Passados mais de 15 dias da lastimável decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que extinguiu a exigência de diploma para o exercício da profissão de jornalista, o momento é oportuno para fazer um balanço das opiniões contrárias e favoráveis sobre essa polêmica questão. Divulgadas à exaustão, as versões que apóiam o fim da regulamentação geralmente são rasas, raivosas, desconsideram a posição dos próprios profissionais (majoritariamente favoráveis à regulamentação), dão espaço de sobra para porta-vozes que não gozam de nenhuma credibilidade junto à categoria e batem praticamente na mesma tecla: o diploma era uma ameaça à liberdade de expressão.
Pura balela, oba-oba, blablablá, argumento mesquinho e arcaico ou qualquer outra expressão que defina, com precisão, essa irresponsável atitude dos patrões da mídia que, agindo assim, desviam a atenção da sociedade para ocultar o que, de fato, está por trás dessa arbitrária decisão. Basta abrir qualquer jornal ou revista, ligar a TV ou o rádio e acessar a internet para verificar que o mercado de ideias nunca foi tão livre, fértil e plural.
Na verdade, o fim do diploma atende rigorosamente ao pedido das grandes empresas de comunicação, mas também às provincianas, familiares ou pouco profissionais, que há anos fazem campanha pela desregulamentação da profissão. E quais os motivos para torcer pelo enfraquecimento da categoria? Simples: reduzir salários e manipular (ainda mais) as relações empregatícias.
Categoria sabe o que quer
Por outro lado, os que defendem o diploma têm conseguido demonstrar de maneira irrefutável que o fim da regulamentação é um retrocesso sem precedentes proporcionado por uma Justiça que, ao mesmo tempo em que enfraquece toda uma categoria, é capaz de conceder, em menos de 48 horas, dois hábeas corpus para favorecer um banqueiro condenado.
Convém lembrar que o jornalismo brasileiro tem mais de 200 anos de história, sendo que a categoria profissional se reconhece como tal há mais de 80 anos. O Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo foi fundado em 1937 e, antes da exigência do diploma, a categoria já havia conquistado, com muita luta e determinação, a jornada de trabalho, o piso salarial e outros benefícios.
A exigência do diploma foi uma conquista importante, uma vez que estabeleceu área específica de estudo, reflexão e pesquisa, aperfeiçoamento técnico e comprometimento ético e político. Além disso, de uma maneira geral contribuiu para elevar o nível intelectual e cultural dos profissionais, apesar dos cursos ruins e picaretas (o que, diga-se de passagem, ocorre em todas as áreas do ensino superior público e privado).
Queiram ou não os empresários de comunicação, a esmagadora maioria dos profissionais com credibilidade em Guarulhos defende o diploma. Para quem duvida, é só acompanhar a relação dos 90 jornalistas e pessoas que atuam na imprensa de Guarulhos que assinaram um manifesto publicado recentemente em alguns jornais da cidade. Essa postura pode não significar nada para os maus patrões da mídia, mas, com certeza, demonstra que a categoria sabe muito bem o que é bom ou ruim para ela. Para tanto, não precisa de decisão do STF nem da bênção dos patrões.
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Jornalista, Guarulhos, SP