Marcos Zibordi, ao assinar a sua matéria na Caros Amigos (abril, 2007) sobre a paisagem mental dos estudantes de jornalismo, fez uma brincadeira em forma de pergunta: ‘Marcos Zibordi é jornalista?’ Se o ensino superior de hoje forma certo tipo de jornalista, como designar o profissional que se formou faz tempo, e jamais se considera definitivamente formado?
A decepção de Zibordi com as respostas, com as frases… Percebe nos jovens, por exemplo, o cinismo de quem não chegou a lutar (nem pretende fazê-lo) em nome de ideais e valores… Ideais e valores? O que serão essas coisas? Têm a ver com ética?…
Outro problema: esses estudantes não têm consciência profunda dos problemas sociais do país. Nem profunda, nem superficial. Aliás, consciência que se preza é profunda, ou pouquíssimo tem de consciente. Ora, o que esperava Zibordi? Vários desses universitários estudaram em escolas cujo projeto pedagógico aponta menos para o social e muito, muito mais, para a realização dos sonhos individuais: a inserção no mercado de trabalho.
Por isso o desejo, assumido escancaradamente, ou assumido mais ou menos, de obter bons empregos em pouco tempo. O diploma de jornalista assegurando o ingresso no show da vida! Ilusão! O valor relativo dos diplomas pós-modernos é mais e mais evidente.
Desesperar? Jamais
Contudo, há os que adoram ler, e, adorando ler (e escrever, com a dor/alegria que as palavras nos oferecem), não estacionam no conhecimento livresco. Querem encarar a realidade. Querem soltar o mouse e sujar as mãos. Há, felizmente, os que torcem o nariz diante dos manuais de jornalismo, reclamam do estilo pasteurizado, que, se estilo fosse, deveria ser intransferível e… jamais, objeto direto de adestramento, imposição.
Zibordi se sente decepcionado com muitos jovens sem juventude, sem rebeldia. Sabe, porém, que nem tudo é deserto. Anima-se com alguns sinais. Leio no seu texto pingos de esperança aqui e ali. Não é chuva generosa de garotada amadurecida, crítica. O fato é que isso, meus caros amigos, não temos em jornalismo, em letras, em advocacia, em medicina…
Decepcionantes igualmente muitos professores de jornalismo, que jornalistas não são e não gostam de jornalismo. São professores que só enxergam no curso em que lecionam uma forma alternativa de sobrevivência. Quando deparam com a paisagem mental dos estudantes brasileiros não se espantam, não se incomodam.
Desesperar? Jamais. Mas o saldo não é positivo.
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Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br