Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Funeral de Michael Jackson tem estrutura de megashow


Leia abaixo a seleção de quarta-feira para a seção Entre Aspas.


 


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 8 de julho de 2009


 


MICHAEL JACKSON
Marcia Tosta Dias


Michael Jackson e o fim de uma era


‘AS EXÉQUIAS feitas na forma de um show visto por milhões de pessoas no mundo todo dão ao grande espetáculo seu último suspiro. Além de fazer pensar sobre os rumos da música e da cultura na atualidade, a morte de Michael Jackson oferece preciosa oportunidade de reflexão sobre o mundo da música gravada, que está em profunda transformação.


A trajetória do artista, que ostentou os maiores índices conhecidos de vendas de discos, estabeleceu fina sintonia com a forma clássica de atuação das grandes gravadoras. Tanto o auge como o descenso de sua carreira coincidem, em larga medida, com o apogeu e o declínio de um específico modelo de negócios da música. Da perspectiva do ‘business’, desde cedo, Michael Jackson surgiu como um artista completo -a matéria-prima fundamental: intérprete ímpar, exímio dançarino e compositor, com presença de palco, carisma, dedicação e diálogo com diferentes tradições culturais americanas, dos padrões hollywoodianos à essência da cultura negra local.


Se com o Jackson Five, seu grupo de origem, traduzia o espírito da gravadora Motown, à qual se integrou em 1968, foi na CBS que sua carreira solo se expandiu, via selo Epic -por mais que tenha feito discos solo de grande sucesso também na Motown. Vale lembrar que data do final dos anos 60 a intensificação dos processos de fusão de grandes empresas da área do entretenimento, fazendo surgir as ‘majors’ da música (EMI-Odeon, PolyGram-Universal, RCA-BMG, CBS-Sony e Warner), que concentrariam a atividade dessa área de negócios não somente nessa época mas por todo o século 20..


Fez parte desse processo a incorporação, pelas grandes, de pequenos selos ou de nomes por eles revelados. A transferência dos Jacksons para a CBS se deu em 1975, e o primeiro álbum solo de Michael nessa companhia veio em 1979, ‘Off the Wall’, já como resultado de parceria com o produtor musical Quincy Jones. Na atividade do produtor musical encontramos outra marca dos discos feitos pelas grandes gravadoras. O conhecimento específico das várias áreas envolvidas o posicionava estrategicamente na fronteira entre arte e economia, entre música e ‘business’. Quincy Jones traduzia de maneira exemplar tais atributos.


Por suas mãos, Jackson teve acesso aos mais requintados recursos técnicos e musicais disponíveis, bem como ao exercício de uma criação artística que se expandia para além dos padrões estéticos da indústria cultural. É o caso dos videoclipes, que, depois dele, transcenderam o perfil original de produto promocional do disco/artista. Nessa vereda é que são realizados os álbuns ‘Thriller’ (1982) e ‘Bad’ (1987), as maiores cifras de vendas já alcançadas na história.


No estatuto de ídolo, de referência musical da cultura pop, Jackson conseguiu ainda o feito de conjugar duas estratégias distintas das ‘majors’: um ‘cast’ de artistas que vendem discos em quantidade regular, mas por muito tempo (a mais lucrativa -os ‘artistas de catálogo’), e outro com discos que vendem muito, mas por pouco tempo (‘os artistas de sucesso’).


Ao ter permanecido por dois anos (1983 e 1984) liderando a lista de discos mais vendidos, ‘Thriller’ sintetiza essa conjunção, e Jackson passou a simbolizar o modelo ideal de artista a receber a atenção de grandes gravadoras, mesmo que fosse em menores proporções. O disco subsequente, ‘Dangerous’ (1991), além de não ter repetido o sucesso dos anteriores, não contou com o trabalho de Quincy Jones. Jackson passou a se dedicar de maneira desigual à sua carreira profissional, perdendo progressivamente o vigor.


No início dos anos 90, a indústria fonográfica se dedicava à inserção do CD no mercado e à transposição de parte de seu catálogo para o novo suporte. Essa estratégia trouxe o último grande impulso de acumulação, na medida em que tais reedições foram feitas com custo de produção musical amortizado, gerando para venda um produto mais caro que o disco de vinil. O mercado mundial passou de US$ 12 bilhões de faturamento em 1985 para US$ 40 bilhões em 1995.


Mas a alegria durou pouco. A fluidez da tecnologia digital fez com que a difusão dos produtos escapasse ao controle das gravadoras. Os procedimentos considerados ilegais -primeiro de vendas e, mais tarde, de compartilhamento de músicas no formato digital- inverteram radicalmente a curva do lucro num espaço de tempo muito curto. Em 2000, as cifras mundiais de faturamento estavam em torno de US$ 37 bilhões. Em 2005, em US$ 33 bilhões.


Também sustentaram a queda a incapacidade de inovar artisticamente e de assimilar as transformações técnicas, em vez de lhes declarar guerra, bem como o descaso com o público, que, ao lado do artista, deveria compor a essência do sistema. Para retomar o ritmo do negócio, nem mesmo um novo Michael Jackson bastaria. O aumento nas vendas de seus discos após sua morte não altera o panorama. Antes, revela mais uma marca do ‘business’. Desse grande cenário, permanecem as heranças artísticas, os desafios postos pelos direitos autorais, a música e os artistas, pois estes não morrem jamais.


MARCIA TOSTA DIAS, 46, socióloga, doutora em ciência política pela USP, é professora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e autora de ‘Os Donos da Voz’.’


 


 


Sérgio Dávila


Fãs se despedem de Jackson em megafuneral


‘Com 20 mil pessoas na plateia e transmissão para o mundo inteiro, fãs, amigos e parentes de Michael Jackson se despediram do músico na manhã de ontem, num ginásio em Los Angeles. A cerimônia pública foi estruturada como um típico funeral de família negra norte-americana, mas realizada com estrutura de megashow.


As pouco mais de duas horas -nas quais se revezaram no palco do Staples Center músicos, líderes religiosos, amigos e membros da família- foram encerradas com as palavras da única filha de Jackson, Paris Michael Katherine, de 11 anos, um dos poucos aspectos de sua vida que ele fazia questão de manter longe do público.


‘Eu só quero dizer que, desde que eu nasci, o papai foi o melhor pai que se pode imaginar’, começou a menina, mexendo no cabelo, vestidinho preto e pele muito branca. Nas primeiras fileiras da plateia, formada por celebridades como a atriz Brooke Shields, o silêncio era quebrado por uma onda de choros soluçados. ‘Eu só quero dizer que eu o amo tanto’, concluiu, cercada pelos tios, e depois de ouvir carinhosamente da tia Janet que falasse mais alto no microfone.


Foi o momento mais emocionante de um ‘showneral’ que começou com Mariah Carey e Trey Lorenz cantando ‘I’ll Be There’, um dos primeiros sucessos do grupo Jackson 5, do final dos anos 60, e terminou com todos no palco entoando ‘We Are the World’ e ‘Heal the World’, canções que marcaram as maiores iniciativas beneficentes do músico.


Entre o palco e a plateia, iluminado por um canhão de luz, estava o caixão que trazia o corpo do pai, morto aos 50 anos no dia 25 último em circunstâncias não esclarecidas. Tinha sobre ele uma coroa de flores e, segundo a imprensa local, era banhado a ouro de 14 quilates.


O caixão ficou a dois passos de onde os três filhos, os oito irmãos e os pais de Jackson estavam sentados, na primeira fileira. As irmãs e os pais vestiam preto. Parte dos irmãos usava gravata amarelo-ouro, como o caixão, e uma luva branca na mão direita, que foi uma das características visuais do músico. Todos usavam óculos escuros.


No teatro ao lado, 6.500 pessoas assistiam a tudo por um telão. Apesar de a área do ginásio estar fechada pela polícia, pelo menos mil fãs sem ingresso tentavam furar o bloqueio, no que eram vigiados por três vezes o número de policiais. Em 88 cinemas espalhados pelo país, a cerimônia era transmitida ao vivo. Na Times Square, de Nova York, os passantes acompanhavam pelos telões.


Nas principais TVs abertas e fechadas norte-americanas, a programação normal havia sido interrompida e âncoras relatavam passo a passo o que se desenrolava no palco. No mundo inteiro, os organizadores do evento estimavam em cerca de 1 bilhão de pessoas o potencial de espectadores.


Até a conclusão desta edição, não estava claro o destino do corpo de Jackson, retirado rapidamente tão logo a cerimônia se encerrou. De certo, sabia-se que antes do evento público houve um funeral privado, no cemitério Forest Lawn, em Hollywood, e que o cérebro e o pulmão do músico estão com o escritório do legista de Los Angeles, que ainda conduz exames para apontar a causa da morte.


‘Rei do pop’


A cerimônia pública começou as 10h11 locais (14h11 de Brasília) com o músico Smokey Robinson lendo um texto de Nelson Mandela. Ao fundo, um telão com a foto de Jackson, os anos de nascimento (1958) e morte e o título, ‘rei do pop’.


Era o mesmo palco onde o músico ensaiava o show que estrearia neste mês em Londres, marcaria sua volta aos palcos e, esperava ele, a estabilidade financeira, depois de anos de dívidas e um certo ostracismo. O ‘showneral’ de ontem foi concebido por Kenny Ortega, o mesmo que comandava os ensaios até a morte de Jackson.


À parte o local escolhido, os milhares de presentes, a fama dos que tomavam o púlpito, o palco e o metal que cobria o caixão, o velório seguiu estrutura comum a cerimônias do tipo nos EUA, com toques da cultura afro-americana que ele negava parcialmente em vida e sem traços da religião original dos Jackson, Testemunha de Jeová, seguida hoje só pela mãe.


Um músico entoou uma canção religiosa, um pastor fez sermão, amigos relembraram a convivência, outra leu uma poesia. Mas eram respectivamente Lionel Richie, Al Sharpton, os esportistas Magic Johnson e Kobe Bryant e a cantora Queen Latifah, lendo texto feito especialmente para a ocasião pela poeta Maya Angelou.’


 


 


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Meca do entretenimento parou em adeus ao astro


‘A família que cresceu aos olhos do público se despedia de seu membro mais famoso aos olhos do público. Ontem, o ingresso mais valorizado na cidade que é a meca do entretenimento era para um funeral. Assim, Michael Jackson saía provisoriamente de cena como viveu: estranhamente.


Desde as seis da manhã de ontem, milhares de fãs faziam filas para entrar num ginásio em que havia um palco, telões e até livreto dourado com programação oficial. Havia também um caixão e uma família que velava. Lá fora, no entanto, fãs tiravam fotos, gritavam excitados e davam entrevistas.


Eram grupos, casais e pessoas sozinhas. Na plateia e, antes, nas calçadas, a tribo era inconfundível. Primeiro pela profusão de ‘Michaels’, de várias raças e ambos os sexos. Tinha Faroh, único nome, cabeleireiro da Indonésia que trabalha em Hollywood (o bairro) e se veste como o ídolo. Tinha Shaar Soulee, maquiadora de Nova Orleans, que se pintou como o músico e trazia balões em forma de notas musicais.


A outra característica a unir todos era a pulseira no braço direito, de diversas cores, dada no dia anterior pela organização do evento e que fez pelo menos 20 mil pessoas passarem a noite sem tomar banho -ou fazer isso com dificuldade. Era o caso da brasileira Ludmila Simões, 18, que mora em Los Angeles, pretende estudar medicina e ganhou o ingresso de um sorteado que desistiu de ir.


‘Nem fã de Michael Jackson eu sou, mas você acha que eu vou perder uma dessas?’, perguntava ao repórter. Não. Nem a cantora Andrea Ferraz, de Guaratinguetá (SP), que mora em Los Angeles há anos e abrirá para a cantora Céu na semana que vem. ‘Parte de minha formação musical foi crescer ouvindo ‘Thriller’, disse ela.


Nem o ativista religioso Jesse Jackson, que disse à Folha que ‘Michael amava a música brasileira’ e que ‘os dois países, Brasil e EUA, se unem pela música’. Ou Steve Manning, amigo do músico por 40 anos e seu ex-assessor de imprensa, que disse que Jackson pretendia voltar ao país, onde esteve duas vezes, sozinho e com os irmãos.


No ginásio


‘Michael gostava de seu país’, disse ele. Manning também, aparentemente, já que deu dois ingressos ao repórter e a um colega brasileiro, ação que os colocou na pista do megafuneral, poucas fileiras atrás dos Jackson. Lá dentro, o clima era menos festivo, o que a decoração toda preta ajudava. Gritos e aplausos eram entrecortados por choros e soluços.


Ainda assim, era um show. Com música, performance e clipes em telões. Com gritos de ‘I Love You, Michael’ e comentários de ‘Você viu quem está na fileira em frente?’. Era Mike Tyson, ou Brooke Shields, ou Jennifer Hudson.


Mas eram também Katherine Jackson, 79, mãe do morto, e Joe, 80, o pai, a quem ele acusava de o espancar -e que brigam na Justiça pelo controle da fortuna do filho. Os oito irmãos. Os dois filhos, Prince Michael e Blanket, cujo destino ainda será decidido por um juiz. E uma menininha chamada Paris, que o pai fazia questão de esconder da mídia, mas que ontem fez sua estreia mundial.


Era o primeiro show de uma turnê que, como as de Elvis Presley (1935-1977) e John Lennon (1940-1980), não deve acabar nunca mais.’


 


 


Bia Abramo


O circo foi genuinamente emocionante


‘Havia Michaels para todos os discursos na cerimônia de despedida. Era só chamar seu nome e ele estava lá. Gênio e maior showman da Terra, segundo o chefão da Motown, Berry Gordy. Ídolo de músicos como Stevie Wonder e Smokey Robinson. MJ como símbolo do empoderamento negro, homenageado pelos herdeiros políticos de Martin Luther King. O pequeno príncipe, amigo da princesinha Brooke Shields. O melhor pai do mundo, segundo a filha.


Que haveria circo, como disse a musa inspiradora e amiga Elizabeth Taylor, não podia haver muita dúvida. O espetáculo era parte integrante da vida de MJ e não haveria de estar ausente justo no epílogo. A atenção global também era mais do que esperada -ele, afinal, era o mundo, a criança, aquele que fazia o dia mais luminoso.


Como se fosse ‘o’ show para ficar no lugar dos 50 que ele não pôde cumprir, a cerimônia foi cuidadosamente pensada e coreografada. A família devidamente uniformizada com óculos escuros. Os irmãos com as famosas luvas. As crianças dele sem panos a ocultá-las. Tudo isso parecia estar no script.


Mas era bem mais difícil prever que fosse genuinamente emocionante. Que ver os irmãos enlutados, os Jacksons restantes, fosse tocante. Que rever o inacreditável chapéu rosa que ele usava 40 anos atrás no programa de Ed Sullivan fizesse relembrar a vontade de namorar Michael Jackson que eu tinha aos 11 anos, quando ouvia ‘Music and Me’. Que soasse justa a homenagem a MJ como um símbolo da grandeza da música pop negra nos Estados Unidos, cujo papel é fundamental para que a América tenha hoje Obama.


Aquilo que pegou muita gente, eu inclusive, de calças curtas foi a tristeza de verdade causada por sua morte, para além de qualquer cinismo midiático. Na cerimônia de ontem, por algum daqueles fenômenos pop inexplicáveis, o artifício que cercou sua vida pôde ser ao menos parcialmente abandonado. E, desta forma, havia ali também um Michael para cada tristeza. Inclusive a minha. E a sua.’


 


 


VOZ DO PRESIDENTE
Folha de S. Paulo


Copa e SUS são temas de coluna de estreia de Lula em 94 jornais


‘O governo também escolheu temas relacionados ao Minha Casa, Minha Vida para inaugurar ontem a coluna ‘O presidente responde’, que tem de ser publicada sem edição pelos jornais que se cadastraram. No texto, Lula aceita a sugestão de leitora e diz que pedirá estudos para viabilizar o cadastramento de interessados no programa habitacional pela internet. A coluna é publicada às terças. Os veículos são responsáveis por enviar perguntas de leitores ao Planalto.’


 


 


MÁS NOTÍCIAS
Ruy Castro


Calvário nas manchetes


‘RIO DE JANEIRO – Há poucas semanas, fomos esmagados pela história da menina Sophie, de quatro anos, torturada e agredida durante um ano por sua tia até morrer, desnutrida e cheia de hematomas, ossos quebrados e lesões internas, num hospital em Caxias, RJ. É de se perguntar se e quando terminará o calvário das crianças no Brasil. Porque, pelo noticiário, não há motivo para otimismo. Veja algumas manchetes, todas dos últimos dias.


‘Polícia prende padre suspeito de violentar criança de quatro anos em escola de São Paulo.’ ‘Mãe tenta matar filha por suspeitar de gravidez em Belo Horizonte (MG).’ ‘STJ nega liberdade a padre acusado de violentar três meninas em Rio Grande (RS).’ ‘Polícia prende suspeito, mas não identifica jovem morta (em São Paulo).’ ‘Descaso de médico no Miguel Couto causa morte de bebê (no Rio).’


‘Promotora denuncia oito por violência sexual contra dois adolescentes em Paulo de Faria (SP).’ ‘Crianças de até quatro anos são exploradas na Lapa -menores vendem balas de madrugada enquanto mulheres as supervisionam (no Rio)..’ ‘Ladrão mata executiva na frente do neto no Butantã -vítima ia estacionar e tirar o neto de quatro anos de dentro do carro; ela levou um tiro na testa (em São Paulo).’


‘Juiz do trabalho é acusado de exploração sexual infantil ao promover orgias com crianças no município de Tefé (AM).’ ‘Mulher é suspeita de ter enterrado criança viva -bebê foi achado em saco plástico, em quintal de casa em Angra dos Reis (RJ).’ ‘ONU critica STJ por não punir sexo pago com menor -entidade repudia endosso a decisão da Justiça (de Mato Grosso do Sul) e alerta para o perigoso precedente aberto.’


Não importa o que digam os números, nenhuma criança está a salvo no Brasil. Tudo conspira contra ela: a pobreza, o crime, os pais e, às vezes, a lei.’


 


 


PARANÁ
Dimitri do Valle


Requião admite que usará TV pública contra irmão de Richa


‘O governador Roberto Requião (PMDB) disse ontem que vai usar a TV Educativa do Paraná, mantida pelo governo, para fazer acusações contra José Richa Filho, irmão do prefeito de Curitiba, Beto Richa (PSDB).


Afirmou que vai dedicar um minuto por semana a detalhar o trâmite judicial de denúncia envolvendo Richa Filho, conhecido como Pepe.


Na semana passada, em entrevista à Folha, o prefeito de Curitiba disse que iria processar a emissora na Justiça, devido à veiculação, na TV Educativa, de reportagens sobre suposto caixa dois na campanha do tucano à reeleição, em 2008.


Ontem, na ‘Escola de Governo’, reunião semanal com seu secretariado transmitida na TV Educativa, disse que usar a emissora é um direito seu. ‘Querem cobrar do governador o silêncio obsequioso, o silêncio canalha, o silêncio covarde.’


O peemedebista acusou Pepe Richa de ter autorizado, em 2002, quando era diretor financeiro do DER (Departamento Estadual de Estradas de Rodagem) no governo Jaime Lerner (1995-2002), o pagamento irregular de R$ 10 milhões a uma empreiteira.


Sob determinação de Requião, o procurador-geral do Estado, Carlos Marés, fará um balanço semanal sobre o trâmite do processo judicial aberto pelo governo.


Hoje secretário municipal de Administração, Pepe Filho disse, via assessoria, que não iria comentar as declarações.’


 


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Dignidade?


~Globo, Record, Band e seus canais de notícias transmitiram. Também CNN, Fox News, BBC World, por aqui. Também UOL, G1, Terra, iG, os portais todos com ‘streaming’. Nos EUA, pelos relatos, quatro redes, inúmeros canais pagos e até o ‘New York Times’ transmitiram. E foi só parte da aldeia global formada para o funeral de Michael Jackson.


Do longo desfile de celebridades, o ‘Variety’ destacou que a produção queria ‘dignidade’ e conseguiu: ‘Foi espetáculo, mas não faltou tristeza e, sim, dignidade’. Nos enunciados de ‘Wall Street Journal’ e Associated Press, ‘tom espiritual’.


Já o Gawker ressaltou, entre os dez ‘momentos mais importantes’, o ‘arrepiante final’ com a filha sublinhado também pelo TMZ, o site de fofocas que noticiou a morte. Mas o que o TMZ mais explorou ontem foi o rumor de que o caixão não trazia o corpo nem não se conhecia seu paradeiro.


Segundo Radar e Folha Online, apesar da exposição, não se notou maior salto na audiência de TV por aqui ou no tráfego on-line pelo mundo.


TV+FACEBOOK


O blog de Tiago Dória ressaltou que MJ, ontem, marcou a integração do Facebook à TV. A CNN, que já havia usado o Facebook Connect para a posse de Obama, foi seguida agora por ABC, MTV e E!.. CBS e MSNBC testaram outras redes sociais. Segundo o Mashable, o Facebook registrou mais de 500 mil atualizações, 300 mil via Connect.


OBAMA VS. MJ


O site Politico postou que nem Obama escapou de Jackson. Em série de entrevistas para CNN, ABC, NBC e CBS, na Rússia, disse que ‘isso é parte da cultura americana’, a atenção aos ídolos. ‘Mas eu imagino que as pessoas, em algum momento, vão se voltar novamente para coisas como armas nucleares’.


NENHUMA LINHA


Dias atrás, o Blue Bus destacou que a nova revista ‘Piauí’ traz, na capa, ‘Exclusivo! Nenhuma linha sobre MJ’. Mas Eugênio Bucci anotou, ontem no Observatório da Imprensa, que o site da revista já postou sobre a morte célebre e que a edição pode ter rodado sem tempo de incluir algo além da chamada de capa.


EM BUSCA DA DIGNIDADE


Na página ‘mais popular’ ontem no ‘NYT’, o conservador David Brooks se declara ‘Em busca da dignidade’, título da coluna. Lamenta como hoje ‘somos estimulados a nos tornarmos administradores de nossas próprias marcas, a gravarmos danças de autopromoção para transmitir nossos talentos. No culto do naturalismo, somos estimulados a descartar artificialidade e repressão e a libertar nossos sentimentos.’ E por aí vai.


Cita a ‘indignidade’ das entrevistas de Mark Sanford e de Sarah Palin, ‘pessoas sem normas sociais que as guiem pelas correntes de suas paixões’. Mas, para não fechar com ‘pessimismo cultural’, cita o exemplo de ‘reticência, dignidade, autocontrole’ de Obama.


MOEDA GLOBAL


O texto de Nicolas Sarkozy e Lula, publicado ontem por ‘NYT’, ‘Libération’ e Folha, ecoou como principal notícia da americana AP sobre o G8 com o enunciado de que os dois teriam lançado a ideia de ‘expandir o G8’ contra o G20, tão defendido pelo Brasil.


Já a britânica Reuters, no topo das buscas pelo Yahoo News, ressaltou que Rússia, China e Brasil ‘vão usar a cúpula do G8 para defender sua visão de que o mundo precisa começar a procurar uma nova moeda de reserva global como alternativa ao dólar’.


SUPERPOTÊNCIA?


O instituto Brookings, ‘think tank’ próximo a Obama, anunciou que lança no próximo dia 13, com debate em Washington, o livro ‘Brasil Como Superpotência Econômica?’, já à venda por Amazon e Barnes & Noble.


E a ‘American Diplomacy’ já saiu com uma primeira resenha. Em suma, saúda como o livro ‘faz todas as perguntas certas’, a começar do questionamento da capacidade do Brasil de deixar para trás seu isolamento histórico. Por outro lado, os textos de temas e autores diversos, da economia aos programas sociais, ‘não se integram efetivamente no tema essencial’.’


 


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Record quer estrear Gugu com padre e show em estádio


‘A Record planeja estrear Gugu Liberato em 9 de agosto com um programa transmitido ao vivo do estádio do Pacaembu, em São Paulo. A ideia partiu de Honorilton Gonçalves, vice-presidente da área artística.


A emissora também propôs ao apresentador que leve o padre Marcelo Rossi ao primeiro programa. Seria uma forma de mostrar que o católico Gugu Liberato terá liberdade e que a emissora de Edir Macedo, líder da Igreja Universal, não praticaria censura religiosa.


A proposta de estreia no estádio do Pacaembu, onde cabem cerca de 40 mil pessoas, foi discutida ontem entre a cúpula da emissora, Gugu e Homero Salles, diretor-geral do ‘Programa do Gugu’. O estádio, da Prefeitura de São Paulo, tem sido usado pelo Corinthians, que em 9 de agosto joga no Rio.


Após quase duas semanas de muita tensão nos bastidores, Gugu Liberato e Silvio Santos se encontraram anteontem à tarde, pela primeira vez desde que o apresentador assinou contrato com a Record.


A reunião selou um acordo em que Silvio Santos dispensou Gugu de cumprir todo o contrato, que venceria em março de 2010, sem cobrança de multa, de cerca de R$ 9 milhões. Segundo a assessoria do empresário, Silvio Santos liberou Gugu em consideração aos 35 anos de parceria -Gugu começou como office-boy aos 14.


Ontem à tarde, o SBT discutia como preencher o espaço deixado vago por Gugu já a partir do próximo domingo. Havia três opções: ‘Domingo Legal’ com Celso Portiolli, ‘Domingo Legal’ com outro apresentador ou exibição de outro conteúdo..


RODA


A Record negocia para tirar da Globo a Stock Car, principal categoria automobilística brasileira. Se fechar, as corridas de 2010 serão exibidas no ‘Domingo Fantástico’.


FOTOCÓPIA


E o ‘Domingo Fantástico’, a exemplo do que fez o ‘Esporte Espetacular’, lançará ‘desafios’, em que especialistas votam em quem é o melhor atleta de determinada categoria, esporte ou posição em campo.


DOSE DUPLA


Reinaldo Gottino voltou a apresentar o telejornal ‘SP Record’, que perdeu audiência desde que ele fora substituído por Luciana Liviero. A princípio, o jornalista continua no ‘Domingo Fantástico’.


CAI DO CÉU


A Record ficou anteontem quase sete horas sem intervalo comercial. Voltou de ‘break’ às 11h39 no ‘Hoje Em Dia’ e emendou programas até 18h30. Foi estratégia para alavancar a estreia do ‘Geraldo Brasil’.


GORDURA


‘Geraldo Brasil’ deu sete pontos e bateu seus concorrentes diretos – ‘Programa do Ratinho’ (quatro) e ‘Márcia’ (dois). Estreia do SBT, ‘Você Se Lembra?’ marcou seis.


LIBERADOS


Angélica voltou ontem a gravar. A apresentadora ficou de quarentena, porque esteve na Argentina e manteve contato com André Marques, que pegou gripe A. Marques volta hoje ao ‘Vídeo Show’.’


 


 


Lúcia Valentim Rodrigues


‘Descolados’ mira rito de passagem dos jovens


‘No princípio, era um pufe. O almofadão é o único objeto no apartamento que vai reunir Lud (Renata Gaspar), Teco (Thiago Pinheiro) e Felipe (Marcelo Lourençon), jovens que representam a transição para o início da vida adulta. Aos poucos, a casa vai ganhando elementos, como uma porta que serve de mesa de jantar ou um jumento de pelúcia. ‘Descolados’, série da Mixer em coprodução com a MTV que estreia no dia 14, enfoca uma história de mudança para cada personagem, porque, como diz o criador, Luca Paiva Mello, ‘hoje não tem um padrão para viver essa fase’. Ele diz que resolveu mudar de universo após três anos fazendo uma série sobre mães (‘Mothern’, exibida no GNT). ‘Esse é um momento fértil, de muita vontade e pouca experiência, muito vigor e pouca prática, que propicia muitos acidentes. É um rito de passagem, em que a pessoa vai deixar de ser o mais velho entre os mais novos e passar a ser o mais novo entre os mais velhos.’ Lud termina a faculdade e sai da casa dos pais. Quer autonomia. O modelo Felipe é abandonado pela namorada. Quer deixar de fazer comerciais com iglus. Teco foi deportado de Londres por causa de um baseado. Quer esconder a verdade dos pais, que moram em Bauru. Para falar com a moçada, Mello e o roteirista Rodrigo Castilho fizeram leituras e reuniões quinzenais com jovens durante a produção. ‘Quando finalizamos o roteiro, ele já tomou tanta bordoada que está redondo, com a gíria falada na rua.’ Ao todo, a série, de 13 episódios de 30 minutos, custou R$ 3 milhões. Cerca de R$ 2,2 milhões foram bancados pela Lei do Audiovisual, com dinheiro captado com investidores que deduzirão os recursos do Imposto de Renda. Cris Lobo, 42, diretora de programação da MTV, explica: ‘Fazer ficção nacional dá muito mais trabalho e é mais caro. Foi o jeito que encontramos de viabilizar a série em um ano de crise’. A segunda temporada já está sendo rascunhada. ‘Não tenho muita dúvida de que a gente vai fazer’, diz Cris Lobo. ‘É tão difícil conseguir pegar esse público de 20 a 24 anos que há ainda muita brecha de programas para serem produzidos.’


DESCOLADOS


Quando: estreia dia 14; ter., às 23h30 (sáb., à 1h15, e dom., às 23h), na MTV


Classificação: não indicado a menores de 16 anos’


 


 


PERSONAGEM
Mônica Bergamo


Camarim


‘Desconhecido do grande público, Roberto Amaral, consultor do banqueiro Daniel Dantas e denunciado anteontem por formação de quadrilha, foi um dos mais influentes personagens que já circularam pelos bastidores do poder nos últimos 30 anos. Ficou célebre nos anos 80 e 90, quando dirigiu a empreiteira Andrade Gutierrez em SP e reforçou laços com a quase totalidade do universo político brasileiro – entre outros, foi (ou é) amigo de Jânio Quadros, Zélia Cardoso de Mello, Orestes Quércia, Luiz Antônio Fleury, Fernando Henrique Cardoso e José Serra. Era chamado de ‘mestre’ por PC Farias, tesoureiro da campanha de Fernando Collor em 89.


CAMARIM 2


Amaral acabou virando personagem do livro ‘Notícias do Planalto’, de Mario Sergio Conti, sobre o período Collor, porque, entre outras coisas, ‘acertara com Paulo César Farias as relações do Planalto com a Andrade’. Hospedou Fleury e Quércia em seu haras. Guardava uma lista de jatinhos que a empreiteira emprestou a políticos, entre outros, do PT. Tido como leal, sustentou Jânio no fim da vida. Pagou o aluguel do flat em que o ex-presidente morava e o tratamento médico numa clínica geriátrica.


CAMARIM 3


Discreto, Amaral só virou notícia (e entrou no radar do Ministério Público) em 2001, quando publicou anúncio em jornais em que comunicava ‘a morte’ de um diretor da Andrade Gutierrez -que estava vivo. Nele, Amaral dizia que os donos da empreiteira, Gabriel e Sérgio Andrade, estavam presentes à missa do tal diretor e ‘lideraram, com fervor, o entoar de um salmo em louvor e solidariedade ao dr. Paulo Maluf e seu filho Flávio’, além de fazerem ‘penitência pedindo perdão a Orestes Quércia’.’


 


 


INTERNET
Daniela Arrais e Rafael Capanema


A internet e a lei


‘A internet está na mira da lei.


Governos ao redor do mundo têm criado mecanismos específicos para coibir e punir desde o roubo de identidade e o aliciamento de menores pela rede até o download de conteúdo protegido por direitos autorais.


De janeiro a março deste ano, no Brasil, foram reportados mais de 200 mil incidentes de segurança na internet ao Cert.br, grupo do CGI.br (Comitê Gestor da Internet no Brasil) -a mesma quantidade de registros feitos ao longo do ano passado inteiro.


Em 2008, nos Estados Unidos, o FBI recebeu 275 mil denúncias sobre crimes virtuais, um crescimento de 33% em relação ao ano anterior..


No Brasil, quem tem inspirado discussões inflamadas é a chamada Lei Azeredo -nome pelo qual ficou conhecido o PL 84/99 (Projeto de Lei nº 84 de 1999). Apresentado pelo senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), o texto substitutivo aglutina três projetos de lei criados para caracterizar e punir crimes de informática.


Aprovado no Senado em julho de 2008, o projeto tramita atualmente na Câmara dos Deputados. Se aprovado nessa Casa, dependerá da sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para entrar em vigor -mas o petista já condenou o projeto (leia ao lado).


Críticos apontam ambiguidades no texto da lei, que poderiam tornar puníveis com prisão atos como baixar música ou desbloquear um celular.


Já os defensores afirmam que o projeto nada tem a ver com direitos autorais, e sim com o combate de delitos como clonagem de cartões de crédito e invasão de bancos de dados, hoje impunes por falta de legislação adequada.


Enquanto ainda há controvérsias quanto ao teor da Lei Azeredo, causou polêmica na França uma lei cujas intenções são bastante explícitas.. Conhecida como Hadopi, pretendia banir da internet por até um ano quem baixasse pirataria. Apoiada pelo presidente Nicolas Sarkozy, a lei foi aprovada pelo Senado, mas invalidada pelo Conselho Constitucional.


A Hadopi serviu de inspiração ao deputado federal Bispo Gê Tenuta (DEM-SP) para propor um projeto semelhante na Câmara.


Na contramão das alegações da indústria do entretenimento, um estudo feito por pesquisadores da Harvard Business School aponta que não há evidências de que o compartilhamento de arquivos tenha desencorajado a produção artística. A pesquisa defende que a tecnologia digital incentivou a produção cultural e ainda reduziu seus custos de produção.


Nesta edição, veja opiniões de especialistas sobre a questão da liberdade na rede, saiba como agir se for vítima de um crime virtual e conheça as leis de internet em outros países.’


 


 


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Para defensores, lei é para punir criminoso, não usuário comum


‘Segundo seus defensores, o PL 84/99 (Projeto de Lei nº 84 de 1999), conhecido como Lei Azeredo, tem como alvo poucas centenas de criminosos, e não os milhões de pessoas que fazem uso legítimo de seus computadores..


O projeto modifica cinco leis brasileiras e tipifica 13 delitos, entre eles difusão de vírus, guarda de material com pornografia infantil, roubo de senhas, estelionato eletrônico, clonagem de cartões e celulares e racismo praticado pela internet.


Partidários da lei temem que, se ela não for aprovada, infrações que não estão previstas pela legislação atual seguirão impunes.


Os defensores da Lei Azeredo também refutam as acusações de que o projeto seria uma ameaça à liberdade e à privacidade na rede. Afirmam, ainda, que ela nada tem a ver com a questão de direitos autorais -uma das alegações mais frequentes dos detratores.


‘Os que insistem nessa questão estão agindo de má fé’, afirmou à Folha o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), autor do texto substitutivo que aglutina três projetos de lei contra crimes de informática.


Aprovado por unanimidade no Senado, em julho de 2008, com parecer de 23 emendas consensuais propostas pelo líder do PT, senador Aloizio Mercadante, o projeto tramita na Câmara e pode ser votado ainda nesta semana. De lá, seguirá para sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que recentemente chamou o projeto de ‘censura’.


Como o texto do projeto já foi examinado por ambas as Casas, não pode sofrer mais alterações -a única possibilidade é a retirada de trechos.


Essa medida é dada como certa pelo deputado federal Julio Semeghini (PSDB-SP), relator do projeto na Câmara.


Na quarta-feira passada, em uma longa reunião em Brasília, foi acordada a supressão de pontos que poderiam permitir interpretação dúbia, como os que caracterizam o acesso não autorizado a sistemas informatizados e a difusão de código malicioso. Esses assuntos serão tratados posteriormente em um novo projeto complementar, afirma Semeghini.


Os presentes à reunião não chegaram a um consenso quanto à obrigatoriedade dos provedores de internet de manterem os registros de acesso, questão que deve ser discutida novamente antes de a lei seguir para a sanção.


Segundo José Henrique Portugal, assessor técnico de Azeredo, as críticas ao projeto partem de ‘pessoas que não entendem de tecnologia nem de direito’. Para ele, o Brasil está ficando para trás no combate aos crimes digitais.’


 


 


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Projeto ameaça liberdade e privacidade, afirmam críticos


‘Críticos da Lei Azeredo veem nela ameaças à liberdade e à privacidade na internet. Consideram-na ineficaz para combater os crimes virtuais e apontam brechas no texto que poderiam levar à prisão quem baixa música ou desbloqueia um celular, por exemplo.


Oona Castro, do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, defende que, antes da criação de uma lei penal, seja feito um marco civil regulatório focando os direitos e as responsabilidades dos agentes e dos usuários da rede.


Um dos pontos do projeto que têm sido alvo de críticas é a rigidez das penas, consideradas desproporcionais em relação a outras do Código Penal.


Para dano a dados ou programas de computador, a Lei Azeredo prevê detenção de até três anos, punição mais severa do que a por invasão domiciliar, compara Castro.


Por conta de ‘sérias imprecisões nos conceitos empregados e na tipificação dos crimes’ na Lei Azeredo, o Centro de Tecnologia e Sociedade da Escola de Direito da FGV (Fundação Getúlio Vargas) do Rio criou um estudo propondo modificações ao projeto.


O objetivo, segundo a instituição, é ‘evitar uma criminalização massiva de condutas corriqueiras na rede, que pode levar a decisões discrepantes e casuísticas ou, em último caso, a uma baixa eficácia da lei, algo que também não é positivo para a segurança jurídica e para o processo de disciplinamento legal da internet no Brasil’.


A íntegra do estudo pode ser baixada em bit.ly/azeredofgv.


Contra o projeto, apelidado de ‘AI-5 Digital’, foram organizados um abaixo-assinado virtual, que teve mais de 140 mil adesões, e atos públicos em São Paulo e no Rio.’


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 8 de julho de 2009


 


CHINA
Cláudia Trevisan


Centro de imprensa facilita controle do regime


‘À diferença do que ocorreu no Tibete no ano passado, o governo chinês decidiu permitir a entrada de jornalistas estrangeiros em Xinjiang para cobrir o conflito entre chineses das etnias han e uigur.


O governo local criou um centro de imprensa que funciona 24 horas por dia e tem acesso à internet – bloqueada temporariamente na maior parte da província. O trânsito de jornalistas era relativamente livre em Urumqi, com exceção de algumas áreas onde a tensão se concentrou no domingo, nas quais a entrada era organizada pelo governo. Os únicos problemas enfrentados pelo Estado foram com hans insatisfeitos com o fato de a repórter estar fotografando as manifestações.


Mas os controles seguem estritos em relação à mídia nacional, obrigada a repetir à exaustão a versão oficial dos fatos. Além disso, continua em vigor o bloqueio a sites, blogs e TVs que transmitem informações divergentes da oficial.


Além da suspensão da internet em Xinjiang, o governo bloqueou o site Twitter e suspendeu as ligações internacionais feitas de Urumqi.


A dúvida é saber se a relativa liberdade dos jornalistas será mantida. Ontem, as autoridades planejavam levar repórteres ao Bazaar, onde ocorreram confrontos violentos. Mas a visita da tarde foi cancelada após a situação fugir do controle pela manhã. Quando jornalistas chegaram ao local, foram imediatamente cercados por mulheres uigures, que reclamavam da prisão de seus maridos e filhos, supostamente inocentes.’


 


 


AVALIAÇÃO
Daniela Milanese


Para o ‘FT’ ‘o Brasil passa dançando pela crise’


‘O Brasil passa ‘dançando pela crise’. A avaliação é do jornal britânico Financial Times, que veiculou ontem um caderno especial sobre o País. ‘Acontece que o Brasil, finalmente, após anos de promessas não cumpridas, está chamando a atenção mundial – e sugando investimento estrangeiro direto, enquanto muitos rivais ficam sem nada’, escreveu o jornal.


A publicação parte da movimentação dos negócios em torno da tradicional festa junina de Caruaru, em Pernambuco, para concluir que o mercado doméstico brasileiro é capaz de amparar não somente marcas específicas, como indústrias inteiras. É o caso, por exemplo, do carro bicombustível, feito para o mercado nacional e responsável por 90% das vendas de novos veículos no País.


‘(O Brasil) é uma democracia madura, com uma economia diversificada e população jovem e adaptável deleitando-se de emprego estável e da renda em alta’, elogia o FT.


No entanto, apesar de parecer que o Brasil sairá da crise antes do esperado, não significa que está imune à retração global. O governo teve, em maio, o primeiro déficit primário desde 1999, refletindo a queda na arrecadação e os gastos com pacotes de estímulo. A princípio, a informação poderia não preocupar, diz o FT, já que muitos países enfrentam déficits maiores neste período.


‘Mas é exatamente pelo fato de ter feito muito para colocar a casa em ordem que o Brasil se tornou tão atrativo para os investidores.’ O jornal também lista o atraso de reformas consideradas estratégicas, aguardadas desde o governo Fernando Henrique Cardoso. A falta de infraestrutura, com estradas dilapidadas, a ameaça da violência e a aceitação da corrupção como algo comum são outros problemas apontados.’


 


 


TELEVISÃO
Gerusa Marques e Paulo Justus


NET cobra aluguel pelo conversor do ponto extra


‘A operadora de TV por assinatura NET passou a cobrar esta semana R$ 19,90 por mês pelo aluguel do conversor do ponto extra. A medida, segundo o presidente da NET, José Antonio Félix, atende à determinação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que proibiu a cobrança pela programação do ponto extra, mas permitiu que as operadoras cobrem pela instalação, equipamento e manutenção.


‘A cobrança que é feita hoje é de locação do equipamento necessário para assistir à televisão em outros pontos da casa. A programação continua gratuita’,disse o diretor executivo de relações institucionais da NET, André Borges.


Já a Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor de São Paulo (Procon-SP) diz que a cobrança é uma manobra da operadora para driblar a resolução da Anatel. ‘A Anatel disse que ficaria atenta a qualquer tentativa de mascarar a cobrança pelo ponto extra, que está ocorrendo nesse caso’, disse o diretor de atendimento da entidade, Evandro Zuliani.


As novas regras para o ponto extra foram aprovadas pela Anatel em abril, mas, na prática, não entraram em vigor porque existe uma liminar, concedida pela Justiça Federal de Brasília, que permite a cobrança também da programação do ponto adicional. A Anatel aguarda um posicionamento da Justiça sobre o tema, uma vez que já alterou a resolução, conforme pedia a liminar. A agência também informou que a cobrança de aluguel do conversor feita pela NET não fere o regulamento.


Zuliani disse que uma decisão da Justiça do Rio de Janeiro já determinou a cobrança de multa para a operadora que mantiver a cobrança do ponto extra. ‘A Justiça entende que a liminar não prejudica a entrada em vigor da nova regra.’


A Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Pro Teste), encaminhou um pedido à Anatel para que a agência regule a cobrança de aluguel ou taxa de manutenção, como forma de evitar a manobra de compensação das operadoras. ‘Senão, toda essa conquista, essa luta, pode ser prejudicada’, disse a coordenadora da Pro Teste, Maria Inês Dolci.


Já Zuliani, do Procon-SP, disse que o cliente deve reclamar à Anatel e entidades de defesa do consumidor ao notar a cobrança da taxa de aluguel. ‘Se isso não era cobrado antes, então caracteriza uma quebra do contrato. Se for para um novo contrato, significa o mascaramento da cobrança do ponto extra.’


Os diretores da NET explicaram que, se o cliente não quiser pagar pelo conversor, pode ter acesso aos canais abertos de televisão ligando a TV diretamente à rede. Para ver no ponto adicional os demais canais, o cliente terá de pagar pelo conversor.


O presidente da NET disse que o cliente não se interessa por comprar o conversor. ‘Ninguém quer comprar’, afirmou, sem precisar quanto o equipamento custaria se fosse pago em uma única vez.’


 


 


Keila Jimenez


Elenco do SBT disputa Domingo Legal


‘Façam suas apostas. Quem vai assumir o Domingo Legal no lugar de Gugu? Os eternos curingas do SBT, César Filho e Celso Portiolli, ou uma das estrelas da casa, como Ratinho?


Com a saída definitiva de Gugu Liberato do SBT na tarde de segunda-feira, Silvio Santos abriu a disputa na emissora para ver quem fica com a vaga do apresentador. Sim, SS manterá o Domingo Legal no ar, pelo menos até arrumar a grade de domingo e poder estrear a atração de Eliana, nova contratada da emissora.


Nessa corrida, apesar do lobby de Celso Portiolli – que está em fase de renovação de contrato na casa -, César Filho é o favorito. Silvio já teria até conversado com o apresentador sobre essa possibilidade.


Aguardando uma decisão, a produção do Domingo Legal segue desnorteada, uma vez que perdeu seu apresentador, seu diretor – que foi demitido na semana passada – e parte de seus integrantes. Cerca de dez profissionais da atração também migraram para a Record.


Gugu, que encerrou seu contrato com SBT de forma amigável, e sem o pagamento de multa de R$ 9 milhões, já tem data de estreia prevista na Record: 23 de agosto.’


 


 


DOCUMENTÁRIO
Luiz Carlos Merten


Caro Francis, a velha polêmica vai recomeçar


‘Foram 19 anos de convivência quase diária. Paulo Francis telefonava para Nelson Hoineff todas as noites e, quando não o fazia, era Nelson quem tomava a iniciativa. Quando Francis vinha ao Rio, ficava no apartamento de Hoineff. Quando Hoineff ia a Nova York, hospedava-se com Francis. Por tudo isso, por esse laço, Nelson Hoineff intitulou Caro Francis o documentário que dedicou ao polemista número um da imprensa brasileira. Caro Francis será exibido sexta-feira no Festival de Paulínia – leia ao lado -, integrando a mostra competitiva de documentários. O próprio Hoineff diz que se trata de uma carta ao amigo. O afeto, porém, não o levou a fazer um retrato ?chapa branca? de Paulo Francis. Seria indigno do próprio personagem.


Embora tenha convivido tanto tempo com o homem (e o mito), Hoineff confessa: ‘Nunca consegui estabelecer o que seria o limite entre o personagem e seu intérprete. Todo mundo é multifacetado, mas o Francis era mais. E ele era 100% consciente da persona que construiu no jornalismo impresso e na TV.’ Para o cineasta, o aspecto mais interessante – ou controvertido – do personagem é que Francis estava sempre adiante de sua época. ‘Ele foi trotskista numa época em que as pessoas não eram ou tinham medo de ser de esquerda. Quando ser de esquerda virou quase uma palavra de ordem, ele se transformou num conservador.’


Francis marca outra mudança de eixo. A intelectualidade brasileira sempre foi, tradicionalmente, voltada para a cultura europeia e para a francesa, mais do que a inglesa. Francis pertence a um momento em que a ordem do mundo está mudando. Há um deslocamento, um interesse maior pela cultura norte-americana. Ele radicalizou. O jornalista Daniel Piza, colunista e editor executivo do Estado, colabora no roteiro do filme, além de dar seu depoimento. Ele diz que tudo em Francis era exacerbado – ‘Não bastava ser pró-cultura americana. Era preciso exagerar.’ Também colunista do Estado, Nelson Motta, outro entrevistado, que dividiu com ele a bancada do Manhattan Connection original, acha um absurdo dizer, como fazia a esquerda brasileira, que Paulo Francis se havia vendido aos norte-americanos.


A polêmica sempre acompanhou Paulo Francis. Ele brigou com o ator Paulo Autran, com o jornalista Caio Túlio Costa, com o ministro Gustavo Krause. Com exceção de Autran, que já morreu, os outros discutem suas brigas com o jornalista diante das câmeras de Nelson Hoineff. (A briga com Autran mereceu um comentário de Fernanda Montenegro.) Francis disse que era absurdo um nordestino caipira como Krause ser ministro. O próprio Krause, que poderia ter ódio de morte de quem investia contra ele, admite que era mesmo caipira e diz que é importante haver gente como Francis, que não reza pelas normas nem cartilhas. Masoquismo do ministro? Lucidez?


Ocorre algo curioso, neste momento, na carreira do diretor Nelson Hoineff – que, originalmente, também é jornalista. Hoineff tem dois filmes prontos, um sobre Chacrinha, Alô, Alô Teresinha, e o outro, Caro Francis. Nenhum deles é rigorosamente biográfico. São mais interpretativos. ‘O do Chacrinha demorou mais para ser feito do que eu esperava. O do Francis, ficou pronto mais rapidamente.’ Alô, Alô Teresinha ganhou quatro prêmios no Cine PE – Festival do Recife, incluindo melhor filme para os júris oficial e popular. Caro Francis vai a Paulínia. Mais importante – ambos são filmes sobre transgressores, que marcaram a história da comunicação no País. Chacrinha jogava bacalhau no público e expunha a miséria cultural brasileira na TV, transgredindo em pleno regime militar. Impulsionou as carreiras de Roberto Carlos, Fábio Jr., Agnaldo Timóteo e outros, mas sua buzina ainda ressoa hoje, 30 anos depois, nos ouvidos dos calouros a quem desclassificou.


Nada mais diferente de Chacrinha do que Paulo Francis. Nada…? Paulo Francis não jogava bacalhau no público, mas seus textos falados ou expressos continham outro tipo de provocação. Na abertura do documentário, quando a câmera está sendo montada, ele diz que seu objetivo é mostrar que um filmezinho doméstico pode ser mais bem-feito do que todo o cinema brasileiro. Provocação pura. Alô, Alô Teresinha tem estreia apontada para 30 de outubro. Caro Francis ia estrear antes, em agosto, mas agora o Festival do Rio e a Mostra de São Paulo querem o filme e a estreia vai ser jogada para adiante. Retratos de dois provocadores, duas provocações de Nelson Hoineff. Paulo Francis morreu de infarto em fevereiro de 1997. Era colunista do Estado e tinha opinião sobre tudo. A partir de amanhã, em Paulínia, muito será dito sobre seu legado.’


 


 


MICHAEL JACKSON
Tutty Vasques


O show da morte


‘Como foi a primeira transmissão ao vivo de um velório pop sem que, até então, ninguém soubesse sequer vagamente o que é isso, a gente precisa dar um desconto à performance dos profissionais de televisão, coitados! Não imaginavam o que iam narrar quando chegaram as primeiras imagens da homenagem a Michael Jackson no Staples Center, em Los Angeles. Cristiane Pelajo, da Globo, não estava preparada para tanta tradução simultânea. Tomou uma canseira!


Nessas horas deve ser bom ser como o Datena, que vai logo dizendo qualquer bobagem intraduzível com a autoridade de quem sabe o que está falando. Ontem à tarde, o apresentador da Band caprichou: ‘O que Michael Jackson queria ser não cabia dentro de um ser humano.’ Palavra de quem nunca foi um fã incondicional do artista: ‘Tenho lá minhas diferenças com ele na parte pessoal, mas como músico é um gênio’, aliviou a cara do morto.


No final, aplaudiu o velório: ‘Onde quer que o Michael esteja, está satisfeito!’ Sinal de que não assistiu a seu funeral pela TV.’


 


 


 


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