Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Fútil e inútil

Por que vocês dedicaram quase a edição inteira para tratar de um assunto tão fútil e inútil?

Milton Sacramento, analista de controle externo, Brasília

Nota do OI: Prezado Milton, o assunto não é fútil nem inútil; é, da cabeça aos pés, uma questão de crítica da mídia. Na edição 276 havia, em 44 artigos, sete dedicados ao episódio – ou seja, menos de um quinto. No Aspas, onde reproduzimos textos de terceiros, havia 34 em 78 (menos da metade). Na presente edição o tema ganha mais espaço – mesmo assim, longe da edição inteira.



A Urn@ sobre Lula

Com relação à pergunta da Urn@ [‘O NYTimes acertou em afirmar que há uma ‘preocupação nacional’ com os hábitos do presidente Lula?’], quero acrescentar ao meu ‘não’ o seguinte: pelo que se sente nas entrelinhas, Lula pode até estar bebendo muito para aliviar a tensão. Pode até já ter se tornado um alcoolista. Não é esse o fato que está em pauta. O que importa é que o NYTimes não tem nada a ver com isso. Se o jornalista acha que existe uma ‘preocupação nacional’ com os hábitos de Lula, deveria antes ter abordado a ‘preocupação internacional’ com a personalidade psicótica do presidente Bush…

Violeta Martins Ferreira, psicóloga e jornalista, Rio de Janeiro



Não podemos ser ingênuos

Assistindo ao programa OI na TV, fiquei abismado com a falta de profundidade de nossos jornalistas. Preocuparam-se apenas com o corporativismo, ou seja, com a expulsão do jornalista do território nacional. Esqueceram-se do principal. O NYT jamais erraria dessa maneira (ver coluna do dia 13/5 do jornalista Janio de Freitas) na Folha, em que ele comenta o problema na Venezuela e em Cuba. Não podemos ser ingênuos em relação aos americanos, nosso presidente está se destacando no cenário internacional como um dos grandes líderes dos países emergentes.

Com essa publicação, o jornal americano quis tripudiar em cima de nosso presidente, no sentido de desqualificar. Vejam o interesse da Alca. Portanto, os jornalistas convidados pecaram e muito, pois demonstraram falta de conhecimento da política internacional, e se dizem jornalistas de respeito. Então, nossa imprensa realmente vai mal das pernas. O programa tinha tudo para esclarecer a opinião publica e pecou, foi vazio, sem profundidade.

Antonio Roberto de Carlis, aposentado, Birigui, SP



Filial da Caros Amigos

Eu entendo que o OI exista para contribuir para um jornalismo mais profissional. Mas isso inclui diminuir a importância das manifestações populares e democráticas em nome de um ‘legalismo’, de seguir regras para um jornalismo sóbrio, imparcial, ‘cientifico’? Sim, porque no caso Waldomiro vocês só se posicionaram quanto à origem das fontes, que não foi clara. Mas, e a gravidade da forte suspeita de que o nosso ‘primeiro-ministro’ tem fortes ligações com a corrupção e isso desde o caso Santo André? Agora que o NYT escreveu uma matéria inadequada vocês vão me dizer que não perceberam que o nosso presidente é um bebedor pesado? Não digo alcoólatra, porque é hábito antigo, que não parece afetar de maneira grave sua vida pessoal, mas que agora ele deve, sim, estar exagerando, não há dúvida.

Quando os jornais do mundo descreveram os órgãos sexuais do Bill Clinton nem os Estados Unidos se sentiram atingidos em sua soberania nem o povo americano tomou como pessoal. É lógico que houve constrangimento, mas saudável para democracia. E a matéria serviu, sim, para mostrar que governantes tem suas fragilidades. Agora vocês, em nome de um jornalismo digno de lordes ingleses, impessoal, ‘equilibrado’, cientifico, esqueceram de que estão num pais latino. E as suas últimas matérias dão a entender que o nosso governo é corretíssimos e seus integrantes, excelentes. Vocês viraram filial da Caros Amigos, ou vamos voltar ao profissionalismo da época da ditadura, em que não havia erros, nem exageros?

Maria Natalia Lebedev Martinez Moreira, médica, Belo Horizonte



Crítica da mídia é pra isso

Vamos fingir que o presidente não cometeu uma burrice histórica, que ainda vai ter muitos desdobramentos, e vamos analisar apenas o foco jornalístico da situação. É por coisas assim que surgiram a crítica da mídia e o Observatório: para estudar o comportamento da imprensa e as ressonâncias que ela dá ou tira dos assuntos em pauta. É por existirem os monopólios de comunicação e seu uso quase sempre indevido a serviço da perpetuação das dinastias que foi necessário quebrar uma tradição presente em todas as outras atividades profissionais deste país – o corporativismo: para que a ética (a ‘ética’ verdadeira, não aquela que faz dos advogados cúmplices silenciosos de crimes hediondos) e a moral que deveriam estar presentes no exercício de uma profissão fossem incessantemente vigiadas em tempo integral pelos próprios colegas. E para quando se verificasse uma situação de desvio de finalidade não houvesse o silêncio covarde de toda uma classe.

A crítica da mídia – ou o Observatório – não nasceu para acabar com os jornalistas, ela visa oferecer instrumentos de análise e adequação úteis para que estes profissionais se avaliem e avaliem a repercussão daquilo que dizem ou imprimem. Pois que é fato que ecoam profundamente na vida do país, sobretudo se proferidos em ‘horário nobre’. O poder dos grandes grupos de comunicação deixou de ser apenas subjetivo no dia em que Fernando Collor de Mello resolveu governar o Brasil: a Rede Globo, num esforço conjunto dos seus veículos de rádio, jornal e televisão, conseguiu eleger e derrubar um mesmo presidente da República num espaço fantástico de tempo.

É para tentar impedir que essas ‘subjetividades’ não passem mais despercebidas pela população que a crítica da mídia se presta a combater a concentração da informação e a cobrar finalidade social de quem presta serviço de comunicação. É por entender que um jornalista, com todos os seus mestrados e doutorados, não está acima do bem e do mal. É por entender que jornalista também erra e, em errando, precisa ser cobrado publicamente, e não em paternalistas conselhos de classe.

Os críticos, como não poderia deixar de ser, condenaram a atitude do correspondente do New York Times, que irresponsavelmente insinuou um alcoolismo do atual chefe da nação ‘embasado’ em nenhum fato passível de comprovação jornalística. Lamentável que não tenha ficado apenas nisso e, agora, o que poderia tirar só a credibilidade de um profissional: se estendeu a outros campos de discussão. E a crítica da mídia estará em todos, certamente.

Marcelo Idiarte, diagramador



A fuga e a causa

Ao ler este artigo, ‘O presidente e a mídia’, de Ricardo A. Setti, me pergunto se não é exatamente essa fuga da mídia do presidente Lula, essa falta de vontade de encarar jornalistas e perguntas de verdade que proporciona espaço necessário a episódios como o ocorrido com o New York Times, em que Larry Rohter afirma que os brasileiros estão preocupados com a quantidade de bebida alcoólica que o presidente Lula tem consumido, e que isto estaria afetando sua gestão. Já está na hora de nosso presidente dar-se conta de que quanto mais tentar se afastar da realidade maior será o espaço que ele dará a ‘reportagens’ como essa.

Tiago Camargo dos Santos, estudante de Comunicação, Porto Alegre