A notícia do falecimento de James W. Carey talvez pouco signifique até mesmo para muitos daqueles que estudam e ensinam jornalismo e comunicação no Brasil. Infelizmente o trabalho deste professor americano de Communications – no plural mesmo – não chegou ainda a ser suficientemente conhecido entre nós. Mas essa é, com certeza, a notícia de uma imensa perda para o campo da comunicação.
James W. Carey foi durante muitos anos o dean da Faculdade de Comunicação da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign, nos Estados Unidos, e, antes disso, o diretor do Instituto de Pesquisa da Comunicação (ICR) da mesma universidade – um dos mais antigos e tradicionais centros de estudo e pesquisa da comunicação. Por ele passaram gerações de estudantes que mais tarde definiram o que veio a se constituir como campo de estudos da comunicação não só nos Estados Unidos, mas em vários países do mundo.
Praticamente tudo que Carey escreveu teve importante impacto no ensino e na pesquisa da área, embora somente uma coletânea de seus textos tenha sido reunida em livro e publicada no final da década de 1980 [Communication as Culture – Essays on Media and Culture, Unwin Hyman, 1989] e cerca de dez anos depois tenha saído uma coletânea crítica sobre o seu trabalho [James Carey – A Critical Reader, University of Minnesota Press, 1997].
Carey foi o principal responsável pela ampliação do alcance do estudo da comunicação para além do restrito campo da formação e do treinamento profissionais. Em um célebre trabalho do início da década de 1970 (A cultural approach to communication), ele defendia um conceito de comunicação próximo da idéia de cultura e distante da idéia de transmissão. Na linha da antiga Escola de Chicago, comunicação era resultado da interação humana, algo compartilhado, participado e não transmitido [neste sentido ele se aproxima de Paulo Freire em seu Extensão ou Comunicação?, Paz e Terra, 1971].
Humor refinado
Carey também foi o responsável pela distinção importante entre jornalismo e mídia. A mídia das grandes corporações obedece a interesses comerciais, mas o compromisso básico do jornalismo é com a democracia e é dentro dessa perspectiva que ele deve ser estudado e ensinado.
Discípulo do canadense Harold Innis e do galês Raymond Williams, as críticas de Carey ao determinismo tecnológico de Marshall McLuhan constituem referência fundamental até hoje – e base para a discussão humanizada das potencialidades e limites das novas tecnologias de comunicação.
Tive o privilégio de ser aluno e orientando de James W. Carey no ICR da Universidade de Illinois. Ele foi um erudito daqueles que não se encontra mais. Suas aulas eram exposições brilhantes que mesclavam humor refinado e conhecimento de várias áreas do conhecimento nas humanidades. Nos últimos anos ele era professor na Escola de Jornalismo da Columbia University em New York.
James W. Carey faleceu no dia 23 de maio, aos 71 anos, depois de uma longa luta contra uma doença cardíaca. Ele vai fazer falta. Muita falta.