O Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) criou, em 2007, o Observatório da Mídia Regional. O objetivo é monitorar, analisar e promover um diálogo entre as pesquisas científicas, o discurso político da sociedade civil, as práticas comunicacionais e as políticas públicas da região.
De acordo com o professor Edgard Rebouças, coordenador do Observatório, a mídia produzida e exibida na região Nordeste é bastante diferente da que é veiculada no resto do país: ‘A quantidade de programas que desrespeitam os direitos humanos, ridicularizam as pessoas e expõem crianças, mulheres e moradores de periferias a situações de risco é tanta que os Ratinhos e Datenas da vida poderiam entrar no convento’.
***
O que levou a criação do Observatório?
Edgard Rebouças –
A realidade da mídia na região Nordeste é bem diferente da que o público do Sul do país está acostumado a ver. A quantidade de programas que desrespeitam os direitos humanos, ridicularizam as pessoas e expõem crianças, mulheres e moradores de periferias a situações de risco é tanta que os Ratinhos e Datenas da vida poderiam entrar no convento. Não só os programas policialescos são assim. Há também os programas de auditório, onde a palavra de ordem é a exploração da sexualidade até o limite. As campanhas publicitárias não ficam de fora. Diante desse quadro, criamos, no ano passado, o Observatório da Mídia Regional: direitos humanos políticas e sistemas, no Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universade Federal de Pernambuco (UFPE), que tem o objetivo de promover um diálogo entre as pesquisas científicas, o discurso político da sociedade civil, as práticas comunicacionais e as políticas públicas na região.Na prática, como o Observatório funciona?
E.R.
– O objetivo central do Observatório, o primeiro do país com esta configuração, é realizar um acompanhamento sistemático da produção midiática, com foco no respeito e promoção dos direitos humanos – civis, políticos, econômicos, sociais, culturais, sobretudo o direito humano à comunicação. Também temos as linhas voltadas para grupos de mídia e políticas de comunicação. Atualmente, trabalhamos em algumas frentes, como o acompanhamento da publicidade de produtos tóxicos, a publicidade de bebidas alcoólicas, programas policialescos e regulamentação de publicidade para crianças. Ainda neste semestre, estaremos enviando relatórios ao Ministério Público (Federal e Estadual), Ministério da Justiça, Anvisa e Ministério da Saúde. Também participamos de uma articulação política, o Fórum Pernambucano de Comunicação, que já provocou a realização de uma ação civil pública contra dois programas locais da TV Jornal (afiliada do SBT), por serem violadores de direitos humanos. Outra atividade que estamos organizando é a IV Conferência Brasileira de Mídia Cidadã, em parceria com a Cátedra Unesco/Metodista em Comunicação, que será em outubro deste ano aqui no Recife.Como a sociedade local recebeu a criação do Observatório? Ela vem participando?
E.R.
– Há uma prática muito rica de debate e intervenção de ONGs voltadas para as questões de mídia em Pernambuco, sobretudo nas questões relativas a mulheres, crianças, violência e periferia. Isso fez com que o Observatório fosse muito bem acolhido pela sociedade, sendo que hoje temos parcerias com organizações não-governamentais e sindicatos, com o Conselho Regional de Psicologia, com universidades e faculdades de Comunicação e com movimentos sociais. Além disso, temos um canal aberto com o Ministério Público de Pernambuco.Quais são as primeiras análises da instituição?
E.R.
– Já temos à disposição em nosso site um relatório sobre a atuação dos demais Observatórios de Mídia no Brasil e estamos finalizando os relatórios sobre publicidade de produtos tóxicos envolvendo crianças e de veiculação ilegal de publicidade de bebidas alcoólicas na mídia eletrônica. Este debate nacional sobre publicidade de cerveja aqui é ‘refresco’. O que ocorre é a veiculação indiscriminada, em qualquer horário, de publicidade de cachaça, vodka, rum… a maioria com apelos ao universo infanto-juvenil e ligadas ao esporte. Logo que finalizarmos os relatórios enviaremos para serem divulgados no Rio Mídia.Qual é a intenção do Observatório ao promover a IV Conferência Brasileira de Mídia Cidadã?
E.R.
– Esta edição da Conferência Brasileira de Mídia Cidadã, que também entrará no calendário das comemorações dos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, surge com a iniciativa de contribuir com o processo de superação de uma demanda social, que é o distanciamento histórico entre o discurso científico, da academia, e o discurso político, das experiências realizadas na área da comunicação pela sociedade civil. A idéia é mostrar que a relação entre o que acontece nas universidades, nos movimentos sociais, nas instâncias governamentais e nas empresas de mídia é dialética e não dualista, onde cada um tem um pouco do outro e juntos são capazes de realmente promoverem a transformação da realidade. O que queremos é ser um local de debate para a mídia cidadã. Muitos estão realizando estudos e experiências fantásticas, mas os resultados não têm sido compartilhados. Também vamos organizar a primeira Feira da Mídia Cidadã, onde haverá a oportunidade de assistirmos a vídeos realizados por indígenas ao lado de produções da Rede Globo, rádios comunitárias dialogando com o Ministério da Justiça, e assim por diante. Cada um mostrando o que faz de forma diferente, mas com o mesmo objetivo. Já temos a confirmação das presenças de três convidados internacionais, os professores Armand Mattelart, da França; John Downing, dos Estados Unidos; e Cees Hamelink, da Holanda.******
Editor do Rio Mídia