Dois anos após a passagem do Katrina pela região do Golfo do México, deixando quase duas mil pessoas mortas e mais de um milhão de desabrigados, o furacão ainda é destaque na mídia televisiva americana. Quando o furacão Dean se formou, no começo deste mês, como o primeiro com probabilidade de atingir a bacia Atlântica desde o fim da temporada de tempestades de 2005, as redes de TV finalmente acertaram o tom da cobertura em relação a um desastre de grandes proporções. ‘Com o Katrina, pudemos fazer uma avaliação do nosso jornalismo’, considera Paul Slavin, vice-presidente da ABC News.
Logo após o desastre de 2005, as redes avaliaram o que deu errado e o que deu certo na cobertura, e descobriram que seus planos de ação para casos de emergência não correspondiam à escala de um desastre como o do Katrina. ‘Houve muitos ajustes operacionais e editoriais que o Katrina nos forçou a fazer’, avalia Slavin. A NBC e a CNN, em especial, mostraram seu comprometimento com a região com o estabelecimento de sucursais em Nova Orleans. O âncora Brian Williams, da NBC, fez esta semana sua 14º visita à região para o telejornal Nightly News.
Novas medidas
Enquanto as emissoras gastam milhões de dólares para manter as equipes seguras em Bagdá, foi necessário o susto com a violência e o clima de insegurança pós-Katrina para que medidas fossem tomadas com os jornalistas também em nível nacional. Em Nova Orleans, as sucursais das emissoras passaram a fazer estoque de água e comida – o que geralmente era uma preocupação apenas para correspondentes estrangeiros em zonas de guerra.
O escritório da ABC passou a simular desastres para treinar os jornalistas em caso de um novo problema. Para Nancy Lane, vice-presidente de cobertura editorial da CNN, o Katrina fez com que a rede passasse a ter um olhar mais atento aos preparativos para um furacão. A equipe da CNN percorreu a região do Golfo do México para ter uma idéia melhor de toda a infra-estrutura local, caso um novo desastre ocorra. A rede também investiu em equipamentos de vídeo que podem operar sem a presença de um cinegrafista. ‘Em caso de tempestades fortes, é muito perigoso estar no local, e não queremos colocar a vida de ninguém em risco’, diz Nancy.
Não foi apenas a questão técnica que mudou, mas também as decisões editoriais. Brian Williams alega, no entanto, que não mudaria o tempo dedicado à cobertura do Katrina. ‘Muitas pessoas nos escrevem para criticar que dedicamos tempo demais a falar do Iraque, e o mesmo aconteceu com o Katrina. Mas sempre vai ser assim no meio jornalístico’, afirma. Ele diz estar chocado com o fato de haver ainda 1,2 milhão de desabrigados nas regiões atingidas pelo furacão. Informações de Paul Gough [Hollywood Reporter, 29/8/07].