Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O discurso sindical

A Fenaj – Federação dos Jornalistas, e seus filhotes sindicatos, devem estar se contorcendo de raiva. Fico até imaginando aqueles sindicalistas todos berrando, gritando, batendo pé, invocando todos os marxistas mortos, os leninistas enterrados e os castristas que vagueiam pelas zaméricas, fazendo despacho nas ruas queimando pneus (sim, porque sindicalista que é sindicalista queima pneu; teve um que eu até aconselhei a no lugar de poluir o ar, ir à padaria, comprar e queimar a rosca), para protestarem contra quem? Contra Gilmar Mendes.

Mas por que protestar contra Gilmar Mendes? Porque ele foi o relator do recurso especial que derrubou a obrigatoriedade do diploma de jornalista para o exercício da profissão. Ele votou a favor e outros sete ministros também votaram a favor. Well, mas se a decisão foi do plenário do STF, porque os sindicalistas protestam apenas contra Gilmar Mendes?

Eis a prova cabal de que diploma de jornalista pode até ajudar, mas não garante qualidade na informação.

Mas por que eles entendem que foi apenas Gilmar Mendes que derrubou a obrigatoriedade? É simples. Apesar dos sindicalistas terem diploma de jornalista, faltam-lhes instrumentos linguísticos e repertório cultural associativo capaz de fazê-los pelo menos ligar um ponto a outro em linha reta. Básico assim.

Discursinhos decorados, sem conteúdo

Vi um desses sindicalistas dizendo que Gilmar Mendes acabou com a auto-estima da categoria. Ora, em se tratando desses sindicalistas, por certo que não foi Gilmar o responsável pela baixa auto-estima, mas tudo bem. Para reverter essa situação, pô, um banho bem tomado, uma escovada nos cabelos, um rolé por um shopping e, por que não, uma roupinha nova? Garanto que esse problema acaba. Mas sindicalista que é sindicalista há de dizer que ‘não se apega a esses métodos burgueses, afinal, estão ocupados lutando para serem respeitados pelos patrões que só nos exploram, somos bravos resistentes aos cotidianos assédios patronais e blablablá’. Pô, vão numa biblioteca pública e peguem um livro de auto-ajuda.

E é melhor irem rápido, pois as notícias não são nada boas para a ‘causa’ ou ‘luta’. Hoje (24/6) Gilmar Mendes jogou um balde de legislação na intenção da Fenaj e seus filhotes, que pretendiam convocar os ‘cumpanheros’ do Congresso para apresentarem um projeto de lei revertendo a situação. Mendes foi claro: ‘Não há possibilidade de o Congresso regular isto porque a matéria decorre de uma interpretação do texto constitucional. Não há solução para isso. Na verdade, essa é uma decisão que vai repercutir, inclusive sobre outras profissões. Em verdade, a regra da profissão regulamentada é excepcional no mundo todo e também no modelo brasileiro.’ Bem, ele foi claro para qualquer um que possua capacidade associativa de idéias. Sabe aquela história dos dois pontos e a linha unindo-os?

Como se pode ver, com ou sem diploma específico, o bom jornalista é aquele que traz na alma a inquietude e a curiosidade, que se ilustra e consome cultura, aquele que se especializa, que sabe que ao estudar e melhorar a si mesmo estará melhorando a qualidade do seu trabalho e, consequentemente, ampliando seus horizontes no mercado. Esse pode até ter, mas não precisa de diploma específico para escrever, investigar, relatar e prosperar. Os bons jornalistas (e são muitos) com diploma específico, mas que não se submetem às doutrinas sindicais e nem se sentiram ameaçado com a decisão do STF, coitados, além de se dedicarem à profissão, ainda precisam aguentar o azucrino dos filhotes da Fenaj e seus discursinhos decorados, sem conteúdo algum, exaltando as ‘belezas’ do socialismo genocida, e as teorias rasas dos malefícios da ‘mais-valia’ capitalista.

Espernear é um direito

É interessante como a Fenaj e seus filhotes se acham no direito de poder decidir o que a população vai ler e ver na imprensa! Sem nenhum pudor eles reivindicam o monopólio da informação, alegando que sem possuir um diploma específico de jornalista é impossível existir capacidade intelectual e ética. Sim, os sindicatos reivindicam o monopólio da ética também. Atrelada ao Estado, por certo.

Não meus caros! A expressão e difusão do pensamento é livre e o acesso à informação é democrático, foi isso que o STF garantiu.

A Fenaj e seus filhotes repetem à exaustão um mantra de rancor, de luta de classes, cafona, ultrapassado. Ficam lá, de cima do muro de Berlim, gritando um grito de ódio que o mundo já não tem nem saco nem tempo para ouvir.

Espernear é um direito que possuem, mas saibam que nada, nada mesmo, que tenha por base o ódio, dá em boa coisa.

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Economista, especialista em Administração Pública pela FGV/RJ e blogueira