Móvel, imediata, visual, interativa, participante e confiável. Estas, as principais conclusões de uma pesquisa realizada nos Estados Unidos sobre o futuro da notícia. Mídia, tecnologia e sociedade é um projeto multidisciplinar realizado pelo Media Center e conduzido por profissionais e estudiosos do jornalismo e da mídia. Envolve estratégias, educação, pesquisa, políticas e filantropia relacionadas ao setor.
As preocupações dos donos de jornais:
** Editores e repórteres terão emprego em cinco anos?
** Como continuar a fazer o que sempre fizeram e ainda assim manter altas margens de lucro e controlar mercados?
** Devem acreditar na internet?
** Cidadãos comuns serão os informantes do futuro?
Perguntas que desencadearam questões mais profundas: que jornalismo estão fazendo e deverão fazer? Qual modelo de negócios adotar diante da internet, do celular, de uma sociedade conectada e digital? Como lidar com uma geração de talentosos repórteres-cidadãos e a troca informal de notícias consideradas relevantes por leitores always-on?
Serão 400 milhões de câmeras digitais em 2008, segundo previsão dos fabricantes. Muitas delas, parte dos telefones celulares, capturando e divulgando fatos no momento em que acontecem. Milhares de repórteres potenciais, sem formação específica, espalhados pelo planeta. Um desafio ao jornalismo tradicional, levado a sério pelas empresas de comunicação do mundo todo.
Como encarar?
Nas escolas de Jornalismo, essas questões são tratadas das mais diversas formas, por alunos e professores. Desde a total negação da abrangência das mudanças em curso ao pessimismo improdutivo com relação ao futuro da profissão.
Em sua coluna no site Comunique-se , Carlos Chaparro chama os jornalistas à discussão sobre que habilidades e atitudes as tendências do mercado profissional vão impor aos jornalistas no futuro próximo. Nos comentários sobre o texto, o mesmo retrato encontrado nas universidades:
– ‘Não acredito nessa conversa fiada’, dispara um;
– ‘A nossa civilização democrática, cristã e capitalista, infelismente (sic) está longe da nossa utopia’, comenta outra, pessimista em relação ao reconhecimento profissional.
Chaparro aponta três tendências importantes:
1) Dos jornalistas já se exige, e se exigirá cada vez mais, a capacidade de escrever e/ou falar a todas e por todas as mídias;
2) Crescem as publicações ‘feitas sob medida’ para públicos específicos;
3) O jornalismo se tornará cada vez mais uma atividade liberal, prestadora de serviços, inserida na lógica da terceirização.
E como encarar tantas mudanças? Assim como Chaparro, arrisco-me a apontar alguns caminhos e prosseguir a discussão.
** Primeiro ponto: debate. Como tem sido feito aqui no Observatório e em outros sites e fóruns de discussão dedicados ao jornalismo e à comunicação. Espaços sem dúvida riquíssimos para amplo registro das diversas linhas de pensamento. Material que deve ser levado à escola, enriquecido, ampliado, pensado e repensado.
** Segundo: convergência. Não dá mais para as universidades formarem jornalistas de rádio ou de TV, ou de impresso, ou de seja lá o que for. É preciso formar jornalistas competentes na arte de buscar a notícia e disponibilizá-la seja lá em que mídia for. Professores e escola devem também convergir suas disciplinas, pensar as mudanças e atuar de acordo com as exigências do mercado, pensando-o criticamente.
** Terceiro: marketing. E toda vez que se fala em marketing, jornalista arrepia! Mas vejamos a lógica: marketing diz respeito à competente colocação do produto no mercado, atendendo às necessidades e expectativas do consumidor. Neste sentido, devemos, sim, estar preocupados em gerar produtos de qualidade, no formato adequado, com notícias de interesse do nosso leitor. Sem isso, ninguém lê. E sem leitor, não há jornalismo. Lições a serem aprendidas ainda na escola.
** Quarto: preconceito. Não existe mais espaço para jornalista de jornal que despreza o colega do rádio; jornalista de TV que esnoba os demais; repórter que despreza o trabalho do produtor; chefe de redação que massacra a equipe. Temos que amadurecer também nossas relações profissionais. E o respeito começa cedo, nos trabalhos em grupo, no respeito ao colega, no debate produtivo em sala de aula.
** Quinto: interagir. Este ser único, chamado jornalista, talvez veja nisso um grande desafio. O que fazer com a tal da interatividade? Leitores clamando por respostas, por um relacionamento mais próximo, por um posicionamento. Como conciliar a correria do dia-a-dia, todas as dificuldades conhecidas, com a caixa de e-mails lotada de perguntas, solicitações de estudantes, críticas, sugestões? Foi-se o tempo do individualismo, de escrever, entregar, ir embora pra casa. Precisamos dialogar. E estarmos não só dispostos, mas preparados para isso.
** Sexto: trabalho em equipe. De uma forma ou de outra, o jornalismo sempre foi uma produção coletiva. E será sempre mais com a agregação de novas categorias, como animadores, webdesigners e técnicos de informática rondando as redações.
** Sétimo: corporativismo. Como atesta o estudo realizado pelo Media Center, repórteres-cidadãos estarão invadindo espaços antes reservados e sagrados. Na internet, não há concessões de rádio ou TV, registro de jornais. Publica quem quer, lê quem tem vontade, permanece quem tem competência. O leitor seleciona, legitima, aprova ou desaprova. Precisamos aprender a respeitar e a lidar com estes jornalistas informais, sem negar sua existência nem sobrevalorizar suas ações. Há espaço para todos. Espaços distintos e nem por isso melhores ou piores. Precisamos aprender que não somos, jornalistas, os únicos no mundo a saber contar histórias. Talvez tenhamos até muito que aprender com aqueles que nada conhecem de pirâmides invertidas e manuais de redação e, por isso, criam, recriam, falam a linguagem do seu público sem amarras formais. Enfim, comunicam com competência.
Concluindo, sem esgotar o assunto: são muitas novas perguntas e desafios, tanto para as empresas de comunicação quanto para escolas, profissionais e futuros jornalistas. E o melhor caminho, felizmente cada vez mais disponível e acessível, é a exposição de opiniões, a leitura, os debates. Só não valem respostas prontas, receitas futurísticas e certezas plenas. Estamos todos construindo o jornalismo e o jornalista do futuro, agora.
******
Jornalista, especialista em novas tecnologias e comunicação, professora de Jornalismo Online e Multimídia no Unicentro UniBH, mestranda em Educação e Tecnologias Digitais pela PUC-Minas