Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Os extremos da revista

A revista Veja (edição 2094, de 7/1/2009) foi capaz de demonstrar ao mesmo tempo equilíbrio e preconceito em textos publicados com poucas páginas de intervalo. Na ‘Carta ao Leitor’, comentando o acirramento do conflito entre Israel e palestinos, o semanário explica que ‘os palestinos dividiram-se entre aqueles que apóiam a Autoridade Palestina, que negocia com Israel, e o Hamas, o grupo terrorista que prega a destruição do estado israelense, fundado em 1948 na esteira do holocausto. É o Hamas o alvo da operação das Forças Armadas de Israel na Faixa de Gaza. O grupo vinha utilizando o território, dominado por seus militantes, para lançar foguetes contra alvos do outro lado da fronteira. Do ponto de vista estritamente militar, a operação é movida por uma causa razoável? Aparentemente, sim. Do ponto de vista humano, ela é desproporcional? Absolutamente, sim. Eis a essência do problema quando o assunto é Israel e palestinos: ambos os lados conseguem ter razão não tendo, muitas vezes, razão nenhuma’.

Mas a boa análise da revista é ofuscada, em minha opinião, pelo ataque gratuito de Tony Bellotto aos criacionistas, na página 28: ‘Acendam as luzes da razão! Não deixem que a Idade das Trevas volte a eclipsar a sabedoria humana! Notícias dão conta de que o criacionismo – doutrinação religiosa disfarçada de pseudociência – cresce entre as escolas brasileiras. E não apenas no ensino religioso, em que faria sentido, mas nas aulas de ciência.’

Fundamento religioso

Em poucas linhas, Bellotto consegue demonstrar todo o seu desconhecimento do assunto. O criacionismo tem, sim, bases científicas que poderiam ser analisadas (assim como as proposições do design inteligente) nas aulas de ciências juntamente com o darwinismo. A intenção não é de doutrinamento, mas sim, que se ensine o contraditório e se mostre as insuficiências epistêmicas da teoria da evolução. Isso somente ajudaria a formar a visão crítica dos alunos. O criacionismo tem fundamento religioso, com certeza, mas é preciso que se esclareça de uma vez por todas que o darwinismo, de modo semelhante, tem muito de filosófico, não sendo uma teoria plenamente falseável, no entender de Karl Popper. Ademais, sempre é bom repetir: naturalismo filosófico não é sinônimo de naturalismo metodológico.

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Jornalista, Tatuí, SP