É clonagem? E não fala da novela com Giovana Antonelli, nem do que a Rede Globo fez com a programação da TV Excelsior na década de 60. Creio piamente que sim, neste caso também o é. A Rede Record quer ter um Vídeo Show próprio, segundo informações do jornal O Globo, na coluna de Patrícia Kogut. Ainda, a emissora paulistana prepara um programa vespertino sobre os bastidores de suas novelas e atrações, nos moldes do concorrente global. Além do formato, a Record também estaria interessada em contratar apresentadores atuais da atração.
A pergunta é também se vai pegar. Pois se realmente seguir a cartilha do produto global terá talvez alguns problemas. Pois que o vespertino carioca está há anos usando o discurso, ou linha editorial, que ignora que existam no universo outros canais que não a Rede Globo. Ou seja, a Record, em tese, não falaria de outra emissora, o que seria uma revolução ou involução porque indiretamente o único quadro sobre TV na emissora que faz parte do Hoje em Dia fala amplamente da classe artística.
Durante anos, a emissora do Projac tratou seus ex-artistas como criaturas que desapareceram da face da terra. Um artista que saísse da emissora simplesmente era abstido da boca dos ainda contratados. Muitas vezes artistas eram dados como mortos praticamente após saírem da Globo.
O 8 e o 80
Me pareceu muito raro certo comentário que minha avó fez quando Lucélia Santos voltou à Rede Globo em 2001. Mesmo depois de trabalhar em uma lista de feitos além-mar, digo além Globo, como em 1996, Dona Anja (SBT), em 1995, Sangue do Meu Sangue (SBT), em 1990, Brasileiras e Brasileiros (SBT) e em 1987, Carmem (Manchete).
O estigma criado no caso específico de Lucélia foi um dos casos mais terríveis da história da bolha extra Globo no Brasil. Mas casos não faltariam para ilustrar o efeito ‘Geladeira da Globo’.
Então penso, voltando ao assunto central: seria ideal ter mais um programa sem noção da realidade, ou limitado, como o Vídeo Show? O que ocorre é que, vai que um dia a Record derruba a Globo, o que teremos? Mais uma emissora monopólica e que ignora a existência de vida inteligente fora dela? Com a palavra Serginho Groisman, que usa como slogan do intragável Altas Horas o bordão jocoso ‘Altas Horas, vida inteligente na televisão!’ Se vida inteligente é entrevistar pseudo-atores globais de teste do sofá e ainda fingir que existe cérebro dentro dessas carcaças, eu prefiro uma vida burra na televisão.
A coisa, para funcionar, tem de ser 8 ou 80. O risco do 80 é ter um piripaque na primeira corrida, e o do 8 é não alcançar quase ninguém. TV, estrategicamente, se consegue ibope muito mais por costume que por qualidade, já diria Walter Clark. Se a opção é seguir à risca a fórmula Vídeo Show, pode ser que mais que audiência ao próprio programa gere um crescimento aos demais produtos da rede. Agora, se misturar as coisas, digamos, uma cara de Vídeo Show e um conteúdo de Sônia Abraão, aí a coisa fica feia. Tomaria eu o cuidado de manter ao menos por quatro meses a alternativa do 80.
Agrado dos gringos
Se valor e gostos são subjetivos, a busca por alguém que nos valorize também pode ser. E sempre é válido lembrar que muitos profissionais saíram da poderosa em busca de reconhecimento, acima do status quo de ser global. É até preconceituoso e marginativo o que se faz hoje e antes fora pior. O pensar ‘se está na Globo é bom, se não está desconheço’ é a mais chucra bucefalia da sócio-cultura brasileira.
Nessas horas que veja que minha nega baiana tem ‘már que razaum’. Ivete Sangalo gravará um DVD no Madison Square Garden, em Nova York, no dia 4 de setembro de 2010. Tanto criticaram minha rainha, como se diz na Bahia, que ela vai tentar ganhar agrado dos gringos. Molestaram-na porque estava grávida, porque trocou de namorado, porque arranjou um novo, porque não gravava CD de inéditas… Ela deve ter pensado como eu: ‘Sabe, meu rei, vou pros exterior pra vê se alguém me dá valor.’
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Ator, diretor teatral, cantor, escritor e jornalista