Em um período no qual os jornais lutam para se reinventar, o Los Angeles Times anunciou uma mudança nada agradável: a fusão de sua seção dominical ‘Sunday Book Review’, dedicada exclusivamente a livros e uma das vozes literárias mais fortes dos EUA, com a seção de opinião ‘Currents’, publicada nas edições de sábado. Se a mudança realmente se concretizar, a ‘Sunday Book Review’ perderá quatro de suas 12 páginas, para que, junto às oito páginas da ‘Currents’, o novo suplemento totalize 16 páginas. A seção também perderá público: a tiragem do jornal aos sábados é de 900 mil exemplares, comparada a 1,2 milhão no domingo, segundo dados mais recentes do Audit Bureau of Circulations.
Pessoas próximas ao projeto acreditam que o novo suplemento seja lançado ainda este mês. O editor James O´Shea confirmou os planos, mas o assunto foi exposto de forma discreta na premiação literária Los Angeles Times Book Awards, ocorrida na semana passada em Nova York. A porta-voz do diário, Nancy Sullivan, informou que não tinha nada a declarar sobre as seções de livros ou de opinião, mas afirmou que a empresa está buscando maneiras de tornar o jornal e seu sítio mais relevantes e atraentes para leitores e anunciantes. O clima não é dos melhores no Los Angeles Times. Há quatro meses, o editor e publisher Jeffrey Johnson deixou o diário em protesto, após se recusar a levar adiante as demissões ordenadas pela Tribune, empresa proprietária do jornal.
Preocupações e críticas
Críticos da comunidade literária de Los Angeles já expressaram sua preocupação com a mudança nas seções. A fusão prejudicaria o cenário nacional para os aficionados por literatura, pois o diário é um dos poucos que ainda publicam uma seção exclusiva para o tema. ‘Mesmo com todas as seduções do ‘complexo industrial de infotainement [mescla de informação com entretenimento]’, mais pessoas estão lendo e comprando livros, e mais livrarias estão sendo abertas em Los Angeles’, afirma Steve Wasseman, editor da ‘Book Review’ de 1996 a 2005. Além do LATimes, os outros títulos que ainda mantêm suas editorias literárias intocadas são o San Francisco Chronicle, Washington Post, Chicago Tribune, New York Times e San Diego Union-Tribune. O Boston Globe uniu a seção literária com a de opinião em 2002.
Crise na imprensa
Com a queda no número de leitores, os diários buscam, cada vez mais, investir nas novas mídias, tentando descobrir maneiras inovadoras de apresentar o conteúdo online em formatos diversos, como iPods e celulares. Mas, até agora, os lucros com anunciantes continuam a cair e as versões online ainda não são lucrativas.
Editoras que têm ações públicas, como é o caso da Tribune, ficam sob pressão de investidores para que sejam feitos cortes de custos. Embora seções literárias costumem atrair um público leal, elas têm perdido anunciantes nos últimos anos. ‘É cada vez mais difícil justificar algo que não tem publicidade’, opina Phil Bronstein, editor do San Francisco Chronicle. ‘Nós, no jornal, continuamos a publicar a seção por considerarmos ser culturalmente importante para a comunidade’. Mas até quando? Informações de Heidi Benson [San Francisco Chronicle, 3/3/07].