Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Magnata da mídia incentiva cultura

A trajetória profissional de Fakhri Karim, proprietário do jornal al-Mada, em Bagdá, assemelha-se a de Charles Foster Kane, personagem do filme Cidadão Kane, de Orson Welles, compara Sam Dagher em artigo no Christian Science Monitor [11/6/07]. Quando jovem, nos anos 60 e 70, o curdo-xiita era um idealista e um dos líderes do Partido Comunista Iraquiano. Em 1978, ele exilou-se na Síria, onde se aliou à resistência anti-Hussein apoiada por Damasco na região curda no norte do país e fortaleceu laços com guerrilhas palestinas no Líbano.

Karim sobreviveu a diversas tentativas de assassinato, incluindo uma em Beirute, em 1982, quando foi baleado no rosto. Na Síria, ele abriu uma editora, que é atualmente uma das maiores do Mundo Árabe.

Após a queda do regime de Saddam Hussein, em 2003, ele voltou ao Iraque para abrir seu jornal. Hoje, o empresário tem relações com as figuras mais poderosas do país, como o presidente iraquiano, Jalal Talabani, e o líder da região autônoma curda no norte do Iraque, Massoud Barzani. Seu diário é considerado um dos mais profissionais do Iraque.

Resgate cultural

A diferença entre Kane e Karim é que, enquanto o personagem americano foi motivado pelo ego, o empresário iraquiano diz que desenvolve seu poder e patrimônio para o bem dos iraquianos. Ao longo do último ano, ele usou seu dinheiro e influência para realizar eventos culturais e educacionais no Iraque, com o objetivo de mostrar à população local que ainda há esperança para a reconstrução do país.

Ele afirma que quer provar à atual elite política que a polarização dos iraquianos e suas aderências a movimentos radicais islâmicos constituem apenas um fenômeno temporário de auto-proteção, seguido do imenso vácuo deixado após a queda do regime de Saddam Hussein. Para Karim, os iraquianos querem, na realidade, um país moderado.

Teatro e literatura

Desde junho de 2006, o al-Mada organiza ‘matinées culturais’ em Bagdá, devido ao toque de recolher noturno. O jornal também distribui livros, publicados pela editora de Karim, gratuitamente e patrocina competições de teatro e literatura para jovens talentos. No mês passado, ele conseguiu reunir mais de 500 artistas, escritores e intelectuais iraquianos, além de alguns poucos clérigos moderados, na capital curda de Arbil para uma semana cultural. O evento foi um tributo a Mohammed Mahdi, poeta já falecido querido pela maioria dos iraquianos, que o vêem como um símbolo nacionalista promotor de valores moderados.

Para Karim, a salvação do Iraque só virá quando os atuais personagens políticos transcenderem suas diferenças e estreitarem os interesses para uma reconciliação nacional, e quando o governo americano parar de impor sua própria visão do que o Iraque deva ser. ‘As forças políticas devem acordar e se conscientizar de que o Iraque só pode ser administrado através de um consenso; os americanos devem parar de vir com soluções para o Iraque de acordo com seus desejos e visões de Washington’, defende o empresário.