A tarefa de relacionar jornalismo e ideologia há algum tempo seria difícil, mas hoje, fazendo a junção de disciplinas que acabam por se cruzar, como, por exemplo, Comunicação e Linguagem, Jornalismo Comunitário, Redação jornalística, Teoria da Comunicação, Sociologia, Realidade Brasileira e Filosofia, começa se abrir um leque de possibilidades, pois jornalismo e ideologia estão presentes na mídia, e não é de hoje. Se fizermos uma viagem para algumas décadas atrás, poderemos constatar que o posicionamento ideológico era mais escancarado. Nos dias atuais, interesses ideológicos, e principalmente econômicos, são prioritários e a diferença é que esse posicionamento é velado.
O autor Adilson Citeli,mestre em Letras e professor da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (USP),em seu livro Linguagem e Persuasão traz informações preciosas em relação a esse assunto. Ele explica os métodos utilizados pelos publicitários para persuadir os consumidores de que eles realmente necessitam determinado produto.
A cada dia que passa, a valorização do ter se torna mais presente em nossa sociedade e o individualismo permeia as relações sociais. Contudo, a mesma mídia que diz “Você não pode viver sem isso!”, é a mesma que condena os menos favorecidos quando, não tendo dinheiro para comprar um tênis ou até mesmo comida, acabam cometendo delitos e, em programas sensacionalistas são violados seus direitos de imagem e são tratados como bandidos. Alguns políticos roubam milhões e continuam com a imagem preservada. Deve ser porque usam terno e gravata.
A manipulação consciente
O discurso religioso também tem destaque, pois é algo que não se pode contestar; apenas aceitar. Ou seja, se Deus falou, quem somos nós para discordar? As pessoas geralmente têm medo de debater esse assunto porque na sociedade atual quem duvida ou não acredita em um ser supremo é descriminado e a própria mídia acaba incentivando esse tipo de pensamento. Parece que não é do seu interesse que a população seja mais crítica e questionadora.
Segundo o autor, existem três tipos discursivos. São eles: o lúdico; que é caracterizado com o menor grau de persuasão; o polêmico, caracterizado pelo eu dominante, onde uma voz tentará derrubar a outra; e o discurso autoritário, que tem a presença marcante da persuasão, um tipo de discurso que pretende induzir, dizendo que sua palavra é a correta.
Já o autor José Luiz Fiorin, um dos maiores especialistas brasileiros em Pragmática, Semiótica, e Análise do Discurso tendo várias publicações nas áreas citadas, traz uma análise de onde permeiam as determinações ideológicas dentro da linguagem. O autor destaca dois tipos de manipulação que estão presentes na linguagem. A manipulação consciente é chamada de sintaxe discursiva e se caracteriza por artifícios argumentativos, entre outros recursos, com a intenção de criar efeitos de sentido de veracidade e até mesmo realidade. Sendo assim, haverá mais possibilidade de convencimento de seu receptor. Outro aspecto é que o falante adota procedimentos argumentativos, consolidando assim a imagem que ele deseja que o receptor tenha dele.
Preconceitos e ideologias impregnadas
A manipulação inconsciente se denomina por semântica discursiva, quando o conjunto de elementos semânticos que são impostos em uma determinada época acaba por definir o tipo de pensamento dos indivíduos e na forma deles verem o mundo. Esses elementos surgem de discursos já cristalizados na sociedade. O homem assimila tais elementos semânticos de acordo com a educação que lhe é dada e dessa forma constitui sua própria maneira de pensar.
A mídia de outras décadas fazia a manipulação consciente, pois no período ditatorial os generais impunham suas ideias e quem não as acatava poderia ser punido severamente. Não era que a maioria da população concordasse com aquele tipo de situação, mas tinha medo de se impor.
Nas mídias contemporâneas, a semântica discursiva acaba por se destacar, pois mesmo que as pessoas não percebam estão sendo muito mais manipuladas ainda. Grande parte da população só não percebe porque essa manipulação aparece nas entrelinhas. Só com uma análise mais aprofundada é que se pode percebê-la. Com a correria dos dias atuais, a população deixa que esse posicionamento passe por despercebido.
Uma palavra pode demonstrar muita coisa, principalmente na questão ideológica. Em comunitária, por exemplo, podemos refletir sobre as diferenças que existem entre ocupação e invasão, quando se refere ao Movimento Sem Terra (MST). Alguns veículos optam por ocupação e outros por invasão (maioria), mas será que essa é uma simples escolha? Ou querem nos convencer de alguma coisa? Quando o interlocutor ouve ocupação, parece se referir a algo de direito. Já invasão o remete a algo que não lhes pertence, chega até parecer que houve violência nesse processo.
Destaco apenas um exemplo desse tipo de manipulação, um dos mais utilizados, que acaba deixando claro a existência de preconceitos e ideologias impregnadas. Os autores mostram de que forma a linguagem se relaciona nesse processo. É importante que as pessoas se conscientizem disso, principalmente o jornalista, que está diretamente ligado à linguagem e informação.
***
[Laís Cardoso é estudante de Jornalismo]