Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O jornalista, a qualificação e o mercado

Depois de quatro dias analisando a repercussão causada pelo parecer/voto do presidente do STF, ministro Gilmar Mendes, sobre a obrigatoriedade do diploma para exercer a profissão de jornalista, resolvi emitir minha opinião a respeito do assunto.

Confesso que não fiquei surpreso com o voto do ministro. O que tem me deixado preocupado é a postura de alguns colegas de profissão que fingem não saber da existência de profissionais não formados em nossas redações durante toda a história do nosso jornalismo, parecendo que a exigência do diploma começaria agora, em pleno século 21.

Alguns dos inconformados com o fim da exigência do diploma dizem que os donos de jornais e outras mídias vão pagar salários abaixo do piso. Será que a crise que os jornais impressos estão vivendo vai permitir que em suas redações trabalhem pessoas não conhecedoras da profissão, levando ainda mais aos leitores, muitas vezes, textos sem sentido pelo mau uso da nossa tão surrada língua portuguesa?

Nossa categoria profissional sempre teve problemas com essa questão, pois basta voltar um pouco no tempo para ver que sempre nossas redações foram ocupadas por pseudo-intelectuais ou por figuras que se aproveitavam de sua condição social privilegiada para escreverem sobre seus ideais e a boa vida que a república da banana lhes proporcionava. Qual era o termômetro para se medir a qualidade desses textos?

Competência individual

Depois de 30, 40 anos, as coisas mudaram um pouco em nossa profissão. Esquecem esses colegas indignados que o mercado se tornou mais competitivo do que nunca. Hoje, as televisões possuem controle remoto para que os telespectadores mudem de canal e assistam a um telejornal com jornalistas que lhes transmitam credibilidade e seriedade. O radiojornalista que fica lendo os jornais impressos no estúdio não é ouvido por ninguém, pois existem emissoras que passam 24 horas apurando boas informações com dados precisos para seus ouvintes e atualizando essas notícias praticamente o tempo todo.

Isso tudo é feito para ganhar mais audiência que as concorrentes, que também buscam contratar não só profissionais com diploma, mas, acima de tudo, competentes, bem informados e atualizados. O mercado exige hoje profissionais bem informados e que busquem sempre adquirir conhecimento, seja na academia ou fora dela, pois é o mercado que vai dar a palavra final. É quem vai contratar, pois as empresas não podem arriscar seus nomes e investimentos em um mundo tão competitivo e rápido.

E os jornais impressos, como vão reagir à queda da exigência do diploma? Todos no mundo sabem da crise que a mídia impressa vem passando com a chegada da internet – não quero aqui entrar na questão ambiental e a derrubada de árvores para a fabricação do papel. A força desse veículo espetacular que, em poucos segundos, coloca você, caro leitor desse artigo, informado sobre o que está acontecendo no mundo, e isso tudo com imagem, som e texto.

Mas vamos ao que interessa no momento, que é a questão de ter ou não o diploma. Vocês realmente acham que os empresários colocariam em cheque a credibilidade dos seus veículos de comunicação contratando maus jornalistas, diplomados ou não? Acho eu que não, pois tudo é mostrado e informado hoje com muita rapidez e por várias mídias diferentes ao mesmo tempo. O diferencial não está mais na posse de um pedaço de papel, mas na competência individual de cada um. Afinal de contas, quantos jornalistas formados e diplomados estão desempregados por não terem a mínima competência para escrever uma história, mesmo sendo ela uma pequena nota contendo dois parágrafos?

Cultura do ‘eu acho’ está acabando

Acabou, e já faz muito tempo, a história de que um jornalista é um especialista em generalidades. Hoje em dia, o mercado exige profissionais cada vez mais especializados e conhecedores das diversas áreas científicas, onde a ida a uma universidade se torna cada vez mais necessária. Nunca o conhecimento científico foi tão exigido para se manter empregado e permanecer no mercado de trabalho. O que vai fazer um leigo em uma assessoria de imprensa? Como irão reagir os jornalistas formados com um colega recém-chegado a uma redação sem conhecimento teórico suficiente para fazer o seu trabalho? Você, que ralou quatro anos em uma graduação e mais um ano e meio em uma especialização, vai parar de trabalhar para ensiná-lo?

Não vivemos mais na época que bastava se escrever um texto contendo as seis principais perguntas do jornalismo no lide, usando o modelo de uma pirâmide invertida para se ter um bom texto. Para elaborar uma boa pauta e sair em busca de uma boa reportagem o candidato a jornalista deve obter conhecimento científico na academia – na faculdade, pois perguntas inteligentes podem nos render outras pautas ou nos levam a dados camuflados que muitas vezes são omitidos propositalmente. Nossas fontes já estão cansadas de perguntas mal elaboradas e mal formuladas. Algumas dessas fontes sabem que no dia seguinte poderão deparar com um texto cheio de informações incorretas devido ao despreparo do ‘jornalista’.

O que eu quero dizer aqui e também pretendo fazer com que vocês amigos, diplomados ou não, entendam é que o mercado profissional vai regular a contratação entre diplomados ou não. Esqueçam os idos anos 60, 70 ou 80 do jornalismo nacional. Observem que o mundo evoluiu, as profissões também. Novas áreas surgiram, novos conceitos passaram a fazer parte de nossas vidas. A administração ganhou novas metodologias de trabalho e com isso as exigências, não só para os jornalistas, mas também para profissionais de outras áreas, se fazem cada vez mais necessárias. A cultura do ‘eu acho’ está acabando, está próxima do fim. Agora é o conhecimento adquirido que vale, basta pesquisar a quantidade de novos cursos e técnicas que surgem a cada ano visando a aperfeiçoar mais o profissional de comunicação.

O ‘deus’ mercado é o regulador

Penso que o ministro que derrubou a exigência do diploma nos fez um grande favor. O mercado vai exigir qualificações diversas em um só profissional e seremos contratados pelo pacote de conhecimento que tivermos. Aquele que tem a graduação, uma ou duas especializações, um mestrado ou um doutorado é quem vai ser procurado e contratado.

O outro – não formado e sem diploma, vai oferecer o que? Seu bom texto? Algumas fontes muitas vezes duvidosas? O que mais?

Nosso valor de mercado é o que somos e não o que dizemos ser. Acredito mais do que nunca que vamos ser valorizados, sim, e cada vez mais acredito que só o estudo, seja ele em que nível for, pode nos levar a qualquer lugar.

Vamos esperar e ver que rumo toda essa estória vai tomar. Eu posso garantir a vocês uma coisa: todas as áreas de trabalho cada vez mais buscam melhorias nos seus quadros profissionais e não seria a imprensa que vai agir diferente – afinal, ela também faz parte da indústria só que na área de comunicação, pois essa vende informações. Você compraria um produto contendo informações erradas?

Quero terminar minha conversa com vocês deixando algumas perguntas para portadores de diploma ou não. Estaria o Judiciário tentando desqualificar os profissionais de imprensa com tal decisão? O voto do ministro derrubando o diploma vai influenciar na busca de conhecimento dos que têm talento e que querem aliar isso ao conhecimento científico? Quando foi que o mercado jornalístico teve força para regulamentar as contratações de profissionais nas redações, se sabemos que sempre existiram jornalistas não diplomados e estagiários assinando matérias, pagos a preço de banana? Qual o motivo de grandes projetos de jornais, telejornais e rádios não terem dado certo? Falta de qualificação profissional?

Amigos, deixem de se preocupar com a exigência do diploma. Eu vou continuar a minha caminhada em busca do conhecimento como sempre fiz. Quem deve se preocupar com tal mudança são os ‘espertos de plantão’. Esses, sim, devem procurar saber quanto tempo ficarão empregados e quanto tempo o jornal, a televisão e o rádio em que trabalham funcionará, pois o grande ‘deus’ chamado mercado profissional, é o regulador de todas as coisas. Ele é que aquece e esfria nossas vidas, seja com ou sem diploma só que com grandes possibilidades de os diplomados na hora do frio sempre ficarem mais bem aquecidos, já que possuem conhecimento.

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Bacharel em Administração de Empresas, formado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, pós-graduado em Gestão dos Recursos Naturais e Meio Ambiente e está cursando MBA em Comunicação Empresarial, Manaus, AM