A discussão em torno da legitimidade do diploma de curso superior em Comunicação Social como exigência para o exercício da profissão de jornalista é uma questão que tem gerado polêmica em todo o território nacional. É uma novela que ainda terá muitos capítulos, até que o Supremo Tribunal Federal (STF) decida se mantém a exigência ou não.
Entre os jornalistas, a questão divide opiniões Brasil afora. Antes de defender posições ‘A’ ou ‘B’, é preciso fazer ponderações, observar o cotidiano da imprensa, analisar os prós e os contras. Nesse sentido, gostaria de contribuir com essa discussão expondo algumas situações de relevância para o assunto.
Vagas para ensino médio
Dia desses fui abordado por uma equipe de televisão querendo que eu opinasse a respeito do trabalho da imprensa em Roraima. Até aí, tudo bem. Nada de mais em um jornalista emitir opinião a respeito de sua profissão para uma matéria de telejornal.
Estranha foi a abordagem da equipe: quem explicava o assunto e solicitava a entrevista não era o repórter, e sim, o cinegrafista. Isso porque o repórter mais parecia um adolescente assustado do que um profissional preparado para realizar a entrevista e produzir uma matéria à altura do assunto.
De antemão, recusei conceder a entrevista por não conhecer o ‘repórter’ e, por isso mesmo, não ter confiança se o resultado final da matéria seria o prenunciado. Depois fiquei sabendo que o rapaz está em início de carreira e tem apenas o ensino médio. Casos como esse são bem conhecidos aqui em Boa Vista (RR) e acredito que em muitas outras grandes e pequenas cidades brasileiras também.
Um jornal local, até pouco tempo atrás, oferecia vaga para repórter exigindo apenas o ensino médio. Também, a cada coletiva que acontece, deparamos com uma ou duas foquinhas que não sabem nem segurar o microfone, quanto mais arriscar a fazer uma pergunta. A maioria sai de agências de modelo e, por ter um rosto bonitinho e um corpo bem definido (nada contra esses quesitos), é convocada para integrar equipes de reportagem de programas de origem e intenções duvidosas.
Formação e capacidade duvidosas
Minha preocupação não é apenas se esses profissionais têm ou não diploma de jornalista para exercer a profissão, mas também se são qualificados, de fato, para a função. Enquanto discutimos a legitimidade do diploma, dezenas, centenas de pessoas desqualificadas ocupam cada vez mais espaço na imprensa em detrimento de milhares de profissionais que são formados todos os anos.
Não questiono o direito dos jornalistas que, apesar de não terem diploma, são considerados grandes profissionais. Afinal, também defendo a tese de que o diploma não faz o jornalista, mas sim a vocação para escrever, interpretar fatos e transformá-los em notícias que servirão para a sociedade se informar e até formar sua própria opinião.
O que me deixa triste é o fato de muitos veículos de comunicação, a pretexto de mão-de-obra barata, continuarem contratando pessoas de formação duvidosa e capacidade idem, enquanto todos os anos milhares de jovens são formados jornalistas e, com um pouco de boa vontade, poderão se transformar em profissionais competentes em pouco tempo.
E os sindicatos? Por que não fazem nada? Porque estão de mãos amarradas até que o Supremo decida de vez a questão. Enquanto isso, só resta fazer gestões junto às empresas de comunicação para que priorizem os profissionais sindicalizados. Quanto à Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), continua sua luta incansável a favor do diploma.
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Jornalista, Boa Vista, RR