Leia abaixo a seleção de segunda-feira para a seção Entre Aspas.
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O Estado de S. Paulo
Segunda-feira, 3 de dezembro de 2007
TV DIGITAL
TV digital entra no ar; governo dará R$ 1 bilhão para financiar conversor
‘Após anos de atraso, e sem todos os recursos prometidos, a TV digital finalmente estreou, ontem, no Brasil. Na cidade de São Paulo, os poucos felizardos que já têm sintonizador digital – o ‘conversor’ – puderam assistir a futebol, filmes, jornalismo, música e shows de auditório pelo novo sistema. Só que o aparelho não é nada barato: custa de R$ 500 a R$ 1 mil, muito mais do que o governo esperava.
Ao inaugurar as transmissões da TV digital, em solenidade ontem à noite em SP, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu liberar R$ 1 bilhão para financiar a migração para a nova tecnologia. O BNDES dará apoio à rede varejista para baratear o preço do conversor’, disse, em rede nacional.
Ou seja: o dinheiro será utilizado pelos lojistas, que poderão oferecer financiamentos mais baratos para quem comprar equipamentos de TV digital. Com isso, acredita Lula, a adoção da nova tecnologia será acelerada, haverá aumento da produção nacional, e os preços serão menores’.
Ao contrário do que se especulava nos últimos dias, o governo não liberou um pacote de incentivos fiscais para os fabricantes de eletrônicos – que, nas últimas semanas, têm sido criticados pelo ministro das Comunicações, Hélio Costa.
Como a TV digital brasileira utiliza um padrão próprio, em tese não adiantaria importar os conversores de outros países (a não ser, claro, que os aparelhos fossem adaptados).
No lançamento da TV digital, o governo voltou a enfatizar a interatividade. ‘A população terá acesso a informações e serviços públicos, marcará consultas médicas, receberá e enviará informações’ pela TV, afirmou a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.
Mas a interatividade não está presente na primeira geração de aparelhos de TV digital, que acabam de chegar às lojas.
A cerimônia, que foi transmitida ao vivo por todas as emissoras, terminou com um vídeo comemorativo destacando personagens e momentos marcantes da TV brasileira.
LENTA TRANSIÇÃO
As emissoras de TV aberta começam, a partir de hoje, a transmitir sua programação no sistema digital – paralelamente aos canais comuns, analógicos, que continuarão no ar até 2016.
Mas há um porém: inicialmente, pouca coisa será transmitida em alta definição (modo HD, com 720 a 1.080 linhas de resolução). A maioria dos programas será transmitida no modo SD (standard definition, ou ‘resolução-padrão’), que tem apenas 480 linhas de resolução.
Nesse caso, a qualidade de imagem fica melhor do que na transmissão analógica, mas o ganho não chega a ser tão grande. Ou seja: com poucas transmissões em alta definição, a TV digital perde parte do seu impacto – principalmente considerando que a interatividade e a recepção em telefones celulares, outros destaques da tecnologia, ainda não chegaram.
As emissoras preferem transmitir em SD porque requer menos investimento: podem usar as câmeras atuais e aproveitar programação já gravada. Já os programas em alta definição exigem tudo novo: novas câmeras, novos gravadores, novas ilhas de edição, novos cenários e até novas técnicas de filmagem.
Por isso, a transição deve ser lenta. Mesmo nos EUA, onde a TV digital chegou há quase dez anos, boa parte da programação ainda não é de alta definição. Geralmente, as emissoras só transmitem em HD durante o horário nobre.
OS EQUIPAMENTOS
Para aproveitar a qualidade de imagem da TV digital, é preciso ter um televisor digital (de plasma ou LCD). É melhor que seja do tipo Full HD, com 1.080 linhas, mas não é imprescindível. As televisões de 720 linhas também oferecem ótima qualidade, e são bem mais acessíveis – custam a partir de R$ 2 mil, bem menos que os R$ 6 mil cobrados por um televisor Full HD.
Além do televisor, é preciso adquirir um sintonizador. Todos oferecem praticamente a mesma qualidade. O aparelho deve ter saída do tipo HDMI ou videocomponente. Somente assim ele conseguirá exibir imagens de alta definição.
Existem TVs que já trazem embutido o sintonizador. Mas geralmente custam mais do que você gastaria comprando, separadamente, uma TV e um conversor. Por fim, é preciso ter uma antena – um modelo comum, como os atuais, já serve.
COLABOROU MICHELLY TEIXEIRA’
Márcia De Chiara
Tecnologia atrai, mas o custo espanta
‘Quem circulou na tarde ontem pela loja da Super Casas Bahia no Parque de Exposições do Anhembi, em São Paulo, teve duas surpresas: pôde ver uma partida decisiva do futebol nacional entre Corinthians e Grêmio num televisor de 103 polegadas, a maior TV de plasma do mundo, e ainda com a qualidade do sinal digital. A inauguração da TV digital estava marcada para o início da noite de ontem, mas uma emissora se antecipou e transmitiu experimentalmente o sinal durante a tarde (ler ao lado).
Os dois espetáculos, o jogo do Corinthians e a riqueza de detalhes da imagem, chamaram a atenção, mas não atenuaram a indignação do consumidor com o resultado da partida e com o preço do conversor, o aparelho que vai permitir o acesso à nova tecnologia.
‘Pensei que o conversor fosse custar menos’, disse o motorista Samuel de Oliveira, de 35 anos. Com renda de R$ 2,5 mil, ele disse que não pretende comprar o equipamento por enquanto. Ele prefere esperar mais um pouco para ver se o preço do conversor cai, assim como aconteceu com o telefone celular. ‘A imagem é excelente, mas vale a pena esperar. Ele também quer ter mais informações sobre a TV digital. Ontem, o conversor mais barato na loja custava R$ 499.
‘O preço está muito salgado’, disse o segurança Ednei Santos, de 38 anos. Ele pretende comprar o conversor só quando o produto for vendido por R$ 100. Para o operador de máquina José Carlos de Oliveira, um preço justo para o equipamento seria abaixo de R$ 200. ‘Acredito que o preço vai cair nos próximos três meses. Vou esperar para comprar.’ Além do preço elevado, ele considera que as informações sobre a nova tecnologia não foram bem explicadas para a maioria da população.
‘Não tenho informação sobre a TV digital’, disse o eletricista Alon Lima, de 53 anos, que ontem estava na loja Extra Eletro no centro de São Paulo. Lima disse que pretende esperar quatro meses para ver o que vai acontecer com a TV digital. O preço alto e a falta de informação têm impacto nas vendas de conversor. Até ontem, essa loja da rede tinha vendido apenas sete conversores.
NOVIDADES
Já o agente da prefeitura Emerson Rodrigo de Oliveira não quis esperar para ver. Ontem mesmo ele foi um dos poucos que compraram o conversor. ‘Gosto de novidades e ver TV é o meu lazer preferido.’ Com renda mensal de R$ 800, ele desembolsou R$ 499 pelo aparelho e parcelou a compra em três vezes.
Emerson tem uma televisão convencional de 21 polegadas e usa antena externa comum. Com o conversor, ele acredita que a imagem da sua TV vai melhorar. Ele disse que não está preocupado com o risco de ter problemas. ‘Falhas podem ocorrer no começo.’
Ao contrário da maioria da população, o agente da prefeitura acredita que está bem informado sobre a TV digital. ‘Li um artigo que dava as principais informações sobre a nova tecnologia e decidi comprar.’’
Marili Ribeiro
Emissora exibe imagem antes da hora combinada
‘Havia um acordo de cavalheiros entre os executivos das redes de televisão para que todas as emissoras ‘inaugurassem’ suas programações digitais somente após a fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ontem, às 20h30.
A finalidade era dar brilho à solenidade de abertura das transmissões digitais da TV aberta brasileira, com o aperto do botão que inauguraria a era digital, a das imagens de melhor qualidade. Lógico, isso somente para quem comprou o conversor e mora na Grande São Paulo. O País só vai estar totalmente coberto pela tecnologia até 2016, segundo a TV Globo, e 2013, segundo o governo.
Porém, o sinal em caráter experimental já estava aberto para testes há meses. A Rede Bandeirantes resolveu então faturar a entrada da era digital antes dos concorrentes e anunciou o ‘domingo em alta definição na Band’. A partir das 15h30, a emissora transmitiu imagens em alta definição do jogo entre Corinthians e Grêmio pelo Campeonato Brasileiro. Quem estava fazendo compras na Super Casas Bahia (ler ao lado), onde um conversor estava conectado, pôde ver a estréia da televisão digital antes mesmo de o presidente Lula comunicar à Nação o feito histórico.
Na seqüência do futebol, a Band pôs no ar programa de Raul Gil, também em alta definição, e depois exibiu o show do italiano Andréa Bocelli, gravado na sua cidade natal, na região da Toscana.
A festa organizada pelo Fórum do Sistema Brasileiro de TV Digital, na Sala São Paulo, manteve parte do glamour nos 12 minutos de cerimônia em rede nacional. Todas as outras emissoras seguiram o script e exibiram programações digitais depois da fala de Lula. SBT e Record, apresentaram filmes. A Rede TV! transmitiu o humorístico Pânico na TV. A Globo estreou com reportagem sobre o Xingu, e depois o quadro do astrofísico Marcelo Gleiser, no Fantástico.’
VENEZUELA
Pesquisas de boca-de-urna dão a Chávez vitória no referendo
‘Três pesquisas de boca-de-urna indicaram a vitória do ‘sim’ no referendo sobre a reforma constitucional realizado ontem na Venezuela. Até as 22h50 de ontem (0h50 de hoje em Brasília), o resultado oficial não havia sido divulgado. O presidente Hugo Chávez coleciona vitórias eleitorais desde que se elegeu presidente pela primeira vez, em 1998, mas dessa vez a margem foi bem menor, segundo as pesquisas. ‘A disputa está apertada’, reconheceu à noite o vice-presidente Jorge Rodríguez, que comandou a campanha em favor da reforma.
Segundo a PLM Consultores, a vitória foi de 54% a 46% dos votos; o Datanálisis computou 56% a 44% e o Instituto Venezuelano de Análises e Dados, 53% a 47%. Aparentemente em razão da disputa acirrada, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) atrasou a divulgação dos resultados, que havia sido prevista para as 19h. A votação transcorreu em clima de tranqüilidade. A reforma constitucional foi proposta pelo presidente e pela Assembléia Nacional por ele dominada.
‘O espírito da democracia se instala cada vez mais na Venezuela, uma democracia participativa e de protagonismo’, festejou Chávez, que com a aprovação da reforma, se confirmada, poderá se candidatar à reeleição quantas vezes quiser e acumulará poderes sem precedentes. ‘Nunca na Venezuela se tinha votado tanto quanto nesses dez anos de revolução democrática pacífica bolivariana’, prosseguiu, depois de votar numa escola técnica no bairro 23 de Enero, área pobre de forte tradição esquerdista no oeste de Caracas.
No discurso de encerramento da campanha, na sexta-feira, Chávez afirmara que o ‘sim’ no referendo seria um voto nele e o ‘não’ um voto no presidente americano, George W. Bush. Na pergunta que os eleitores responderam, ficou explícito o patrocínio do popular presidente à reforma: ‘Você aprova o projeto de reforma constitucional com seus títulos, capítulos, disposições transitórias, derrogatória e final, apresentado em dois blocos e sancionado pela Assembléia Nacional com a participação do povo e com base na iniciativa do presidente Hugo Chávez?’
O presidente propôs a alteração de 33 artigos da Constituição e a Assembléia Nacional, de outros 36. Os eleitores votaram nos dois blocos separadamente. Na campanha, Chávez apresentou a reforma como um passo decisivo em sua ‘revolução socialista bolivariana’, incluindo a introdução de formas ‘comunais’, ‘sociais’ e ‘coletivas’ de propriedade. Para a oposição, a reforma mergulha o país numa ‘ditadura militarista e socialista’.
CONSELHOS POPULARES
A adesão de muitos chavistas à reforma foi abalada pela legalização dos conselhos populares, que tiram poder dos sindicatos e de outras entidades representativas, e pela oposição do respeitado general Raúl Baduel, que liderou a recondução de Chávez ao poder na tentativa de golpe de 2002. Até a última semana, as pesquisas previam a vitória do ‘não’. Elas passaram a indicar empate técnico nos últimos dias, depois que Chávez se engajou intensamente na campanha.
Com a proibição de fazer campanha ontem, líderes do governo e da oposição passaram o dia dando declarações com mensagens subliminares em favor ou contra a reforma constitucional. ‘Hoje na Venezuela decidimos se vamos no caminho do socialismo ou da democracia’, definiu Leopoldo López, prefeito (equivalente a administrador regional) de Chacao, bairro de Caracas, do partido de oposição Um Novo Tempo.
ENCRUZILHADA
‘Este referendo é mais importante do que uma eleição presidencial’, enfatizou o governador do Estado de Zulia, Manuel Rosales, segundo colocado na disputa pela presidência em dezembro do ano passado. ‘A Venezuela está no meio de uma grande encruzilhada. Ou tomamos o caminho do conflito, da violência, ou da paz e do diálogo.’
‘Jovens que querem viver em liberdade, que querem ter trabalho e educação, votem’, pediu Yon Goicoechea, o principal líder estudantil do país. ‘Hoje é o dia em que todos temos que mostrar a cara’, definiu Goicoechea, um estudante de direito de 23 anos alçado à condição de um dos líderes da oposição, no vácuo deixado pelos partidos tradicionais, desmoralizados por escândalos de corrupção antes da primeira eleição de Chávez, em 1998, e pelas sucessivas derrotas eleitorais, desde então.’
SUDÃO
Britânicos negociam indulto a professora
‘Dois parlamentares ingleses muçulmanos, Sayeeda Warsi e Nazir Ahmed, reúnem-se hoje com o presidente do Sudão, Omar Hassan al-Bashir, para negociar um indulto à professora britânica Gillian Gibbons, que permitiu que seus alunos dessem o nome de Maomé a ursos de pelúcia. Ela cumpre pena de 15 dias de prisão por ter insultado o Islã.’
PUBLICIDADE
Mundo digital muda a propaganda
‘É irreversível o impacto da mídia online na vida dos consumidores e, por tabela, na publicidade. O que se debate agora é: o anúncio de 30 segundos na televisão, que sempre foi o padrão no mercado da propaganda, está mesmo com os dias contados?
Dois estudos realizados recentemente – pela consultoria Accenture e pelo especialista em mídia online americano Jeffrey Cole – mostram que sim. O declínio das mídias tradicionais em prol de novos formatos seria inevitável frente ao avanço do acesso à internet e às tecnologias em aparelhos móveis. Há hoje no mundo 3,3 bilhões de celulares. Essa mobilidade disponível traz intensificação da interatividade, o que vai levar a uma mudança do modelo de negócio na comunicação.
A pesquisa da Accenture ouviu 70 presidentes de companhias com presença global. Dos entrevistados, 43% acreditam que as formas de anúncios feitos atualmente devem sofrer alterações drásticas nos próximos cinco anos e migrar para plataformas digitais. Até 2011, eles projetam que a mídia online vai absorver US$ 44 bilhões em publicidade, o que já é mais do que é investido em rádio e impressos.
O outro estudo, a cargo de Cole – diretor do Center for Digital Future da USC Annenberg School, nos EUA -, mostra que a nova geração, que tem hoje entre 12 e 24 anos, já não concebe o mundo fora de uma tela – principalmente a tela interativa. No universo pesquisado, 43% das pessoas se conectam ao computador mais de uma vez ao dia para participar das redes sociais ou comunidade virtuais.
MATEMÁTICOS NAS AGÊNCIAS
Petrônio Nogueira, executivo responsável por Mídia e Tecnologia da Accenture no Brasil, diz que também no Brasil a tendência do uso de novas tecnologias é de expansão. O problema, segundo ele, é que no País o acesso aos serviços online ainda deixa a desejar. Há apenas 6,5 milhões de endereços com banda larga e os serviços sem fio (por radiofreqüência) ainda dependem de legislação.
O ponto nevrálgico para os empresários que têm de decidir onde aplicar a verba para comunicar seus produtos e serviços é o retorno do investimento. ‘A mídia online permite mais eficiência ao se medir as ações de marketing’, diz Nogueira. ‘E a preocupação com esse aspecto fica evidente em dois pontos. Primeiro, na disposição de os executivos pagarem as agências por desempenho, em vez de contrato. Depois, por apontar a necessidade de mudança no perfil dos profissionais das agências, com a presença de matemáticos nas equipes.’
Para Nogueira, a presença desses profissionais nas agências será cada vez mais natural. ‘Haverá necessidade de profissionais que saibam montar modelos matemáticos capazes de contemplar a complexa matriz de informação que passa a ser uma programação de mídia, antes restrita a meia dúzia de meios de comunicação. A inteligência analítica vai ficar mais sofisticada para trabalhar os minisegmentos de consumidores que se espalham pela web’.
A questão, no caso do Brasil, é a velocidade com que essa realidade vai se viabilizar. ‘Se houver investimentos em infra-estrutura e se avançar em questões como a discussão da convergência digital, a fronteira da interatividade será acelerada’, diz Abel Reis, vice-presidente da Agência Click. Mesmo a presença de matemáticos nas agência não o surpreenderia. ‘O negócio da publicidade ganha se sair de bases intuitivas para bases mais factuais e realistas’.
TERCEIRA TELA
A possibilidade de a internet ser a grande ameaça aos meios de comunicação tradicionais foi tema de um seminário, patrocinado pela Microsoft, em São Paulo. Jeffrey Cole foi um dos convidados a falar no evento, que reuniu publicitários de todo o mundo. Otimista, ele não tem dúvidas de que a comunicação caminha para a terceira tela – a dos aparelhos portáteis -, mas acredita que há espaço para diferentes canais de comunicação que produzem conteúdo.
‘Se souberem aproveitar as oportunidades, ao invés de lutar contra a internet, haverá uma adaptação que garantirá a sobrevivência de todos os veículos’, disse Cole.
Ele lembrou que, por 30 anos a televisão foi o centro da casa e da vida das pessoas, que se adaptavam aos seus horários. ‘Agora podemos escolher quando e o que ver’, disse. ‘Na web, os jornais, por exemplo, conseguiram também ocupar um maior espaço, ao permitir acesso ininterrupto às notícias’.
Cole, que monitora o uso de blogs e redes sociais, já verificou que a web vem roubando tempo da TV. No Canadá, por exemplo, 37,2% dos entrevistados assistem menos televisão para ficar na internet. Nos Estados Unidos, esse número chega a 38,2%, na Espanha fica em 41,1% e, em Portugal, em 26,4%.
No Brasil, segundo Brian Crotty, vice-presidente da McCann Erickson no País, ‘o Ibope TGI mostra que as pessoas que têm internet em casa também assistem menos televisão – algo entre 15% e 40% , dependendo da faixa etária e da classe social’.’
LITERATURA
Vidas esmiuçadas
‘O setor editorial apresenta um fim de ano diferente para o leitor, marcado por uma profusão de lançamentos de autobiografias e biografias, principalmente de astros da música. Talvez o motivo seja o sucesso da biografia banida Roberto Carlos em Detalhes, que foi um dos maiores sucessos editoriais do ano passado até ser recolhida das livrarias.
O leque é amplo. Vai de personalidades polêmicas, como Tim Maia e o guitarrista Slash (ex-integrante da banda Guns N’’ Roses), a outras mais tranqüilas; passeia pelo jazz, pela MPB, pelo hip-hop e o pop; aborda vidas ligadas ao esoterismo e misticismo, e inclui narrativas dolorosas, como a autobiografia de Eric Clapton. O lote também tem ainda gênios do cinema e do teatro, como Oscarito e Dulcina de Moraes.
‘‘A biografia é uma região muito bem definida, limitada ao norte pela história, ao sul pela ficção, a leste pelo obituário e a oeste pelo tédio’’, escreveu Philip Guedalla no Observer, em 1929. Bom, muito pouco tédio, no caso desses livros que invadem agora as livrarias e bancas. O livro A Canção do Mago – A Trajetória Musical de Paulo Coelho, de Hérica Marmo, é um exemplo de como uma biografia não oficial pode contribuir para revelar mais (e com mais detalhes) do que um autor ‘‘juramentado’’. Em alguns lançamentos, como em Vamos Fazer Barulho! Uma Radiografia de Marcelo D2, de Bruno Levinson, chama atenção o aspecto de ‘‘reforço de divulgação’’ do artista, visando a oferecer algo aos fãs, mais do que um trabalho historiográfico. É o mesmo caso de Revelações por Minuto, de Marcelo Leite de Moraes, que trata do breve período de sucesso da primeira superbanda brasileira, o RPM, que chegou a vender 2,5 milhões de cópias de um álbum – algo que parecia exclusividade de Roberto Carlos.’
TELEVISÃO
Luta Livre no SBT
‘Se você pensa que já viu as coisas mais bizarras que a TV pode exibir, prepare-se. Estréiam no SBT no dia 15 Raw e Samckdown, uma mistura de novelinha, com luta livre e personalidades do mundo trash. Febre nos Estados Unidos entre crianças e adolescentes, a série ou competição – não sei como a produção pode ser chamada – é um fruto de sucesso da WWE, instituição que regula o evento.
Nela, divas – como as moças de curvas voluptuosas que lutam são chamadas – e superstars (denominação para os grandes lutadores) se apresentam em embates circenses no melhor estilo telecatch.
As atrações foram compradas pelo SBT em setembro e vão ao ar em versão dublada semanalmente. O lançamento oficial aconteceu na semana passada.
A produção tem ao todo mais de 700 episódios, uma gama de produtos licenciados e muitos fãs. Quem conhece garante que muito mais do que as lutas, o mais divertido é o relacionamento entre os participantes. Eles se ofendem, se amam – veja bem, alguns deles até se casam no ringue – em uma autêntica novelinha B, exibida em paralelo com a competição.’
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Folha de S. Paulo
Segunda-feira, 3 de dezembro de 2007
TV BRASIL
Na estréia, TV pública traz entrevistas de 2 ministros
‘A TV Brasil, criada pelo governo Lula, estreou ontem com a exibição de uma entrevista dos ministros Franklin Martins (Comunicação Social) e Gilberto Gil (Cultura) dominada pelo tema da ingerência política na TV pública. O programa abriu espaço para crítica à TV Brasil, defendida pelos dois ministros.
Durante a entrevista, foi exibido depoimento do escritor João Ubaldo Ribeiro que disse ‘desconfiar da TV pública’, além de um comentário do deputado tucano Júlio Semeghini (SP). ‘Não pode haver conteúdo de ingerência política’, advertiu o tucano.
‘Existe o risco de manipulação política. Justamente por causa disso a TV Brasil tem o um conselho curador de 20 pessoas que vão fiscalizar’, afirmou Martins na primeira pergunta feita a ele pela apresentadora do programa Revista Brasil Especial, na estréia. A programação da TV Brasil começou às 12h para telespectadores do Rio, DF e Maranhão.
Martins afirmou que manipulação pode ocorrer também na TV comercial e criticou as emissoras privadas. ‘A TV comercial tem que manter a audiência. Por isso arrisca pouco. É pouco aberta a inovações’, disse o ministro.
Ontem era possível assistir à programação pela internet (www.tvbrasil.org.br) onde aparece o slogan ‘você escolhe você programa você assiste’.
‘Eu temo que essa TV, apesar de todas as garantias, não seja, como acontece geralmente no Brasil, uma TV do Estado, mas uma TV do governo. Eu desconfio dessa TV pública’, afirmou o escritor João Ubaldo.
‘O João Ubaldo mostra o receio de que ela tenha o risco de manipulação, mas ao mesmo tempo ele sente a importância [da TV]. A discussão dos grandes debates, dos grandes temas’, afirmou Martins.
‘A gente vê que há uma convergência em dizer: bem-vinda TV pública’, afirmou Gil. ‘Mas [dizem] também: estamos de olho em vocês. É bom que estejam’, comentou Martins. ‘É fundamental. É a fiscalização começando antes do funcionamento [TV]’, emendou Gil.
Antes da entrevista de Martins e Gil, foi exibido um documentário sobre a história da TV no Brasil até a inovação da era digital. ‘Nunca a sociedade brasileira teve um instrumento tão valioso para se relacionar e interagir’, afirmou a narração sobre a TV digital. O presidente Lula costuma anunciar as conquistas de seu governo com a frase: nunca antes neste país.
A partir de hoje, entra no ar o telejornal Repórter Brasil substituindo o Edição Nacional, da TVE sediada no Rio, e o Repórter Nacional, da Radiobrás.’
TV DIGITAL
Lula anuncia mais R$ 1 bi para TV digital
‘Na estréia da TV digital aberta, ontem, em São Paulo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou uma linha de financiamento para tornar mais acessíveis os preços dos conversores digitais, que chegaram ao mercado por até R$ 1.100. ‘Determinei ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES, que desenvolva um programa de incentivo à implantação da TV digital no valor de R$ 1 bilhão. Ele irá dar apoio à rede varejista para baratear a venda do conversor que permite a recepção do sinal digital nos televisores analógicos’, afirmou.
Em fevereiro, o governo já tinha anunciado um programa do BNDES, também de R$ 1 bilhão, para fornecedores de equipamentos, empresas de radiodifusão e produção de programas na nova tecnologia. A nova linha, segundo informação da assessoria do BNDES, seguirá o modelo de financiamento do programa Computador para Todos, em que os recursos são liberados para a rede varejista, para que financiem o consumidor.
Havia a expectativa de que o presidente Lula anunciaria redução de impostos para a produção dos conversores no Brasil, o que não ocorreu. Mas o ministro das Comunicações, Hélio Costa, disse à Folha que, dentro do governo, ainda há estudos nesse sentido. Uma platéia de cerca de mil convidados presenciou a estréia da TV digital, em evento realizado na Sala São Paulo, no centro da capital paulista.
Eram esperados 1.200 convidados, mas muitos lugares ficaram vazios, principalmente nos camarotes reservados aos mais vips. Um número certamente bem inferior de telespectadores deve ter assistido, em casa, às primeiras transmissões com sinal digital e em alta definição. A nova tecnologia chega incompleta, sem interatividade e ainda com poucos programas em alta definição produzidos pelas emissoras.
Seguindo o cronograma do Ministério das Comunicações, a nova tecnologia chega primeiro à Grande São Paulo e deve alcançar todas as cidades brasileiras apenas em 2013. ‘A TV não pode se tornar cara e inacessível à maioria da população. Tem de ser um fator de inclusão, e nunca de exclusão’, disse o presidente, em pronunciamento transmitido em cadeia nacional, a partir das 20h30, acrescentando que a tecnologia vai permitir um ‘grande salto’ tecnológico, econômico e social ao país. ‘É uma verdadeira revolução.’
Além dele, os ministros Dilma Rousseff (Casa Civil) e Hélio Costa (Comunicações) discursaram, na transmissão em pool, de 12 minutos, de Globo, SBT, Record, Rede TV!, Bandeirantes e TV Cultura. A transmissão terminou com clipe com imagens de programas de várias emissoras e épocas. A opção pelo padrão japonês (que só existe naquele país), acrescida de modificações feitas no Brasil, como o software Ginga para interatividade, encareceu o custo da nova tecnologia, que chegou às lojas no final da semana passada a preços bem acima dos cerca de R$ 200 prometidos por Costa.
Aliás, dias antes da inauguração do sistema, Costa pediu à população para não comprar os conversores imediatamente e disse que o preço de R$ 1.100 (o conversor mais caro, para alta definição) é um ‘disparate’. Ontem, em seu discurso, reforçou: ‘O preço vai cair’.
Um dos empresários presentes ao evento, Eugênio Staub, presidente da Gradiente, afirmou que não é o incentivo fiscal que vai fazer a diferença para a redução de preço do conversor e lembrou que os primeiros aparelhos de DVD custavam cerca de R$ 2.000 há dez anos. Para ele, o que vai baixar o preço é o aumento de escala, que só será conseguido com o crescimento da demanda.
‘A TV digital vai acontecer gradativamente’, disse o empresário, acrescentando que a nova tecnologia só vai deslanchar mesmo em 2009. Staub afirmou que a Gradiente vai lançar nos próximos dias, por R$ 899, um conversor já preparado para receber o Ginga.
Conforme antecipado pela Folha, a empresa fechou contrato com a Totvs e a Quality para produzir o Ginga por R$ 5 por equipamento. O aparelho vai ser produzido em Manaus.
Colaborou TATIANA RESENDE , da Redação’
Daniel Castro
Teleprompter falha e Lula tem de improvisar
‘A estréia oficial da TV digital em São Paulo foi marcada por falhas. O teleprompter, aparelho que exibe textos em telas transparentes, usados por apresentadores de telejornais, falhou quando o presidente Lula discursava, em cadeia nacional de TV. Lula, que vinha num discurso fluente, teve que improvisar e buscar o texto em folhas que carregava nas mãos.
Os teleprompters usados no evento eram da Presidência.
A geração de imagens, a cargo da Radiobrás, foi ruim. Havia pouca luz no palco e nos púlpitos, o que prejudicava a qualidade das imagens. As câmeras tremeram algumas vezes.
O evento também foi fraco de celebridades. As principais eram apresentadores e jornalistas da Band, Record e Rede TV!, como Luciana Gimenez, Raul Gil e Márcia Goldschmidt. Da Globo, só William Waack e Ernesto Paglia, que estavam na Sala São Paulo a trabalho.
Cada rede de TV ocupou um camarote. Silvio Santos ficou ao lado do da Record, que não tinha Edir Macedo. Do outro lado da sala, estava o da Globo, com Roberto Irineu Marinho.’
Letícia Sander e Elvira Lobato
Sem Serra e Kassab, estréia de tecnologia em SP vira evento político do Planalto
‘O discurso do governo de que evitaria transformar a estréia da TV digital no Brasil em um evento político na prática não se confirmou. Ausentes o governador José Serra (PSDB) e o prefeito Gilberto Kassab (DEM), os holofotes se voltaram para a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). Ela abriu a transmissão do evento em rede nacional, e não o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo a Presidência, a prerrogativa concedida à ministra se deu pelo fato de ela presidir o Grupo de Trabalho da TV Digital há dois anos. Dilma é citada entre os possíveis candidatos à sucessão de Lula.
O evento foi promovido por emissoras de TV e indústrias, que convidaram o prefeito e o governador. Nos bastidores, a informação era de que desistiram porque não teriam direito à palavra e seriam, portanto, ofuscados pelo aparato federal.
A assessoria de Serra, entretanto, disse que ele não foi porque teve um compromisso familiar, que não chegou a confirmar presença e que sua ausência não causou ‘nenhuma repercussão’. A assessoria de Kassab não ligou de volta.
‘Eu achei curioso [a ausência de ambos]’, comentou o deputado Jorge Bittar (PT-RJ). ‘Foi uma escolha dele [Serra]. Daqui a dez anos vamos estar comemorando o fim do sistema analógico, e ele e o Kassab não vieram para poder lembrar o momento’, complementou Walter Pinheiro (PT-BA), um dos poucos parlamentares presentes. Da oposição estava Júlio Semeghini (PSDB-SP), presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara.
O palco da cerimônia se resumiu a dirigentes das entidades de classe (Abert e Abra), jornalistas representantes de seis emissoras (SBT, Record, Bandeirantes, Rede TV!, Cultura e TV Globo), o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e a equipe do presidente Lula. Além do próprio, estavam a primeira-dama, Marisa Letícia, e os ministros Franklin Martins (Comunicação Social), Hélio Costa (Comunicações) e Dilma Rousseff.
Em cadeia nacional, só o governo falou. Costa confirmou à Folha que estavam previstos discursos de João Carlos Saad (presidente da Abra) e Daniel Pimentel (presidente da Abert), mas, segundo ele, os dois abriram mão de falar. Os empresários Roberto Irineu Marinho e Silvio Santos ficaram em um camarote fora da vista do público, assim como Alexandre Raposo, presidente da Record.
Lidos em teleprompter, os discursos de Dilma, Costa e Lula tiveram tom ufanista. O presidente, por exemplo, disse que ‘logo será possível assistir televisão caminhando na rua, sentado num banco de praça ou se deslocando para o trabalho’.
Dilma falou em ‘mudança de paradigma’ e no significado ‘social e cultural’ da novidade. E acrescentou: ‘Toda a população terá gradativamente a programação gratuita da TV com alta qualidade, de sua casa ou do celular. Dentro do ônibus ou do táxi. Sem fantasmas nem chuviscos. Pelo telefone ou pelo seu aparelho de TV.’
A cerimônia teve início às 20h, com apresentadores de telejornais que leram textos preparados pela divulgação do evento, e não pela área jornalística das emissoras. Às 20h30, entrou no ar a cadeia nacional. Após a cerimônia, a cantora Maria Rita deu um show para um salão praticamente vazio. A platéia foi embora assim que Lula deixou o palco.’
Veridiana Sedeh
Consumidores buscam informações nas lojas, mas aguardam preço cair
‘Curiosos, muitos consumidores querem ver nas lojas os conversores digitais e os televisores prontos para receber transmissão no padrão japonês e se informar sobre eles, mas estão esperando a queda de preços dos aparelhos para comprá-los.
‘Gosto muito de tecnologia, gostaria de ter o conversor já na primeira exibição, mas não vou levar porque está muito caro’, disse Luis Henrique Dias da Silva, em unidade da Fnac que só tinha à venda o conversor da Philips, por R$ 1.099.
Na semana passada, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, desaconselhou a compra imediata do conversor e disse que o preço deverá cair em até seis meses. Hoje o modelo mais barato é de R$ 499, mas há aparelhos de R$ 1.099, o que Costa considerou um ‘disparate’.
Com visão semelhante à do ministro, o consumidor Rafael Souza Nagai disse que espera o preço cair e que a tecnologia seja testada. ‘Vou esperar baratear. O preço das TVs [LCD e plasma] despencou. Quem comprou na época [do lançamento] perdeu dinheiro’, compara. ‘Vou esperar testarem a tecnologia. Quero pegar referência com quem comprar.’
O médico Rogério Ribeiro também disse que está esperando o preço da TV com conversor digital embutido baixar. ‘Não tenho TV grande, quero comprar com tudo dentro [com conversor digital e interatividade plena].’
Já Wilson Massato levou para casa um conversor, independentemente de ele não estar pronto para todas as possibilidades da TV digital. ‘No momento, não estou interessado em interatividade com o sistema.’ Ele afirmou estar interessado em melhorar a definição de sua televisão, pois disse que no bairro onde mora a imagem é ruim.’
Tatiana Resende
Tecnologia deve atingir só 4% dos televisores em 2008
‘Quando todas as cidades brasileiras estiverem recebendo o sinal digital da TV aberta, em 2013, cerca de 19 milhões de aparelhos devem estar aptos a usufruir da nova tecnologia, o que vai corresponder a 19% dos televisores. No próximo ano, a previsão é que sejam 3 milhões -apenas 4% do total.
‘Anualmente são vendidos no Brasil 12,5 milhões de TVs. Estamos falando em cerca de 10% disso’, diz Paulo Cury, da Condere, que já atendeu empresas como Globopar, TV Cultura e Net e fez a projeção. O estudo mostrou em números o que o alto preço dos aparelhos já indicava: o nível de penetração será maior na classe A, com renda acima de R$ 6.200.
Ao final de 2008, a adesão dessa parte da população à transmissão digital será de 31%, contra 7% na B (renda entre R$ 2.100 e R$ 6.200) e praticamente nula nas demais faixas de renda, que respondem agora por quase 70% dos 67 milhões de TVs do país, diz o estudo.
‘É difícil afirmar se é bom ou ruim [a penetração nas classes A e B], até porque esse é um mercado novo. O importante é ressaltar que o crescimento virá, num primeiro momento, das classes mais altas’, avalia.
A parte da população com renda mensal inferior a R$ 2.100 deve ter adesão de apenas 5% (classe C) e 2% (D/ E) em 2013, quando 97% da classe A e 44% da B já estiverem usufruindo da transmissão digital.
Além da faixa de renda, os aparelhos para a TV digital, com conversores a pelo menos R$ 500 e televisões aptas a receber o sinal por no mínimo R$ 8.000 agora no lançamento, devem ter no início um público-alvo específico, os aficionados por novas tecnologias.
Eduardo Tude, presidente da Teleco, consultoria especializada em telecomunicações, cita os ‘early adopters’, aqueles que são sempre os primeiros a consumir lançamentos. Para ele, não se pode ter expectativa muito alta com a TV digital agora. ‘O importante é começar.’
Além dos interessados em novidades, ‘quem comprará inicialmente serão as pessoas que têm mais de uma TV em casa’, afirma Guido Lemos, coordenador do desenvolvimento do Ginga, software que permitirá o envio de dados para as emissoras na TV digital aberta.
Aliás, uma das preocupações dos órgãos de defesa do consumidor neste momento de euforia de lançamentos é informar que os aparelhos à venda terão que ser trocados quando essa segunda e principal etapa chegar, já que nenhum deles poderá ser atualizado com o Ginga.
A exceção é o decodificador com conversor embutido para os assinantes da Net, que já vem com um software pronto para esse nível de interação.’
Camila Rodrigues
Áudio ruim e formato padrão marcam anúncio
‘A inauguração da TV digital, realizada ontem às 20h30, foi transmitida em formato padrão em vez de alta definição e teve problemas na transmissão de áudio.
Foi preciso aumentar ao máximo o som da TV e do conversor para escutar tanto os pronunciamentos da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, do ministro das Comunicações, Hélio Costa, e do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, quanto do comercial de inauguração da tecnologia.
Em vez de terem sido exibidos em widescreen -formato 16:9, igual ao de cinema-, o anúncio e o filme de inauguração protagonizado pelos personagens da ‘Família Nascimento’ ficaram em 4:3, como o das TVs comuns.
Assim, surgiram duas faixas verticais em cada extremidade da tela das televisões de alta definição. A resolução maior não afetaria a experiência de quem tem um aparelho mais simples.
A imagem era estável, mas a qualidade era inferior à das transmissões analógicas das maiores emissoras. Antes do pronunciamento do presidente Lula, o programa de auditório Raul Gil, na Bandeirantes, e o humorístico Pânico na TV, na Rede TV, já estavam sendo transmitidos em alta resolução.
Logo após o filme da ‘Família Nascimento’, foi transmitido o primeiro comercial em alta definição, pago pelo banco estatal Caixa Econômica Federal.
A partir daí, começaram outros três programas que cumpriram a promessa de oferecer altíssima riqueza de detalhes e cores: o ‘Fantástico’, na Globo, a série ‘Casal Neura’, na MTV, e o filme ‘Alexandre, o Grande’, no SBT. Às 22h, a Record exibiu ‘Garfield, o Filme’ com essa mesma qualidade. Uma pena é que, por enquanto, poucas pessoas poderão aproveitar a qualidade do sinal digital e da imagem em alta definição.
A Gazeta e a Cultura transmitiram seus programas em definição padrão. A primeira disse que os programas ‘Ronnie Von’ e ‘Gazeta Esportiva’ passam a ser exibidos em alta definição.
Guia de Programação
Os únicos programas a exibirem o nome e a duração da programação corrente e da próxima foram a Globo, a MTV e o SBT. A grade de hoje podia ser vista só na Globo.’
Raros, proprietários de conversores elogiam primeira transmissão
‘A imagem em alta definição da TV digital surpreendeu os poucos paulistanos que já têm em casa um conversor. A primeira transmissão começou logo após o pronunciamento do presidente Lula, às 20h45, com o filme ‘Alexandre, o Grande’, no SBT.
‘Nem no DVD a qualidade é assim. Impressiona a profundidade e o detalhamento. Dá para ver todos os detalhes’, diz o consultor de informática Wellington Terumi Uemura, 32, que se impressionou mesmo já estando acostumado com a tecnologia, que conhecia da época em que viveu no Japão.
Morador de Guarulhos (Grande São Paulo), Uemura foi um dos primeiros a comprar o conversor, o que não conseguiu sem antes brigar na Super Casas Bahia pelo aparelho da marca Aiko. ‘O modelo era de mostruário e loja não queria vendê-lo. Só após muita insistência consegui o produto’, afirma.
A aposentada Edinalva Alves de Oliveira, 58, queria apenas conseguir assistir aos canais abertos sem falhas na recepção. ‘Minha imagem era muito ruim e [a TV] não pegava todos os canais. Agora vou poder ver melhor minha novela.’ Ela mora na avenida Paulista, onde há interferência na imagem devido ao grande número de antenas. Ontem, ao ver o início do filme do SBT, ficou satisfeita. ‘Melhorou muito. Agora não tem mais chuvisco.’’
Marcelo Knörich Zuffo, Regis Rossi Alves Faria e Rogério Nunes
Som e imagem terão alta qualidade
‘Desde ontem o brasileiro pode perceber uma incrível melhoria da qualidade do som e das imagens em qualquer dos formatos que serão oferecidos pela TV digital aberta -serviço móvel, serviço padrão (SD 480 linhas) e alta definição (HD 1.080 linhas).
O Brasil optou por uma abordagem inovadora para esse sistema, que prevê a adoção das tecnologias mais avançadas no mundo, incluindo o MPEG-4, padrão aberto definido pela ISO (International Organization for Standardization), para codificação do áudio e do vídeo. Especificamente, as tecnologias MPEG4-AVC (Advanced Video Coding) High-Profile 4.0 e MPE4-AAC (Advanced Audio Coding), para os serviços em alta definição (1.080 linhas) e definição padrão (480 linhas), e MPEG4-AVC Baseline 1.3 e AAC-HE (High Efficiency), para os serviços de TV móvel (usualmente 240 linhas).
Nos últimos anos, o padrão MPEG-4 vem sendo vastamente utilizado pelas indústrias de telecomunicações, radiodifusão e eletroeletrônica no mundo. Alguns exemplos dessa utilização estão na área de sistemas de alta definição, IPTV (TV pela internet) e na distribuição multimídia via internet.
Para dar uma idéia, o padrão MPEG-4 adotado para a alta definição no Brasil é o mesmo utilizado nos aparelhos de DVD de última geração, como o Blu-Ray e o HD-DVD. No caso dos aparelhos móveis (celulares e laptops), o padrão brasileiro é o mesmo do iPod, da Apple.
No caso do som, o formato AAC é considerado o sucessor natural do MP3 e apresenta melhor qualidade sonora com melhores taxas de compressão do que o formato rival.
Em se tratando de um padrão aberto, o AAC é também uma escolha mais afinada com o futuro e hoje fornece qualidade de som superior até à do DVD.
Com os recursos do AAC, as emissoras poderão enviar ao mesmo tempo som estéreo, som envolvente (mais conhecido como surround 5.1) e outros canais auxiliares, contendo versões alternativas da programação sonora, como canal SAP em estéreo (que permite ouvir o programa em seu idioma original), transformando a casa do telespectador em um verdadeiro cinema.
É importante dizer que a tecnologia apresenta também recursos inéditos de acessibilidade -permitirá, por exemplo, o envio de serviços de áudio-descrição, para pessoas com necessidades especiais. Outro recurso interessante é a possibilidade de transmissão de um mesmo evento com múltiplas tomadas de câmeras. Para o consumidor, ainda que pareça no início que os preços de conversores e receptores necessários para assistir à TV digital estejam altos, a tendência é que caiam apreciavelmente nos próximos meses. Para dar uma idéia dos custos envolvidos, nos últimos 12 meses os preços dos chips MPEG-4 caíram de US$ 120/unidade para US$ 20/unidade e há chances de que fiquem abaixo de US$ 10 já no ano que vem.
O MPEG-4 é uma tecnologia multimídia no estado-da-arte, que ainda deve melhorar em termos de qualidade e taxa de compressão. Há espaço para aprimoramentos nas implementações dos codificadores e decodificadores, e a tecnologia MPEG-4 não pára de evoluir, por causa da sua forte adoção pelo mercado e pelos esforços contínuos em pesquisas realizadas no Brasil e no exterior.
Do ponto de vista de compressão, o MPEG-4 é muito eficiente. Isso resulta numa maior capacidade de transmissão de conteúdo multimídia, propiciando a oferta de mais programas tanto em alta definição como em definição padrão. Assim, o padrão MPEG-4 ainda tem abertura para permitir que novos avanços e serviços interativos e de multiprogramação sejam oferecidos no futuro breve, tanto em áudio quanto em vídeo.
MARCELO KNÖRICH ZUFFO , 41, é professor do Laboratório de Sistemas Integráveis da Escola Politécnica da USP e representante das universidades no Fórum SBTVD; REGIS ROSSI ALVES FARIA , 39, e ROGÉRIO NUNES , 26, são pesquisadores do Laboratório de Sistemas Integráveis da Escola Politécnica da USP.’
TODA MÍDIA
O triunfo
‘O ‘El País Global’ foi dos primeiros a cravar, em sua manchete, que as pesquisas ‘dão a Chávez o triunfo’. Sem o resultado, a estatal Agência Bolivariana dizia que Chávez ‘convida a aceitar’ -e o ‘El Universal’, que ‘comitê eleitoral admite aumento de denúncias’.
Antes, o ‘New York Times’ deu editorial pelo ‘não’ e artigo do ex-ministro da defesa argumentando que o ‘socialismo’ chavista não é cristão. O ‘El País’ deu o artigo ‘Não é de esquerda, é fascista’. O ‘Telegraph’, o artigo ‘América do Sul escorrega para a ditadura’. Já o ‘Miami Herald’ foi contido e disse que mudanças na região ‘levantam preocupações pela democracia’.
E Lula foi manchete na Folha Online: ‘É absurdo mudar a Constituição’ como da ‘outra vez’ -de FHC.
SARNEY VS. AMORIM
Enquanto José Sarney foi até Nova York, contra Chávez, o atual -e seu ex- chanceler Celso Amorim fazia ‘lobby’ pela aceitação no Mercosul, destacou a Associated Press.
PETROBRAS LÁ
‘Houston Chronicle’ e rede McClathy deram reportagens sobre a Petrobras ‘com mais ênfase que nunca’ nos EUA -que vêm de achar seu maior campo ‘em águas profundas’.
ESTRATÉGIA COM A CHINA
O ‘Diário do Povo’ deu que ‘China e Brasil fazem seu primeiro diálogo estratégico’, sexta. Os vice-chanceleres de ambos, reunidos em Pequim, ‘concordaram que são as maiores potências e em desenvolvimento do mundo’.
NEOFAVELA
Lula subiu o morro no Rio e foi destaque nos telejornais daqui com a frase ‘pobre não vai mais ter vergonha de morar em favela’. Ecoou no exterior, com Juan Arias, do ‘El País’, dizendo que ‘põe em marcha ‘a revolução urbana’, e Gary Duffy, da BBC, relatando longamente que ele ‘promete mudança’.
Por coincidência, repercutem em blogs dos EUA, como Andrew Sullivan e Subtopia, as ‘belas e fascinantes’ fotos elaboradas pelo espanhol Dionisio Gonzalez, de favelas de São Paulo, misturando as imagens que ele encontrou com outras, de arquitetura moderna -como visão de futuro.
NO CRAVO
A ministra Dilma Rousseff, sempre ela, entrou por Globo, Record etc. para proclamar a TV digital -ontem ao vivo e com as redes todas em êxtase.
No exterior, AP, Xinhua, a indiana IANS e outras deram ressaltando que o Japão não investiu como prometeu, que a escolha acabou ‘isolada no continente’ -e o custo é alto.
NA FERRADURA
Também a TV Brasil entrou ontem no ar, pelo antigo canal da TVE na TV paga, em São Paulo, e também pela web, ao vivo. Na programação, nada que seja diverso da velha TVE, de índios a Paulinho da Viola.
A expectativa é para hoje, com o telejornalismo de Franklin Martins, Tereza Cruvinel e Helena Chagas.
‘TSUNAMI DE MÍDIA’
Ecoa por sites de mídia a palestra do editor-chefe do ‘New York Times’, em Londres, apontando um ‘tsunami de mídia’ com Google News, blogs, sites sociais, YouTube. Mas dizendo que não vem daí o problema do jornalismo e sim da ‘perda de fé’ pelas ‘pessoas que fazem jornais’. Polemicamente, ele distinguiu o ‘tsunami’ do jornalismo.’
VENEZUELA
Vice de Chávez admite na TV que disputa sobre Carta é acirrada
‘O resultado apertado do referendo sobre o projeto de reforma constitucional do presidente venezuelano, Hugo Chávez, impediu que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) anunciasse o resultado oficial ontem à noite. O Bloco do Não, porém, se antecipou e declarou a vitória da oposição.
A apuração acirrada levou o CNE a adiar a divulgação do seu primeiro boletim por falta de um resultado consolidado, que estava inicialmente previsto para as 20h locais (22h em Brasília). Por volta das 21h30 locais, o vice-presidente e comandante da campanha chavista, Jorge Rodríguez, concedeu uma breve entrevista coletiva para admitir que a apuração estava ‘disputada’.
‘Os dirigentes temos de estar à altura do povo’, disse. Exortou a oposição, no entanto, a esperar os resultados finais.
Com sorriso no rosto e cópias das atas eleitorais, o prefeito oposicionista Leopoldo López começou a anunciar por volta das 22h20 locais (0h20 em Brasília) a vitória na sede da campanha, mas a transmissão foi interrompida pelos canais de TV locais. A legislação venezuelana proíbe divulgação de dados da votação antes dos resultados oficiais do CNE.
‘Queremos dizer ao país: felicitações, felicitações pelo processo’, disse o líder oposicionista Yon Goicoechea. ‘Esta noite, ganhou a Venezuela’, disse à noite o governador oposicionista Manuel Rosales, candidato derrotado nas eleições presidenciais do ano passado.
O secretário-geral do partido Podemos, Ismael Garcia, disse que ‘o carômetro diz tudo’. A agremiação social-democrata rompeu com Chávez neste ano e fez campanha contra a reforma. Já o presidente, que havia convocado uma entrevista coletiva com meios internacionais, não havia se pronunciado até as 22h40 (0h40 no Brasil).
Caso a derrota de Chávez seja confirmada, terá sido a primeira vez que ele perde uma eleição desde que foi eleito presidente, em 1998. Desde então, foram dez votações.
Abstenção
O comparecimento esteve longe de repetir o referendo revogatório do mandato de Chávez, em 2004, quando a pessoas ficaram até nove horas esperando nas filas, e a abstenção ficou em 30%. Em dezembro passado, quando Chávez foi reeleito com quase 63% dos votos, a abstenção foi ainda menor: 25%.
No fim da tarde, pesquisas de boca-de-urna previram a vitória do ‘sim’ por vantagem de até oito pontos, mas dirigentes da oposição disseram que os levantamentos foram feitos de manhã e a maioria dos eleitores votou à tarde.
Ao votar no início da tarde, no bairro pobre 23 de Enero, Chávez disse que ‘o povo está votando e aqui se cumprirá a decisão popular’. Mantendo o discurso de vitória dos últimos dias, afirmou que ‘confia em que a outra parte aceite os resultados’.
Na campanha, Chávez adotou um discurso fortemente plebiscitário, ao dizer que, quem votasse contra sua proposta também estaria votando contra ele, um recado aos chavistas descontentes. Pesquisas realizadas durante o processo mostraram que a maior novidade desta votação era a rejeição de parte dos eleitores chavistas à reforma.
Reforma abrangente
A reforma proposta por Chávez modificaria 69 dos 350 artigos da atual Constituição, aprovada em 1999, já sob o atual governo. Além da reeleição indefinida, as mudanças incluiriam o aumento do mandato presidencial de seis para sete anos, a transição para uma economia socialista e a criação do Poder Popular, com a incorporação de conselhos comunitários habilitados pelo Executivo.
Várias modificações aumentariam as atribuições do Executivo, como o poder para criar novas unidades territoriais governadas por vice-presidentes biônicos, o controle da política monetária e a nomeação de oficiais das Forças Armadas.
O projeto de reforma constitucional diminui ainda o jornada de trabalho de 44 para 36 horas semanais e dá status constitucional às ‘missões’, os populares programas educativos do governo que distribuem bolsas de estudo mensais.
Chávez tem afirmado que a reforma tiraria as ‘travas’ da Constituição de 1999 (aprovada sob seu governo), que impedem a implantação do que tem chamado de ‘socialismo do século 21’. Prestes a completar nove anos no poder, em janeiro, Chávez já é o segundo mandatário há mais tempo no poder na América Latina, atrás do aliado Fidel Castro. Depois de vencer as eleições do ano passado, o venezuelano teve o mandato assegurado até janeiro de 2013.’
VIOLÊNCIA NA TV
Parentes viram cerco da PM na TV
‘Alunos, amigos e parentes de Edson Cocchi, 40, professor de kung fu e dono de uma academia de artes marciais, souberam do cerco pela televisão, e foram acompanhar o seqüestro diante da casa das vítimas.
Cerca de 200 pessoas, entre curiosos e vizinhos, segundo a Polícia Militar, aplaudiram a libertação de Edson, da sua mulher Priscila, e a PM. Também gritaram ‘mata, mata’ contra os criminosos presos. Policiais tiveram dificuldade para conter a multidão, que pedia o linchamento dos assaltantes.
Elias Felinon, 38, bombeiro, é aluno da academia de Cocchi, a Makson. Ao ver na TV a casa do professor, pegou o carro e foi até o local, assim como o pai e a irmã do professor.
Felinon falou sobre o estado do casal refém após o desfecho do crime. ‘Conversei com eles. Ambos ficaram abalados, especialmente porque os criminosos mataram o cão [o rottweiler Titã] que era como um filho para eles’, diz. ‘Por sorte não mataram o vira-latas Chiclete.’
Adriel de Almeida, 41, professor de kung fu e amigo de Cocchi, esperava o colega para uma reunião, marcada na Faculdade Santa Cruz, onde fazem pós-graduação juntos em acupuntura. ‘O Edson não aparecia. A reunião estava marcada para as 15h30. Vi o seqüestro pela televisão e fui até lá de carro.’
Almeida conhece Edson Cocchi há 20 anos e qualifica o amigo como uma pessoa calma e tranqüila. ‘Acho que isso o ajudou a se safar dessa.’
O secretário da Segurança Pública, Ronaldo Marzagão, foi cumprimentar os policiais pelo sucesso da operação de resgate.
‘Houve uma demonstração de falha do sistema penitenciário’, disse o secretário, referindo-se ao fato de um dos ladrões não ter retornado de uma saída temporária da prisão em Mongaguá, litoral paulista.
O preso Fernando Crestane foi beneficiado por uma saída temporária há três meses e não retornou. O trio de criminosos é da cidade de Francisco Morato (Grande SP). Sidnei foi o mentor do crime, segundo a polícia. Teria forçado sua irmã Rosângela a participar e convidado Fernando.
‘Peço aos senhores congressistas que aprovem o monitoramento eletrônico de presos para, ao menos, coibir esse tipo de ação no futuro’, disse Marzagão. O secretário afirmou que o governador José Serra (PSDB) estava preocupado com a questão e que encaminhou um projeto a respeito.’
TELEVISÃO
Band e Rede TV! colocam HDTV no satélite
‘A Band e a Rede TV! começam hoje a transmitir programação em alta definição (HDTV) para todo o país. Decidiram colocar seus sinais digitais, desde ontem irradiados de forma aberta para a Grande São Paulo, no satélite Brasilsat B4, já usado por todas as redes para transmissão analógica para antenas parabólicas.
Dessa forma, a Band e a Rede TV! levarão a TV digital a lugares que só deverão receber a nova tecnologia daqui a dez anos. Estima-se que existam cerca de 20 milhões de domicílios no país com antenas parabólicas, 400 mil deles só em SP.
Para receber TV digital via parabólica, o usuário terá que comprar um conversor específico para a antena, que ainda não existe no mercado.
Segundo Frederico Nogueira, executivo da Band, três empresas já desenvolveram protótipos desses conversores e devem lançar os produtos ainda no primeiro trimestre de 2008, a cerca de R$ 400.
A Globo, cuja audiência poderia fazer a parabólica digital decolar, é contrária ao serviço. A emissora avalia que abrir seu sinal digital na parabólica, agora, prejudicaria suas afiliadas. E ela quer, antes, atrair para a TV digital terrestre o telespectador urbano que hoje usa parabólica. A nova tecnologia promete recepção perfeita em áreas de ‘sombra’, como bairros periféricos e morros.
Record e SBT ainda estudam abrir o sinal digital no satélite.
LICENÇA Diretor do ‘Casseta & Planeta’, José Lavigne estuda colocar várias atrizes para substituir Maria Paula, que estará grávida de sete meses na volta do programa ao ar, em abril de 2008. Ele quer criar um ‘fato novo’ para a nova temporada do humorístico.
FÉRIAS O ‘Sítio do Picapau Amarelo’ ficará fora do ar em 2008, confirma a Globo. Provavelmente, o programa infantil também não será exibido em 2009. A emissora quer ‘descansar’ o produto, que perdeu ibope.
CORRERIA O SBT terá que arrumar uma retransmissora em Florianópolis. O canal que a Lages TV, sua nova afiliada em Santa Catarina, usa na capital do Estado pertence à Rede TV!.
BATISMO ‘Prova de Fogo’ será o título da novela da Record que substituirá ‘Amor e Intrigas’. Marcará a estréia de Cristiane Friedman como autora-solo. Já a substituta de ‘Caminhos do Coração’ se chamará ‘Machos’, de Lauro César Muniz.
PROMESSA Em encontro com afiliadas em Foz do Iguaçu (PR), na última sexta, Honorilton Gonçalves, todo-poderoso da programação da Record, disse que a emissora voltará a ter três novelas no ar simultaneamente em 2008. A ‘nova’ faixa será às 19h. No ano passado, a Record tentou uma novela adolescente, mas se deu mal.
BOLADA A Rede TV! avisa que exibirá a Série B do Brasileiro, sem exclusividade, em 2008.’
GLOBO vs PADILHA
Mônica Bergamo
Não era bem assim
‘A Globo decidiu dar uma demonstração pública de, digamos, apreço pelo diretor José Padilha, de ‘Tropa de Elite’. Depois de um de seus executivos, Carlos Eduardo Rodrigues, ter dito que Padilha lançava mão de uma ‘lista de factóides e inverdades’ para promover o filme, a emissora divulgou nota para esclarecer que, na negociação entre a empresa e Padilha para a produção do longa -que acabou não vingando – ‘os limites extremos’ da ‘ética, de um lado, e da liberdade de expressão, do outro’, não foram ultrapassados.
RESPEITO MÚTUO
A emissora informa ainda que negocia com Padilha ‘para a transposição desta obra para a TV Globo’.
Para a Globo, esta é ‘a maior prova de respeito mútuo.’’
ARTE
Arte latina vive fase excepcional em Nova York
‘Pela primeira vez em 40 anos, o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) apresenta uma retrospectiva exclusivamente dedicada a obras de arte latino-americana adquiridas pela instituição.
Reunindo 200 peças -entre pinturas, esculturas, desenhos, gravuras, fotografias e instalações- incorporadas ao acervo do museu na última década (a partir de 1996), ‘New Perspectives in Latin American Art’ ocupa dois andares do prédio da rua 53 até fevereiro do ano que vem e é o exemplo mais gritante do excepcional momento em que vive, nos Estados Unidos, a arte moderna e contemporânea produzida na região.
Até o próximo dia 8, a Grey Art Gallery da Universidade de Nova York (NYU) está ocupada pelos destaques da coleção de arte latino-americana da venezuelana Patrícia Phelps de Cisneros (mulher de Gustavo Cisneros, uma das maiores fortunas do continente).
E a primeira feira dedicada exclusivamente à arte contemporânea latino-americana em Nova York, a Pinta, ocupou por cinco dias de novembro o Metropolitan Pavillion, na rua 18.
Um dos conselheiros informais de Cisneros é justamente o idealizador de ‘New Perspectives’, Luiz Pérez-Oramas, que no ano passado se tornou o primeiro curador de arte latino-americana do MoMA, o único cargo do museu definido por limites geográficos, e não por vertente artística.
‘Há algo singular em relação à arte moderna na América Latina. Os latino-americanos jamais negaram a concepção do objeto e se afastaram da idéia de desmaterialização da arte, tão intensa na realidade anglo-saxônica. A produção de objetos como conceitos sem dúvida fascina o espectador norte-americano’, diz.
Brasil
Uma das salas mais impressionantes da mostra é a que dispõe, frente a frente, a ‘Caixa-Bólido 12 Arqueológica’, de Hélio Oiticica, e o ‘Livro da Criação’, de Lygia Pape.
Entre os destaques brasileiros, estão obras de Mira Schendel (que em 2009 será tema da exposição, também no MoMA, ‘Leon Ferrari & Mira Schendel: Written Paintings/Objects of Silence’), Lygia Clark, Alfredo Volpi, Waltercio Caldas e Cildo Meirelles. Os dois últimos são exceções em uma mostra que excluiu a arte mais política dos anos de chumbo.
Aquisições
O período em que o MoMA menos adquiriu obras de artistas da América Latina foram as décadas de 70 e 80, em que as ditaduras militares sufocaram a região.
‘Ironicamente, trata-se da época em que as populações desses países migraram para os Estados Unidos de forma mais intensa. Ouso dizer que nenhuma instituição cultural norte-americana prestou atenção à arte da América espanhola e portuguesa nesse período. Queremos começar a mudar esse quadro’, diz o venezuelano Pérez-Oramas.
Roberta Smith, severa crítica de arte do ‘The New York Times’, teceu loas à mostra, que considerou riquíssima e com excelente seleção de obras (incluindo trabalhos do uruguaio Joaquín Torres-García, dos argentinos Xul Solar e Leon Ferrari e dos venezuelanos Rafael Soto, Gerd Leufert e Gego), indo além da exposição da NYU ao apresentar exemplos de produção mais recente da região.
Dos artistas brasileiros pós-80 destacam-se em ‘New Perspectives’ José Damasceno, Leonilson, Iran do Espírito Santo, Anna Maria Maiolino, Ernesto Neto e Vik Muniz, que comparece com nove obras, entre elas a imensa fotografia ‘Narcissus, after Caravaggio’, de 2005, parte da série ‘Pictures of Junk’, instalada na sala de entrada do segundo andar do museu. ‘A escolha dessa obra do Vik mostra que estamos, aqui, olhando para nós mesmos. A exposição é um grande espelho, uma conversa sobre o que se faz nos EUA e na América Latina neste exato momento. Ela pretende ajudar o espectador a entender a arte contemporânea como um todo, a partir de sua manifestação latino-americana’, diz o curador.
O acervo de arte latino-americana do MoMA -com 3.591 obras (600 adquiridas na última década)- é considerado por especialistas o mais compreensivo dedicado à região no planeta.’
HQ
Tom ingênuo marca HQ pioneira
‘Trata-se de uma história de humor, e há um gato e um rato que se perseguem. Pensou em Tom & Jerry? Comichão e Coçadinha, d’ ‘Os Simpsons’? Pois há um ‘ancestral’ deles, que está sendo publicado agora no Brasil em uma edição de colecionador: ‘Krazy Kat – Páginas Dominicais 1925-1926’, estrelada pela dupla Krazy Kat e Ignatz Mouse.
O criador da série é o norte-americano George Herriman (1880-1944). Quadrinista e cartunista desde 1897, quando tinha apenas 17 anos, Herriman foi um dos pioneiros dos ‘comics’, as histórias em quadrinhos norte-americanas. Não havia naquele momento um jeito pré-estabelecido de narrar histórias. As ‘comics’ estavam em formação: havia inocência e liberdade para os quadrinistas. Os artistas mais criativos aproveitavam esse período para explorar os recursos à sua disposição e surpreender os leitores. Herriman era um desses artistas.
A fórmula de ‘Krazy Kat’ era simples: o rato Ignatz Mouse comprava tijolos apenas para arremessá-los na cabeça do/a inocente Krazy Kat. O Guarda Pupp, um cachorro, procurava evitar a agressão ou, quando não conseguia, punia Ignatz, deixando-o alguns dias na cadeia.
Tudo simples, exceto pelo gênero de Krazy Kat. Nunca ficou claro se era um gato ou uma gata. Herriman não revelava nem em entrevistas. Mas não importava para o andamento das histórias: a cada tijolo que recebia na cabeça, Krazy Kat respondia com… suspiros de amor. Para ele/a, Ignatz era um ‘anjinho’ e suas agressões, manifestações de carinho.
Havia um misto de ingenuidade e anarquia nas histórias de George Herriman. Não há duplos sentidos ou segundas intenções. Há humor físico, em que tudo pode acontecer: desde a mudança do cenário de uma cena para a outra até a súbita transformação dos protagonistas (bípedes na maior parte do tempo) em quadrúpedes.
Krazy Kat e Ignatz surgiram em 1910, ainda sem nome -mas já com um tijolo sendo arremessado-, como coadjuvantes de outra tira de Herriman, ‘The Dingbat Family’ (depois rebatizada ‘The Family Upstairs’). Três anos depois, ganharam uma tira própria, que seria produzida até 1944, ano da morte do autor.
Talvez o maior mérito de Herriman, além do humor, tenha sido a originalidade. Sabe-se que há um rato, um gato e um arremesso de tijolo, mas nunca o que vai acontecer. E ele conseguiu manter esse ritmo por mais de três décadas.
KRAZY KAT – PÁGINAS DOMINICAIS 1925-1926
Autor: George Herriman
Editora: Opera Graphica
Quanto: R$ 74 (112 págs.)’
MÚSICA
Filme mostra ascensão e queda do Clash
‘Poucas bandas tiveram a urgência e o impacto duradouro do Clash, como mostra o documentário ‘The Clash – Conquistando o Mundo’, que o canal pago VH1 exibe hoje.
Dirigido pelo amigo da banda Don Letts -jornalista e DJ rasta do Roxy, primeiro clube punk de Londres-, o filme mostra como os três garotos (Joe Strummer, Mick Jones e Paul Simonon) fãs de Stones, Cream e Hendrix se tornaram ícones punks e, depois, levaram o ritmo adiante acrescentando-lhe dub, reggae, ritmos latinos.
Inúmeras boas histórias são rememoradas, como a gênese da canção ‘White Riot’ (a partir de um tumulto no carnaval jamaicano de Notting Hill), a origem da célebre foto de Pennie Smith com Simonon estraçalhando seu baixo e a atribulada visita à Jamaica, quando tiveram que fugir de um estúdio para não levar bala.
O documentário também destaca o clássico ‘London Calling’ (1979), em que a banda abriu seu som de modo definitivo porque, como explica Jones, ‘o punk estava ficando cada vez mais estreito e nós decidimos que poderíamos fazer qualquer tipo de música’. Além dos depoimentos, há inúmeras cenas da banda, incluindo vários shows e pedradas como ‘Complete Control’, ‘Capital Radio’, ‘London’s Burning’ e ‘Clampdown’.
THE CLASH
Quando: hoje, às 23h
Onde: VH1′
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