Não há como não concordar com o artigo do jornalista Alberto Dines. Aliás, muitos desses que se dizem jornalistas, que pipocam nas redações por aí, deveriam tê-lo como exemplo, ou pelo menos acatar suas ‘recomendações’. A velha máxima do ‘onde tem fumaça, há fogo’ parece ser a mola que move as atitudes nas redações, coisa que, percebe-se, não é defendida por esse profissional. Essa matéria publicada no NYT não causa espanto. Mesmo que haja nos bastidores ‘insinuações quanto às preferências etílicas do presidente’, que, vá lá, ele é um sujeito ‘bonachão’, e que prefere estar bebericando numa roda com amigos e conversando amenidades enquanto o país está um caos, como preferem dizer alguns, nada disso é relevante, pelo simples fato de que os problemas nacionais não estarão piores ou melhores se o presidente resolver encher a cara. O Brasil tem problemas cruciais de infra-estrutura, e não de ataques ao fígado alheio.
Espanta-nos, talvez, a coragem descarada da veiculação da matéria, mas a intenção já é percebida há algum tempo. E será que isso é jornalismo? No mês passado o Washington Post publicou o ‘fato’, dito por eles, de que o Brasil tinha a intenção de fabricar uma bomba atômica. O mais ridículo nesse caso é que falta-nos dinheiro até para fabricar bombinhas de São João, e os jornais daqui caíram na piada dos americanos. E para ressaltar ainda mais o ‘descaso’ com o nosso país, aquele pilotozinho da American foi o pivô de uma pantomímica atitude num aeroporto do Rio, desmerecendo a ação dos funcionários da Alfândega e da iniciativa do próprio Brasil. Alguns jornalistas/analistas brasileiros ‘acharam’ que a forma como o governo atuou no caso foi enérgica, sem se importar com o ato em si.
Tudo isso são situações que não estão descontextualizadas, mas, ao meu ver, fazem parte de um pensamento comum nos Estados Unidos e copiado exaustivamente pela elite daqui: somos um lugar exótico, habitado por gente exótica, que vive gozando a vida, pulando carnavais e bebendo cervejinhas à beira-mar. Quando queremos parecer sérios somos alvo de chacota. E no Brasil dos brasileiros há quem adote essa postura, desmerecendo o próprio país. Por conta disso a tal matéria do NYT repercutiu nos jornais brasileiros sem análise mais severa, pois se gente séria ‘habitasse’ em nossas redações, mesmo não gostando do Lula, mesmo achando que é assim mesmo que as coisas devam ser divulgadas, doam a quem doer (como dizia um ex!) – a sua primeira atitude seria: ‘Epa! Espere aí! Esses caras estão falando de nosso presidente. Vamos ver se isso é fato antes de publicar!’
Mas quando o próprio dono da Folha de S. Paulo, o senhor Otavio Frias, admite que prefere a sofisticação de FHC à ‘popularidade’ de Lula, pode-se pensar que a matéria não saiu por estas bandas por acaso, ou descuido de alguns néscios de plantão. Havia intenção em sua divulgação, fazendo-se uma leitura subliminar. Mesmo que agora venham a público assumir alguma culpa por falta de profissionalismo, o estrago está feito. Dá até para ver um sorrisinho sarcástico no canto de suas bocas.
O que nos deixou ainda mais perplexos foi a atitude corporativista de uma tal Verónica Goyzueta, da qual nunca ouvi falar, dizendo-se diretora de uma tal ACE (Associação dos Correspondentes Estrangeiros) e indignada com a atitude do governo em cassar o visto do jornalistazinho do NYT. Sim, jornalistazinho, pois quem toma uma atitude desse nível não merece crédito nessa profissão. Ela diz que ‘está muito triste com a decisão do governo brasileiro e que poderá haver uma reação muito negativa entre os correspondentes e no exterior’. Ora, convenhamos, reportar leviandades a respeito de um cidadão de um país, cidadão esse que é nada mais, nada menos que o seu presidente, e esperar para ser convidado para o chá das cinco seria, isso sim, é de um surrealismo digno de Dalí. E tem mais: ela tenta fazer um seqüestro psicológico dos representantes do governo, aludindo sua condição de ex-presos políticos perseguidos pela ditadura.
Dona Verónica, por favor! A ditadura militar foi combatida e a liberdade de imprensa foi conquistada para isso aí? Um irresponsável dizer o que quiser de um cidadão brasileiro e ficar por isso mesmo? Um jornalista agora tem imunidade, como deputados e senadores? Podem usar seu instrumento de trabalho, que é a informação, da forma que bem entenderem, sem arcar com as conseqüências? De que planeta são os jornalistas? Engraçado, não é? O governo do senhor Bush está trucidando e torturando gente no Iraque e não vemos ‘manifestações nas ruas’ contra isso. Pelo menos não são divulgadas. Onde está o senhor Otavio Frias, de dedo em riste, pedindo mais ‘sofisticação’ ao Bush e ao Blair? Cadê a dona Verônica empunhando uma faixa em frente à Casa Branca e pedindo que pelo menos os jornalistas não sejam mortos naquele massacre no Oriente? Esses macacos não têm rabo, ao que parece.
Alexandre Carlos Aguiar, biólogo, Florianópolis
Calúnia vale?
É muito preocupante o conceito que os jornalista têm do seu papel profissional. Jornalistas experientes falam com todo orgulho que o papel do jornalista é ser ‘oposição ao governo’. Nós cidadãos não queremos uma imprensa partidarizada. Queremos e temos direito à informação independente. Ser crítico não significa apenas olhar para os aspectos negativos. Ser crítico é observar o todo, com todas as suas implicações, ponderando os aspectos positivos e negativos. Isto é ter um olhar crítico. E é isto o que queremos. Não queremos uma imprensa do governo, pois ela desinforma como aquela que é contra o governo. Queremos informação crítica e independente. Outro dia um ‘jornalista’ afirmou na TV que ‘uma calúnia é uma arma válida de pressão’ – comentando uma eventual mentira dita por outro jornalista. Calúnia vale? Isto é imprensa? Os jornalistas estão precisando repensar os seus princípios.
Marcos Videira, bancário, São Paulo
Em nome de interesses
Se ainda não se alçou a idéia de se apanhar este texto do Dines e enviá-lo a todos os jornais dos EUA, todos os escritórios diplomáticos representantes do Brasil por lá e todos os infelizes envolvidos nessa tão tacanha ‘excentricidade jornalística’ obviamente solicitada em nome de interesses que jamais saberemos quais são, lanço-a agora.
Sergio dos Santos, redator/revisor, Caieiras, SP
Discurso único
Votei em Lula, que sempre diz que o presidente não deve emitir opinião e deve ponderar muito suas ações! Perfeito até ontem, pois me constrange ver o governo adotar uma atitude de truculência equiparável à do jornal e de seu correspondente, que deveriam ser processados por danos morais. Expulsar o jornalista que tece comentários grosseiros sobre os hábitos do presidente nos remete às épocas do ‘Brasil, ame-o ou deixe-o’ da ditadura militar e que deu no que deu. E quanto aos jornalistas brasileiros que veicularam a notícia? Vão ser presos e processados pelo mesmo ‘entulho autoritário’ da ditadura militar que legitima a truculência que tanto condenamos? O governo de um país que convive mal com a diversidade de opiniões não deve falar em honra nacional, pois o conceito de nação pressupõe o conceito de todos os seus habitantes e não somente daqueles que sigam o discurso único do partido ou grupo da vez a ocupar o poder! Será que até nisso vão copiar o governo anterior, de que só era confiável quem concordasse com o governo?
Maximus Santiago, médico, Niterói
Invocação recorrente
Sempre que a mídia é colocada em questão os jornalistas invocam a liberdade de imprensa como legitimadora de tudo quanto se publica. Será que essa liberdade não está acobertando irresponsabilidades, preconceitos e um descompromisso com a repercussão do que se publica?
Renata Silva, professora, Belo Horizonte