquerda. Fiz parte daquele grupo que, durante a ditadura, subscrevia abaixo-assinados contra a repressão, ajudava as famílias de companheiros presos, dava suporte à imprensa nanica, foi ao enterro e à missa do Vlado e angariava fundos para a greve do ABC.


FOLHA – Sua carreira de jornalista influenciou ‘Queridos Amigos’?


AMARAL – Tive o privilégio de trabalhar na Abril na década de 70, na sua Divisão Cultural, que acolheu, a partir de 1969, professores afastados de seus cargos nas universidades pela ditadura, além de jornalistas e outros ‘refugiados’ da repressão. A atmosfera era rica, linhas de pensamento variadas mas jamais dicotômicas. Todos sabiam quem era o inimigo comum. Foi esse clima de efervescência intelectual e de companheirismo que inspirou a maior parte de minhas obras.


FOLHA – O jornalista Décio Bar, seu amigo que se suicidou, inspirou o protagonista da minissérie?


AMARAL – O que motivou o romance ‘Aos Meus Amigos’ foi o suicídio do Décio Bar, em 1991. Ele foi uma das pessoas mais brilhantes que conheci: poeta e escritor, arquiteto, artista plástico, cineasta, jornalista. Era também muito exigente a respeito do seu trabalho. Décio influenciou meu gosto e minhas preferências ou idiossincrasias culturais. Sua morte me abalou profundamente e mobilizou a vontade de falar sobre ele e nossa geração.


FOLHA – Como as séries normalmente são de época, o tempo mais atual costuma ser relacionado às novelas. Como ‘Queridos Amigos’ se diferencia de uma telenovela?


AMARAL – É diferente uma novela de uma minissérie. Nesta, ainda mais porque o andamento do roteiro é cinematográfico. Há pouca concessão ao folhetim e nenhuma à linguagem.


FOLHA – Cogita voltar às novelas?


AMARAL – Se me mandarem fazer, faço. Mas não o farei com o mesmo prazer com que faço minisséries. Começando pelo fato de que um autor de novela escreve um capítulo por dia e na minissérie tenho dois, três dias para isso, o que confere outra qualidade ao produto. E também porque as minisséries me permitem fazer uma das coisas que mais gosto: pesquisar intensamente.


FOLHA – Por fim, uma curiosidade: em 1989, votou em Lula ou Collor?


AMARAL – Não voto. Sou portuguesa e não tive paciência para a burocracia da naturalização.’


 


SOBRE IMAGENS
Robert Solé


Tela legal


‘Será que os irmãos Lumière sabiam o que iriam provocar? A invenção do cinema, nos anos 1890, não apenas deu origem à sétima arte, mas transformou nossa maneira de ver o mundo e, aos poucos, nossa maneira de viver. Pois as imagens animadas, passando para o domínio da eletrônica, causaram uma reviravolta em tudo. Essa ‘verdadeira revolução copernicana’ é analisada pelo filósofo Gilles Lipovetsky e por um especialista em cinema, Jean Serroy, num livro muito rico que nos faz medir o caminho incrível percorrido em alguns decênios [‘L’Écran Global’, A Tela Global, Seuil, 366 págs., 22, R$ 57].


Eles nos oferecem ao mesmo tempo uma apaixonante história do cinema e um mergulho muito instrutivo na ‘telosfera’. Mas os novos modos de vida que descrevem de maneira concreta e pertinente não ultrapassam de longe o ‘espírito do cinema’? Entre os filmes de ontem, em tecnicolor, e a eletrônica onipresente de hoje não passamos totalmente para uma outra coisa?


O ponto de partida é, portanto, uma tela muda, que faz sonhar. Ela se tornará o suporte da era de ouro de Hollywood e suas estrelas, até os anos 1950. Em seguida passamos para uma terceira fase, marcada pela nouvelle vague na França, o ‘free cinema’ na Inglaterra, e, nos EUA, inovações radicais que acompanham uma explosão dos tabus. E já ingressamos numa quarta era, com um ‘hipercinema’ marcado pela tecnologia digital e a ambição crescente dos produtores: mais efeitos especiais, mais ritmo, mais ambigüidade, mais violência, mais sexo… mais tudo. ‘O excesso já deixou de ser realmente sentido como excessivo’, destacam.


Nesse meio-tempo, a televisão privatizou a tela. Com ela se concretizou o mundo sem fronteiras, a ‘aldeia global’ de McLuhan [1911-80]. Ao longo dos anos, a torneira de imagens não parou de crescer, e as exigências dos consumidores aumentaram conseqüentemente. Reivindicam-se sempre mais e mais emoções e sensações, sem aceitar o tédio mais mínimo.


Mas a TV, hoje, não é mais que uma tela entre outras: computadores, assistentes pessoais, telefones, GPS… Utilitárias ou lúdicas, as telas nos acompanham em todos os atos da vida e mesmo antes do nascimento: a ecografia pré-natal.


Todos para todos


Vivemos, portanto, a era da ‘tela global’. Ela se converteu num intermediário quase obrigatória de nossa relação com o mundo e com os outros, observam Lipovetsky e Serroy. É evidente que a lógica do espetáculo se leva adiante e até se amplifica, mas ela não tem mais o significado que lhe conferiu Guy Debord [1931-94]. A comunicação em sentido único, o ‘um em direção a todos’, cede cada vez mais espaço à interatividade, a uma comunicação individualizada, ao ‘todos em direção a todos’.


É uma nova relação com a realidade: o prazer de descobrir de outra maneira o que acabamos de ver ou fazer. Mesmo as violências cometidas por outros são filmadas: é preciso, de certo modo, que o ato seja autenticado pela câmera. Para que servem as telas planas penduradas em paredes, como se fossem quadros, em locais de passagem pública? As pessoas nem sequer olham para elas.


Ao fundo sonoro somou-se um fundo visual. ‘A tela está ali, como garantia da dimensão midiatizada da realidade.’ Eles ressaltam todos os perigos da ‘telocracia’: quando, por exemplo, jovens internautas passam noites inteiras diante de um videogame, fazendo um sósia deles viver num universo virtual.


Sim, a tela pode ser uma droga pesada, mas nossos dois autores se negam a soar o alarme. Refutam a tese do ‘confinamento interativo generalizado’, proposta por Paul Virilio. ‘Se é verdade que uma parte importante da vida é passada diante de telas digitalizadas, também o é que uma outra parte, não menos importante, investe a dimensão contrária, carregada de expectativa e de prazeres sensoriais.’


Sem catastrofismo


Depender cada vez mais de circuitos eletrônicos e informáticos não impede as pessoas de buscar o bem-estar, de amar a natureza, de querer compartilhar receitas de cozinha, como ilustram cerca de 500 blogs culinários franceses. Numa obra anterior, ‘A Felicidade Paradoxal’ [Cia. das Letras], Gilles Lipovetsky já tinha analisado essas contradições, erguendo-se contra o catastrofismo. A televisão não suscita grandes movimentos de solidariedade com vítimas de catástrofes, doentes ou miseráveis? O ‘homo telensis’ não é necessariamente prisioneiro das telas, nos garante Lipovetsky.


A íntegra deste texto saiu no ‘Le Monde’. Tradução de Clara Allain.’


 


DOCUMENTÁRIO
Lars Movin


Votos em branco


‘Por Que Democracia?’ é certamente um dos mais amplos e ambiciosos projetos internacionais de cinema documental já empreendidos. Abarcando dez filmes de cineastas locais em países tão distantes uns dos outros quanto China, Libéria, Paquistão, Egito, Bolívia, EUA e Dinamarca, exibidos por emissoras em 42 países e contando com o apoio de múltiplos websites, o projeto, lançado em outubro passado, estava previsto para alcançar pelo menos 300 milhões de espectadores e estimular a discussão em torno das perguntas: o que é a democracia? Como ela funciona? Será que é, por definição, a escolha certa para todos?


Marcha em sintonia


Na escola Sempre Verde, em Wuhan, região central da China, as crianças são ensinadas a marchar em sintonia, subordinar o individual ao comunitário e entoar slogans sobre o Estado e o futuro. Essa é a China que conhecemos. Mas anos de política do filho único e liberalização econômica vêm submetendo os valores tradicionais a uma pressão constante.


Se as crianças da nova China não compreenderem por conta própria que precisam ser ambiciosas para ter sucesso numa sociedade cada vez mais competitiva, seus pais certamente os ajudarão a entendê-lo. Então talvez a pergunta seja: o que aconteceria se a sociedade chinesa cortasse seus últimos laços com seu passado e desse livre vazão às forças da democracia?


E se uma classe numa escola fosse autorizada a eleger um representante estudantil seguindo os mesmos princípios usados por adultos no Ocidente para eleger seus representantes -ou seja, indicando candidatos, promovendo campanhas eleitorais e o voto aberto? Foi o que o documentarista chinês Weijun Chen se propôs a explorar quando foi incentivado a desenvolver um trabalho para o projeto ‘Por Que Democracia?’, uma série de documentários de cineastas locais de diversos lugares do mundo, descrevendo visões diferentes da democracia.


Seu filme, ‘Por Favor, Vote em Mim’, é ao mesmo tempo comovente e assustador, documentando o experimento feito por Chen. O cineasta acompanhou três candidatos de oito anos de idade em sua campanha, chegando finalmente à votação dos alunos. É um processo que evolui como uma versão em miniatura do mundo adulto, com todas as suas jogadas sujas, negociatas, troca de votos por favores, cinismo e corrupção.


Local e global


‘Por Favor, Vote em Mim’ representa de modo eloqüente o espírito do projeto ‘Por Que Democracia?’. Como é feito por um diretor chinês, soma a perspectiva local a um tema globalmente relevante.


‘Procuramos evitar as regiões do mundo que são mais explosivas’, disse Mette Hoffman Meyer, uma das responsáveis pelo projeto. ‘Filmes sobre o Afeganistão ou o conflito israelo-palestino provavelmente iriam deslanchar de qualquer maneira’, disse. Meyer chefiou o departamento de vendas internacionais da emissora comercial dinamarquesa TV2 durante 18 anos, incluindo os últimos anos, em que foi editora de documentários. Em agosto passado, começou em seu novo emprego como editora de documentários e chefe de co-produções na emissora pública DR.


Não surpreendentemente, carregou uma ampla rede de contatos para ‘Por Que Democracia?’, que desenvolveu e conduziu em parceria com dois outros editores experientes, Nick Fraser (BBC), e Iikka Vehkalahti, da finlandesa YLE. Nos últimos três anos, os três co-lançaram uma série de grandes projetos, incluindo ‘Tempos Interessantes’, um punhado de documentários chineses, e, notavelmente, uma série de 38 filmes da África sob a bandeira de ‘Na Realidade a Vida É uma Coisa Bela’, em ambos os casos trabalhando com cineastas locais.


Democracia como slogan


‘Quando fizemos o projeto africano, realmente ficou claro para mim como é importante ter cineastas locais dirigindo os filmes, em lugar de simplesmente despachar um repórter ocidental para apresentar a história costumeira mostrando como tudo é deprimente.’ ‘É claro que os filmes dos diretores africanos também tinham seus problemas, mas tinham humor e uma alegria em torno de coisas pequenas que facilitaram em muito a identificação dos espectadores africanos com as imagens que lhes eram apresentadas. Desde então, venho usando o mesmo princípio em muitos contextos’, disse Meyer.


Segundo ela, ‘foram colocadas sobre a mesa várias propostas -as nações árabes e outras escolhas evidentes-, mas então se começou a falar de democracia, esse slogan pelo qual vamos à guerra hoje em dia e que tentamos exportar para outras partes do mundo’, disse. ‘A democracia significa algo diferente para cada um. No Japão, a percepção que se tem dela é distinta da que se tem no Ocidente. Na Rússia as pessoas provavelmente não desejariam o tipo de democracia que vemos na Escandinávia como sendo o único tipo correto. E assim por diante.’


Uma reunião inicial foi realizada em dezembro de 2004, e desde então a bola de neve vem crescendo. A tal ponto que agora já não soa como mera fantasia quando os lançadores do projeto dizem esperar que tenha início um diálogo global sobre a democracia. ‘A coisa ganhou dimensões enormes’, diz Meyer. ‘Após termos fechado parceria com cinco ou seis emissoras, começamos a buscar a adesão do Instituto Dinamarquês de Cinema, do Ministério do Exterior finlandês e de diversos fundos pelo mundo afora e acabamos por fechar contrato com 42 emissoras.’


‘Nem todas as estações de TV envolvidas adquiriram todos os dez filmes, mas todas concordaram em exibir pelo menos dois deles, e a maioria vai transmitir vários ou todos.’ Como encontraram os cineastas? ‘Organizamos encontros e fizemos contatos em todo o mundo. Enviamos e-mails aos nomes das listas de mailing de diferentes festivais de cinema e acabamos por receber 480 propostas’, disse Meyer.


‘Num primeiro momento, as propostas não eram distribuídas geograficamente de maneira tão ampla quanto teríamos gostado, então tivemos que fazer um esforço adicional em alguns lugares. Essa também tinha sido minha experiência com nosso último projeto na África. Quando você trabalha em países que não têm tradição de produzir documentários nem contam com um ambiente ou rede correspondente, é preciso encontrar outros modos de fazer as coisas. Na China fizemos uma reunião secreta, convidando os documentaristas que conhecíamos, e pedimos que nos enviassem propostas. Na Índia fizemos dois workshops, em Mumbai e Calcutá.’


Marketing viral


O grupo responsável pela iniciativa vem procurando pensar a distribuição e o marketing de maneiras não convencionais. Por exemplo, o filme chinês ‘Por Favor, Vote em Mim’ foi postado na íntegra no MySpace. Além disso, o grupo formou uma parceria com o www.joost.com, um novo site de TV na internet lançado por Janus Friis e Niklas Zennström, os fundadores do Skype. Na mídia impressa foi formada uma parceria com o jornal gratuito ‘MetroXpress’, com sucursais em 23 países e, segundo suas contas, 25 milhões de leitores diários, incluindo muitos jovens.


‘Também entramos no marketing viral, criando pequenos comerciais de 30 segundos que esperamos que sejam suficientemente divertidos, grosseiros ou grotescos para que as pessoas queiram dividi-los com seus amigos e que divulgamos via celulares, Facebook [site de relacionamentos] e semelhantes, esperando que ganhem vida própria’, disse Meyer.


Culturas locais


O que mais a agrada no projeto é que os filmes, precisamente por serem criados por diretores locais, também refletem suas respectivas culturas cinematográficas, em graus variados. ‘É o caso do russo ‘Patriotas’, de Nino Kirtadze. Já o Egito, representado por ‘Estamos Vigiando Você’, de Leila Menjou e Sherief Elkatsha, evidentemente tem um nervo caótico muito mais forte do que os filmes que vemos na Europa.’ ‘Um dos desafios do projeto é tentar manter o equilíbrio.


Por um lado, não saímos por aí dizendo aos diretores que deveriam fazer coisas como um filme da BBC. Por outro lado, compreendemos que os filmes são para serem vistos em todo o mundo e têm que ser compreensíveis para todo o mundo. Acho que tivemos sorte por conseguir lançar dez filmes tão fortes e comoventes. Mostrei o liberiano ‘As Damas de Ferro da Libéria’, de Daniel Junge e Siatta Scott Johnson, a uma colega da DR.’


O filme acompanha Ellen Johnson Sirleaf, a primeira presidente democraticamente eleita na Libéria após 14 anos de guerra civil e a primeira mulher a ser chefe de um Estado africano, desde sua posse em janeiro de 2006.


‘Minha colega ficou muito comovida e me disse que foi a primeira vez em que chorou ao assistir a um documentário político africano. É isso o que os documentários fazem. Quando as ferramentas documentais são utilizadas corretamente, os espectadores conseguem identificar-se muito melhor com seus temas e, ao mesmo tempo, compreendem melhor os projetos envolvidos.’


A íntegra deste texto foi publicada na revista dinamarquesa ‘Film’. Tradução de Clara Allain.’


 


Filmes são exibidos na TV brasileira


‘O s filmes da série ‘Por Que Democracia?’ podem ser assistidos na TV brasileira. Os documentários são exibidos pelo Futura às quartas-feiras, às 23h30. Segundo Lúcia Araújo, diretora do canal, o plano é usar os filmes do projeto e material de acervo -como programas sobre ética- em projetos de capacitação voltados a instituições educacionais. ‘Estamos preocupados com o desinteresse dos jovens pela participação política’, diz Araújo. Os dez filmes que compõem o projeto internacional são ‘Campanha’ (Kazuhiro Soda, Japão), ‘Charges Sangrentas’ (Karsten Kjaer, Dinamarca), ‘Estamos Vigiando Você’ (Leila Menjou e Sherief Elkatsha, Egito), ‘As Damas de Ferro da Libéria’ (Daniel Junge e Siatta Scott Johnson, Libéria), ‘Patriotas’ (Nino Kirtadze, Rússia), ‘Jantar com o Presidente’ (Sabiha Sumar e Sachitanandam Sathanantan, Paquistão), ‘À Procura de Gandhi’ (Lalit Vachani, Índia), ‘Táxi para o Lado Negro’ (Alex Gibney, EUA), ‘Procurando pela Revolução’ (Rodrigo Vazquez, Bolívia) e ‘Por Favor, Vote em Mim’ (Weijun Chen, China).’


 


 


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