Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Informação à primeira vista

Na disputa das bancas, é a manchete que define o teor diário dos jornais. Como parte da prática jornalística, ela deve seguir alguns conceitos que, além de facilitar o trabalho dos jornalistas, ajudam na compreensão e decisão dos leitores por qual periódico conferir.

O Monitor de Mídia dedica o diagnóstico dessa semana à análise das manchetes nos principais jornais catarinenses. Foram consideradas as edições de 24/05 a 02/05 do A Notícia, do Diário Catarinense e do Jornal de Santa Catarina. Procuramos nas manchetes traços do que a teoria recomenda na hora de escrever o título principal do jornal impresso.

As manchetes já tiveram outras abordagens aqui no Monitor. O diagnóstico 94, ‘Manchetes de ontem’, abordou os temas em destaque nos jornais. Na edição 87, ‘Manchetes mostram fatias de mercado dos jornais’, foi conferido o critério da proximidade em relação aos temas.

Metodologia

Manchete é o título principal ao alto da página e em toda a extensão. Esse conceito, definido por Mário Erbolato no Dicionário de Propaganda e Jornalismo, é só a primeira impressão do chamariz que representa. Sua principal função é instigar a leitura, principalmente entre todas as publicações disponíveis em uma banca. Além disso, serve para pontuar o assunto considerado mais relevante naquela edição.

Como parte da rotina jornalística, a manchete, assim como os títulos, possui alguns preceitos técnicos. Jorge Pedro Sousa, em seu livro Elementos de Jornalismo Impresso, pontua algumas funções dos títulos:

** Revelar a essência da notícia;

** Antecipar a história sem a esgotar;

** Despertar a atenção do leitor;

** Atrair o leitor;

** Um bom título deve condensar um máximo de informação num mínimo de palavras;

Ainda sobre a objetividade, Sousa destaca que:

‘A linguagem jornalística deve ser simples. Isto significa, por exemplo, que entre sinônimos deve preferir-se o mais comum e que as frases devem respeitar a ordem direta (sujeito – predicado – complemento), desde que esta opção não represente uma sobrecarga estilística.’ (SOUSA, p. 122, 2005).

Além dos pontos apresentados, Elementos de Jornalismo Impresso possui outros tópicos relevantes à profissão. A obra pode ser encontrada nas livrarias, ou consultada on-line e por download disponibilizado pelo próprio autor. Clique aqui e confira. (http://www.bocc.ubi.pt/pag/sousa-jorge-pedro-elementos-de-jornalismo-impresso.pdf).

Através dos conceitos apresentados, o diagnóstico baseia sua análise na conferência de alguns tópicos, divididos em tabelas de cada periódico. Foram considerados: o caráter informativo, que é a função da notícia; voz ativa e ordem direta, para facilitar a compreensão das idéias; presença de verbo de ação, que dá ‘movimento’ ao assunto; o tempo verbal, preferencialmente no presente do indicativo, para dar impressão de atualidade; e, se a manchete provém do lead da matéria. Os resultados podem ser conferidos logo após cada tabela, com as devidas observações, de acordo com cada ponto considerado.

Diário Catarinense

Data

Manchete

É informativa

Está na voz ativa

Está no presente do indicativo

Contém verbo de ação

Sai do lead

Ordem direta

24/05

‘PMDB indica a Lula catarinense como novo ministro de Minas’

X

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25/05

‘Catarinense confirmado como ministro de Minas’

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26/05

‘Senadores reagem com cautela à denúncia que envolve Renan Calheiros’

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27/05

‘Como Florianópolis deve prepara-se para o futuro’

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28/05

‘Presidente do Senado fará discurso contra acusações’

X

X

X

X

X

29/05

‘Governo lança programa de planejamento familiar’

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X

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X

X

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30/05

‘SC tem frio recorde dos últimos 39 anos em maio’

X

X

X

X

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31/05

‘Relatórios revelam como a PF montou a Operação Moeda Verde’

X

X

X

X

X

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01/06

‘Dois cursos de SC estão entre os melhores do país’

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X

X

X

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02/06

‘Indústria de SC investe R$1,5 bilhão neste ano’

X

X

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X

X

X

As edições do Diário Catarinense analisadas no período de 24/05 a 02/06 contêm a maioria dos requisitos propostos pela análise. Dentre as dez manchetes consideradas, nove são informativas, oito estão em voz ativa, bem como, o mesmo número apresenta o verbo no presente do indicativo. Ainda, sete possuem verbo de ação, nove saíram do lead e todas estão na ordem direta.

A manchete intitulada ‘Catarinense confirmado como ministro de Minas’, no dia 25/05, foi de difícil compreensão, pois estava na voz passiva e com o verbo implícito.

O DC foi o periódico que, no total, mais se aproximou dos requisitos utilizados na análise. Um ponto positivo, pois demonstra a preocupação do jornal em relação às técnicas de titulação e à compreensão de seus leitores.

A Notícia

Data

Manchete

É

informativa

Está na voz ativa

Está no presente do indicativo

Contém verbo de ação

Sai do lead

Ordem direta

24/05

‘Catarinense indicado ao Ministério de Lula’

X

X

X

X

X

25/05

‘Quem é o catarinense que deve assumir o ministério’

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26/05

‘Denúncia contra Renan sacode o Congresso’

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X

X

27/05

‘Escola, Trabalho, Religião…’

28/05

‘Presidente do senado usa IR para se defender’

X

X

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X

X

29/05

‘Renan expõe intimidade para tentar se defender’

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X

X

X

X

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30/05

‘Nem a PF está livre do corte da navalha’

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X

X

X

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X

31/05

‘Relatórios da PF reforçam a existência de esquema’

X

X

X

X

X

X

01/06

‘Santa Catarina fora do PAC da segurança’

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02/06

‘Chávez critica Senado e leva um puxão de orelha de Lula’

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Em geral, O jornal A Notícia apresentou as suas manchetes de acordo com os preceitos básicos do jornalismo. Mas, na comparação com os outros diários analisados, foi o que menos obedeceu às regras da teoria jornalística. Nas dez edições analisadas, foram contabilizadas oito manchetes informativas, sete em voz ativa, oito no presente do indicativo, sete com verbo de ação , oito provenientes do lead e oito em ordem direta.

As manchetes ‘Quem é o catarinense que deve assumir o ministério’, do dia 25/05, ‘Escola, Trabalho, Religião…’, de 27/05, e ‘Nem a PF está livre do corte da navalha’, de 30/05, foram exceções. A primeira era imprecisa e pouco informativa, o que reduz o interesse do leitor pela matéria. A segunda era manchete de uma publicação de domingo – referente a uma reportagem. Entretanto, não cumpriu nenhum dos requisitos da análise, o que não a torna errada, porém em desacordo com o caráter informativo que uma manchete deve possuir. As reticências, por exemplo, devem ser evitadas por transmitirem dúvida e incerteza diante do fato apontado. Já a terceira, apresentou palavra negativa, o que é desaconselhável pois transparece ao leitor que o fato não ocorreu; se não ocorreu não é notícia.

Jornal de Santa Catarina

Data

Manchete

É informativa

Está na voz ativa

Está no presente do indicativo

Contém verbo de ação

Sai do lead

Ordem direta

24/05

Castelinho ficará em mãos blumenauenses

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25/05

Justiça exige ônibus nos horários de pico

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26-27

/05

Vem aí a maior Texfair

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28/05

Fracassa tentativa de pôr fim a greve

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29/05

Texfair rende mais que a Oktoberfest

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30/05

Vila germânica vira endereço de famosos

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31/05

Sucesso leva Texfair a se dividir em duas

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X

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X

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01/06

41,1 mil assinaturas pedem volta dos sinos

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X

X

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02-03

/06

Reduza

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Durante o período analisado, o Jornal de Santa Catarina apresentou manchetes que seguiram os conceitos técnicos do jornalismo. Como visto na tabela, duas manchetes estavam na ordem direta. Também dois casos não estavam no presente do indicativo: ‘Castelinho ficará em mãos blumenauenses’ (24/05), que também é aceitável para os manuais; ‘Reduza’ (02-03/06), um imperativo com apelo direto, foi um título sem caráter factual e quis ‘alertar para a necessidade de diminuir o lixo doméstico’.

Quanto ao caráter informativo, a maioria das manchetes privilegiou a cidade de Blumenau, característica deste jornal. Apesar do ‘Castelinho’ ser uma marca blumenauense, o Santa circula em outras cidades. Por isso, a manchete de 24/05, ‘Castelinho ficará em mãos blumenauenses’ pode não ser clara a leitores de outras localidades. O mesmo ocorreu com o destaque da Texfair (feira têxtil) em três dias. Apesar de ser noticiada todos os anos, o evento é tratado como se fosse conhecido em todas as cidades de circulação do jornal. Já ‘41,1 mil assinaturas pedem volta dos sinos’, em 01/06, foi confusa por tratar de fatos e apresentar números e informações restritos a Blumenau.

Referência Bibliográfica

SOUSA, Jorge Pedro (2005) – Elementos de Jornalismo Impresso. Florianópolis: Letras Contemporâneas. Disponível aqui.

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Em busca de qualidade

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgou na semana passada os resultados do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade). Os dados se referem a mais de 386 mil provas realizadas no final do ano passado em 1600 instituições de ensino superior. O Enade tenta oferecer uma fotografia da qualidade do ensino em faculdades e universidades, comparando a performance de alunos calouros e formandos.

Participaram da prova os cursos de Administração, Arquivologia, Biblioteconomia, Biomedicina, Ciências Contábeis, Ciências Econômicas, Comunicação Social, Design, Direito, Formação de Professores, Música, Psicologia, Secretariado Executivo, Teatro e Turismo. E de forma geral, o resultado não foi bom. A nota média foi 45,4 num total de 100, e apenas alunos de 45 cursos em 5701 alcançaram nota máxima.

O Enade substitui o Provão, e serve não só para avaliar o ensino superior, mas também ajuda a definir políticas para o setor. Pelo que mostram os dados, existe muita coisa a se fazer.

Como uma das áreas avaliadas é a Comunicação Social e como alunos dos cursos de Jornalismo de todo o país fizeram a prova, os resultados do Enade também preocupam este MONITOR DE MÍDIA. Preocupam porque este instrumento de avaliação – mesmo sendo imperfeito – sinaliza como grande parte dos futuros jornalistas deixa os bancos escolares e ingressa no mercado de trabalho: com visíveis deficiências de formação. E se ocupam as redações nestas condições, a qualidade do jornalismo será diretamente afetada e a sociedade se prejudica.

O jornalismo é uma atividade de finalidade pública, afeta a terceiros, forma opiniões, reforça valores. Se não é bem exercido, o jornalismo deforma, desorienta, desinforma. Presta um desserviço, tal como outras atividades igualmente importantes. Como é fruto dos esforços humanos, o jornalismo depende diretamente do bom preparo técnico desses profissionais, da boa formação cultural e de seu amadurecimento ético.

Por acreditar no papel das universidades na formação dos futuros jornalistas e por considerar preocupantes os resultados apresentados, é que o MONITOR DE MÍDIA insiste no constante aperfeiçoamento do jornalismo local, na necessidade da crítica como instrumento de avaliação e educação. Com isso, nossa aposta é no aumento da qualidade das escolas de comunicação e na conseqüente evolução do jornalismo como prática social.

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Um balanço do Jornalismo no Enade 2006

Gabriela Azevedo Forlin e Fabíola Obadovski da Rosa

Em dezembro de 2006, alunos dos cursos da área de Ciências Sociais Aplicadas, incluindo os de Comunicação Social, fizeram a prova que avaliou as subáreas: Cinema, Editoração, Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Radialismo e Relações Públicas. Os resultados, divulgados recentemente, mostram um panorama preocupante, já que, no geral, o desempenho não foi satisfatório.

O Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) é uma das avaliações realizadas pelo Ministério da Educação, integrante do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes). Com esta prova, o objetivo do governo é avaliar o desempenho dos acadêmicos de cursos superiores de acordo com o conteúdo programado pelas universidades. As provas são realizadas por alunos ingressantes e concluintes, escolhidos aleatoriamente.

É importante destacar que este teste é apenas parte de uma seqüência de avaliações. Nesta etapa apenas o desempenho dos estudantes são avaliados, o que não representa, ainda, o conceito geral do curso. Nas etapas seguintes são analisados: condições do corpo docente e infra-estrutura oferecida pela instituição, inclusive com visitas periódicas de avaliadores. Em suma, os resultados publicados recentemente não podem ser considerados conclusões definitivas.

Confira o apanhado geral dos principais dados que envolvem os acadêmicos de Jornalismo no exame.

Participação

O total de estudantes de Comunicação Social no Brasil é 75.918. Destes, 89,8% estudam em instituições privadas, enquanto a minoria de 10,2% está em universidades públicas. A região que apresenta maior número de estudantes desta área é a Sudeste, com 46.617 acadêmicos. A região Sul vem em segundo lugar com 10.893 alunos.

O número total de estudantes convocados para fazer a prova de Comunicação Social foi 53.458, entretanto apenas 43.140 realizaram o teste. Destes, 23.061 eram ingressantes e 20.079 eram concluintes.

Formação Geral

A média total do desempenho geral dos acadêmicos de jornalismo no componente de ‘Formação Geral’ foi 48,9. Esta média é um balanço da pontuação dos ingressantes (47,8) e dos concluintes (50,3). A média das universidades públicas foi 45,8, enquanto as instituições privadas obtiveram média 49,5.

Observa-se que as instituições privadas obtiveram desempenho superior às públicas, com uma diferença de aproximadamente quatro pontos. Contudo, é válido destacar o vexame geral, já que todos estão abaixo da crítica. Mal alcançaram a metade da pontuação.

As regiões que se destacaram foram a Sul (média 50,0) e Sudeste (49,7). Este resultado reflete uma tendência já constatada no índice de Desenvolvimento Humano de cada uma: 0,807 e 0,791 respectivamente. Isto demonstra que nestas regiões há um investimento que traz resultados positivos, ainda que não o esperado.

Componente Específico

Já a média total destes acadêmicos no ‘Componente Específico’ é 38,5 – balanço entre a média dos ingressantes (35,7) e dos concluintes (42,0). A média das universidades públicas foi 38,3, enquanto as instituições privadas obtiveram média 38,5. As regiões que obtiveram as médias mais altas neste componente foram a Sul (média 44,3) e a Norte (43,3).

É importante valorizar o desempenho da região Norte nesta parte da avaliação, já que os estados que a compõe ficam praticamente isolados do que ocorre no restante do Brasil: desde a tomada de decisões políticas até o movimento educacional.

Conceitos

A maioria dos cursos de Jornalismo (57,1%) obteve conceito 3. O restante obteve conceito 1 ou 2 (14,8%) e 4 ou 5 (28,1%). É importante ressaltar que 65 cursos brasileiros não foram conceituados e nem incluídos nos cálculos percentuais.

Levando em consideração que o teste avalia o desempenho dos acadêmicos, ele reflete a dedicação de cada um com os estudos. Portanto, as instituições que apresentam as maiores médias em tese possuem grandes candidatos a serem melhores profissionais.

IDD Conceito

De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o Indicador de Diferença Entre os Desempenhos Observado e Esperado – IDD Conceito, é uma transformação do IDD Índice. Ele é apresentado em cinco categorias (1 a 5), sendo que 1 é o resultado mais baixo e 5 é o melhor resultado possível. Esta avaliação indica o quanto o aluno aprendeu e desenvolveu ao longo do curso.

Considerações finais

A participação dos acadêmicos de Jornalismo foi importante para a imagem no nosso estado. O curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina foi considerado o melhor do Brasil, apresentando o conceito 5 no Enade e IDD Conceito também 5. Foi um dos 45 cursos do Brasil que obtiveram conceito máximo, bem como um dos dois únicos cursos de Santa Catarina que se destacaram pela nota 5.

A Universidade do Vale do Itajaí obteve conceito 4 no Enade. Apesar disso, esta boa nota não ameniza o mau resultado no IDD Conceito, que foi 3.

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www.univali.br/monitor