Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Internet, televisão e os rumos do telejornalismo

A interatividade na internet, embora tenha sido questionada quando surgiu, tem-se mostrado cada dia mais eficaz. Blogs, sites como o Observatório da Imprensa, Comunique-se, Mídia Alternativa, entre outros, abriram espaço para discussões cada dia mais livres da força do editor e do dono do jornal. Por mais que no Brasil a exclusão digital decorrente da exclusão social ainda seja uma realidade, a parte da sociedade que até então carecia de um espaço aberto e ‘gratuito’ para tornar idéias públicas e compartilhar informações pode se considerar feliz como um porquinho na lama. Nesse contexto, um dos segmentos mais bem contemplados é o dos jornalistas.

Embora ainda exista quem acredite ser o jornalista um privilegiado, detentor do poder da informação, aquele intermediário entre o público e o acontecimento com o poder de manipular os fatos a seu bel prazer, a cada dia a sociedade se torna mais consciente de que os verdadeiros detentores desse poder são os donos das empresas, os interesses políticos, econômicos e comerciais. O caso recente da demissão de Alberto Dines do Jornal do Brasil, depois de ter criticado a cobertura do periódico em seu programa Observatório da Imprensa e no site homônimo, reforça essa convicção.

Os mais descartáveis

Com essa nova mídia, os operários da imprensa estão aprendendo uma nova forma de fazer jornalismo. Da mesma forma, os consumidores das notícias estão aprendendo a gostar e interagir com esse novo jornalismo. É claro que a influência da linguagem da internet rapidamente incorporada pelas novas gerações, a rapidez e a possibilidade oferecida pela informática de efetuarem-se várias ações quase simultaneamente, tudo isso tem sua participação na mudança de preferências do público brasileiro e internacional no consumo de suas mídias. Mas, no que diz respeito ao consumo de notícias, um dos segmentos que mais têm com que se preocupar é o do telejornalismo.

Em artigo publicado no site Comunique-se, o jornalista Antônio Brasil cita duas pesquisas americanas fundamentais para entender a dimensão da disputa entre as velhas e as novas mídias. É bom relembrar que esse tipo de receio ante a chegada de uma nova mídia não é de hoje, bem como se cantou o fim do rádio com a chegada da TV, o fim do jornal impresso com a chegada do rádio etc. Sobressaiu-se depois disso a teoria da convivência entres os meios de comunicação de massa. Porém, hoje é bem pertinente o medo da perda de influência dos formadores de opinião, por exemplo, pessoas que, além disso têm maior poder aquisitivo, mostrando-se assim bons alvos para os anunciantes.

Em pesquisa da Young Tech Elites, realizada nos Estados Unidos, 74% dos entrevistados consideraram ‘muito difícil’ desistir do computador, enquanto apenas 48% afirmam que a televisão é ‘indispensável’. Já em pesquisa do Nielsen Media Research, foi revelado um alarmante declínio de audiência televisiva entre os americanos mais jovens do sexo masculino. É importante reforçar que os programas descartados mais facilmente pela audiência são ainda os considerados sérios ou informativos, mais uma preocupação para o telejornalismo.

Muito mais que o resumo

Diante desse quadro, qual seria a saída para o telejornalismo? Ainda de acordo com Antônio Brasil, o jornalismo participativo se apresenta hoje como uma grande cartada diante desse impasse. ‘O jornalismo em tempos pós-modernos passa a ser uma ‘obra-aberta’. Ao invés de pensarmos em termos de um autor único que dita ‘verdades’ em um modelo um para todos, temos a criação de espaços jornalísticos de discussão onde os leitores ‘reconstroem’ as notícias e acrescentam valor às informações.’, afirma. A grande dificuldade será convencer aqueles que já estão adaptados à velha forma de jornalismo a iniciar uma mudança desse tipo.

Por incrível que pareça, a televisão se mostra hoje conservadora, pois exige do expectador uma passividade que não é mais do gosto das novas gerações. Hoje, aprendemos a dar nossa opinião nas notícias, artigos, em nossas próprias homepages e no universo cada dia mais amplo da internet. Dessa forma a televisão, mais do que o rádio, fica obsoleta no que diz respeito a essa participação.

Chegou a hora de nascer um novo telejornalismo, um que realmente faça valer a pena abandonar o computador (no qual você pode ler as notícias em tempo real, ouvir sua música predileta, baixar o vídeo do acontecimento e ainda copiar, comentar e mandar a seus amigos o que achar de interessante) e sentar em frente à televisão para receber muito mais que o mero resumo das notícias do dia.

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Aluna de Jornalismo da Faculdade de Comunicação da UnB; trabalho selecionado pelo professor Paulo José Cunha