Leio na Folha de S. Paulo (06/03) um editorial intitulado ‘Nota vermelha’:
‘Quando já não parece mais possível receber más notícias sobre o desastre educacional, eis que elas não param de chegar. A última má nova saiu de um recorte paulistano do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem): nenhuma escola estadual da maior cidade do país obteve ‘nota azul’ na prova. Todas as 621 escolas consideradas tiveram rendimento inferior a 50%.
‘O momento é propício para observarmos a educação, em São Paulo e em outros estados. Os instrumentos de avaliação revelam o fracasso. E as más notícias continuarão a chegar, porque problemas educacionais não se resolvem do dia para a noite.’
Nas últimas linhas daquele editorial da Folha, pede-se que José Serra se manifeste, pois caberia a ele, neste caso, dar explicações e propor políticas que não façam a educação desaparecer em meio a tantas outras políticas…
Um imenso desânimo
Poderíamos mencionar outros nomes comprometidos com o desastre: o ex-governador Geraldo Alckmin, o ex-secretário da Educação Gabriel Chalita e, ampliando, o ex-ministro Paulo Renato. Haverá outros. Não tiveram todos eles a faca, o queijo, a caneta e as verbas nas mãos ao longo dos últimos anos?
Mas, pensando melhor, para que chamá-los? Dirão algo de relevante aos pais, aos jovens, aos professores, à sociedade? Não têm o espírito educacional de que precisávamos. É melhor procurar outras pessoas cujas idéias possam despertar ações eficazes, mudanças reais.
Nas estantes de pedagogia das livrarias, estudos (melhores ou piores) apresentam análises e propostas. Não faltam teóricos. E não faltam, nas escolas públicas e privadas, professores que se destacam pela criatividade, pelo dinamismo… mas podem morrer afogados em meio às ondas do imenso desânimo.
‘E a parte deles?’
Notícias recorrentes sobre o baixo rendimento escolar de nossos alunos desmoralizam os docentes brasileiros. Os políticos que prometeram valorizar a educação fingem que não é com eles, desaparecem. Aqui embaixo, lemos algo sobre pacotes genéricos e a necessidade de recursos para salvar a educação…
Enquanto isso, os professores vão ao orkut desabafar, como nesta mensagem de uma comunidade:
‘É só bordoada em cima do professor, afinal eles têm a ‘prova científica e irrefutável’ de que não somos competentes. Mas e a parte deles? E a redução de alunos por sala? E a melhoria da estrutura física da escola? E a nossa formação? E a nossa valorização salarial?’
******
Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br