A maioria da população brasileira se informa exclusiva ou preferencialmente através da televisão. Cidadãos de todo o mundo a reverenciam como um totem familiar, um objeto de adoração que tudo provê e nada pede em troca. O espanhol Joan Ferrés atribui muitos nomes ao mesmo aparato eletrônico.
Como símbolo de identidade e como gerador de exigências, como meio benfeitor e como gerador de dependências, a televisão como totem provoca uma ambivalência afetiva. Ela é amada e odiada, desejada e desprezada. E tudo isso se manifesta na multiplicidade de expressões com que é conhecida: a escola paralela, a sala de aula sem paredes, a aula eletrônica, a caixa sábia, a caixa tola, a caixa mágica, a babá eletrônica, o terceiro pai. (FERRÉS, 1996, p. 8)
Tal situação confere ao jornalismo televisivo uma responsabilidade muito maior do que fornecer imagem com qualidade técnica. É preciso garantir que o telespectador tenha uma cobertura consciente e de qualidade e que o jornal cumpra sua função ao noticiar as informações imprescindíveis ao público que se destina.
Para analisar este ramo do jornalismo dentro da mídia catarinense e constatar para quem falam – e o que falam – os principais jornais do meio-dia no estado, o MONITOR DE MÍDIA acompanhou, de 16 a 20 de março, os dois telejornais locais de maior audiência no referido horário: Jornal do Almoço, veiculado pela RBS, e Jornal do Meio-Dia, transmitido pela RIC Record. Para a leitura crítica foi assumida a posição de um telespectador comum baseado nos preceitos teóricos que regem a prática do jornalismo na TV. Na análise, foram considerados formato dos programas, postura profissional e atitude dos apresentadores diante das câmeras, estrutura dos blocos e a cobertura das notícias.
Jornal do Almoço
O Jornal do Almoço é o programa jornalístico que o Grupo RBS exibe ao meio-dia. Apesar do nome, a atração propõe-se a ser uma ‘revista eletrônica diária com notícias, esporte, entretenimento e opinião’, conforme anuncia o site do programa. A exibição acontece de segunda a sábado, das 12h às 12h40min, com o tempo dividido em quatro blocos intercalados por comerciais. A grade do programa é distribuída entre a cabeça de rede (Florianópolis) e as cinco emissoras afiliadas, nas cidades de Blumenau, Chapecó, Criciúma, Joaçaba e Joinville. O estúdio de Florianópolis é responsável por concentrar os principais fatos da Capital e de toda Santa Catarina, ao mesmo tempo em que gera conteúdo para todas as afiliadas. Os apresentadores principais são Mario Motta e Laine Valgas, com o apoio dos comentários de Luiz Carlos Prates e Cacau Menezes.
O site institucional do Jornal do Almoço define sobre suas atrações:
Retrato da RBS TV, o Jornal do Almoço fala diretamente à comunidade, fazendo parte do dia a dia dos telespectadores, revelando e buscando soluções para problemas de bairros, cidades, pessoas e instituições. Traz o que foi notícia na madrugada e manhã e o que vai ser destaque durante o dia. Oferece dicas de saúde, nutrição, moda, decoração, direito do consumidor. Prepara reportagens culturais e entrevistas no estúdio com artistas. Apresenta matérias que refletem o comportamento jovem, adulto e da terceira idade. A variedade de temas e a forma descontraída da apresentação são elementos fundamentais, que conferem grande popularidade ao programa, o que se confirma ao longo de todo o Estado quando a equipe se desloca a cidades do interior para produzir programas especiais, ao vivo, explorando as peculiaridades do município e recebendo o carinho e atenção da população local.
O Grupo RBS considera Blumenau uma das ‘regiões com grande importância econômica em Santa Catarina’, por isso é responsável pela cobertura dos 53 municípios que abrangem a Mesorregião do Vale do Itajaí. A transmissão do Jornal do Almoço é feita a partir dos estúdios localizados na Rua Presidente Getúlio Vargas, 32, centro.
A apresentação do programa de Blumenau fica a cargo de Bianca Ingletto e Marcos Aurélio – esse último foi apresentador do Jornal do Meio-Dia, da Rede Independência de Comunicação (RIC) Record. Em apoio, Cláudio Holzer é o responsável pela parte esportiva do jornal, enquanto que Valter Ostermann faz comentários sobre sociedade, economia e demais assuntos do cotidiano da região. O Jornal do Almoço da região de Blumenau ainda conta com um subestúdio na cidade de Itajaí, que é responsável por matérias, entrevista e coberturas dedicadas ao litoral norte.
Jornal do Meio-dia
A Rede Independência de Comunicação (RIC) é afiliada à Record e atua no Paraná e em Santa Catarina. No estado catarinense, é divida em seis emissoras filiais, situadas em Blumenau, Joinville, Chapecó, Xanxerê, Florianópolis e Itajaí. Todas elas transmitem o Jornal do Meio-dia, programa jornalístico que faz a cobertura das regiões locais. A emissora de Itajaí, em análise, tem como proposta cobrir a região do litoral do Vale do Itajaí. O telejornal é veiculado de segunda a sábado, das 12h às 13h e em Itajaí é apresentado por Graciliano Rodrigues, que atua na emissora há 14 anos. O telejornal se divide em quatro blocos que apresentam assuntos diários sobre esporte, polícia, política, saúde e outros temas de interesse da comunidade local. A rede de comunicações, em seu site na Internet, define o Jornal do Meio-Dia:
O programa que se direciona às comunidades do estado catarinense. O telejornal da RIC Santa Catarina mostra a situação dos bairros, com o objetivo de que medidas e soluções sejam efetivamente aplicadas. Além disso, Jornal do Meio-Dia traz os giros policiais, as notícias esportivas, políticas e os fatos mais importantes do dia.
O estúdio da emissora que cobre o litoral do Vale do Itajaí retransmite a programação da TV Record de São Paulo e alguns programas da RIC TV de Florianópolis. A emissora situa-se em Itajaí, no Morro da Cruz. Graciliano Rodrigues divide o estúdio com a jornalista Camile Magalhães e o comentarista Adão Goulart durante o segundo bloco, dedicado ao esporte.
Postura dos apresentadores e comentaristas
De acordo com o glossário de termos técnicos referente ao telejornalismo de Squirra, o apresentador é o profissional condutor de um programa que lê as ‘várias notícias que compõem o telejornal a partir do estúdio. É o elemento de ligação, introdução e explicação da ação no estúdio. Não emite opinião, expressão fácil ou entonação auditiva próprias’ (SQUIRRA, 1990, 160).
Os apresentadores de Blumenau, Bianca Ingletto e Marcos Aurélio, mostraram durante o programa uma postura padrão, baseada em roteiro e com pouco improviso. Durante todos os dias, foi repetida a escalada do programa, que nada mais é do que a ordem do anúncio de manchetes (jogral entre Marcos e Bianca, sempre iniciando com Marcos), e os textos da saudação inicial (‘Fique ligado, que o Jornal do Almoço está apenas começando’) e final (‘Essas foram as notícias da edição do Jornal do Almoço de hoje. Mais informações no Jornal da RBS, às sete da noite’). Em todas as edições observadas, o texto sempre foi igual. A maior parte das matérias e notas foi anunciada sem emoção, com poucas mudanças na entonação de voz ou emissão de opinião sobre os temas, adequado para apresentadores, mas ao contrário do que a posição de âncora permite. Bianca Ingletto foi a mais concentrada em manter o tom formal, enquanto Marcos Aurélio teve mais momentos de ‘improviso’ e de apelo ao telespectador (através do uso de vocativos como ‘você, telespectador’). O apresentador conversou de forma descontraída com Cláudio Holzer, na edição de 16/03, sobre as perspectivas do Campeonato Catarinense de Futebol. Todas as entrevistas nos estúdios de Blumenau foram realizadas por Marcos Aurélio num tom de bate-papo entre apresentador e convidado. Ambos os apresentadores alternavam entre a postura sentada e stand-up (em pé), normalmente na primeira posição em notas peladas e cobertas, e na segunda ao enunciar matérias e entrevistas.
Os apresentadores de Florianópolis, Mario Motta e Laine Valgas, mostraram uma postura mais articulada e natural na apresentação das matérias e notas. Mario Motta foi o mais expressivo, mostrando caras de desaprovação ou espanto – principalmente após as falas enfáticas do comentarista Luiz Carlos Prates. Laine Valgas mostrou uma postura mais séria e tom explicativo sobre as matérias. Ambos os apresentadores alternavam entre a postura sentada e stand-up, normalmente na primeira posição para notas peladas e cobertas, e na segunda ao enunciar matérias e entrevistas.
O comentarista de Florianópolis, Luiz Carlos Prates, apresentou uma postura incisiva em seu discurso. Em quatro dias seu comentário foi feito direto dos estúdios, sentado. No dia 19/03, Luiz Carlos Prates fez seu comentário em um link ao vivo, stand-up, direto da Feira de Educação da América Latina. Dos estúdios de Blumenau, o comentarista Valter Ostermann foi moderado e pontual em seus textos, sempre apresentados sentado na bancada.
O comentarista esportivo de Blumenau, Cláudio Holzer, apresentou uma postura menos formal, em tom de conversa – seu tema não exige tanta formalidade. Durante a apresentação das notas, Cláudio Holzer discutiu lances e posições com Marcos Aurélio e na entrevista de 16/03, com o editor de esportes do Jornal de Santa Catarina, Rodrigo Braga. Os comentários para o Metropolitano, time de Blumenau, sempre foram enfáticos, anunciados de forma mais entusiasmada.
O apresentador do Jornal do Meio-dia, Graciliano Rodrigues, em todas as edições analisadas, demonstrou comportamento diferenciado do dito ‘padrão jornalístico’, verificado nos demais telejornais. A apresentação de bancada e leitura de notícias é substituída pelo movimento, comentários e opiniões dos assuntos. É característica do apresentador caminhar pelo estúdio e ‘improvisar’ o texto em seus comentários interpretativos.
São comuns falas apelativas, de alerta para a população, e as opinativas. O discurso é dirigido diretamente à população. Graciliano Rodrigues utiliza-se de um linguajar coloquial, com expressões, interjeições e vocativos, falando a ‘língua’ dos que assistem (‘necas de pitibiriba’, né). Ao invés de permitir que o público interprete as notícias e manifeste suas próprias reações a elas, o apresentador, ao final de cada matéria, comenta e conclui o assunto para os telespectadores. Graciliano exerce plenamente as funções de âncora do programa, mas algumas vezes vai além.
Além do julgamento do conteúdo jornalístico, Graciliano é encarregado de anunciar os apoios comerciais no jornal. A ‘veiculação de um produto ou marca, de forma disfarçada, na programação ou num programa de notícias’ ou merchandising acontece em todos os blocos do Jornal do Meio-dia. Algumas vezes, a propaganda é também utilizada durante certas notas através do gerador de caracteres (SQUIRRA 1990, p. 168).
De acordo com Curado (2002), quando um jornal apresenta motivações além do único e exclusivo propósito da veiculação de notícias relevantes à população, sua credibilidade fica comprometida, uma vez que deve ser associada ao jornalismo qualquer relação comercial, sejam com fabricantes ou provedores de serviço.
Outro recurso da fala de Graciliano é a busca de interatividade com o telespectador através de indagações. Muitos desses questionamentos que o apresentador faz durante o telejornal podem ser respondidos pela comunidade através do número telefônico disponível para opinião, reclamações, críticas e sugestão de pautas.
No decorrer da semana analisada, o apresentador fez comentários críticos, como por exemplo, à prefeita de Camboriú e à Policia Militar de Itajaí. O tom de voz forte e expressivo de Graciliano pode ser percebido também em seus diálogos ao vivo com a produção e equipe técnica do jornal. Todas essas características do discurso opinativo que contrapõem a convencional postura imparcial do apresentador de telejornal são ilustradas por uma das falas de Graciliano no programa de quinta-feira dia 19/03 em relação às obras inacabadas dos portos de Itajaí e Navegantes: ‘Prefiro não comentar’, finalizou uma seção com tom de indignação.
O segundo bloco do telejornal conta com a participação da jornalista Camile Magalhães, que apresenta e comenta as notícias de esporte. Geralmente em pé, Camile e o comentarista Adão Goulart mantêm um diálogo explicativo do cenário esportivo da região. A linguagem é informal, e, assim como Goulart, a jornalista dá a sua opinião sobre o desempenho dos atletas.
O que os telejornais mostram?
A televisão não só é feita de entretenimento. O jornalismo encontrou no vídeo uma forma dinâmica de abordar as notícias, através da imagem. Curado (2002) explica que, no Brasil, as emissoras devem cumprir o Decreto Lei 52.795, de 31/10/1963, que determina que pelo menos 5% do horário da programação diária sejam dedicados ao jornalismo noticioso. A autora ainda afirma que a relevância da notícia é caracterizada pela sua amplitude, ou seja, para quantas pessoas o assunto se destina.
As redes regionais por se caracterizarem com a identidade local de seu público dão prioridade aos assuntos que têm influencia direta na vida dos cidadãos locais. Sendo assim, o conceito de notícia para as redes regionais foca-se ainda mais no que foi apresentado por Squirra (1990, p. 44) que caracterizou notícia como o fato ‘que acontece perto das pessoas da audiência’. Sendo esse o principal objetivo das redes regionais, deve-se delegar atenção igualitária ou ao menos equilibrada à prestação de serviço para os municípios que integram a região de cobertura da TV.
A proposta central do Jornal do Almoço é mostrar os fatos de Santa Catarina e os nacionais com repercussão para os catarinenses. Mesmo assim, o caráter da proximidade é valorizado através da produção das cinco afiliadas espalhadas pelo estado. Assim, a programação do Jornal do Almoço se divide em blocos locais e blocos estaduais, sendo eles: os dois primeiros e o quarto bloco são dedicados para notícias locais. Já o terceiro bloco é baseado na transmissão da cabeça-de-rede de Florianópolis.
O Jornal do Almoço de Blumenau dedicou mais espaço para a cidade de onde transmite, se comparado com outras da região que se propõe cobrir. Dos 93 temas abordados (entre matérias, notas, entrevistas e reportagens) no período analisado, 26 eram relacionados diretamente com Blumenau. Se comparado com as 11 menções a Itajaí, segunda cidade mais citada, Blumenau teve maior visibilidade no jornal. Em terceiro está a cidade de Balneário Camboriú e as notícias de interesse geral do estado. A maior incidência das cidades pode estar relacionada com o fato da RBS ter estúdios nelas (o subestúdio de Blumenau fica em Itajaí), o que facilita o deslocamento de repórteres e a produção de notícias e reportagens.
O estado do Rio Grande do Sul foi citado em matéria ao ser relacionado com o ‘desaparecimento do jogador do Grêmio’, em 17/03, pois ele foi visto no aeroporto de Florianópolis. Já as notícias de âmbito nacional tiveram quatro citações, todas durante a programação estadual, do terceiro bloco, relacionadas com a realidade catarinense.
Outra forma que o Jornal do Almoço usa para mostrar as cidades para as quais transmite é exibir imagens antes da entrada dos comerciais, quando informa também a hora certa – este serviço é oferecido eventualmente, não em todas as edições. Blumenau, novamente, foi a mais mostrada, 9 vezes. Itajaí ficou em segundo, com 3 aparições, seguido por Gaspar com 2, Balneário Camboriú e Camboriú com 1 cada.
Por esta análise, sob qualquer aspecto Blumenau foi a cidade com maior visibilidade dentro do Jornal do Almoço. Este fato não seria relevante não fosse a grande diferença de exibição se comparado com as demais cidades que receberam menos citações. Pela proposta, a área de cobertura do jornal deveria mostrar mais de sua área de cobertura, ou, pelo menos, a incidência não deveria ser tão desigual.
O Jornal do Meio-dia, por sua vez, concentra sua cobertura no litoral do Vale do Itajaí, mas não se limita apenas a esses municípios. Alguns assuntos de interesse geral dos catarinenses são também relevantes para a contagem. Projetos do governo, acontecimentos do estado em âmbito nacional foram totalizados em 12 aparições dentre as 71 matérias, notas, comentários e entrevistas registradas. Em relação ao esporte, a cobertura é efetiva quando o assunto é futebol, mas outros esportes também foram mencionados em matérias, tais como surfe, futebol de salão, taekwondo e tênis.
Os demais fatos que acontecem no estado, quando de interesse da comunidade local, também são mostrados, com foram os casos das cidades de Joinville, Jaraguá do Sul e Tubarão.O destaque na cobertura do jornal é a cidade de Itajaí, onde se localiza a emissora analisada. Foram 24 menções, o que significa quase 34% do espaço do telejornal durante a semana. Balneário Camboriú ficou com a segunda posição nos destaques, sendo retratada no jornal 13 vezes e Navegantes, em terceiro lugar, com 8. Os demais municípios são contabilizados no gráfico a seguir.
Formato dos telejornais
O formato dos telejornais é parte de sua identidade e reflete a organização, seriedade e credibilidade do programa. Forma e conteúdo sempre têm íntima relação em todo o conteúdo midiático, ainda mais no televisivo. Leva-se em conta o horário em que o jornal é veiculado, o público alvo e a prestação do serviço que se almeja. Os blocos são organizados dispondo as notícias mais importantes estrategicamente, para assim prender a atenção do telespectador.
A técnica de organização dos blocos dentro do telejornal e das noticias dentro dos blocos segue esquema parecido com a ‘tática mercadológica’ aplicada pelos diretores em outros tipos de programas de televisão. O primeiro bloco tem a função de atrair, interessar e cativar o telespectador pelo noticiário. Os seguintes, os do meio, normalmente o segundo e o terceiro blocos, têm a intenção de manter, conservar o telespectador na programação jornalística. O ultimo apresenta as principais notícias do dia e completa o ciclo-informativo fornecendo-lhe instrumentos para a compreensão dos fatos significativos do dia. É comum o habito de encerrar o telejornal com uma noticia ‘leve’, positiva, desprovida de carga dramática e violenta que possa chocar os telespectadores (SQUIRRA, 1990, 101).
O Jornal do Almoço se propõe ao modelo de revista eletrônica, pois, além de matérias e reportagens, o programa apresenta entrevistas e quadros mais ‘maleáveis’ para os padrões jornalísticos. Apesar disso, a forma com que os apresentadores conduzem o Jornal do Almoço ainda dá a impressão de quadros ‘duros’, nos quais é seguido o padrão jornalístico de entonação de voz e dicção ao enunciar as matérias. A desenvoltura de Bianca Ingletto e Marcos Aurélio ainda carece de desenvoltura, mas não incorre em erros graves. Mas, através de alguns improvisos, como o clima de ‘bate-papo’ na entrevistas, o jornal torna-se mais dinâmico.
O programa seguiu fielmente seu horário de início e término no período analisado. Somente no dia 20/03 que o Jornal do Almoço terminou 3 minutos mais tarde. Todos os blocos seguiram o mesmo padrão: o primeiro, com manchetes, saudação, apresentação de matérias e notas; segundo bloco com entrevista e notas; terceiro bloco com programação de Florianópolis; e quarto bloco com notas curtas, policial e atrações artísticas (como o quadro ‘Amigo Bicho’, em 19/03).
O Jornal do Meio-Dia é dividido em quatro blocos, que variam seu tempo de acordo com as matérias e os assuntos. A abertura do jornal é sempre com as manchetes do dia, seguida de oferecimentos. Os primeiros blocos foram compostos por no máximo duas matérias locais e outras notas peladas diversas; os segundos blocos, dedicado aos esportes. Os terceiros blocos apresentam de 3 a 4 matérias, nas quais predominaram o caráter de denúncia e assistência a comunidade. O último bloco, por sua vez, é o mais curto, dedicado, na maioria das vezes, ao encerramento e algumas notas ou avisos. Portanto o terceiro bloco tem função equivalente a do último bloco, como explica Squirra (2002, p. 101):
Mas as notícias mais importantes do dia não vêm no primeiro bloco. Se isto acontecesse, poderia se dar ao telespectador a sensação de que já está informado assistindo apenas ao primeiro bloco. Por isso elas vêm no ultimo bloco de noticias, prendendo, desta forma, o telespectador até o final do programa.
Até o próximo programa
Independente da proposta de cada programa, o telejornalismo deve prezar pela qualidade e respeito aos seus telespectadores. Vizeu (2002, p. 6) reforça o compromisso dos jornalistas com as audiências, mas também alerta sobre a importância da leitura crítica dos meios pelos telespectadores:
Na emissão e recepção da comunicação é preciso competência. Ou seja, todos os profissionais devem esforçar-se para serem capazes e competentes para melhor exercer sua profissão. Do lado dos receptores (o campo da recepção) a busca de uma capacitação que permita uma leitura crítica dos veículos de comunicação é uma meta a ser perseguida.
A leitura crítica dos telejornais é necessária para seu bom desenvolvimento junto à sociedade. Na parceria de ambos – veículo e população – está a razão de um existir e do outro assistir. Fazer valer esta parceria – responsabilidade por parte dos meios e cobrança por parte do público – é um dos caminhos para um telejornalismo de qualidade.
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EDITORIAL
Brasília (DF), abril de 2009. As coordenadas apontam para uma ocasião que não pode escapar dos olhares atentos de quem se interessa e se preocupa com a democracia brasileira e com a constante luta pela validade dos direitos civis. O lugar e o momento sinalizam dois eventos que merecem atenção. Eles se passam em salas fechadas, protagonizados por gente bem alinhada, em tons respeitosos e bem educados. Apesar disso, os dois eventos tratam de questões que interessam a todos os brasileiros, inclusive os que não se trancam em salas ou que estejam bem vestidos.
Na capital federal, o mês de abril começa com tudo. No Supremo Tribunal Federal, ministros discutem a validade da Lei de Imprensa; em auditórios da Câmara Federal e do Senado, autoridades e cidadãos organizados debatem sobre o direito de acesso a informações públicas. Os dois eventos se deram na primeira semana do mês e tinham em comum um foco: a liberdade de informação, a liberdade de expressão. Isto é, o direito que toda pessoa tem para se manifestar, para opinar, para fazer juízo, para buscar informações e saber do que acontece ao seu redor.
Resultados de lutas distintas, os eventos acabam desaguando num amplo debate sobre a democracia nacional e a sua extensão, os seus reflexos na vida cotidiana. O julgamento no Supremo não foi concluído ainda, já que a sessão do 1º de abril não conseguiu dar conta da complexa matéria. Mas a leitura do voto do relator do processo, o ministro Ayres Britto, sinalizou a importância do tema e o quanto ele deve interessar a todos, e não apenas aos jornalistas, os mais penalizados pela Lei de Imprensa. Foram duas horas de leitura e uma autêntica aula sobre cidadania, democracia e liberdade. O julgamento da Lei de Imprensa prossegue na segunda metade de abril, e ainda é difícil prever o seu final. Independente disso, o evento é um sinal da maturidade da democracia brasileira que, hoje, também se ocupa de debates como esse.
No mesmo dia da sessão do Supremo, foi aberto o 1º Seminário Internacional sobre Direito de Acesso a Informações Públicas, encontro convocado por nada menos que 22 organizações da sociedade civil preocupadas com o dever de informar e com a liberdade para buscar informações. O propósito de uma reunião como essa não é apenas reforçar a necessidade de órgãos públicos facilitarem o acesso a dados que interessem à população e que possam ser divulgados. O objetivo é ainda fortalecer o empenho para a aprovação de uma lei que garanta esses direitos. Mais uma vez, um tema que não se restringe às redações, afinal com liberdade de expressão se tem liberdade de imprensa; com liberdade de imprensa, a sociedade tem mais chances de saber de fatos obscuros, ilegais e que contrariem seus interesses e direitos.
Abril dá sinais de que o tema da liberdade como direito esteja na moda. Tomara que não seja apenas um modismo, mas uma preocupação permanente da sociedade brasileira.