Vivemos numa época em que tudo evolui ou regride de maneira muito rápida. Um grande exemplo é a tecnologia que, cada vez mais, é instantânea – com seus megas, gigas e outras tantas formas de capacidade de memória. Um processador de última geração daqui a alguns meses é coisa ultrapassada. Esse mesmo fenômeno vem acontecendo com pessoas que passam pelas nossas vidas de forma meteórica, tornando-se descartáveis. Nossas memórias não as registram por muito tempo e são deletadas de maneira avassaladora.
No Brasil, principalmente, existe uma grande necessidade de criar novas celebridades, seja para vender produtos, seja por falta de personalidade de alguns que buscam se espelhar em outros. Esses astros produzidos não acrescentam conteúdo no que falam e, muito menos, na forma de agir, mas, mesmo assim, se tornam ilustres e, futuramente, desconhecidos. Num espaço de tempo muito curto, já não se sabe mais seus nomes, o que são, o que fazem e o que pretendem. Outro lado interessante de se analisar é como se difundem notícias pela mídia como:’Fulano de tal sai da jaula ou Sicrana faz strip-tease para pessoal da casa.’ Lendo ou assistindo a esse tipo de informação, parece que estamos falando de um zoológico ou uma casa de shows com’mulheres de vida fácil’.
Estímulo pela vida
É por essas formas que se consolida um’ilustre’, ou, como outros gostam de denominar, um’herói’. Analisando friamente, não é necessário racionar muito, basta ter cara-de-pau e se exibir. Se você age de maneira normal’dentro da casa’ pode ser tachado de’chato’,’quadrado’,’sem graça’, entre outros termos pejorativos. No entanto, as mesmas pessoas que exigem um comportamento fora do usual, agem de maneira’quadrada’, porém repudiam que as’celebridades’ realizem seus mesmos atos normais.
Uma atitude polêmica gera audiência, que gera, por sua vez, interesses financeiros para poucos e satisfação pessoal para a grande parte da sociedade. Aí é que surge uma série de questionamentos. Será que não estão faltando desafios para as pessoas? Por isso, assistir a outros fazendo ações grotescas (para não falar bizarras) é uma forma de sair de uma atitude convencional? Esse é um fator de estímulo para o público se interessar em falsos artistas? As perguntas podem ser várias sobre o assunto; no entanto parece que o caminho da resposta se direciona para um só: monotonia.
Viver de forma normal não parece ser mais estimulante para muitos, pois tem se tornado monótono, habitual, repetitivo. Os desafios parecem mais afastados ou se fazem distantes por parte das próprias pessoas. O entretenimento com os’ilustres desconhecidos’ dá idéia de que é o jeito mais rápido e fácil de atingir uma satisfação, mesmo que momentânea.
Será que é preciso inventar uma tecnologia que faça com que as pessoas se estimulem pelas suas próprias vidas?
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Jornalista e radialista, Porto Alegre, RS