Em plena hegemonia audiovisual, o cidadão do século 21 encontra-se imerso em um mundo repleto de apelos eletrônicos, sons, imagens, símbolos e signos cuja influência muitas vezes passa despercebida e cujos efeitos ainda são desconhecidos pela maioria. As crianças e adolescentes cujo nascimento datam da década de 90 já vieram ao mundo sob o estigma da comunicação, sob o domínio do império das mídias.
De fato, a força desse império não consiste na força política ou militar, mas na poderosa sutileza da familiaridade cotidiana. A verdade é que, atualmente, nas palavras do teórico em comunicação Todd Gitlin, ‘conviver com as mídias é a coisa que os seres humanos mais fazem’. Quer você tenha consciência disso ou não, a essência da vida moderna é viver ‘por, pela e para a mídia’. É no empenho que fazemos para assimilar as mídias, e mesmo adquiri-las, assisti-las, rejeitá-las ou discuti-las que gastamos a maior parte do nosso tempo – é na relação com a mídia que ‘boa parte do mundo acontece para nós’, segundo Gitlin.
Diante dessa realidade, o público infantil e adolescente torna-se o alvo mais vulnerável aos ataques ideológicos e capitalistas das mídias. A ‘geração media’ tem como principal fraqueza a banalização dos efeitos midiáticos, fruto da convivência rotineira com toda parafernália dos meios de comunicação e seus produtos. É mais do que necessária uma preparação da juventude para responder criticamente aos produtos midiáticos e combater a simples adesão acrítica ao que é veiculado e divulgado.
Roger Silverstone, em seu livro intitulado Por que estudar a mídia?, defende a formação de uma ‘cidadania informada’, isto é, a capacitação da sociedade para a fiscalização do quarto poder: a mídia. O conhecimento crítico-reflexivo da mídia tornar-se-ia, portanto, o quinto poder, pois somente com o que se chama de ‘alfabetização midiática’ os cidadãos teriam condições de desafiar o poder da comunicação. Silverstone declara: ‘a cidadania do século 21 requer um conhecimento sobre os meios de comunicação que até agora poucos de nós têm, por isso, ela necessita ser estudada.’
Pergunta crucial
A necessidade da alfabetização midiática, seguindo o exemplo dos países desenvolvidos, vem crescendo cada vez mais no Terceiro Mundo. No Brasil, entidades como Midiativa e Andi (Agência de Notícias dos Direitos da Infância) e centros de estudos em ‘educomunicação’, como o apresentado pela NCEUSP (Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo) tem apresentado progressos na relação juventude-mídia. O resultado é a criação, no ensino fundamental e médio, de núcleos de estudos sobre a mídia ou a inclusão de uma disciplina sobre análise midiática como parte de conteúdos complementares.
Pedagogos e jornalistas deveriam unir-se na luta pela inserção e/ou criação de estudos sobre a mídia para a educação básica, pois a prática da leitura crítica dos meios de comunicação, além de primordial na atual hegemonia midiática, serve de estímulo para o estudo da realidade, tão preciosa aos olhos da pedagogia moderna. A criação de núcleos de estudos das mídias pode também servir de apoio para o uso das tecnologias audiovisuais pelos professores, estabelecendo conexões entre as disciplinas regulares e as questões levantadas pelos meios de comunicação.
Se sonhamos com uma juventude pensante e capacitada para assimilar criticamente a linguagem da mídia, temos que prepará-la para responder a essa pergunta crucial: por que estudar a mídia?
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Secretário de redação da revista eletrônica Canal da Imprensa e professor no Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp)