Demorou, mas aconteceu. Embora, há meses, epidemias que afetam animais estejam nos principais jornais, só agora as redações de Santa Catarina acordaram para a vida lá fora. É claro que existe a preocupação de não alarmar à toa o leitor, mas o risco da gripe aviária chegar ao Brasil não é descartado por nenhuma grande autoridade sanitária. No caso catarinense, não dar maior atenção aos fatos pode provocar sérios danos à economia local. Afinal, o estado sedia algumas das principais indústrias avícolas do país e essa produção sempre pesa na balança comercial local.
Agora, os jornais dão mais espaço à propagação da doença. Tardou a acontecer. Espera-se que o leitor tenha à sua disposição informação clara, correta e confiável.
DC corre atrás
Primeiro a preocupação com a disseminação da doença no mundo e agora os efeitos diretos na economia do estado. Foi neste ritmo que o Diário Catarinense informou seu leitor sobre a gripe aviária. No dia 03/03, o jornal trouxe o editorial ‘A ameaça da gripe aviária’. Na edição do dia 5, a manchete ‘O mundo em alerta’ indicava as páginas 4, 6 e 21 com matérias sobre a velocidade de propagação do vírus e os cuidados que devem ser tomados para evitar a chegada da ocorrência no país. A partir de 08/03, o assunto foi tratado em todas as edições do DC, agora com maior preocupação nas conseqüências em Santa Catarina. Foi o que retrataram as matérias ‘Agroindústrias planejam férias’ (08/03), ‘Cai o preço do frango nos supermercados’ (09/03), ‘Agroindústria baixa produção em 32%’ (10/03) ‘Governo estuda apoio contra a crise das aves’ (11/03), entre outras. O DC trouxe informações importantes sobre a doença, bem como um acompanhamento constante dos fatos.
Preocupação com o Vale
Com a cobertura voltada para o Vale do Itajaí, o Jornal de Santa Catarina intensificou a cobertura da doença das aves quando os efeitos chegaram à região. No dia 05/03, o Santa publicou a matéria ‘Vírus mortal se expande a 38 países’, a única de maior abrangência, que trouxe também o box ‘Fique Atento’, com as principais dúvidas sobre a doença. No dia 9, o assunto veio na editoria de Economia com a matéria ‘Gripe aviária ameaça empregos no estado’, que relatava os prejuízos dos avicultores e as constantes demissões no estado. Na edição conjunta dos dias 11 e 12, a chamada de capa ‘Gripe das aves já afeta economia do Vale’ indicava matérias sobre a queda da produção e do preço do frango no Vale, as empresas afetadas e as conseqüências da crise que devem atingir o Porto de Itajaí. Na mesma edição, o Santa publicou entrevista com o pneumologista Mauro Kbeilick, que justificou o alarde em torno do evento.
AN ‘sobrevoa’ o assunto
Apesar do alarme geral, A Notícia foi sintético demais na cobertura que cerca a gripe aviária. É verdade que também trouxe informações relevantes sobre a doença e sua propagação, mas deixou de lado acontecimentos importantes no estado. O assunto apareceu nas editorias de Economia, Mundo e Geral, com as respectivas matérias ‘Aftosa e gripe aviária afetam exportações’ (04/03), ‘Gripe aviária já causou prejuízos de US$ 10 bi’ (07/03) e ‘Saúde tranqüiliza sobre gripe aviária’ (12/03). Também no dia 12, a manchete ‘Saúde desmistifica a gripe aviária, mas mantém alerta’ indicava a página A6, onde o leitor pôde encontrar junto com a matéria alguns boxes tratando dos tipos de gripe, riscos e principais dúvidas.
Não passou em branco
Mesmo que rotineiros, não podemos deixar de mencionar alguns erros apresentados nas matérias sobre a gripe aviária. O Jornal de Santa Catarina escorregou na concordância nominal no título ‘Gripe da aves derruba preços, empregos e produções no Vale’ (edição do dia 11-12/03, p.10). No Diário Catarinense, a gafe foi maior, o texto que acompanhou a manchete ‘O mundo em alerta’, no dia 05/03, indicava que ’18 pessoas tiveram a morte ligada ao vírus’, quando a matéria nas páginas internas trouxe o número correto: 94. A diferença é grande. Não são apenas números, mas vidas humanas. No dia 08/03, a manchete sobre a gripe das aves indicava a p. 18, mas a matéria se encontrava na p. 17.
Farra do Boi (1)
No período que antecede a Páscoa, a Quaresma, a prática da Farra do Boi aparece em diversos pontos do litoral de Santa Catarina. Uma prática cultural que divida a opinião das pessoas. Na primeira quinzena de março, os jornais catarinenses denunciaram a prática e trouxeram depoimentos contra e a favor da farra.
O Diário Catarinense em sua edição do dia 1º de março apresentou chamada de capa: ‘Santur diz que farra do boi atrai turistas’. Em matéria interna, o jornal trouxe entrevista com Valdir Walendowsky, diretor de Marketing da Santur, que apóia a tradição açoriana. No dia seguinte, saiu no DC uma nota da Secretaria de Turismo, sobre o ‘equívoco de Walendowsky’, acompanhada por uma reportagem especial com detalhes, casos e opiniões da prática. Nas outras edições do período analisado, nada mais foi citado.
Farra do Boi (2)
A opinião dos leitores esteve no Jornal de Santa Catarina. Em todas as edições do dia 02 ao 07, o jornal publicou cartas com posições diversas, tanto de apoio quando de repúdio à prática. Manchetes também denunciavam a prática, nos dias 8 e 13, além de artigos. Na edição dominical, de 4-5/03, o Santa trouxe detalhes sobre o impasse da justiça com Valdir Walendowsky. A mesma edição contou ainda com reportagem de duas páginas, trazendo a opinião de José Bento da Rosa, historiador a favor, e Cristiane Freitas, diretora-executiva da ONG SOS Animal, contra a prática.
Farra do Boi (3)
A Notícia nada apresentou no período de 1º a 7 de março. No dia 8, trouxe ‘Ações para coibir a farra-do-boi em SC’, onde casos foram apresentados. Somente na edição do dia 13, o jornal retomou o assunto com a manchete ‘Farra-do-boi: entre a tradição e a proteção’ e matéria de destaque na página A4, explicando a origem, o parecer da lei e opiniões do caso.
Sangue, uma arma e alguns corpos
Na edição de quinta-feira, 09, o Diário Catarinense trouxe nota sobre o abate de 377 animais no Paraná, com suspeita de febre aftosa. Acompanhando a nota, uma foto mostrava um homem apontando uma arma para a cabeça estourada de um entre vários bovinos estirados mortos dentro de uma baia. A cena é forte e a pose do atirador transborda violência. A foto chocante não condiz com a linha editorial do jornal que não costuma fazer uso de imagens como aquela para ilustrar suas matérias. Aquela foto era mesmo necessária?
Violência nos estádios
Os jornais catarinenses noticiaram de forma semelhante a tragédia ocorrida com um torcedor do Joinville Esporte Clube que foi morto com uma pedrada no meio do estádio de futebol. No dia 03, os periódicos trouxeram informações gerais sobre o fato, infográfico com uma simulação do momento do ataque e o estado de saúde de Júlio César que até então se encontrava em coma.
No dia seguinte, as capas dos três jornais foram estampadas com a notícia da morte do garoto de 17 anos. O Diário Catarinense trouxe na página quatro a matéria de Karine Ruy com a seguinte afirmação: ‘(…) morreu na madrugada de ontem, na Capela do Cemitério Municipal de Joinville’. A oração mal construída deu a entender que Júlio César faleceu na Capela, o que não aconteceu.
O erro na publicação do DC ocorreu em uma das peças fundamentais da redação jornalística e bastante trabalhada nas universidades, a abertura. Também no dia 4, o Jornal de Santa Catarina publicou a mesma matéria, porém com abertura reformulada. Nas edições seguintes, as publicações foram acerca das homenagens prestadas ao torcedor e da decisão de proibir torcidas visitantes nos estádios.
Nenhuma novidade para elas
A Notícia
passou a publicar matérias sobre o Dia da Mulher, antes da data. Em 06/03, veio a manchete ‘Mulheres injetam R$ 935 mi por mês na economia de SC’, com o assunto na p.A4. No dia seguinte, o tema também veio na página Em Destaque, com a matéria ‘Sem rodeios ou medidas para a beleza e a vaidade’. Na edição do dia 08/03, a chamada de capa ‘Mulher vai à luta e amplia avanços’ ocupou grande parte da capa. Além da matéria ‘Conquistas diminuem abismo entre elas e eles’ na p. A4, a data comemorativa também foi o tema do editorial desta edição (‘A maior das revoluções’). No dia 09/03, o AN trouxe a manchete ‘Mulher é maioria no ensino superior’.O Jornal de Santa Catarina, também publicou alguns artigos nos dias próximos à comemoração, mas a matéria ‘Elas derrubam os obstáculos’, encartada no caderno de Economia, foi sua publicação mais expressiva. O Santa contou também com perfis de mulheres nos dias 8 e 9 na contracapa do jornal: uma segurança bancária e uma fotógrafa.
No Diário Catarinense, as páginas 4 e 5 foram destinadas a uma reportagem especial no Dia Internacional da Mulher. ‘Mulheres que constroem Santa Catarina’ contou com a bela foto da pedreira Rosemarli Tanaka abrindo a publicação e um infográfico que trouxe em percentuais a etnia, ‘ocupação’ e ‘remuneração’ das mulheres catarinenses.
De maneira geral, não fugindo a um clichê jornalístico, todas as matérias dos jornais sobre o Dia Internacional da Mulher foram baseadas na conquista de espaços no mercado de trabalho e da maior participação e força de decisão das mulheres na sociedade. Será que o leitor (e as leitoras) não se cansa(m) disso? É possível fazer diferente? Quem se habilita?
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