Com entrada proibida para jornalistas na zona de guerra do Sri Lanka, expatriados da etnia tâmil que querem notícias de familiares têm de recorrer a sítios independentes, noticia Krishan Francis [Associated Press, 13/5/09]. A maior parte das informações vem de habitantes locais – entre eles, ex-jornalistas e voluntários – que trabalham anonimamente na zona de conflito e enviam por e-mail notícias para editores na Europa.
O jornalista Para Prabha, por exemplo, conta que seu sítio Euro Television, com sede em Londres, recebe clipes de seis repórteres e cinegrafistas que trabalham dentro da zona de guerra sob circunstâncias perigosas. O sítio é dedicado a assuntos relacionados aos tâmeis do Sri Lanka e à ofensiva do governo contra os rebeldes do grupo Tigres Tâmeis. ‘Um de nossos repórteres foi morto em fevereiro, em um fogo cruzado, e muitos outros deixaram de trabalhar para a gente por ser muito perigoso’, diz. Outro sítio, War Without Witness (Guerra Sem Testemunhas), usa voluntários de ajuda humanitária para fazer filmagens, segundo um funcionário que se identifica apenas como Sam. Além destes, grupos de ajuda tâmeis que o governo acusa de ter ligações com rebeldes postaram uma série de vídeos no YouTube.
Ranjani Soosaithasan, tâmil expatriada na França que perdeu dois familiares no conflito, afirma que sítios de internet são a única maneira de ter notícias de casa. ‘Minha sogra morreu de fome e outro parente do meu marido morreu com feridas no hospital. Temos apenas a internet para saber o que está acontecendo’, desabafa. Ela soube das mortes dos familiares por meio de um breve telefonema que recebeu de um parente que conseguiu ter acesso a um dos poucos telefones que ainda funcionam na zona de guerra.
Os sítios contam histórias apavorantes sobre civis mortos devido à violência, fome ou doenças, em meio a um cenário assustador, com mulheres gritando, crianças correndo de tiros, pacientes sofrendo de dor em hospitais e corpos espalhados pelas estradas.
Governo vs. sítios independentes
O governo nega a veracidade de diversas fotos, alegando que, sem testemunhas independentes, não há como confiar nas informações que vêm da zona de guerra. ‘Temos sérias dúvidas sobre a autenticidade [das imagens]’, afirma Keheliya Rambukwella, porta-voz do Departamento de Defesa. Sítios ainda acusam o governo de realizar ataques em áreas populosas e bloquear a entrega de comida e remédios. Eles raramente mencionam acusações de grupos de defesa de direitos humanos sobre o fato de que os rebeldes estão usando civis como escudos humanos e atirando naqueles que tentam fugir. ‘Você pode ver a máquina propagandista. É óbvio que eles colocam pressão internacional no governo para que o [líder rebelde] Velupillai Prabhakaran seja solto’, diz Rambukwella. Prabhakaran vive, supostamente, recluso.
Prabha garante que seu sítio não trabalha para rebeldes e negou que as imagens divulgadas sejam montagens. O governo, por sua vez, começou a usar a internet como instrumento de defesa, postando vídeos de rebeldes ou feitos por militares no sítio do Ministério da Defesa. Há três décadas, o Sri Lanka sofre com o conflito entre as autoridades e o grupo rebelde Tigres Tâmeis, que luta por independência. Hoje, o Exército mantém cerca de 200 mil tâmeis em campos de prisioneiros.